História Dont Let Me Go - Colheres e Patos de Pelúcia

Manhã de sexta-feira e véspera de Natal. Eu me encontrava na cozinha, checando se já tinha misturado todos ingredientes para a torta de morango que eu pretendia fazer para a ceia de Natal na casa dos Hayes.

Todos os anos eu buscava uma nova receita de sobremesa na internet e coloca meus nada bons dotes culinários em prática. A ceia na casa de papai era bem animada, tirando o ano em que minha torta de pêssego fez ele acabar indo para o hospital por intoxicação alimentar.

Enquanto batia a massa, tentei alcançar o fermento, mas acabei esbarrando minha mão no saco de farinha, fazendo o chão da cozinha ficar todo branco.

- Meu Deus, se essa for a sua sobremesa de Natal, eu vou ligar agora para o tio Frank e falar para ele tomar cuidado.

Ouvi a voz sonolenta de Hazel e virei minha cabeça, vendo ela escorada no batente da porta, vestindo sua camisola de Natal, onde algumas renas pulavam alegremente.

- Muito engraçado, Haz. – Revirei meus olhos. – Mas esse ano eu olhei todas as datas de validade dos ingredientes.

- Bom saber que pelo menos uma vez você usou o cérebro. – Hazel zombou, indo até a geladeira e pegando a caixinha de leite.

- Fique quieta, Rawlins! – Digo, batendo a colher bater na tigela e fazendo um pouco da massa da torta voar até minha bochecha.

- Você me chamando pelo sobrenome? - Ela diz, dando uma mordida em uma torrada. – Acho melhor eu parar antes que você vire essa tigela na minha cabeça.

- Que bom que você sabe! – Resmunguei, bufando e limpando a meleca que escorria pela minha bochecha.

- Que horas o almoço pré-natal está marcado? - Hazel perguntou, se sentando na bancada ao meu lado.

Almoço “pré-Natal” era um encontro que Simon, Hazel e eu fazíamos para trocar nossos presentes, já que depois cada um ia para um lado, passar as festas com a família, ou no caso da Hazel, com o garoto que ela está saindo.

- Às duas. – Respondo, adicionando os ovos.

Nesse momento, a melodia escandalosa de Little Talks começa a tocar, anunciando que alguém estava ligando para meu celular. Tentei alcançar o aparelho, mas ele estava muito longe e eu não queria fazer a massa desandar.

- Atende para mim, Haz?

Ela apenas balançou a cabeça e pulou da bancada, pegando meu celular e fazendo uma careta para o visor.

- Chamada desconhecida, Nora. – Ela me olhou, desconfiada.

- Pode atender.

- Celular de Nora Hayes, aqui quem fala é a Hazel, a escrava dela. – Haz disse animadamente quando atendeu a chamada, o que me fez revirar os olhos.

“Eu tenho amigos com problemas.”

- Quem é, Hazel? - Perguntei baixinho, mas ela me ignorou e abriu um enorme sorriso malicioso.

- Harry Styles? Caramba, você é um garoto? E ela passou o número certo pra você? Meu Deus, você deve ser gostoso demais! – Ouvi aquilo e arregalei os olhos, deixando a tigela de lado.

Agarrei meu celular das mãos de Hazel e olhei feio para ela, começando a espanca-la com a colher de madeira que eu segurava.

- Você é maluca? Sua idiota! Qual seu problema? - Gritei, ainda dando golpes no ombro de Hazel e ouvindo ela rir.

- Ei! Não se esqueça que ele está ouvindo tudo, sua gênia! – Ela berrou, entre as risadas, me fazendo entrar em desespero.

Olhei para o celular e vi que o microfone estava destampado e agora Harry devia achar que eu era uma psicopata que usava uma colher de madeira para ferir suas vítimas.

Perfeito.

- Ah... Oi, Harry! – Tentei fingir que nada daquilo tinha acontecido, enquanto eu expulsava Hazel da cozinha.

- Você bate nos seus amigos com uma colher de madeira? - Ele falou, rindo.

Agora, além de ter a Hazel rindo da minha cara, eu também tinha Harry Styles rindo da minha cara pelo telefone.

- Colheres são ótimas armas, caso você não saiba. Bom dia para você também, Harry. – Ironizei, trocando o telefone e lado e indo até a bancada para continuar mexendo a massa da torta.

- Oh, desculpe, Nora! – Harry disse, tentando controlar a risada. – Tudo bem com você?

- Ok, vamos pular a parte dos cumprimentos já que você não vai conseguir parar de rir. – Revirei os olhos, ouvindo ele explodir em risadas novamente.

- E essa história de você só passar seu número para caras gostosos?

“Droga! Valeu mesmo, Hazel!”

- Não ligue para o que a Haz diz. – Mas aquilo não convenceu ele.

- Isso quer dizer que você me acha gostoso? - Sua voz se tornou levemente maliciosa, o que me fez corar.

- Claro que não! Quero dizer.... Não, é.... – Harry voltou a rir. – Argh! A final, por que você me ligou?

Eu já estava toda sem jeito e acabei despejando metade da massa, que deveria ir para assadeira, na bancada. Peguei a forma e fui até o forno, abri a porta e quando ajeitava a massa ali, acabei queimando a mão e meu grito deve ter sido um pouco alto.

- Nora...? O que aconteceu? - Harry parecia preocupado.

Lágrimas escorriam pelo meu rosto, enquanto eu colocava o dedo queimado em baixo da água, tentando amenizar a dor.

- Nada, eu só queimei o dedo. – Digo, com a voz embargada.

- Você ouviu o que eu disse antes? - Ele perguntou.

- Não, me desculpe.

- Eu disse que falamos com nosso produtor ontem de noite e ele falou que era uma ótima ideia e tudo mais, ou seja, a Cassie vai ter seu presente de Natal.

Ao ouvir aquilo, meu rosto abriu um enorme sorriso e eu fiz uma dancinha idiota da vitória. Eu estava a ponto de chorar mais um pouco.

- Isso é sério? Oh, meu Deus! Muito obrigada, Harry! – Acho que falei tão alto, que Hazel apareceu na cozinha para ver o que estava acontecendo.

- Ah, que isso, Nora. Eu e os meninos estamos bem empolgados. – Ele disse com uma voz animada. – Agora... Como vai ser amanhã?

- Bem...

Passei todo o tempo de cozimento da torta explicando para Harry o que acontecia no dia Natal do orfanato e o que eu tinha combinado com Martha ontem à noite. Quando percebi, Hazel estava gritando comigo, pois a torta tinha queimado. Acabei desligando o telefone na cara de Harry, já que o alarme de incêndio disparou devido a fumaça que saía do forno.

Agora faltavam dez minutos para as duas horas da tarde e eu e Hazel estávamos sentadas em uma das poucas mesas da lanchonete em que tínhamos marcado o almoço com Simon. Ele ainda não tinha chego e Hazel já tinha devorado uma porção inteira de batatas fritas.

- Se esse garoto não chegar em cinco minutos eu vou pedir meu lanche! – Hazel resmungou, colocando uma batatinha na boca.

- Calma, sua apressada! – Briguei com ela, bem no momento em que a porta da lanchonete foi aberta, revelando um Simon apressado, carregando dois embrulhos nas mãos.

- Desculpem a demora, peguei um congestionamento no centro. – Ele bufou, se sentando na cadeira ao meu lado e me dando um beijo na bochecha.

- Isso mesmo, não me cumprimente! Eu sei que você não gosta de mim, mas seja simpático, Simon! – Hazel disse, fazendo Simon revirar os olhos e ir abraçar ela.

Fizemos nossos pedidos e rapidamente a garçonete já os trouxe, o que deixou Hazel contente, pois ela não parava de reclamar de fome.

- O que vocês vão fazer hoje à noite? - Perguntei, limpando o ketchup da minha boca.

- Mamãe vai fazer a ceia e minha família do interior vai vir, como sempre. – Ele disse, revirando os olhos.

- Eu aposto meu salário que sua tia Verônica vai te dar mais pares de meias e cuecas! – Hazel disse, enquanto mastigava seu lanche de bacon.

- Sem contar as gravatas de cores chamativas. – Me juntei a Hazel e zombei de Simon, que bufou.

- Dá pra parar, por favor? - Ele disse, bravo.

- Ok, desculpe! – Levantei as mãos, em rendição. – E você, Haz? Você não me disse com quem vai passar o Natal.

Hazel deu um grande sorriso e jogou os cabelos, deixando seu lanche na mesa e enchendo a boca para falar.

- Eu finalmente tomei coragem e chamei o Lee para sair e ele aceitou! – Ela deu um gritinho histérico, fazendo eu e o Simon rir.

- Podemos trocar os presentes? Eu ainda preciso passar em alguma padaria e comprar uma sobremesa para levar para a ceia. – Resmunguei.

- Você não fez nada esse ano? - Simon perguntou, confuso.

- Ela fez uma torta de morango, mas acabou queimando enquanto conversava com Harry Styles. – Hazel fez o favor de enfatizar o nome de Harry, me fazendo revirar os olhos.

- Ele ligou para você? - Simon me olhou, mais confuso ainda.

- Vamos parar de falar na minha conversa com Harry Styles, ok? - Fuzilei Hazel com o olhar enquanto pegava a grande caixa embrulhada que tínhamos comprado para Simon. – Faça as honras, Haz.

- Bem, esse ano, Nora e eu resolvemos comprar um presente melhor para você, Simon, porque acho que você já deve ter bonequinhos de ação de mais.... – Simon riu. – Então juntamos nossas economia e compramos isso para você.

Entreguei a caixa para ele, que rasgou o embrulho como uma criancinha. Vi seus olhos brilharem quando viu o que nós tínhamos comprado para ele.

- A edição deluxe para colecionadores de Star Wars! Não acredito! Venho tentando comprar isso a anos! – Ele gritou, animado.

- Falei que ele não tinha esse, Nora. – Hazel mostra a língua para mim. – Ela queria comprar a coleção de Assassin’ Creed, mas eu sabia que você já tinha eles.

- Valeu meninas! – Simon nos abraçou e logo em seguida pegou os dois embrulhos que estavam ao seu lado, me entregando a caixinha e dando o pacote para Hazel. – Fiquei sem ideias para os presentes desse ano.

Peguei a caixinha delicada e desfiz o laço, tirando a tampa logo em seguida, revelando a capa de Um Amor Para Recordar do Nicholas Sparks. Abri um grande sorriso enquanto pegava o livro e abraçava Simon.

- Obrigada, Simon!

- Eu sabia que esse era o último livro que faltava para você completar a coleção do Nicholas Sparks. – Ele disse, corando um pouco.

Fomos interrompidos pelo grito estridente de Hazel, que jogava o embrulho do presente no chão e chacoalhava uma massa peluda e amarelada com força.

- Um pato! – Ela berrou, chacoalhando o pobre bichinho de pelúcia amarelo. – Um pato de pelúcia!

Hazel pulou da sua cadeira direto para o colo de Simon, enquanto abraçava com força o pescoço do pobre pato. Vi Simon corar violentamente quando Hazel agarrou seu pescoço e depositou um beijo demorado em sua bochecha.

- Que bom que gostou, Haz. – Simon disse, nervoso, arrumando seus óculos no rosto.

- Olha, Nora! Um pato! – Hazel jogou o pato na minha cara, me fazendo rir.

Depois do pequeno surto da Hazel passar, nós dividimos a conta e nos despedimos de Simon, que não estava nada feliz em ter que voltar para casa e ajudar a mãe com o recheio do peru. Hazel e eu fomos até uma pequena padaria perto da lanchonete e enquanto andávamos, fiquei com vontade de esconder meus rosto em um buraco, pois ela insistiu em ir abraçada com seu novo bichinho de pelúcia.

Olhava algumas tortas, enquanto Hazel conversava com o padeiro e pedia uma “amostra grátis” de um dos bolos de trufa. Acabei escolhendo uma cópia da torta que eu pretendia fazer.

Estava brincando com um dos panfletos que ficavam empilhados perto do caixa, quando senti meu celular vibrar na bolsa. Peguei o aparelhinho e me surpreendi quando vi que era uma mensagem do Harry.

Espero que você não tenha colocado fogo na sua cozinha.

E eu te perdoo por ter batido o celular na minha cara.

Ah! E um feliz Natal para você, Nora.

Até amanhã,

Harry.

Continua...