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“Devido à lenda de sua origem, as fadas/seelies são associadas à beleza dos Anjos e a malignidade dos Demônios. Além dos anjos, eles são o grupo menos compreendido de todo o povo mágico.”
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A Corte dos Feéricos – século atual (XXI);
Shin Hoseok nunca havia sentido tanto medo em sua vida.
A cada passo que dava mais para dentro daquele bosque escuro e assustador, sentia o medo o atingir até nos ossos. Ele amaldiçoava a todos que haviam o obrigado a dar sua vida assim, de graça.
A luz mágica do lampião parecia estar ao fim e cada vez, ia ficando mais escuro. Se tinham mandado Hoseok para a morte, porque não poderia ter sido de dia?
Sentia como se milhares de olhos malignos o olhassem de todos os lados e aquilo o fazia temer ainda mais. Mantinha o olhar fixo na trilha que seguia, não querendo olhar para os lados e ver monstros que sua inafiançável insistia em criar.
Mordia os lábios, tentando não soltar gritos a cada barulho que escutava, por mais que esses barulhos parecessem ficar ainda mais perto de si.
— Se acalme Hoseok, é coisa de sua cabeça. — Tentava se manter confiante, mas a verdade era que provavelmente aquilo não fosse coisa de sua cabeça, afinal, ele estava no pior lugar possível.
O Bosque de Sucellus, sempre havia sido um dos pontos mais bonitos do Reino Seelie, era o que diziam. Mas isso havia sido em outrora, agora já não era conhecido por sua beleza, mas sim por quem o habitava. Já não o chamavam de forma tão respeitosa em homenagem ao deus celta das florestas, agora o chamavam de Bosque dos Pesadelos.
O nome não era à toa, pois agora o temível feiticeiro, Chae Hyungwon, morava naquele lugar e segundo todas as histórias, morava com diversos monstros que havia criado e trazido do inferno.
Hoseok sentia-se arrepiar só de lembrar da maldita história. Por todos os deuses que tinha conhecimento, ele morreria naquele lugar, sentia isso e odiava a todos que o obrigaram a estar ali.
Estava ali por ser, segundo todos, o seelie mais belo e mesmo que não fosse um grão-feérico, todos haviam escolhido ele, um plebeu para aquela importante missão. Hoseok sabia que nunca iriam escolher alguém do reino para uma missão suicida e infelizmente, haviam visto em si a bela oportunidade para resolver seus problemas.
Em sua visão, o plano era horrível. Seduzir um feiticeiro maligno, até o fazer ter sentimentos bons de volta? Era idiotice. Apesar de todos saberem que, assim que apaixonado, o feiticeiro estaria enfraquecido; Segundo algumas lendas, os feiticeiros ficam fracos diante de sentimentos bons.
Como alguém que jurara vingança para todo o reino, enquanto existisse e segundo todas as histórias, matava pessoas inocentes e fazia coisas deploráveis, poderia sentir algo bom?
Hoseok, tivera que aceitar a loucura da missão, pois sabia o que poderia acontecer se não aceitasse. Mesmo que os grandes reis, Hyunwoo e Minhyuk, não tivessem falado com todas as palavras, a ameaça ficou perceptível pelas entrelinhas.
Se fosse uma ameaça dirigida a somente si, Hoseok ficaria contente em desobedecer os reis, mesmo que isso resultasse em todos os julgando como traidor e até em sua própria morte. Mas não era uma ameaça só para si. Haviam ameaçado a única família que Hoseok tinha... Seu pai que havia o criado sozinho e havia se esforçado tanto por sua felicidade.
O pai, ao saber da missão que pediram ao filho, não tardou em o suplicar para não aceitar, dizendo para ele fugir que lhe daria cobertura. Mas como Hoseok poderia ser egoísta ao ponto de sacrificar a vida de alguém que amava dessa forma? Por isso, lá estava ele.
Poderia morrer? Sim, mas antes ele do que seu pai.
Com essa enxurrada de pensamentos, a raiva o permitiu continuar seguindo em frente. Não poderia desistir. Não agora que já havia aceitado a missão e que já estava no meio daquele lugar horrendo.
Respirou fundo e inspirou, sentindo cheiro de lírios e outras flores silvestres o atingir. Hoseok, queria saber se o cheiro era resultado de seu medo que trazia vagas lembranças do lar, como o cheiro do jardim do pai ou se realmente havia algo belo, mesmo que pequeno, naquele lugar.
A trilha aumentava gradativamente a cada passo que Shin dava. Os galhos e raízes que cobriam o caminho, pareciam diminuir também e as copas das árvores se abriam, trazendo uma maior claridade da lua.
Hoseok conseguia ver flores em seu caminho, de todos os tipos e tamanhos e cores, mas não se atreveu a chegar perto delas ou tocá-las. Continuou andando, com o olhar preso no chão, com ainda mais receio de olhar para a frente ou para os lados, já que agora estava claro e poderia avistar os monstros que tinha medo.
Perdeu-se no tempo com aquele ritmo e quando percebeu onde estava, quase caiu para trás. O falaram para caminhar por aquela trilha até achar o castelo e Hoseok havia achado.
O queixo caiu e os olhos se arregalaram.
Esperava um lugar feio, escuro, sem vida e que trouxesse medo. Entretanto, o castelo era belo, parecia brilhar, a vida crescia ao redor em algumas paredes em forma de trepadeiras e não havia nada de medo envolvido nos sentimentos ao olhá-lo.
Hoseok percebeu que a trepadeiras que se enroscavam nas paredes, continham rosas. Mas não rosas normais... Rosas negras.
Segundo o que todos diziam, rosas negras cresciam por vontade própria e tinham um enorme grau de cura em suas pétalas. O seelie se perguntava porque elas escolheriam nascer justo no castelo de alguém mau, contudo, não cabia a ninguém julgar as escolhas da natureza e Hoseok, como uma fada, aprendeu isso desde de cedo.
O castelo era feito de pedras e continha uma arquitetura deslumbrante, tendo torres para todos os lados. Shin nunca poderia admitir aquilo em voz alta, mas era mais belo e menos assustador do que o castelo real, o que era um tanto irônico.
— Quem é você? — uma voz afiada como aço seelieano se fez escutar às costas do seelie.
O gritinho que Hoseok tanto segurou pelo caminho, saiu de sua boca e ele praticamente deu um pulo. Virou-se, dando de cara com três garotos que pareciam ter a mesma idade que a sua.
— Não sei quem ele é, mas sei que é bonito — falou o menor deles, recebendo um olhar feio de um loiro que era poucos centímetros a mais que si. — O que foi? É verdade!
— Allen, eu juro que ainda vou terminar com você um dia desses.
— Você sabe que isso não é verdade, Serim... — Sorriu o tal Allen de forma carinhosa.
— Foco, vocês dois! — o mais alto de todos, falou. — A gente tem que levar esse aí até o Hyungwon.
— Hey! — Hoseok resmungou e isso resultou em todos os olhando com mais atenção. Por que ele tinha que abrir a boca? — Eu tenho nome — evitou vacilar na voz.
Os três garotos se olharam.
— Ele deve ser um daqueles suicidas que vêm até aqui achando que Hyungwon vai o matar — Serim falou, agora olhando o recém chegado com uma maior preocupação.
— Ou deve ser um daqueles fãs lunáticos de Hyungwon — propôs Allen. — O que acha, Minhee?
— Pelos deuses... — O agora conhecido como Minhee, suspirou e encarou o céu estrelado. — Eu acho que devíamos levar ele até Hyungwon — repetiu a constatação que já havia feito antes.
Allen e Serim o olharam feio com a falta de diversão, mas por fim, depois de uma pequena discussão onde Hoseok escutou a maior série de palavrões seguidos em toda a sua vida, os três pareceram chegar em um acordo.
— Minhee, às vezes você parece o hyung — foi o que Allen falou, para logo em seguida concordar com o garoto.
— Você... vem com a gente — Serim falou, indo na frente de todos até a entrada do castelo.
Minhee foi logo atrás do loiro e Allen ficou perto de Hoseok.
— Você não é um suicida, é? — sua voz soava cuidadosa.
Shin de certa forma era, mas não iria admitir isso a um desconhecido.
Hoseok a esta altura deveria estar morrendo de medo em diversos níveis, mas aqueles três pareciam somente garotos normais e nada indicava que eles eram malignos ou que fossem escravos do tal Hyungwon. Na verdade, eles pareciam bem livres, andando até o castelo.
— Não — respondeu o moreno, sem ver motivos para o deixar sem respostas. Afinal, o garoto que não parecia passar de 1.70, aparentava ser inofensivo.
— Um fã lunático dele? — sugeriu novamente.
— Não. — Dessa vez, balançou a cabeça para dar ênfase em sua resposta.
— Ah... — Pensou um pouco. — Refugiado?
Hoseok o olhou. Refugiados buscavam abrigo ali? Vendo o olhar de confusão, Allen se pôs a falar:
— Pela sua cara, você também não é um refugiado. — Vendo a pergunta ainda nos olhos do recém chegado, sorriu e continuou: — Pessoas que são consideradas traidoras do reino, ou seja, os refugiados, pedem morada aqui. Hyungwon dá abrigo a todas essas pessoas. Ele me deu abrigo, inclusive.
— Por que você foi considerado traidor? — Era curioso demais para ficar calado diante daquele fato inesperado, pois sempre imaginou que os refugiados acabasem todos mortos.
— Porquê eu questionei a forma como eles agiam com os mais vulneráveis. — Allen não parecia ter problema em contar sua história, parecia até ter certo orgulho. — Eu não nasci na capital, de forma que nunca tive tanta influência dos grão-feéricos em minha educação. Eu morava em um vilarejo pequeno, onde tínhamos nossa própria educação, moldada pelos anciões e assim, era mais fácil de se descobrir a podridão do reino. Eu descobri tudo que eles fazem às escondidas que prejudica os demais seelies e fui burro o suficiente para questionar sem ser discreto e cá estou eu. Se aparecer em alguma cidade do reino novamente, eu morro. — Olhou para Hoseok, já sem o sorriso, mostrando a veracidade das palavras.
Hoseok se arrepiou. Sabia que a corte não era a mais justa, só não esperava ter ainda mais certeza disso em um lugar como aquele.
— Será que depois de saber minha incrível história, você vai me contar quem é? — perguntou.
— Shin Hoseok. Aparentemente, fui mandado como presente do reino para Hyungwon — foi o que respondeu e não deixava de ser verdade, por mais que fosse doloroso admitir algo do tipo.
— Ah, eles sempre fazem isso — Allen falou. — Não se preocupe, Hyungwon não vai te matar — brincou, mas aquilo causou mais medo no pobre seelie.
A adrenalina tomava conta do corpo de Hoseok, fazendo o coração, praticamente, explodir dentro do peito em um ritmado tum-tum-tum que ecoava em seus ouvidos. Tinha medo de morrer, isso era fato em um momento como aqueles; era um apaixonado pela vida, afinal. Mesmo que a vida a qual conhecia, já parecia cada vez mais distante a cada passo que dava para perto da enorme porta de carvalho milenar do castelo.
Podia ver entalhes na madeira. Imagens de rosas espinhosas, que tinham uma certa beleza macabra e por incrível que pareça, delicadeza em seus detalhes. Percebeu também, que a maçaneta era de ouro puro que brilhava como se tivesse sido polido a poucos minutos.
Serim abriu um dos lados da porta e a abriu para Minhee entrar e logo em seguida Allen, a quem deu um sorriso assim que passou por si e ficou encarando Hoseok.
— E então, vamos? — tinha um quê de impaciência em sua voz.
Hoseok respirou fundo. Não tinha como voltar atrás.
Vendo pelo lado bom, que era eles não estarem o forçando a nada, Hoseok entrou. Um pé de cada vez e assim como do lado de fora, o interior do castelo era ainda mais impressionante do que a fachada.
As altíssimas colunas, percebeu Hoseok, eram da ordem coríntia, tendo sua modelagem luxuosamente decorada com folhas e espirais. A abóbada era a comum da arquitetura gótica, a chamada abóbada em cruzaria. E lá no alto, bem no alto, Hoseok percebeu que o teto era de vidro, possibilitando ainda mais a entrada da luz do luar e era até possível, ver um pouco do céu estrelado e o próprio satélite. Junto a essa luminosidade, também havia a das várias e enormes vidraçarias das janelas.
O chão era polido e de um mármore tão claro que o jovem seelie se perguntava se não era feito de diamante ou cristal – o que não seria surpreendente, devido a tamanho luxo que se via por todas as partes.
Mas o que mais havia chamado a atenção do seelie, eram as pequenas luzinhas que iluminavam o castelo. Não eram tochas mágicas como o usual, mas luzes flutuantes que pareciam vagalumes.
Curioso como era, Hoseok esticou uma mão e estava perto de encostar em uma delas, para enfim descobrir o que era, entretanto Minhee foi mais rápido e deu um tapinha fraco em sua mão.
— A curiosidade matou o gato e a sua vai irritar elas — foi a explicação.
— Elas? — Hoseok franziu a testa.
— As fadinhas, oras — falou como se fosse óbvio. — Você não veio da capital? Como pode não reconhecê-las?
A resposta era simples, na verdade. Qualquer traço de magia havia sido vista com más olhares na capital e aqueles que praticassem, iriam sofrer um grande preconceito, por isso os praticantes e pessoas que nasciam com um pingo de magia, acabavam indo para algum vilarejo pequeno antes que acabassem sendo considerados traidores. O motivo era o medo que as pessoas passaram a sentir de magia graças às ameaças que Hyungwon fizera a anos atrás contra o reino.
— Onde o levamos? — Allen perguntou o que Hoseok queria saber.
— Voto em sala social — foi Serim quem respondeu.
— Voto em... — Minhee se interrompeu ao passo que um lindo homem apareceu no topo da escadaria espiralada feita com o mesmo material do restante do chão.
— Quem é nosso convidado? — O homem de cabelos negros como a noite e pele quase na tonalidade da lua, chegou até o pequeno grupo com um sorriso que deixava a mostra suas covinhas. Era encantador e tirava o fôlego facilmente.
Consideravam Hoseok a criatura mais linda porque não haviam visto aquele homem.
— Sr. Jaehyun — cumprimentaram todos os garotos em uníssono.
— Já disse para vocês me chamarem pelo nome, somente. Não sou tão velho assim. — Sorriu carinhosamente para cada um dos garotos e então, voltou o olhar para Hoseok. Não o analisou dos pés a cabeça como todos faziam, só manteve o sorriso no rosto. — Quem é você querido?
— S-shin Hoseok — respondeu, não deixando de ter certa vergonha por alguém que parecia um deus falar consigo.
— Refugiado? — inquiriu com delicadeza, sabendo que muitas vezes, a história destes eram tristes.
— De certa forma. — Deu de ombros.
— Ele foi enviado pelo reino... — respondeu Allen. — Da mesma forma que os outros.
Todos não pareciam contentes com aquilo. Brincar com vidas e dar pessoas como presente para tentar acalmar os ânimos de Hyungwon? Tudo porque ninguém contava a verdade real para o povo.
— Você é bem-vindo aqui e não se preocupe, ninguém irá te fazer mal algum — tranquilizou, por mais que sentisse a raiva o queimar por dentro. Jaehyun odiava o reino por tudo que haviam feito com seu filho mais velho... Como pessoas que tinham parte de sangue de anjos poderiam ser tão más?
— Imaginamos que Hyungwon queira conversar com ele... — comentou Serim tentado soar casual.
— Imagino que sim. — Não sabia dizer qual seria a reação do filho com aquilo. Já era o quinto jovem em menos de cinco anos. — Obrigado garotos, mas agora vão dormir. Pode deixar que eu cuido de tudo daqui para frente. — Deu um singelo beijo de boa noite no topo da cabeça dos garotos, tendo que se esticar um pouco para fazer o ato com Minhee que a cada dia parecia crescer mais.
Hoseok observava a cena não acreditando que estava presenciando algo do tipo no castelo do feiticeiro maléfico.
— Me acompanhe, querido. — Passou um braço ao redor dos ombros de Hoseok, falando com a voz suave como veludo.
Nesse momento de carinho, Hoseok sentiu vontade de chorar. Sentia falta do pai com todas as suas forças.
Caminharam por um corredor largo até outra porta de carvalho, menor que a da entrada, mas com a mesma graça. Jaehyun abriu e os dois entraram.
Havia uma lareira acessa para afugentar o começo do frio de inferno, que queimava intensamente fazendo a madeira estalar. A grande janela mostrava o céu azul escuro salpicado com estrelas brilhantes e Hoseok imediatamente e automaticamente, começou a formar as constelações de Órion e a antares em sua cabeça. Havia também na saleta, um sofá de couro onde havia cobertores e uma xícara de café na mesa de centro próxima a esse, junto de um pesado livro aberto ao meio; ambos à frente da lareira.
Hoseok percebeu se tratar de uma biblioteca pessoal, onde havia, pelo menos, cinco estantes que iam do chão ao teto e tomavam a maior parte do recinto.
— Hyungwon — Jaehyun chamou.
— O que foi, pai? — uma voz suave ecoou pelo local e logo, um homen alto de cabeleira escura como a de Jaehyun, mas com uma pele menos pálida e com um lindo tom bronzeado, sai de trás de uma estante com um livro que recém havia pego em mãos. Olhou para o pai e então para Hoseok. — Quem é ele?
Hoseok sentiu um arrepio o percorrer ao ver os olhos do homem. Era belo, mas os seus olhos... Esses eram dignos de todos os elogios possíveis.
Para um apaixonado pelo céu noturno e estrelado, como Hoseok, os olhos de Hyungwon causavam inveja e uma enorme falta de ar de tanta beleza.
Os olhos de Hyungwon eram escuros como o céu noturno e neles, você podia ver estrelas. Era lindo vindo de alguém temível.
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