História More Than This - Um verdadeiro amigo.

Minha cabeça doía, realmente doía. Uma dor que eu não sentia há muito tempo, parecia que já se fazia décadas desde a última vez.
 Rolei pro lado e coloquei o travesseiro sobre a cabeça tentando evitar os fracos raios de sol que adentravam o recinto. Mas com a almofada sobre o rosto, eu começava a me sentir sufocada e calorenta.
Sentei-me na cama totalmente desnorteada. Eu nunca estive aqui antes. E tudo o que eu me lembrava da noite passada vinham como flashes de memória, cenas prévias da noite passada. Tudo muito embaraçado, confuso, borrado e indistinto.
Fiquei ali sentada no centro da cama por um tempo me sentindo um pouco vazia, nos dois sentidos da palavra, pois eu estava morta de fome e me sentindo vazia.
Então eu me lembrei de Zayn.
Zayn!
Olhei por debaixo do lençol e eu estava, graças a Deus, completamente vestida, exceto pelos sapatos que foram tirados e substituídos por uma meia.
Ufa.
Pelo menos eu sabia que não tinha dormido na casa de qualquer um e que esse qualquer um não havia se aproveitado de mim.

Levantei-me e fui até o banheiro, a porta estava entreaberta. Entrei e me fiquei no espelho.
Eu estava um bagaço! O rímel preto escorrido pelo meu rosto indiciava que eu havia chorado. Os meus olhos totalmente pretos dando a impressão de que havia esfregado aquela área e deixando um rasto de maquiagem escura que poderia se comparar a um hematoma de um soco. O batom espalhado pela minha bochecha como se eu tivesse esfregado a mão na boca. E o meu cabelo... bom, o meu cabelo parecia um monte de palha seca, melhor, para ser mais especifica, posso dizer que parecia um ninho de pássaros. Dei uma rápida olhada para baixo e: AH NÃO! O MEU VESTIDO NOVO NÃO! Ele estava um pouco rasgado... Na verdade ele estava bastante rasgado, a bainha se descosturou um pouco abrindo fendas no tecido na altura da coxa, sem contar que ele estava sujo de algo que eu acho que era vomito, não só pelo aspecto, mas pelo cheiro repugnante.

  Depois de limpar o vestido com papel higiênico molhado com água, lavar o rosto e exagerar na quantidade de anti-séptico bucal, para tirar o gosto ruim da boca, marchei em direção a sala.

  - Tem alguém aí? – perguntei.

Silêncio.

Fui para a cozinha à fim de beber um pouco de água, minha boca estava seca.

  - Ahh! – ouve um grito e o vulto pulou em cima de mim com alguma coisa não e um saco preto na cabeça.

  - Não me mate. Não me mate. Não me mate – implorei choramingando com as mãos cobrindo o rosto.

E então uma risada estrondosa veio em seguida ecoando pela cozinha cada vez mais alta.

Olhei por entre os dedos e era Zayn. Ele estava meio curvado para frente, às duas mãos envolvendo a barriga como se ele sentisse algum tipo de dor, a cabeça inclinada para trás enquanto ele tremia de tanto rir.

 - Seu idiota – vociferei dando um soco em seu ombro.

Isso só fez com que ele risse mais.

  - Idiota – revirei os olhos.

Fiquei ali esperando que seu “ataque” acabasse.

  - Acabou?  – perguntei cruzando os braços e batendo o pé.

Ele estendeu a palma da mão na minha frente pedindo para eu esperar. Então voltou para a postura normal e respirou fundo algumas vezes. Só ai que eu vi que o que segurava na mão era um pão francês.

  - Acabei – ele suspirou. – Quer comer algo?

  - Nã... – eu não pude terminar, ele me interrompeu.

  - Que bom, vou fazer um sanduíche pra você também, tem suco, Danone, leite, refrigerante, água, o que você quiser tem na geladeira.

  - Obrigada – sentei-me na cadeira se frente para a bancada de mármore da cozinha americana de Zayn.

Apoiei os cotovelos na bancada e espalmei as mãos nas laterais da cabeça sentindo dor. Fechei os olhos enquanto massageava a cabeça com a ponta dos dedos em movimento circulares.

  - Ou talvez seja melhor eu fazer um café – ele concluiu. – O meu café não é dos melhores, mas ele ajuda bastante quem está com ressaca.

Depois de alguns minutos de silêncio enquanto Zayn passava a manteiga no pão ele falou:

  - Agora que você não está mais bêbada, ainda quer me beijar? – perguntou risonho.

O quê?

  - O quê?

  - “Me beije, Harry, me beije. Eu preciso de você” – ele repetiu fazendo uma péssima imitação de minha voz.

  - Eu queria beijar o Harry, e não você – mas assim que disse me arrependi.

Eu nunca mais quero beijar o Harry! Eu não queria beijá-lo, Zayn estava blefando.

  - “Katherine, sou eu, Zayn” – ele repetiu as falas ditas na noite passada. – “ Ah Zayn, então me beije, me beija Zayn. Deite na cama comigo, me deixe te fazer feliz Zayn” – ele imitou minha voz e ainda deu algumas gemidinhas enquanto falava.

Oh céus, eu gemi para o Zayn?

  - Isso é mentira – respondi indignada sentindo minha bochecha ficando quente.

  - Mas isso nem foi o pior. Quando chegamos aqui, eu te coloquei na cama e vim pra sala ver televisão – ele interrompeu para apagar o fogo e colocar o café na caneca – O pior foi quando você saiu do quarto apenas de calcinha e sutiã e se deitou em cima de mim no sofá – ele sorriu colocando a cabeça na minha frente – Depois eu te vesti novamente e pus uma meia em você.

Eu estava boquiaberta.

  - Mentiroso – acusei.

  - Harry é um idiota.

  - Hã?

  - Nada – então ele riu baixinho quando se virou para pegar os sanduíches em cima da bancada da pia.

  - Nós...? – perguntei nervosa.

Ele entendeu.

  - Não.

Sentamos um de frente para o outro. Eu bebi o café de Zayn em uma golada única. Estava tão ruim que eu queria sentir aquele gosto forte e amargo de uma vez e não ter que sofrer aos poucos tomando um gole de cada vez.

O silêncio era incomodo, mas nenhum dos dois tinha o que falar.

  - Uma coisa me deixou curiosa – quebrei o silêncio me lembrando de um fato importante.

  - Hum.

  - Como você me achou? – perguntei curiosa

  - Foi fácil. Estávamos na casa de Harry. Niall e eu estávamos lá especificamente – ele parou.

Então o Harry já está de volta à Londres?

  - Continua – incentivei dando outra mordida no sanduíche. Ao contrário do café, o sanduíche estava delicioso.

  - E aí você ligou para o Harry às duas e meia da manhã – ele olhava para um ponto fixo na parede atrás de mim enquanto se lembrava dos detalhes sórdidos – mas ele não ouviu porque estávamos vendo um filme e o telefone dele estava no mudo. Bem... – hesitou – a Taylor estava mexendo no celular dele.

Eu senti uma pontada no coração, mas assenti com a cabeça para que ele continuasse.

  - Ele só viu depois, e ouvimos o recado no alto falante porque a Taylor também queria ouvir. Harry ficou furioso ao saber que você estava numa boate. Ele mesmo queria ir te buscar, ele chegou a calçar os sapatos e pegar a chave do carro, mas então a Taylor se levantou para ir junto. Então ele pediu para irmos buscá-la. Mas Taylor pediu para o Niall ficasse, não entendemos o por quê. Mas aí não sabíamos onde você estava e ficamos loucos. Niall ligou para Eleanor para perguntar se ela sabia de algo, e ela informou sobre uma boate que o pessoal da faculdade havia ido... Ela me deu o endereço e você estava lá – ele sorriu para mim.

  - Por que não me levou para casa? – perguntei.

  - Você não estava com a chave na bolsa, a sua tia estava muito ocupada numa reunião com as garotas do Pink Sky falando sobre o cd. Ela pediu para dar um jeito, e se pudesse levar você a um hotel. Decidi te trazer pra cá.

  - Você dormiu na cama comigo? – perguntei.

  - Não, dormi no sofá.

  - Obrigada... Obrigada por ter cuidado de mim – agradeci sincera.

  - Que nada, foi um prazer segurar seu cabelo enquanto você vomitava em um canteiro de plantas, no meu carro, depois na sala e depois no quarto – ele riu e eu ri junto.
 
*
Eram oito horas da noite e eu já estava voltando para a casa de Zayn. Ele disse que para a noite havia planejado comprar algumas pizzas, umas latas de cerveja, jogar no vídeo-game e horas para jogar conversa fora.

Estava frio demais, também, estávamos cada vez mais perto do inverno.
Eu implorava para que ele abrisse logo a porta de seu apartamento e me tirasse do frio que estava fazendo no corredor.

  - Kath – ele abriu a porta.

Enquanto nos abraçávamos, como se não tivéssemos me visto a anos, por sobre seu ombro avistei Harry e Taylor sentados no sofá da sala.

E aquela foi a primeira vez que eu vi Harry depois descobrir que ele estava me traindo.