- Alô? – atendi.
E então a ligação caiu.
- Legal – disse para mim mesma colocando o celular debaixo do travesseiro.
Talvez seja Patrick, afinal Eleanor disse que ele quer falar comigo. Seja lá o quê for, ele pode retornar depois.
Pensando bem, por que o número dele estaria restrito?
Eu estava quase caindo no sono quando o celular começou a vibrar debaixo de minha cabeça.
- Alô? – atendi.
- Kath, por favor, me escuta!
É ele!
Não pensei duas vezes, desliguei.
Por que ele está me ligando?
E o meu telefone tocou novamente. Ignorei. E novamente. Ignorado mais uma vez. E de novo.
- Harry, pare de me ligar! – gritei para ele assim que atendi a chamada.
- Kath...
Não deixei que ele terminasse a frase. Dessa vez desliguei o aparelho.
Deveria ser mais fácil do que isso. Esquecer deveria ser fácil. Mas não é. Por mais que eu tente eu não consigo e tentar esquecer já é lembrar e oh céus, isso tudo é tão confuso.
Por que ele está me ligando? O mais racional agora seria me esquecer, principalmente depois de tudo o que foi dito. Talvez eu deveria ter ouvido o que ele tinha pra dizer... Não! Eu fiz o certo, não tenho nada para ouvir, tudo o que ele tinha para me dizer já disse. Já me machucou o suficiente, agora chega.
Fiquei deitada sem conseguir dormir, devem passar das uma da manhã, estou aqui me maltratando: ainda me lembro de como conheci o Harry, de como foi o nosso primeiro beijo, de como foi a nossa primeira vez, a segunda, a terceira...
- Katherine? Está acordada? Telefone pra você.
Hã?
- Hã? – perguntei tateando até encontrar o interruptor do abajur.
- Telefone, atende logo – minha tia sacudia o aparelho na minha direção.
- Quem é? – perguntei para ela.
Ela jogou o telefone em cima de mim e cruzou os braços.
- Alô?
- Até que enfim!
- Tchau.
- NÃO! Por favor, me deixe falar.
- Não.
- Katherine, pare de agir como uma criança pirracenta.
- Uau, sou uma criança pirracenta. Então me deixe fazer um pouco mais de pirraça: Tchau.
- Para e me escuta.
- Não.
- Prometo que não vou demorar.
- Harry, pare de me ligar, pare de tentar falar comigo, pare de ser tão frio e fingir que nada aconteceu, você sabe que muita coisa aconteceu. Estou cansada de ficar tão triste, pare agora mesmo você só vai me decepcionar. – Antes mesmo que eu pudesse tentar ser forte, as lágrimas já rolavam pelo meu rosto de modo assustador.
- Eu só preciso te dizer que me arrependo muito por tudo o que eu disse, me desculpa – pediu.
- Para.
- Katherine, eu ainda não te esqueci, me desculpa.
- Para, Harry. Para, as suas desculpas não adiantam de nada.
- Por favor, não chore.
- Eu vou desligar.
- Não. Eu só preciso saber onde você est...
Desliguei.
Deitei-me na cama encolhendo-me toda. Me sinto tão frágil quanto o mais fino dos cristais de equilibrando na ponta de uma navalha no alto de um penhasco.
O aparelho tocou novamente.
- Pare de me ligar! Pare! Você só vai me deixar mais triste, não quero isso. Chega. Não quero mais atender, não quero mais falar com você, me esquece!
- Kath, eu te – ele tentava falar mais alto para que eu fosse capaz de ouvir.
Não quero ouvir.
Desliguei.
- Leva daqui – entreguei o aparelho para minha tia que estava com os olhos marejando.
- Você está bem? – perguntou.
- Estou. Sai, quero ficar sozinha – fui grossa desnecessariamente.
- Você tem certeza?
- Absoluta. Sai e fecha a porta – pedi.
Quando tive certeza de que estava sozinha comecei a chorar, chorar de verdade, com direito a falta de ar e soluços.
*
- É natal! – alguém pulou em cima de mim pela manhã.
Me esforcei para abrir os olhos: Matheus.
- Puts, precisava? – resmunguei.
Ele se levantou e saiu correndo pelo corredor gritando que é natal. Eu sei que é natal.
Por mais que eu quisesse voltar a dormir sei que não vou conseguir, Matheus está gritando feito um louco e Karen está atrás dele tentando fazê-lo parar.
Qual alternativa tenho a não ser me levantar?
*
Sentamos todos à mesa para tomar café.
Apenas minha tia, Wilmer e Matt estavam animados. Minha mãe estava mal humorada pois meu padrasto saiu hoje cedo para ir passar o natal com sua mãe que não está muito bem de saúde. E o resto... bom o resto eu não sei por que está de mau humor.
- Ele ligou mais cinco vezes – minha tia falou de repente.
Todos olhamos para ela sem entender.
- Kath – ela se referiu a mim.
- Quê que tem eu?
- Ele, Harry, ligou mais cinco vezes ontem à noite. Talvez você deva retornar, deve ser algo importante. Considerando que em Londres já deviam passar das quatro da manhã e ele estava tentando falar com você.
Essa coisa de fuso-horário é tão confuso.
- Acho melhor não – respondi.
*
Lá pras 10h da manhã meus irmãos e eu começamos a organizar a casa. Vamos receber primos, tios, amigos, conhecidos... ufa. Não sei pra que minha mãe convida tanta gente.
*
Terminamos de fazer as coisas depois das duas da tarde.
- Terminaram de colocar os presentes em volta da árvore? – Wilmer perguntou.
- Sim – respondeu Megan.
- Ah... Bom, eu só consegui tirar meus presentes da mala agora, posso colocá-los? – perguntou.
- Claro, eu ter ajudo – respondeu Karen prestativa.
Joguei-me no sofá. Estou tão cansada.
- Kath – Matheus gritou do segundo andar. – Telefone!
- Quem é? – gritei de volta.
- Não sei.
- Olha né, lesado.
- Restrito.
- Deixa tocar – respondi.
- Kath, até quando você vai fazer isso? – Megan perguntou sentando se ao meu lado.
- Até ele o momento em que ele se tocar de que eu não vou atendê-lo e parar de ligar – respondi.
- Por que você não atende e escuta o que ele tem pra dizer?
- Por que tudo o que ele tinha pra dizer já foi dito e eu já falei com ele ontem à noite.
- Você quem sabe – respirou fundo, levantou-se e foi para a cozinha ajudar minha mãe e minha tia com a comida.
*
- Katherine, precisa de mais maionese – informou minha mãe assim que terminou de provar minha salada de batata.
- Acho que só isso de arroz não vai dar pra todo mundo – Megan comentou.
- Katherine, telefone – gritou Matt correndo até a cozinha com meu celular na mão.
- Quem é? – perguntei.
- Restrito – respondeu.
- Me dá aqui – pedi.
- Graças à Deus – Megan agradeceu.
- Acho que ela vai atender – minha tia sussurrou para mim mãe.
Assim que peguei no aparelho desliguei-o.
- Pronto, sem problemas. Ponha-o na minha cama – entreguei para Matt.
Todos se entreolharam.
Não sei porque torcem tanto para que eu fale com ele, aposto que estão morrendo de curiosidade, mas eu não estou e não irei atender.
*
Coloquei meu vestido, calcei minhas sandálias estilo gladiadora, me maquiei e estou pronta.
- Tia Vera chegou – Karen anunciou entrando no meu quarto.
- Aquela que gosta de apertar bochechas? – perguntei.
- Essa mesma.
Será uma noite longa.
- Posso usar suas maquiagens? – perguntou.
- Usa e depois guarda. Estou descendo, não demore – respondi.
Tive que passar por todo aquele processo de cumprimentar todos. A melhor parte foi receber os presentes.
- Isso costumava ser mais animado – Megan comentou se sentando ao meu lado no sofá para assistir ao especial de fim de ano na Globo.
Roberto Carlos de novo.
- Acho que todos envelhecemos, talvez antes fosse mais legal porque éramos mais infantis e ficávamos brincando a noite inteira – lembrei.
- E é estranho ver nossos primos e não saber o que conversar com eles. Éramos tão unidos e agora estamos um pra cada lado – Matt lamentou.
- Karen parece estar se divertindo – observei-a correndo de um lado pro outro com as crianças, ignorando totalmente as repreensões de minha mãe sobre correr dentro de casa.
- Claro que está se divertindo, só tem 13 anos.
Resolvemos tirar algumas fotos pra postar em nossas redes sociais.
Assim que abri o Twitter vi que Harry havia postado uma foto: ele havia assistido “A dama e o vagabundo”
*
Enquanto fazíamos a ceia de natal lá pra meia noite, eu e Matheus tirávamos fotos de todos comendo.
- Larguem esses telefones, é um momento sagrado – minha mãe nos repreendeu.
- Ah Jennifer, estão apenas se divertindo – minha tia respondeu pegando seu celular.
- Essa vai pro Instagram – festejei ao capturar uma foto de minha tia de boca aberta e um dos olhos fechados.
- Ah Katherine, eu me vingo – ameaçou pegando seu celular.
*
Estava na cozinha tomando sorvete com Matt enquanto minha mãe pegava o mousse na geladeira.
- Kath, telefone – minha tia veio até mim segurando o telefone.
- É ele? – perguntei.
Claro que deve ser, quem mais ligaria para ela para falar comigo?
Ela assentiu.
- Desliga, não vou atender – respondi.
Ela suspirou.
- Até quando isso vai durar? – perguntou tampando o microfone do celular com a mão para que ele não ouvisse nada.
Dei de ombros e respondi:
- Não precisa tapar, ele não entende uma palavra que nós dizemos – lembrei-a.
- Você não vai atender? – perguntou pela última vez.
- Não.
- Você vai atender essa merda desse telefone agora! Que palhaçada! Frescura. Atende logo essa merda e acabe logo com isso. Não aguento mais o dia inteiro o pobre do menino te ligando e você rejeitando – minha mãe estava praticamente gritando.
Nunca a vi irritada desse jeito e posso dizer que foi assustador.
Respirei fundo e atendi.
- Oi – falei.
- Até que enfim você atendeu – suspirou aliviado.
- É... então, você pode fazer logo o que quer?
- Quero desejar um feliz natal.
- Obrigada, pra você também.
Todos que estavam presentes na cozinha estavam me olhando.
- Onde você está? – perguntou.
- Estou em algum lugar deste mundo – respondi.
Ele riu.
- Você está se divertindo aí?
- Sim e você?
- Sim, mas me sentiria melhor se você me disser onde está.
- Então você irá continuar se sentindo do jeito que está agora. Estou ocupada, vou desligar.
- Não, preciso te falar uma coisa.
- Fale logo.
- Eu tentei falar ontem à noite mas você não deixou...
Ele ficou em silêncio.
- Então pode dizer agora.
Ele continuou em silêncio.
- Harry, eu realmente estou ocupada agora, ok? Pare de me ligar, tchau.
- Katherine, eu te amo.
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