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História Falling in love for the last time. - Rebirth.


Escrita por: gimavis

Notas do Autor


Olá, mores! SURPREEEEESA! KKKKKKKKK
Boa noite! Primeiro quero dizer que não ia postar esse capítulo hoje, minha intenção era postar apenas no dia nove, que é a data do show em Paris, mas essas vaquinhas resolveram pousar na França antes e eu estou aproveitando a oportunidade, para que vocês não esperem mais. Como eu já finalizei tudo o que tinha para finalizar na fic, esse capítulo será como um 'recomeço', okay? Vocês vão entender os motivos. Por favor! Leia as notas finais, deixarei o agradecimento para ela e quero muito que leiam. Vou deixar a trilha sonora por conta de vocês, escutem o que quiserem. Escrevi o capítulo com amor, como sempre, espero que gostem. Estava com saudade. Amo vocês. <3

Capítulo 62 - Rebirth.


Fanfic / Fanfiction Falling in love for the last time. - Rebirth.

Camila POV

 

NY, Estados Unidos. Início de Novembro.

Quando a noite caiu em Manhattan, o tempo estava fresco e agradável. O vento balançava as folhas das árvores do Central Park e eu me deixei sorrir com os olhos fechados, aproveitando a brisa que batia na varanda do apartamento.

O barulho de objetos sendo derrubados me assustou, e eu virei para prestar atenção no furacão Jauregui que corria de um lado para o outro procurando alguma coisa. Cruzei os braços e assisti enquanto Lauren começava a ficar vermelha de impaciência, xingando baixinho, ignorando completamente a minha presença. Quando ela, enfim, conseguiu tropeçar no tapete e cair de quatro no chão, explodi em uma gargalhada e seu olhar raivoso foi direcionado a mim. Não conseguia parar de rir.

: - Não estou achando graça nenhuma, Camila. – Acompanhei enquanto ela levantava do chão e esfregava os joelhos. – Já pensou se eu caio e dou de cara na quina da mesa? Tenho uma exposição em duas horas e não posso aparecer com um roxo sequer. Aliás, você bem que podia me ajudar ao invés de ficar rindo de mim.

: - Se acalma, meu amor. Vem aqui. – Lauren revirou os olhos e armou um bico enquanto se aproximava de mim. – Você fica linda irritada, já te falei isso?

: - Não e nem adianta me olhar com essa cara, nós não vamos transar agora.

: - Quem disse que eu quero transar com você? Do jeito que está afobada, é capaz de gozar rápido para não perder tempo. – Ela me deu um beijo casto e desceu até o meu pescoço, me fazendo sorrir. – Vamos, desgruda de mim e fala o que está procurando.

: - Não acho meus óculos em lugar nenhum. Já procurei em todos os lugares possíveis.

- Serve o que está na sua cabeça? – Lauren franziu o cenho e colocou a mão na cabeça, respirando fundo enquanto tirava os óculos de grau do cabelo e colocava no rosto. – Você precisa se acalmar, sabia? Vai acabar tendo um colapso e só Deus sabe o que faríamos com a exposição. Vá tomar um banho, vou ligar para as meninas e saber que horas elas chegam.

: - Normani e Dinah estavam em Orange County comprando uma casa, disseram que chegariam a tempo. Ally e Troy ainda estão no Texas, mas a baixinha me prometeu que viria.

: - Bom, se ela prometeu, então vai vir. Agora já para o banho, você não pode se atrasar.

Lauren me deu mais um beijo e saiu às pressas na direção do corredor, me deixando sozinha na varanda para pensar. Voltei a prestar atenção no Central Park e no quanto estava bonito com o jogo de luzes que Lauren escolheu para expor suas fotos. Cinco anos se passaram desde que nos assumimos no show e desde então, Fifth Harmony se tornou um grupo titulado como fenômeno. Conquistamos prêmios, entre eles dois Grammy’s, e o afeto de pessoas que jamais imaginaríamos. Agora, depois de tantos anos, estávamos prontas para, enfim, terminar nossa jornada no mundo da música. No final do mês de Setembro finalizamos nosso álbum de despedida, feito especialmente para nossos fãs. Depois do lançamento e de algumas viagens para promovê-lo, cada uma seguiria o seu caminho, dessa vez por decisão nossa. Estava na hora.

Normani estava com um estúdio de dança e se mudou para Califórnia para ficar com Dinah, que já estava preparando a inauguração de uma gravadora. Ally realizou o sonho de abrir sua própria confeitaria e como era de se esperar, estava fazendo sucesso. Quanto a Lauren e eu, continuávamos juntas, prontas para nos mudar para um apartamento, até então de férias, que mantínhamos na Cidade onde tudo começou: Paris.

Lauren, que tirou fotos de todos os lugares do mundo que estivemos com o Fifth Harmony e por lazer, estava pronta para expô-las no Central Park e seguir carreira como fotógrafa. Minha escolha foi mais simples, talvez a menos comum entre as meninas; faculdade de psicologia. O fato de estudar para conhecer ainda mais a mente humana me dava um gás que me preenchia por dentro e me deixava mais feliz. Teria a chance de abrir um consultório e até usar a música para ajudar pacientes. Se não fosse pelo Fifth Harmony, essa com certeza seria minha escolha de profissão. Com vinte e três anos, uma carreira de sucesso na música nas costas e milhares de fãs, estava pronta para encarar o mundo com outra concepção.

Sai da varanda na intenção de ligar para Dinah, não nos falávamos há dois dias e eu não conseguia ficar muito tempo sem ouvir a voz dela, mesmo que fôssemos nos ver em poucas horas. Peguei o telefone e disquei o número mais do que repetitivo na minha cabeça. Chamou algumas vezes antes dela atender.

: - Oi, Chancho.

Aquele apelidinho ainda era comum entre nós, mesmo depois de tantos anos. Aquilo talvez fosse bom, havíamos amadurecido, mas não perdemos nossa essência.

: - Oi, Chee. – Sorri, passando a mão pelo pretinho básico que eu usava, o moldando melhor em meu corpo. – Onde vocês estão? Normani está com você, não é?

: - É claro que minha mulher está comigo, onde mais você acha que ela estaria? – Dinah resmungou do outro lado e eu soltei uma risada, já imaginando seu bico torcido. Ela acabou por rir também. – Nós estamos chegando, mas não conte a Lauren, combinamos com Ally que chegaremos juntas e faremos uma surpresa.

Eu abri um sorriso enorme enquanto atravessava a minha sala na direção do bar.

: - Ela vai adorar. – Peguei uma garrafa de água com gás, coloquei dois cubos de gelo em um copo e despejei o líquido dentro. – Caso vocês não façam o que fizeram no aniversário dela de dezenove anos, ela vai amar sim.

: - Ela estar pelada não foi culpa nossa. – Eu bebi um pouco da água antes de rir. – Se vocês conseguirem não tirar a roupa e foder até chegarmos ai, ficará tudo tudo bem.

: - Não temos tempo para transar, não se preocupe.

Coloquei o copo sobre a madeira escura, já vazio.

: - Graças a Deus. – Deslizei a língua pelos lábios, ouvindo aquela risadadinha de Dinah outra vez. – Escute, Mila, vamos poder mesmo ficar ai no apartamento essa noite? É que não queria ter que ir para um Hotel, nunca temos paz em um.

: - Vocês podem ficar aqui o tempo que quiserem, Dinah. Lauren e eu iremos embarcar as três da manhã de qualquer forma.

: - Aé, eu esqueci que vão ter que ir até lá ajeitar as coisas para a mudança.

O tom de Dinah já me mostrava a melancolia da despedida, mesmo que Lauren e eu estivéssemos de volta uma semana depois para promover o último álbum. Suspirei de forma profunda, pressionando os lábios.

: - Não vamos sofrer antecipadamente, certo? – Sorri de canto, olhando para trás quando ouvi um barulho vindo do corredor. – Chee, vou desligar, Lauren está vindo. Nos falamos aqui. Não demorem!

: - Pode deixar, Chancho. Mani mandou um beijo. Aviso quando estiver no elevador.

: - Outro pra ela.

Olhei para trás novamente, vendo a silhueta de Lauren surgir sob a baixa iluminação.

: - Camila... – Lauren chamou.

: - Eu te amo, Chee. Até! - Desliguei sem esperar que Dinah me respondesse e com certeza aquilo geraria uma hora de encrenca para mim mais tarde. – Ei, Lo.

: - Lo... – Vi Lauren sorrir, e parei por um instante para observar seu corpo coberto apenas por uma saia social preta e um sutiã básico de renda da mesma cor. Tão linda. Mais velha, mais madura, mais sexy, mais minha, assustadoramente ainda mais fatal. – Quanto tempo não me chama assim. Isso me lembra a adolescência.

Esfreguei as mãos ao lado do meu corpo quando ela parou na minha frente, esticando o braço esquerdo para circular a minha cintura. Em dois segundos tínhamos nossos corpos colados, aquele velho contato de pele que me acendia sem precisar de mais nada. Envolvi seu pescoço com os braços e selei seus lábios.

: - Talvez eu esteja me sentindo uma adolescente hoje.

: - Hmmm... – Ela murmurou enquanto deslizava o nariz pelo meu pescoço, me arrepiando e me fazendo sorrir. – Fazíamos muitas loucuras naquela época, podemos repetir algumas mais tarde.

: - Deixe de ser assim, Lauren. – Eu soltei uma risada e a dei um tapa na bunda, a empurrando de leve pelos ombros. – Eu não vou fazer nada com você que possa me comprometer.

: - Mais? – Ela sorriu me desafiando e me puxou de volta, subindo as mãos por minhas costas. – Você já se comprometeu em todos os pontos desse relacionamento, Camila.

: - Sim, e a culpa é sua.

Esbravejei, revirando os meus olhos. Ela sorriu para mim de forma convencida, muito me lembrando a Lauren de dezesseis, dezessete anos.

: - Eu sei lidar bem com a culpa.

Ela não me deixou falar mais nada, apenas preencheu o pouco espaço com um de seus melhores beijos, aquele beijo de realização, aquele beijo que se derretia em satisfação, que ela sempre me dava em dias importantes. Aquela era uma noite mais do que importante para ela, nada mais justo do que desfrutar de vários beijos como aquele.

Quando sai do banho, um pouco mais tarde aquela noite, Lauren estava terminando a maquiagem. Não demorei muito para me vestir, rebolando para entrar em um tubinho vermelho que me chamou a atenção na vitrine desde a primeira vez que o vi.

: - Você sabe que vou me irritar nessa exposição com você dentro desse vestido.

Lauren resmungou enquanto passava o delineador, de frente para o espelho que revestia a porta do closet. Ela me olhava através dele, seu olhar intimidador me fez erguer as sobrancelhas.

: - Você não gosta dele?

Perguntei enquanto colocava os saltos de cor preta, me apoiando na parede.

: - Gosto. E esse é o problema. – Ela fechou a tampa do pequeno frasco e ajeitou o canto dos olhos com a ponta do dedo indicador, sem deixar de me avaliar pelo espelho. – Não quero que ninguém mais veja o que estou vendo. Quero expor minhas fotos, não você.

: - Não estará me expondo, Lauren. Deixe de ser ciumenta.

Eu ri, negando com a cabeça.

: - Eu vejo muitas exposições ai, inclusive essa bunda que era para ficar exposta apenas para mim, de quatro em cima dessa cama. – Lauren se virou de frente para mim, terminando de abotoar os botões da blusa social branca que cobria seu busto. Levei as mãos até a cintura e a encarei séria, fazendo um esforço enorme para não rir. – O que é? Não gosto e acabou.

: - Mas eu gosto.

Rebati, piscando para ela antes de tomar a direção da sala, ao ouvir a companhia tocar.

: - Camila... Não me rebata desse jeito. – Entrei no corredor deixando que uma risada mais do que apaixonada saísse por minha garganta. Ela não mudaria nunca. – Volte aqui, Camila, nós não terminamos essa conversa.

: - Eu tomo as decisões aqui, Jauregui, nem tente me desafiar.

Gritei quando cheguei na sala, ouvindo o som de seus saltos me acompanharem. Sabia que ela viria atrás de mim.

: - Você vai levar uns tapas nesse rabo antes de embarcarmos mais tarde, odeio quando você me responde. – O sorriso em meu rosto deixava claro que aquela ideia era tentadora demais para que eu sentisse vontade de contornar a situação. – E não rebola essa bunda pra mim, ou eu vou bater é agora.

: - Você vai esperar até que eu queira que isso aconteça, Lauren. E a minha palavra é a última por aqui.

Eu disse ao me virar de frente para ela, ao lado da porta, já com a mão na maçaneta. O rosto de Lauren estava contraído em uma expressão contrariada, ansiosa e excitada. Ela adorava aquele joguinho de poder, e sempre admitia embaixo de mim depois de uma gozada daquelas que adorava mais ainda perder. Depois de todos aqueles anos de namoro, ela nunca deixou de ser submissa à mim, e eu nunca deixei de amar o poder que tinha sobre ela. Pisquei um dos olhos quando ela engoliu a saliva de forma rápida, abrindo a porta logo depois. E lá estavam elas, Dinah, Normani e Ally, paradas uma ao lado da outra como há anos atrás, naquele quarto de hotel no continente Africano. Lauren abriu um sorriso enorme, e ali eu soube que ela havia ganhado a noite.

 

The World Through My Eyes. Foi esse o nome que Lauren deu a sua exposição, composta por milhares de fotos maravilhosas que ela havia tirado em nossas viagens com o grupo. Não era novidade que Lauren amava fotografia, como também não era novidade que ela era ótima no que fazia. Ali, no meio do Central Park, caixas luminosas enormes estavam expondo tudo o que eu considerava uma verdadeira obra de arte, com direito a nome do local onde havia sido tirada e data. As pessoas circulavam pelo espaço encantadas, analisando, ou até mesmo parando para observar por longos minutos. Cidadões mais do que importantes estavam presentes, amigos nossos da mídia, o prefeito de Nova York e mais alguns outros nomes. Lauren doaria todo o dinheiro que conseguisse com aquelas fotos para um orfanato que visitamos há dois anos, quando nos mudamos para Nova York. Causa nobre, não? Se tinha uma coisa que nos importava mais do que tudo, com certeza se resumia em ajudar ao próximo.  

: - Eu amo essa foto.

Dinah disse quando paramos de frente para um quadro especial, me fazendo lembrar que aquela era a minha preferida.

: - É a minha foto favorita de toda essa exposição.

Juntei as mãos em minhas costas, sorrindo ao me perder em lembranças. A foto em questão era de uma bela menininha Africana que havia balançado as emoções da minha futura esposa. Iori, lembram dela? Lauren tirou a foto quando voltou há África no Natal do ano passado. Iori segurava um jarro de barro, sentada embaixo de uma árvore seca, com um pequeno chapéu de Papai Noel na cabeça. Mas o que chamava a atenção naquela fotografia era o sorriso estampado no rosto daquela menina, como se nada e nem ninguém pudesse matar sua felicidade. Nos olhos quase fechados eu via o que já não podia ver há muitos anos nas pessoas ao meu redor: Honestidade, e uma vontade de continuar vivendo tão grande que esmagava todos os obstáculos que ela enfrentava diariamente. A simplicidade estava ali, exposta para quem quisesse ver. E há algo mais bonito na vida do que ser simples?

: - Ainda lembro dessa garotinha como se fosse hoje.

Dinah suspirou, sorrindo um pouco triste.

: - Ainda lembro de tudo como se fosse hoje, Dinah... – Respirei fundo, um pouco emocionada. – Como se fosse hoje.

Cada foto ali presente me fazia lembrar de algum momento que vivemos com o grupo, ou que eu vivi sozinha com Lauren. Muitas das minhas lembranças mais bonitas estavam, naquele momento, sendo reveladas ao público sem que eu tivesse tido tempo de me preparar para expor meus segredos. Era como entregar minhas emoções de bandeja. E eu nunca gostei tanto disso.

Eu e as meninas posamos para várias fotos aquela noite, ao lado das pessoas que foram convidadas para o evento. Demos entrevistas, falamos sobre a ideia da exposição, falamos sobre o álbum de despedida de Fifth Harmony, da nossa decisão de nos separar e de como nos sentíamos bem com  isso, porque daquela vez era sob nossa vontade, sem ninguém para decidir por nós, como deveria ser. E falamos sobre Camren, sobre tudo o que as pessoas mais gostavam de saber. Chelsea estava lá, é claro, e foi ela quem fez a entrevista mais constrangedora para mim, como sempre. Mas diferentemente do passado, onde Lauren saia de momentos como aquele completamente revoltada, tudo o que ela fazia era se derreter e falar como se jamais quisesse parar.

Seu braço esquerdo estava em torno da minha cintura, me mantendo o mais próxima possível. Estávamos sobre o longo tapete vermelho e posso dizer que parecíamos mesmo um casal de Hollywood. Chelsea era toda sorrisos, talvez a maior Camren shipper da história. Tinha como ser pior?

“Mas me diz, Lauren, tudo o que nós queremos saber. Quando sai o casamento?”

Chelsea colocou o microfone perto da boca de Lauren e eu queria me esconder embaixo do tapete, pois eu já estava quase fazendo parte dele de tão vermelha. Lauren riu, leve como uma pena, acariciando minha cintura com as pontas dos dedos.

: - Ainda não sabemos, mas ele sai. – Ela me olhou daquele jeito doce, com aquela admiração absurda que me causava frio na barriga. – Vocês vão saber quando.

“Espero que não demore muito, afinal, estamos querendo isso desde quando vocês tinham dezesseis anos.”

: - Chelsea... – Eu ri sem graça, negando com a cabeça. – Nós já estamos casadas de modo geral, não é? Morar junto hoje em dia é praticamente um casamento.

“Não, não, Camila, casamento é casamento”

: - Você está fugindo do compromisso, Cabello? – Lauren me encarou com as sobrancelhas erguidas, causando um daqueles momentos que os camren shippers amavam. E eu me vi perdida por tempo demais em seus olhos. Eu era uma vergonha. – Teremos uma conversa séria logo mais.

: - Você está incontrolável hoje.

Eu disse ao descansar a minha testa na lateral de seu rosto, escondendo um sorriso em seu pescoço. Lauren beijou a ponta de meu nariz e eu vi Chelsea morrer em sons nasais como uma garotinha histérica, assim como eu tinha certeza que milhares de fãs haviam morrido da mesma forma na frente da TV.

“Nada como um camren feels para fechar a noite. – Ela riu animada, olhando para a câmera. – E parabéns pela exposição, Lauren. Como sempre sendo perfeita.

: - Obrigada, Chelsea. É um prazer tê-la aqui cobrindo mais um dos meus momentos importantes. Fico muito feliz.

“Eu quem fico. Bem, eu e todos os fãs de Fifth Harmony. Ainda que separadas daqui a um tempo, tenho certeza que seguirão sempre juntas dentro deles.”

Tinha como negar uma verdade tão clara como aquela?  

Depois da exposição, Lauren, eu e a as meninas fomos jantar em um restaurante Italiano ali perto, para aproveitar o pouco tempo que nós ainda tínhamos juntas. Não havia como dispensar o uso de seguranças naquela altura do campeonato, logo fomos acompanhadas pelos dois que havíamos contrato. O local era bem aconchegante e daria um ótimo cenário para a pequena despedida que faríamos. A comida não demorou a chegar, e a minha fome era tanta que parecia que eu não comia há anos. Acho que nunca na minha vida chegaria o dia em que eu perderia o apetite. Se tinha uma coisa que eu amava fazer, essa coisa era comer.

: - Há quanto tempo você não come, Mila?

Normani perguntou curiosa, me encarando com as sobrancelhas erguidas.

: - Há três horas.

Respondi depois de mastigar a última garfada de massa. Limpei a boca com o guardanapo de pano e encostei as costas no encosto da cadeira, onde o braço esquerdo de Lauren repousava.

: - Fico indignada com o fato de você não engordar.

Ela resmungou e negou com a cabeça, voltando a comer.

: - Vai tudo pra bunda, eu já disse isso.

Dinah bebeu um pouco de seu vinho, trocando uma piscadela com Lauren.

: - Não comecem com isso.

Rolei os olhos, me deixando rir no final.

: - Bem, mudando de assunto... Que dia vocês voltam de Paris?

A voz de Ally soou baixa, como se ela não quisesse explanar aos quatro ventos nossos próximos passos.

: - Dia quinze. Camila vai até a faculdade resolver umas coisas e eu quero me dedicar um pouco ao meu estúdio. – Lauren explicou enquanto sorvia sua bebida com calma. – E ai nos mudamos pra lá assim que a divulgação do álbum terminar, como sabem.

: - Vou sentir muita saudade.

Um pequeno bico se formou nos lábios de Normani e sua voz soou a mais tristonha possível. Meu coração se apertou, odiava despedidas.

: - Não faz assim, Mani. – Pedi, erguendo minhas mãos sobre a mesa para tomar as dela, acariciando com os dedões. – Também vamos morrer de saudades, mas vocês podem ir visitar sempre que quiserem, não é como se não tivessem dinheiro pra isso, né? E nós sempre estaremos vindo quando eu tiver um tempo livre da faculdade.

: - Eu sei. Mas é que será estranho não ver vocês todos os dias.

Sorri um pouco triste, o que ela dizia era verdade. Seria estranho não ver as meninas, quer dizer, aquelas mulheres o tempo todo. Moramos juntas por tantos anos, e mesmo depois que Lauren e eu nos mudamos para um apartamento em Nova York, ainda nos víamos todos os dias para trabalhar com o grupo. Mas é a vida, o que faz parte dela, precisamos seguir nossos caminhos, nossos sonhos, virar uma página para começar outra. Aquela parte de nossas vidas tinha que ser finalizada para que pudéssemos construir algo novo, cada uma por si. Mas o melhor de tudo é que sempre estaríamos ali uma pra outra, independente do oceano que passaria a nos separar dali a algum tempo. Estaríamos juntas em alma, em sentimento, dentro do peito, vivas em lembranças que jamais morreriam. Afinal, uma amizade verdadeira não morre por causa da distância, se fortalece.

: - Eu vou ver vocês todos os dias, ou acham mesmo que não terá um quadro enorme do grupo na minha sala, como na nossa antiga casa? – Lauren perguntou erguendo as sobrancelhas, animando o momento. – Acho que vou até enjoar de olhar pra essas caras.

: - Vai pra merda, Lauren! – Dinah disse rindo. Nós acompanhamos a risada e eu encarei os olhos de Mani por alguns segundos, sem deixar de soltar suas mãos. Não queria perder o contato. – Eu acho bom mesmo que tenha muitas fotos nossa nesse apartamento de Paris, e por Paris inteira.

: - Isso é trabalho dos nossos fãs. – Ally comentou com um sorriso. - Afinal, quem é que cola pôster de Fifth Harmony em todas as esquinas? Ninguém faz um trabalho de divulgação melhor que eles.

: - Não estamos aqui a toa, né? – Comentei ao soltar as mãos de Mani, voltando a me encostar na cadeira. – Espero que eles gostem desse álbum. Quero ter o apoio deles sempre, e espero ver muitas mensagens deles quando me formar na faculdade.

: - Capaz deles aparecem na sua festa de formatura, na inauguração da minha gravadora, se matricularem no estúdio de Mani, ou pagarem para fazer fotos com Lauren, porque comer na cafeteria de Ally eu já sei que comem.

: - Eles são maravilhosos. – Ally começou a rir, seus olhos brilhavam. – As vezes eles até comem chorando quando estou lá, inclusive os brasileiros.

: - Os mais intensos, sempre. – Lauren sorriu, seus olhos estavam focados na taça de água parada ao lado de sua taça de vinho, parecia lembrar-se de alguma coisa. – Eles são a maior contradição da minha vida. Um dia os odiei profundamente, e hoje, que os outros fãs não me ouçam, são os que mais amo.

: - Os que mais amo também.

Eu comentei baixinho e me deixei rir, sendo acompanhada pelas meninas. Descansei minha mão direita sobre a coxa de Lauren por baixo da mesa e iniciei um carinho suave. Não conseguia ficar muito tempo sem tocá-la. Era de lei.

: - Temos nossos preferidos, mas no geral, amamos todas aqueles pestinhas. – Mani riu, bebendo o resto de seu vinho. – Meu coração chega se aperta só de lembrar que não cantarei mais para eles.

: - Eu sei que o momento pede toda uma sensibilidade, Mani, mas eu preciso comentar... – Lauren tinha um sorriso sapeca no rosto, e eu sabia que sairia merda. – Você está mais sensível do que já esteve antes na vida, até parece que está grávida.

No momento em que Lauren disse isso, antes que Mani pudesse responder sua piadinha, Ally se engasgou com seu suco e começou a tossir desesperadamente. Agarrei os olhos, assustada.

: - Levanta os braços, Ally.

Dinah disse nervosa, a baixinha estava ficando vermelha.

: - Bate nas costas dela, Mani.

Eu disse a abanando com o guardanapo de pano, do outro lado da mesa. As pessoas ao nosso redor prestavam atenção em nós, também assustadas com a crise de tosse.

: - Ai!

Ela acabou por dizer quando conseguiu respirar, levando uma das mãos ao peito.

: - Toma um gole bem grande de água, Ally. Vai!

Lauren esticou sua taça de água, onde Mani a pegou e fez com que Ally bebesse um pouco.

: - Respira fundo... – Mani ia dizendo, Ally obedecendo. – Isso. Você precisa tomar mais cuidado para ingerir as coisas. Por Deus! Quase nos mata de susto.

Normani negou com a cabeça e beijou a bochecha de Ally que respirava profundamente. Seu rosto em um leve tom de vermelho ia clareando, me deixando mais aliviada.

: - Eu... Eu quero dizer uma coisa. – Nós olhamos para ela com receio, sua cara não era uma das melhores. – Ia dizer daqui a pouco, mas... Então...

: - Ave María, mulher, o que foi?

Dinah se curvou de lado sobre a mesa, para que pudesse enxergar Ally melhor de onde estava.

: - Eu...

: - Você está doente?

Lauren perguntou, apoiando as duas mãos de dedos entrelaçados sobre a mesa. Olhei para ela com uma expressão séria, pensando sobre o que disse.

: - Se for isso, Ally, nós daremos um jeito, pagaremos os melhores médicos, tudo o que precisar. Para tudo tem um jeito, não é gente? Você só tem que confia em Deus, sabe que Deus nunca nos abandonou.

Normani disse nos olhando, onde todas concordamos com a cabeça.

: - Não, é que...

Ally bebeu mais um pouco de água, claramente nervosa.

: - Terminou com o Troy? – Perguntei, coçando a nuca. – Isso explica ele não ter vindo. Ah, Ally, eu...

: - NÃO, MILA... – Sua frase saiu mais alto do que ela queria, chamando a atenção outra vez para nós. Ally olhou para os lados como se pedisse desculpas e respirou fundo, nos encarando. – Por Deus! Só me deixem falar.

Ficamos em silêncio por alguns segundos.

: - Então fala. – Dinah pediu.

: - Estou grávida. – Ela disse.

Ficamos em silêncio pelo o que pareceu uma eternidade.

Grávida.

O silêncio agora não parecia tão silencioso assim. Minha cabeça explodiu em vozes que gritavam: GRÁVIDA. GRÁVIDA. GRÁVIDA. Nenhuma de nós se mexeu, foi como se tivéssemos perdido os movimentos do corpo. Olhávamos para Ally como se ela fosse um fantasma. Tudo o que eu ouvia eram respirações.

: - Gen...

Não deixamos que Ally continuasse. No mesmo segundo, usando de harmonia e qualquer coisa que se encaixasse naquela situação, nós tivemos a mesma reação: Gritar. Uma gritaria doida se iniciou naquela mesa, minha mão direita foi parar no meu peito enquanto eu tentava falar algo coerente e só conseguia colocar pra fora algo como: Meu Deus! Jesus! Bebê. Barriga.

: - MEU DEUS, ALLY! – Normani gritava, abraçando a baixinha que ria completamente vermelha. – GRÁVIDA, ALLY. NÓS SEREMOS TIAS. VOCÊ ESTÁ GRÁVIDA. MEU DEUS, ALLY!

: - Eu não estou sentindo minhas pernas. – Dinah disse enquanto largava as costas na cadeira, colocando a mão sobre o peito assim como eu. – Porra! Grávida! Vou ser tia. Essa anã está grávida. Quero um whisky duplo.

Olhei para Lauren e ela estava virando de uma vez só uma taça cheia de vinho. Sua testa brilhava de suor e suas bochechas vermelhas mostravam a reação ao álcool. Quando terminou, negou com a cabeça e começou a rir.

: - Essa é a melhor notícia do ano, Allyson. – Os olhos de Lauren brilhavam em lágrimas, e meu coração se encheu de alegria ao ver o quanto ela havia ficado emocionada com a notícia. O quanto NÓS havíamos ficado. – Teremos um mascote, uma nova vidinha que vai dar continuidade a tudo isso aqui. Ah, cara... – Ela fungou e deslizou os dedos pelo cabelo, visivelmente envergonhada por estar chorando. – Eu estou feliz pra caralho.

Ally só sabia chorar, era fato que pra ela compartilhar isso conosco foi o melhor momento.

: - Quando você soube, Ally? – Perguntei com o coração acelerado. – Parece bom demais pra ser verdade. Um bebê. Eu amo tanto bebês, eu... Eu quero segurá-lo logo.

: - Eu soube hoje de manhã. – Ally fungou um pouco, limpando os olhos com as pontas dos dedos. – Fiz o teste hoje. Já desconfiava, e ai tive a confirmação.

: - E de quanto tempo está?

Perguntei com um sorriso enorme. Estava louca de felicidade. Mal podia esperar para ver o rostinho dela logo. Dela, claro, tinha que ser uma menina pra eu enfeitar.

: - Dois meses. – Vi quando suas mãos foram para sua barriga, e eu me derreti inteira. – Nem parece que tem algo aqui dentro ainda, mas tem... As vezes juro que posso senti-lo. Estou tão feliz.

: - Todas estamos. – Normani a abraçou outra vez, aquele sorriso de dentes brancos tomando o seu rosto. – E Troy? Deve estar todo bobo, né?

: - Está. Por isso não veio, ficou comemorando com os pais. – Ally riu sem graça, abaixando a cabeça. – Acho que esse é o melhor momento da minha vida.

: - Disso eu não tenho dúvidas.

Lauren disse com olhos vermelhos, sorrindo mais do que me lembro de tê-la visto sorrir na semana.

: - E bem, é claro que quero convidá-las para serem as madrinhas. Eu não me importo com a quantidade, eu desejo que ele tenha quatro segundas mães, e não conheço ninguém melhor do que vocês para isso. Criamos uma história juntas, vivemos anos lutando pelo mesmo sonho, chorando pelas mesmas derrotas e vibrando pelas mesmas vitórias. Quero que meu filho saiba que, quando eu morrer, ele será muito bem cuidado por quatro pessoas que conhecem a mãe dele mais do que qualquer outra pessoa já conheceu. Quero que ele cresça sabendo que Fifth Harmony foi a melhor coisa e me deu as melhores pessoas que tenho em minha vida. Eu quero que esse laço que nós temos nunca morra. Que ele passe de geração em geração e que, nem mesmo a distância com toda a sua crueldade possa deixar de fazer com que ele seja visível.

Se alguém ali naquela mesa não estava chorando antes, passou a chorar depois que Ally finalizou. Eu senti como se tivesse sido empurrada de volta para todos aqueles anos, e para um futuro próximo. Ouvir aquilo foi como renascer, não em nós, mas naquele bebê. Um pequeno ser que crescia dentro da barriga daquela mulher maravilhosa, que levaria consigo todo o legado que nós criamos. Seu sangue teria um pouco de nós, correria nas veias a nossa história. Contaria para ele todos os detalhes, todas as vírgulas e todos os pontos do que foi e do que sempre seria Fifth Harmony. Aquela criança seria símbolo de um momento muito importante para nós: O começo. Uma nova vida que iria nascer naquele bebê, uma nova vida que iria começar para nós. Novos dias e novos anos, coisas novas, pessoas novas... Mas uma história que jamais seria esquecida e precisava ser resgatada todos os dias. Eu sempre disse que Deus tinha algo de muito bom guardado pra gente, mas não imaginei que ele iria nos presentear comum belo e doce renascimento. 

 

Lauren POV.

Paris, França.

Ah, minha ‘Cidade Luz’, terra dos apaixonados, cenário de muitos encontros e desencontros. Histórica, charmosa, fascinante, elegante, romântica, dona de maravilhas que eu nunca havia visto em lugar nenhum. Diante dos meus olhos, dentro da minha alma, belezas em todos os cantos que chegava a me tirar o fôlego. Lembranças, desejos, planos, tudo vinha de uma só vez em todas as vezes que eu pisava naquela Cidade. Estar em Paris era como viver, novamente, o começo de tudo. Resolvemos nos mudar sem pensar duas vezes, Camila e eu queríamos viver todos os dias como se fosse a primeira vez. E havia coisa melhor do que morar no lugar que serviu de cenário para a maioria das primeiras vezes que você teve em sua vida?

Era Outono, a Cidade estava coberta por folhas amareladas, a temperatura deveria estar entre cinco e dez graus. Da janela do nosso apartamento eu via o rio Sena acordando, cortando Paris ao meio e voltando a adormecer em algum lugar distante. Desembarcamos naquela manhã, para ser mais exata, havíamos acabado de chegar. Aquele apartamento muito me lembrava o hotel em que ficamos há alguns anos atrás, vai ver foi por isso que decidimos comprá-lo. A parede de vidro que nos dava uma visão ampla da Cidade estava lá, dessa vez presente na sala. Ao fundo, a Torre Eiffel me mandando lembranças. Sorri, perdida naquela sensação de prazer por estar em casa. Ah, finalmente em casa.

: - Estou tão cansada. Deus! Preciso dormir umas oito horas seguidas.

Ouvi a voz de Camila atrás de mim, e me virei devagar para tê-la em meu campo de visão. E que visão. Era sempre uma tormenta olhar para ela, sua beleza sempre iria me surpreender. Ela estava vestida com uma calça jeans clara e uma blusa de manga comprida vermelha, coladinha ao corpo. O sobretudo repousava sobre o sofá, já que nosso apartamento estava quentinho. Suas bochechas estavam um pouco coradas, e seu cabelo bagunçado me fez sentir vontade de afagá-lo. Sorri para ela de forma aconchegante, abrindo os braços em um convite para que ela se aproximasse. Alguns segundos e eu a alinhei no meu peito, a envolvendo com os braços e a aconchegando em mim como se pudéssemos ficar ali para sempre. Cheirei seu cabelo, fechei os olhos para me perder naquela sensação deliciosa. Depositei um pequeno beijinho em sua cabeça e suspirei.

: - Está feliz por estar na nossa futura casa?

Perguntei baixo, sem necessidade de levantar a minha voz.

: - Nem sei se isso é só felicidade. – Ela respondeu enquanto esfregava de leve o rosto nos meus seios, quase como um ronronar. – Eu amo esse lugar, Lauren, esse apartamento. Me faz lembrar tantas coisas... Acho que essa foi a melhor decisão que tomamos.

: - Foi sim. – Abri um sorriso pequeno contra suas mechas de cabelo, acariciando suas costas com calma. – Não há outro lugar que poderíamos estar.

: - Obrigada por embarcar nessa comigo. – Ela disse ao me abraçar mais forte, como se quisesse nos fundir. – Por seguir minhas loucuras, por me apoiar, por me defender com unhas e dentes.

: - Eu te amo. – Eu disse, a apertando contra mim. – Eu te amo muito e eu iria atrás de você para qualquer lugar desse mundo. Eu só quero estar onde você está, te apoiar, te animar quando estiver triste, te dar forças quando você sentir que não tem mais. Estamos juntas há seis anos, Camila, e não há nada que eu tenha feito por você no passado que não voltaria a fazer no futuro.

Com calma ela se afastou alguns centímetros, erguendo a cabeça para me olhar. Seus olhos estavam calmos, como aquela manhã de Outono, transmitindo muito ou tudo do que ela sentia. Ergui a mão direita para acariciar sua bochecha, e vi Camila fechar os olhos sob o meu toque.

: - Acredita em vidas passadas?

Ela me perguntou tão baixo que mais um pouco e eu não escutaria.

: - Acredito.

Eu disse sem deixar de admirá-la, esfregando a pele macia da maça de seu rosto com o dedão.

: - Tenho certeza que já vivi muitas outras com você. – Sorri ao ouvi-la, meus olhos vidrados na pequena ruga que crescia em sua testa. – Esse amor que sinto não pode ser fruto apenas dessa vida. Eu te olho e tenho lembranças que não vivi nesses vinte e três anos. Sempre acreditei que nosso relacionamento era diferente, e hoje sei que ele não começou aqui, nessa Cidade, ele continuou. Estamos apenas continuando.

: - E iremos continuar por quantas vidas vierem. – Segurei seu rosto com as duas mãos quando seus olhos se abriram, intensos e quentes, me enchendo de um calor que eu conhecia muito bem. Não era nada relacionado a prazer físico, era satisfação da alma. Só Camila conseguia satisfazer aquela parte de mim. – E eu espero que ainda tenhamos muitas. Somos a melhor coisa que eu já vi, Camila. Você é a melhor coisa que eu tenho e quero ter pelo tempo que Deus me permitir.

: - Que heróis e santos fiquem do nosso lado. – Eu amava aquela frase.

: - Eles sempre estiveram.

Respondi com toda a certeza. Se nós estávamos ali era porque Deus, heróis, santos, espíritos de luz ou qualquer outra entidade do bem esteve ao nosso lado. E ficariam. Afaguei sua pele mais uma vez, trazendo seu rosto para tão perto até que pudesse beijá-la. O calor de sua boca me esquentava nos dias frios, sua língua macia que acariciava a minha com delicadeza fazia-me sentir o quanto eu era amada. Amada. Essa palavra tinha um significado muito grande. Era ela quem dava sentido a minha vida, me fazia acordar todos os dias com um sorriso no rosto. Eu sabia que era amada quando pegava Camila me olhando de manhã na cama, quando ela me trazia o café, quando me deixava um bilhetinho de “bom dia” ao sair para cumprir alguma tarefa, quando cozinhava pra mim, quando levava a minha toalha no banheiro, quando penteava o meu cabelo, quando me dava esporro por algum erro que cometi, quando sorria no silêncio em minha direção, quando encontrava os meus olhos no meio de uma multidão. Eu sabia que era amada sem que ela precisasse dizer “eu te amo”. Bastava um gesto e eu podia sentir, de onde estivesse, o tamanho do amor que ela oferecia pra mim. O amor é isso, afinal, amar em atitudes porque as palavras voam e não voltam mais. Deixe marcas, deixe lembranças, não apenas palavras. Crie raiz, colha frutos, ame como se fosse a última coisa que você fosse fazer na vida, porque talvez seja. Viva, não apenas exista. Seja amada, retribua e veja todas as peças que antes pareciam completamente bagunçadas, se encaixarem.

 

Acordei por volta das sete naquela noite frienta, deixando Camila ainda dormindo na cama quentinha depois de termos feito amor a tarde toda. Eu costumava dizer que quando estávamos em Paris, nunca transávamos ou fodíamos, fazíamos amor. Ela ria toda vez que me ouvia dizer isso, podia me lembrar do som de sua risada divertida. Mas por trás de todo o seu divertimento, ela sabia que era verdade. E como ela gostava daquela verdade.

: - Sim, mãe, nós estamos bem.

Eu dizia para dona Clara ao telefone enquanto revelava algumas fotos na pequena sala de revelação, sob uma luz forte e avermelhada.

: - E cadê Camila? Quero falar com ela, faz tempo que não nos falamos por causa dessa correria.

Você deve estar se perguntando: WTF? Não é? Eu também me perguntaria se as coisas não tivessem mudado tanto nesses últimos cinco anos. Minha mãe e Camila haviam se tornado unha e carne, se falavam quase todos os dias. Dona Clara confiava mais nela do que em mim e ao invés disso me deixar enciumada, me deixava muito feliz.

: - Ela está dormindo, o voo foi longo. – Pendurei mais uma foto no barbante estendido, para que ocorresse a secagem. – Camila tem estado muito cansada esses dias.

: - Leve ela ao médico, Lauren, vai ver está precisando de umas vitaminas.

: - Vitaminas de que, mãe? Camila come tudo e o tempo todo.

Eu ri, mergulhando o negativo no que chamávamos de ‘revelador’.

: - Só vejo Camila comendo besteira.

Ela resmungou, e eu neguei com a cabeça abrindo um sorriso, enquanto via a imagem ir aparecendo de pouco em pouco no papel.

: - Se isso lhe deixa satisfeita, vou levá-la pela semana, okay?

Tirei a fotografia do primeiro tanque e a mergulhei no segundo.

: - Obrigada! Agora preciso desligar, seu pai está impaciente para sair.

: - Mande um beijo para ele e as crianças. Diga que estou com saudades.

Passei a fotografia para o penúltimo tanque. Apesar de um pouco trabalhoso, amava aquele processo.

: - Pode deixar, meu amor. E você deixe um para Camila, peça para que me ligue amanhã. Eu te amo muito!

: - Okay, mama. Eu também te amo.

Desliguei o telefone e o coloquei sobre a bancada, terminando a revelação. Eu tinha naquele apartamento um pequeno estúdio, o que eu chamava de ‘santuário’. Nele havia apenas quadros com fotos de Camila que eu havia tirado por um longo tempo, em todos os tamanhos, formatos e cores. Minhas preferidas eram as em preto e branco. Aquela mulher era a minha maior inspiração para fotografar. Havia fotos de quando ela acordava, quando comia, quando sorria, quanto tomava banho, quando andava, quando passava os dedos pelo cabelo, distraída, concentrada, irritada, excitada. Qualquer estado de espirito existente. Era o meu local favorito no mundo, onde eu mais gostava de estar. Às vezes, quando estávamos em Paris, como naquele momento, eu passava quase o dia todo lá dentro. Lia algum livro, acrescentava alguns novos quadros, usava o notebook, ou apenas olhava... Olhava para ela e seus mil traços diferentes que formavam uma beleza sufocante. Colocaria algumas fotos novas lá pela semana, mas dessa vez não seria apenas dela, mas nossas. Queria fazer uma homenagem aos anos, a nós, a Paris. Acho que Camila iria gostar. Você gostaria?

Iria começar mais um processo de revelação, bem especial, preciso dizer, quando ouvi três fracas batidinhas na porta. Camila sempre respeitou muito o meu espaço, e mesmo eu dizendo que não precisava bater antes de entrar quando eu estava trabalhando, ela batia. Eu sorri olhando para a porta.

: - Entra!

Respondi, apoiando a mão direita sobre a bancada. A porta se abriu um pouco e a vi colocar a cabeça para dentro, um sorriso pequeno repousando em seus lábios.

: - Oi!

: - Ei, princesa. – Seu sorriso se abriu mais ainda ao ouvir o apelido que usei, e ela entrou de vez na pequena sala de iluminação vermelha. Seu cabelo estava completamente desalinhado, sexy e doce ao mesmo tempo. Suas pernas estavam de fora e tudo o que cobria seu corpo era a minha camisa de mangas compridas do Patriots, que caía até o início de suas coxas. Tão linda! Uma mulher feita de vinte e três anos que, na maioria das vezes, acordava como uma menininha de cinco, completamente manhosa. – Vem cá.

Chamei. Ela veio, com calma e preguiça, bocejando no caminho.

: - Acordou há muito tempo?

Sua pergunta saiu entre um bocejo, e ela me abraçou quando ficamos perto o bastante.

: - Não muito. – Beijei sua cabeça. – Estou revelando umas fotos e quero te mostrar uma coisa.

: - O quê?

Camila adorava surpresas e mesmo que aquela não fosse uma surpresa em si, aposto que ela ficaria bem animada para ver.

: - Espere!

Pedi erguendo a palma da minha mão direita, indicando para que tivesse calma.

: - Essa luz vermelha me deixa um pouco assustada.

Eu ri ao ouvi-la, abrindo uma das milhares de gavetas existentes ali para pegar alguns negativos.

: - Eu gosto da áurea.

Respondi depois de ter os negativos em mãos, voltando para perto dela.

: - Isso é porque você é totalmente estranha e gótica.

Ela sorriu de canto, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha e cruzando os braços embaixo dos seios.

: - Sou. E você me ama desse jeitinho.

Sorri para ela, separando o que nós iríamos revelar. Sim, nós.

: - Amo! – Ganhei um beijo na bochecha e ela logo voltou a se encostar na bancada. - O que é isso?

: - Você vai ver. - Ajeitei tudo com cuidado, me aproximando do primeiro tanque. - Vem aqui, fica na minha frente.

A expressão de Camila era curiosa, e ela se aproximou sem muito pensar. Logo estava na minha frente, eu a abracei por trás, descansando o meu queixo por cima de seu ombro direito. Ela não disse nada, acho que estava esperando eu dizer. Sua respiração era calma, mas suas mãos tremiam um pouco. Ela nunca havia feito aquilo, também nunca pedi que fizesse. Mas aquele momento tinha que ser nosso, não apenas só meu. Peguei em suas mãos com calma, acariciei por um momento. Guiei uma delas até a pinça que usava para mergulhar os negativos, depois até o primeiro da pequena fila que eu arrumei. Sem dizer nada, guiei sua mão para o primeiro tanque, e deixei que ela mergulhasse a foto no líquido. Mandei que ela fizesse a mesma coisa nas outras químicas e apenas observei.

: - O que...

Ela iria perguntar algo, mas eu a interrompi.

: - Apenas veja.

Eu disse com um sorriso pequeno, soltando suas mãos e abraçando sua cintura. Camila ficou em silêncio por um tempo, olhando a fotografia se revelar dentro daqueles recipientes. O cheiro de sua nuca me distraiu um pouco e eu fechei os olhos para senti-lo melhor.

: - Onde... Você achou isso? – Ela perguntou-me quando tirou a fotografia da água corrente, erguendo-a para ver com mais clareza. – Somos nós na Torre Eiffel a primeira vez que estivemos aqui. – Ela disse o óbvio, admirada. - Onde guardou isso por tanto tempo?

Eu notei a emoção em sua voz e senti quando percorreu seu corpo. Seu coração estava levemente acelerado, e seus músculos pareciam tensos. Mas não era ruim. Ela sorria, e era o mesmo sorriso da foto que ela tinha em mãos. Fechei meus olhos de novo, e aquele dia voltou na minha cabeça como se tivesse sido vivido recentemente.

“: - Olha só pra isso, Camz. – Beijei seu ombro. – Existe alguma coisa que você já tenha visto na vida que seja mais bonito que isso?

: - Isso é perfeito. – Ela respondeu sob um suspiro, observando Paris coberta de neve do topo da Torre Eiffel.

: - Meu sonho era ver isso de perto, e olha só onde estou... – Sorri. – Mal dá para acreditar. - A apertei mais em mim. – Que bom que você disse sim pra mim, Camz, que aceitou viajar comigo. Não seria o mesmo sem você.

: - Por que você me diz essas coisas? – Ela sussurrou.

: - Porque é o que eu sinto. Eu queria poder vir à Paris, mas queria com você, te dar a mesma felicidade que eu sempre tive certeza que sentiria.

: - Independente de qualquer coisa, Lauren, você me faria feliz em qualquer canto desse mundo. Eu sei que tudo parece meio borrado e errado pra você, mas saiba que estou feliz.”

Voltei a abrir os olhos quando a lembrança foi embora da mesma forma rápida com a qual veio, e olhando nos olhos de Camila, tinha certeza que ela também lembrou da mesma coisa. Sorri para ela, beijando seu ombro.

: - Estava esperando o momento certo para revelar. Não queria que uma pessoa qualquer tocasse nelas, e naquela época não podíamos nos dar ao luxo delas caírem na mídia, caso mandássemos revelar em algum lugar. Então, cheguei a conclusão que se alguém tinha que dar vida a elas, esse alguém teria que ser eu. E quero fazer isso com você.

Expliquei a ela, observando nossos rostos adolescentes naquela fotografia que trazia à tona o passado, um belo e tempestuoso passado.

: - Eu nem sei o que dizer, isso... – Camila respirou fundo, aproximando os dedos da foto para tocá-la, o que me fez segurar sua mão para que ela não acabasse manchando. – É tão lindo. Olhe só para nós... – Ela soltou uma risada de melancolia, me deixando abraçá-la com mais força. – Estávamos tão felizes, tão livres. Parecia que nada e nem ninguém poderia nos impedi de viver. Esse dia foi muito importante pra mim, ainda me lembro do que você me disse e de como me senti amada, mesmo que ainda não tivesse nada claro entre nós.

: - Eu já te amava intensamente. – Comentei, não que ela não soubesse. – Mas era idiota o bastante pra admitir.

: - Era. – Nós rimos juntas e paramos no mesmo instante, perdidas em emoção demais. – Era e eu te amava tanto, tanto, tanto, mal podia me conter. Amava o jeito de como você era uma imbecil e de como mentia pra mim. Amava a dor que você me causava porque aquela era a única coisa que eu tinha de você.

: - Camila...

Eu iria interrompê-la, com medo de que ela tomasse um caminho diferente, mas ela tomou a frente e me interrompeu, sorrindo com lágrimas nos olhos, pendurando a foto no fio para a secagem sem que eu mandasse.

: - Por muito tempo, Lauren, a dor da sua rejeição foi tudo o que eu tive e eu admito, gostei dela por longos meses. Eu gostava de tudo o que vinha de você, então não se preocupe com o que estou dizendo, tudo serviu para que construíssemos o que temos hoje. Não lembro desse dia e nem dos outros com mágoa, lembro com felicidade, como agora. Estou feliz.

: - Você é linda.

Eu disse com carinho, selando seus lábios. Meu coração parecia que ia explodir dentro do meu peito.

: - Eu sou sua. – Ela sorriu de volta, tornando a se virar de costas para mim. A abracei novamente e entendi que ela queria que continuássemos. Camila fungou baixinho, e eu limpei a lágrima solitária que ela deixou escapar. Eu amava quando ela se emocionava, amava quando eu conseguia causar nela tudo o que ela causava em mim. - Podemos revelar as outras?

Ela perguntou, eu apenas sacudi a cabeça em positivo. Aos poucos fomos revelando as outras fotos que formavam o nosso passado. Penduramos todas para a secagem, uma mais especial do que a outra.

: - Olha essa... – Camila riu. – Lembro muito bem de quando tiramos. Você me encheu o saco pra tirar essa foto.

: - Você não queria tirar, não sei por quê. Ficou tão bonita.

Na foto, Camila estava com os braços abertos quase embaixo da Torre Eiffel e eu estava atrás dela, com o rosto em seu ombro, como se tivesse me escondendo. Tirei depois que passamos longos minutos nos beijando no meio das árvores que formavam aquele bosque. Que saudade eu sentia daquele dia.

“: - Corra, Camz, eu vou pegar você mesmo assim.

As pessoas nos olhavam sorrindo, desviamos delas uma vez e outra para continuar toda aquela perseguição infantil que estava me fazendo perder a respiração. Camila correu para debaixo da Torre Eiffel e eu fui atrás dela, estava perto, estava quase conseguindo, só mais um pouco e... Ergui meu braço para alcançá-la, a enlaçando pela cintura e puxando suas costas contra o meu peito. Ela ria desesperada, sua respiração saindo com fúria.

: - Eu disse que ia pegar você.”

Fiquei tonta com mais uma lembrança e me deixei sorrir enquanto admirava a mulher à minha frente.

: - E essa?

Camila apontou para a terceira foto pendurada, onde ela dormia profundamente sobre a cama, nua, e eu tirei a foto deitada sobre seu peito. Minhas bochechas coraram e eu abaixei a cabeça sem graça.

: - Eu não resisti.

Confessei, sentindo meu rosto arder. Ela sorriu de canto e eu tornei a voltar no tempo.

“: - Eu lhe trouxe flores porque não consegui achar outra coisa para expressar o quanto esse momento é especial pra mim, Camz. Eu quero refazer o pedido da forma certa, do jeito que eu gostaria de ter feito e não fiz pela emoção do momento. Então... Camila, quer namorar comigo?

: - É claro que eu quero. “

Sacudi a cabeça em negação, tentando me livrar dos pensamentos. Sentia uma sobrecarga enorme, tudo ao mesmo tempo. Revelar aquelas fotos me deixou mais emocionada do que eu achei que ficaria, lembrei mais do que achei que lembraria e senti saudade... Muito mais do que pensei que sentiria. Percebi, naquele minuto pela milésima vez o quanto tudo havia valido a pena.

: - Eu realmente não sei o que dizer diante delas. – Camila observava cada uma atentamente, um pouco chorosa, mas o sorriso nunca saía de seus lábios. - É tão estranho e tão revigorante ao mesmo tempo nos ver com dezessete e dezoito anos. Éramos loucas, Lauren.

Ela comentou quando olhou a última foto nossa, onde nos beijávamos em um restaurante no centro de Paris.

: - Loucas... – Completei. Me aproximei dela e a virei de frente pra mim, derretendo naquele sorriso perfeito que cortava seu rosto. Afaguei seu cabelo e selei seus lábios. – Completamente loucas. Se eu pudesse fazer tudo de novo, eu faria.

: - Eu não duvido disso. – Ela riu baixinho, embalando o momento.

: - Vou colocar essas fotos no estúdio, ao lado das suas. Quero que possamos olhar para elas todos os dias e lembrar que dentro de nós ainda vivem aquela Lauren e aquela Camila de dezessete e dezoito anos. Quero que, olhando para elas, possamos lembrar de tudo o que fizemos e tudo o que podemos fazer uma pela outra. É por causa daquelas loucas que nós estamos aqui hoje, e eu quero viver e cometer loucuras por você por todos os dias da minha vida.

: - O que seria de nós se não tivéssemos sido acometidas pela insanidade, não é? – Camila tocou meu rosto e eu fechei os olhos, deitando em sua palma. – A coragem para enfrentar o mundo veio dela, então o que há demais em ser louca?

Eu sorri, encostando nossas testas.

: - Não há nada demais em cair na loucura que nós chamamos de amor, Camila. – Respirei fundo para sentir seu cheiro no meio de toda aquela química do estúdio de revelação. – Não há nada demais em não querer uma cura.

: - Eu só quero você.

Ela envolveu seus braços em meu pescoço e eu a abracei pela cintura, a tirando do chão.

: - É por isso que você é o meu melhor vício. – Eu ia dizendo enquanto a carregava até a porta. – Sou viciada em tudo o que existe em você. E se posso ser considerada louca por não querer sair dessa dependência, então que seja.

: - Que seja!

Abri a porta, peguei o corredor.

Nos guiei por um caminho mais do que conhecido.

Encontrei a cama, a deitei sobre ela.

Me perdi, nos perdemos. Enlouquecemos mais uma vez, sucumbimos de prazer e uma paixão avassaladora. Aquela era a graça de tudo, estar louca, viver louca por outra pessoa, ser louca pela vida.

 

9 de Novembro.

Na manhã do dia nove, Camila saiu cedinho para resolver uns assuntos na faculdade, saber quando começaria as aulas e assinar uns papéis. Eu preferi ficar em casa, estava bastante cansada, mas prometi que a buscaria para que pudéssemos dar um passeio. E foi o que eu fiz. No horário certo, depois da reunião que ela teve, eu a peguei na porta da Faculdade. Ela estava animada, sua felicidade poderia ser vista do outro lado da Cidade. Eu estava satisfeita, ver minha mulher realizar seus sonhos era o que eu queria. Apesar de termos muitos fãs em Paris, andar por lá sem seguranças era algo que podíamos nos dar ao luxo, ao contrário de qualquer outro lugar.

Caminhávamos pelas ruas de mãos dadas, agasalhadas por sobretudos e mantendo uma conversa agradável. A tarde estava linda, nós almoçamos em um restaurante e depois fomos visitar o Palácio de Versalhes, no subúrbio. Demos uma passada na Torre Eiffel e eu tirei algumas fotos de Camila por lá. Paris tinha muitos lugares para se conhecer, muita história em um mesmo lugar. Era maravilhoso poder respirar aquelas recordações. Subimos a ponte que cortava o Rio Sena, e paramos para observar o por do sol.

: - Lembra do primeiro show que fizemos aqui, exatamente nessa data? Dia nove de novembro.

Camila perguntou com os olhos fixos no horizonte, o vento soprava contra ela e jogava suas mechas de cabelo contra seu rosto. Desejei erguer a câmera para tirar uma foto, e foi o que eu fiz. Ao ouvir o barulho da captura, ela sorriu e me olhou. Retribui o gesto e cobri a lente com a capinha, largando a câmera que era sustentada pela cordinha em torno do meu pescoço.

: - Como esquecer? Foi a primeira vez das meninas aqui e a nossa segunda. Ainda me lembro de como Normani ficou histérica. – Nós rimos juntas, onde eu me coloquei ao seu lado com os olhos na direção que os dela estavam. – Foi perfeito. Nunca vou me esquecer do que senti.  

: - Parece que foi ontem, não é? – Com calma, cheguei para o lado e depositei minha mão em cima da dela, segurando a grade. Não disse nada, apenas concordei com a cabeça. Estava sendo sacudida por mais lembranças e aqueles momentos eram de lei o meu silêncio. – Como o tempo passa, como as coisas mudam. Como eu ia imaginar que o mundo iria girar desse jeito. Tudo o que vivemos, o que construímos, o que deixamos para trás. Nós cumprimos a nossa missão da melhor forma possível.

: - Então é isso?

Eu perguntei, fechando os olhos quando o vento soprou com mais força.

: - O quê?

: - É isso que chamamos de grande final?

Camila olhou para mim sob os últimos raios de sol daquela tarde, seus olhos me diziam tanta coisa e me prometiam muitas outras. Meu coração, ao contrário de todas as outras vezes, batia calmo, sereno, como se ao invés de me causar todo o tormento maravilhoso de sempre, ela estivesse me causando apenas paz. Era paz o que eu sentia.   

: - Acho que devemos chamar de grande recomeço. – Camila segurou minhas mãos e beijou meus dedos, me causando um formigamento gostoso. – Quero fazer uma coisa.

: - Diga!

: - Espere!

Ela sorriu animada e me deu as costas.

: - Camila!

Exclamei divertida, soltando sua mão, vendo-a se afastar um pouco até um senhor sentado no final da ponte, ao lado de uma barraquinha. Enfiei minhas mãos dentro do bolso do meu sobretudo, esperando que ela voltasse. Não demorou muito e ela voltou, correndo como aquela menina pela qual me apaixonei. Quando ela estava perto o bastante, me mostrou suas mãos. Havia um cadeado e uma canetinha preta. Sorri, admirando seus olhos.

: - Estamos na ponte dos cadeados, afinal. Que graça tem vir aqui e não pendurar um, como todos os casais apaixonados fazem?

Ela me perguntou fazendo uma careta, me oferecendo a caneta. Peguei enquanto ria, tremendo de leve com o vento frio.

: - Você tem razão.

Ela riu animada, me oferecendo o cadeado.

: - Vai! Escreva o meu nome.

Eu não disse nada, apenas peguei o pequeno cadeado e o coloquei na palma da minha mão, escrevendo “Camila” com letras pequenas no centro.

: - Minha vez.

Passei o cadeado para ela, e vi quando escreveu “Lauren” logo embaixo, desenhando um coração minúsculo no meio.

Em silêncio, Camila segurou na minha mão e entrelaçou os nossos dedos, me puxando para perto da grade onde milhares de cadeados iguais a aquele estavam pendurados. Com calma ela pegou a pequena chave do bolso de seu sobretudo e o abriu, se abaixando um pouco. Fiquei de pé, meus olhos fixos em suas mãos enquanto ela procurava um lugar livre e fechava o cadeado ali, no meio de tantos outros, centenas de nomes, assim como os nossos, eternizados naquele local que já havia presenciado tantas cenas de amor. Quando terminou, Camila se ergueu e olhou para mim, me entregando a pequena chave.

: - Jogue no rio e deseje o que quiser em voz alta, para que eu possa ouvir e desejar com a mesma intensidade.

Seu tom não era mais divertido como antes, havia seriedade em sua voz e uma sensibilidade admirável. Deslizei meus dedos por sua palma, pegando a chave e me segurando na grade com a mão livre. Olhei para o Rio Sena abaixo de nós e fechei meus olhos. Camila voltou a entrelaçar nossos dedos, e posso dizer aqui, para ficar marcado na eternidade, que nunca desejei algo com tanta força em toda a minha vida.

: - Que nosso amor prevaleça e que a morte não seja o limite para nós. Que você viva em mim e que eu viva em você por todos os dias que nos resta. Que a vida seja sempre bonita e que toda a nossa história fique marcada nos corações de todas as pessoas que nos acompanharam por todos esses anos. Desejo, nesse momento, que o que Deus e Fifth Harmony uniram, nada e nem ninguém possa separar.

Ao terminar, segurei a chave com força e a lancei nas águas calmas do Rio, vendo-a sumir como se nunca tivesse existido. Respirei fundo e senti que podia chorar, e só fui me dar conta de que já estava fazendo isso quando os dedos de Camila limparam a lágrima que deixei escapa.

: - Je t’aime.

Ela sussurrou no meu ouvido em um francês perfeito quando me abraçou pelo pescoço, enterrando o rosto na curva do meu ombro. Meu corpo foi preenchido por aquela chama que me queimava inteira, que me sacudia e me fazia morrer por ela desde quando consigo me lembrar.

: - Je t’aime, mon amour.

Respondi contra seu cabelo, a abraçando com força e fazendo de nós apenas uma pessoa. Um só corpo, um só coração, uma só alma.

Ali, naquela Cidade que havia dado um outro rumo a minha vida, eu trouxe de volta algo que havia pensado há muitos anos atrás, mas que nunca tive tinha coragem de admitir.

Quando os meus olhos encontraram os de Camila naquele primeiro momento nos bastidores do The X Factor, eu tive apenas um pensamento: Eu estou me apaixonando pela última vez. 

 

Fim? Vamos fazer assim:

Recomeço!


Notas Finais


Então, meus amores, ficamos por aqui. Nem sei dizer o que estou sentindo agora, sinceramente. Foram dois anos escrevendo essa fic, longos dois anos. Queria agradecer POR TUDO. Obrigada! Obrigada por terem lido a minha estória, obrigada por gostarem, obrigada por terem feito dela um motivo de orgulho pra mim. Obrigada por todos os momentos que vivemos juntos por todo esse tempo. Hoje estou finalizando uma etapa muito importante pra mim e vocês fazem parte dela. Tentei mostrar com essa fic que podemos amar sem medida e viver intensamente não só por nós, mas também por outra pessoa. Que amar e ser amada é a melhor coisa que Deus pode nos oferecer. Que na realidade nem sempre há traição. Que na vida há pedras, há dor, há mágoa, mas que podemos vencer se tivermos amor e permanecermos juntos. Tentei mostrar com Falling in Love que há muito mais do que nós podemos ver, e eu espero, fundo do meu coração que eu tenha conseguido passar ao menos uma dessas coisas. Obrigada a todas as pessoas que me deram ideias, que me ajudaram em algum momento nessa fic quando eu achei que não ia conseguir continuar. Obrigada a minha mulher por ter me dito que eu era capaz de terminar o que comecei, e por ter me empurrado em grande estilo. Não teria conseguido sem ela, muito menos sem vocês. Me despeço de tudo isso com esse capítulo, foi bom enquanto durou. Espero que vocês vivam como se não houvesse o amanhã. Vou sentir saudade... Mas quem sabe um dia eu volte com algo novo, quem sabe. Amo muito vocês, nunca esqueçam. Me fizeram feliz por muito tempo e quando eu pensar nessa estória, vou lembrar de vocês.

Podem comentar no @gilylas, eu não posto mais lá, mas sempre fico de olho pra saber notícia das meninas e claro, ler os comentários de vocês. Vou deixar o link do trailer da fic lá embaixo, para caso alguém ainda não tenha visto.

Com muito amor,
Gisele. <3

Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=BTytm8ofWa4&feature=youtu.be


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