História Home - Capítulo Único - Some place real

Não me lembro exatamente quando foi que fiquei tão perdidamente apaixonado por você. Não me lembro de quando que seu olhar repousando sobre mim começou a fazer meu coração palpitar, quando que meus pensamentos começaram a se perder em seu sorriso puro e radiante e quando que qualquer toque que ocorria entre nós, mesmo que acidental, começou a causar arrepios em meu corpo.

Só sei que aconteceu.

E que eu nunca tinha me sentido tão vivo em toda a minha vida.

"Eu sou uma fênix na água, m peixe que aprendeu a voar

E eu sempre fui uma filha, Mas penas foram feitas para voar

Então eu estou desejando, desejando ainda mais

Que a empolgação venha

É só que eu preferiria estar causando o caos

Do que deitar na ponta afiada desta faca"

— Está boa a comida, Hyungwon?

— Está uma delícia, Wonho. — Respondi.

— Sei lá, eu acho que o arroz está salgado demais. — Fez uma careta. — É impressionante como eu nunca acerto a mão no sal.

— Para com isso, está perfeito desse jeito. — Ri minimamente.

— Você acha? — Você insiste e eu reafirmo com um aceno de cabeça. — Obrigado.

Assisto-o pegar a taça de vinho e levá-la aos lábios. Abaixo o olhar, voltando as atenções para o bonito e organizado jantar que preparou para mim. Sorrio. Gosto do jeito com que se preocupa comigo: cozinhou meu prato predileto e comprou o vinho que mais gosto. Fez questão de colocar uma toalha de mesa verde, pois esta é minha cor favorita. Você poderia ter se poupado de todo esse trabalho, levando-me para jantar em um restaurante qualquer, mas sabe que eu prefiro comer em casa.

Quando retornou com a bebida à mesa, olho para sua boca. O vinho tingiu seus lábios, de modo que estes adquiriram uma coloração mais rosada, brilhante e vívida. Se antes eles já me pareciam convidativos, agora estavam quase irresistíveis.

Notei que riu baixinho quando percebeu meu olhar fixo e levou sua mão até a minha, que repousava sobre a mesa. Com o polegar, começou a alisar as costas de minha mão. Sorri com o carinho, mas logo este parou, pois você entrelaçou seus dedos aos meus. As trocas de olhares que ocorriam durante o momento faziam minhas bochechas esquentarem, mas eu fazia questão de não quebrar o contato visual.

Em um dado momento, suspirei longamente, aproveitando este silêncio inebriante que nos embalava. Há uns anos atrás, eu acharia essa ausência de palavras monótona e até mesmo perturbadora, mas você me ensinou a ler todas as mensagens mudas que esta é capaz de carregar.

Com você, entendi o quanto que o silêncio diz muitas coisas.

"Com cada pequeno desastre

Eu vou deixar as águas continuarem

A me levar para algum lugar real

Porque eles dizem que lar é onde seu coração está gravado em pedra

É onde você vai quando está sozinho

É onde você vai para descansar seus ossos

Não é apenas onde você deita sua cabeça

Não é apenas onde você arruma sua cama

Contanto que estejamos juntos, importa pra onde vamos?

Lar, lar"

Calmamente, terminamos de comer. Como eu não havia preparado e nem ajudado em nada, resolvi me responsabilizar por lavar a louça. Contudo, assim que levantei com meu prato em mãos, você também se ergueu e parou-me.

— Pode deixar que depois eu arrumo tudo. — Pegou o objeto que eu carregava e voltou com ele à mesa. Surpreendi-me quando segurou minhas duas mãos e começou a me puxar para fora da sala de jantar. — Vem cá. Vamos curtir mais um pouquinho.

Continuei sendo conduzido até chegarmos na sala de estar. Lá, você largou-me e foi até o aparelho de som. Reparei que a mesa de centro estava arrastado para o canto.

— O que está fazendo? — Perguntei, recebendo como resposta uma valsa lenta preenchendo o cômodo.

— Faz tanto tempo desde que dançamos pela última vez... — Vi-o se aproximar de mim de novo e oferecer-me sua palma. — Então... Concede-me esta dança?

— Mas é claro. — E, assim, entrelaçamos mais uma vez nossos dedos. Sua outra mão livre pousou em meu quadril, enquanto a minha semelhante foi para seu ombro.

Nossos corpos moviam-se numa sincronia invejável. Eu experimentava de uma leveza tão extraordinária que mal sentia o chão abaixo de meus pés.

Dois pra lá.

Pergunto-me o que se passa em sua cabeça agora para manter o olhar tão fixo em mim. Você analisava tão detalhadamente cada pedacinho de meu rosto que parecia que tinha diante de si a joia mais preciosa do mundo.

Dois pra cá.

Você inclinou a cabeça, de modo a encostar sua testa à minha. Suspirei, aproveitando a sensação gostosa que esse momento e que sua presença me proporcionavam.

"Então quando eu estiver pronta para ser mais corajosa

E minhas feridas tiverem curado com o tempo

O conforto irá pousar em meus ombros

E vou enterrar meu futuro para trás

Eu sempre vou manter você comigo

Você estará sempre na minha mente

Mas há um brilho nas sombras

Que eu nunca conhecerei a menos que eu tente"

Depois de alguns minutos dançando, meus braços passaram a envolver seu pescoço e sua outra mão transferiu-se também para meu quadril, puxando-me para mais perto de si. Fechei os olhos, inebriado com a sensação da sua respiração quente chocando-se com a pele de meu rosto.

Desculpe-me se não te digo isso, mas amo a maneira com que seus braços aconchegam-me em seu corpo. Aliás, quantas são as palavras que tenho para te dizer! Até mesmo um simples "eu te amo" não me lembro de ter dito alguma vez. Por mais que sempre esteja tentando expressar o que sinto com gestos, sei o quanto que palavras podem fazer falta às vezes. Desculpe-me por isso. Mas eu prometo, meu amor, prometo que um dia reunirei coragem o suficiente para te dizer algo.Não garanto que vá sair algo tão bom, emocionante e tocante quanto as coisas que costuma dizer para mim, mas irei me esforçar nem que seja para declamar essas três palavrinhas essenciais.

Sei que sempre teve paciência comigo para ouvir minhas reclamações, acalmar-me nos momentos de raiva ou tristeza e aguentar minhas explosões de felicidade, mas peço que tenha só mais um pouquinho de paciência. Por favor, não me abandone no meio do caminho. Continue ao meu lado até chegar o momento em que possa ouvir minha boca dizer tudo o que sempre esteve em meu coração e que, por falta de coragem, nunca foram externadas.

Eu quero que se sinta amado tanto quanto eu me sinto quando estou perto de você.

— Lembra-se, Hyungwon? — Disse rindo. — De quando dançamos juntos pela primeira vez?

— Lembro. — Ri baixo com a recordação. Como poderia me esquecer? Dois jovens completamente bêbados em uma festa de formatura da faculdade. No nosso estado, mal conseguíamos andar em linha reta, mas mesmo assim, resolvemos dançar. Depois de umas quarenta pisadas no pé um do outro, acabamos jogados no chão por causa de um tombo que nem lembro como que aconteceu. Recordo-me perfeitamente dos cinco ou dez minutos seguintes que continuamos deitados no chão, gargalhando alto por causa do ocorrido.

"Com cada pequeno desastre

Eu vou deixar as águas continuarem

A me levar para algum lugar real

Porque eles dizem que lar é onde seu coração está gravado em pedra

É onde você vai quando está sozinho

É onde você vai para descansar seus ossos

Não é apenas onde você deita sua cabeça

Não é apenas onde você arruma sua cama

Contanto que estejamos juntos, importa pra onde vamos?

Lar, lar"

O único momento em que seus olhos pararam de encarar-me fixamente foi quando você os fechou para iniciarmos o beijo. Um contato calmo e lento como a batida da música que preenchia o ambiente. Cedi facilmente quando sua língua pediu passagem, e esta não demorou em começar a explorar cada canto de minha cavidade bucal. Nos momentos em que nossas línguas se esbarravam eu podia sentir um arrepio percorrer meu corpo.

Pouco depois, sinto seus dedos suspenderem minimamente minha blusa para adentrarem por baixo do tecido. Começaram tateando o quadril, mas logo migraram para minhas costas, sempre alisando minha pele de forma delicada e suave.

O ósculo cessou-se quando o oxigênio se fez necessário em ambos. Contudo, você não se afastou. Ao invés disso, seus lábios pairaram em meu pescoço, depositando ali rápidos e carinhosos beijinhos.

— Eu seria capaz de ficar assim com você para sempre. — Sussurrou com a voz rouca.

— Eu também. — Respondi enquanto apertava meus braços em torno de seu pescoço, uma tentativa de unir ainda mais nossos corpos. Gemi longa e fracamente quando senti seus dedos em minhas costas alternando os carinhos com leves arranhões.

— Você é tão perfeito, Hyungwon. — Levantou a cabeça para encarar-me novamente. — Não imagino mais como seria passar um único dia sem você. Eu te amo muito.

Sorri largo com o que disse. Só Deus sabe o quanto que gosto de te ouvir, meu amor. Eu tenho tanto a te agradecer... Agradecer por ser a luz no fim do túnel, por preencher todos os vazios da minha vida, por me fazer acreditar de novo no amor, por ser meu amparo.

E foi nesse clima de extrema felicidade que puxei-lhe para mais um beijo apaixonado.

"Porque eles dizem que lar é onde seu coração está gravado em pedra

É onde você vai quando está sozinho

É onde você vai para descansar seus ossos

Não é apenas onde você deita sua cabeça

Não é apenas onde você arruma sua cama

Contanto que estejamos juntos, importa pra onde vamos?

Lar, lar, lar, lar"

Você é o meu lar, Wonho.