"Eu ainda sou o mesmo, o mesmo que sempre fui. O mesmo eu de antes está aqui,
Mas essa mentira cresce mais e mais.
Está ameaçando me engolir"
- LIE (Bangtan Boys)
Você chegou na empresa e subiu a escadaria na frente da porta giratória, passando direto pelos seguranças. Pessoas saíam e entravam na V, mas você se sentia como intrusa ali. Estava envergonhada da última vez e, principalmente, com medo da recepcionista revidar fogo com fogo. Mas, quando os olhos dela caíram sobre você, ela saltou da cadeira e se curvou numa reverência quase tão respeitosa quanto a que dirigia à Seokjin.
- Sunbae - ela a cumprimentou.
Você congelou. Não sabia como responder àquilo, então lhe devolveu a mesura respeitosa, fazendo-a refazer a reverência por medo de você não ter visto.
- Ok, eu não ia falar disso mas vocês duas estão procurando algo no chão? - indagou Taehyung, praticamente brotando ao seu lado. - Digo, vocês estão fazendo tantas reverências que chega a ser bonitinho também...
- CEO Taehyung-sshi - cumprimentou a garota lhe direcionando outra reverência.
Você não foi tão formal.
- Ah, Taehyung. O Jin me chamou aqui.
- Eu sei. - ele disse erguendo o celular. - E com Jin você quis dizer seu Lindo e Adorável Amigo Com Posse de Seu Celular. Fui eu quem chamou.
Você se sobressaltou.
- Taehyung!
Ele ignorou seu apelo e envolveu seu pulso com as mãos.
- Me siga.
Você fez impulso na direção oposta.
- Por quê eu deveria?
Ele pensou por um momento.
- Porque sou seu chefe.
Você bufou. Era um ótimo motivo, na verdade, mas deixava uma série de perguntas no ar. De qualquer modo, não tinha como debater com seu chefe, portanto você o seguiu até o interior do prédio, onde percebeu que ele pegava um atalho à pé para o estacionamento.
- Sabe - você disse enquanto andava. - O elevador é mais rápido.
Ele sorriu.
- Quem disse que eu quero ir rápido, Jagiya?
Você enrubesceu e fingiu não ter ouvido. Taehyung continuou caminhando pela empresa com aquele andar irritantemente belo que parecia anunciar que ele era o dono de tudo aquilo, e que ele tinha plena ciência disso. Ele desceu a escadaria para o andar no subsolo e você precisou se segurar no corrimão para não desmaiar com a quantidade de carros ali.
Na verdade, a quantidade mal chegava aos pés da qualidade dos carros. Todos de cores fortes, brilhantes, tão lindos que você chegava a se sentir indigna até mesmo de olhar.
- Qual deles é o seu? - Indagou.
- Todos eles - Taehyung respondeu com o queixo erguido e um sorrisinho - Mas não uso todos. Quer um?
Você riu.
Que tipo de pessoa oferecia carros caros como se fossem doces? Quer dizer, nem doces as pessoas ofereciam com felicidade, quem diria carros de luxo!
- Eu queria - você respondeu com um biquinho. - Mas não tenho carteira.
Taehyung deu de ombros e parou em frente a uma fileira de carros, fazendo uni-duni-tê para escolher qual deles usar. Irritada, você simplesmente apontou para o preto - O mais discreto de todos eles.
- Que tal esse?
Taehyung a encarou como uma criança irritada que diz "Cortou o meu barato", mas logo cedeu e destrancou o carro, deixando-a sentar no banco do carona. Quando ele se sentou ao seu lado, lhe sorriu e se aproximou. Se aproximou o suficiente para que você enxergasse suas pupilas dilatando lentamente, o sorriso se estendendo, as mãos indo em direção ao seu rosto.
Você enrubesceu e virou o rosto na direção oposta. Ele não podia... Era seu chefe...
Click.
Você olhou para baixo.
- Como uma criança - ele disse, se afastando - Você não coloca o cinto quando entra no carro.
Você engoliu em seco e, recuperando a postura, bufou. Quem era ele para lhe dizer que se comportava como criança? Independente de ser ou não seu chefe, ele era duas vezes pior e mais um pouco. Taehyung colocou o cinto e fechou a porta do carro.
- Para onde estamos indo? - você perguntou com a voz abafada pelo ronco do motor do carro e a porta da garagem se abrindo.
- Para um lugar legal.
- Por quê você não me conta?
- Por quê você não apenas se deixa levar?
- Que tipo de pessoa faria isso com alguém que não conhece direito e, pior, diz coisas como "se deixa levar". Soa como um pagodeiro em roda de samba.
- Um o quê? O que é isso?
- Nada.
Taehyung suspirou e olhou para a paisagem que era deixava para trás a cada segundo que se passava com os dois naquele automóvel. Por quê ele tinha tanto interesse em você? Claro, você não era burra, mas apelar para algo tão radical como ele gostar de você era rápido demais. Ele sequer a conhecia mais do que algumas imagens no instagram de Jimin!
- Você pode me achar estranho - ele disse finalmente. - Mas é apenas meu jeito de lidar com as coisas. Sinto muito por isso.
"Não sinta", você quis responder. Mas sua voz simplesmente não saía. As palavras dançavam pela sua língua mas não queriam ser ouvidas.
Você bufou e se aconchegou no encosto do Assento, ouvindo a respiração nervosa e a saliva de Taehyung descendo pela goela à baixo. Ele estava ansioso? Céus, o que ele estava planejando afinal?!
- Você... Gosta de música?
- Uhum.
Ele suspirou e você pode jurar ter ouvido um "Graças à Deus!" saindo dos lábios de seu chefe como um sussurro. Era tão estranho como ele parecia ser envergonhado e confiante ao mesmo tempo, como se tivesse uma espécie curiosa de bipolaridade.
O rádio foi ligado e você sorriu.
- Omo! É Cypher pt.4?
Taehyung piscou e olhou na sua direção por um mísero segundo antes de voltar a atenção para o volante. Naquele momento, seus olhos cintilaram como os de um garotinho observando uma vitrine de brinquedos em desconto.
- Você gosta?
- Se eu gosto? Bem, eu não sou muito boa em coreano mas eu posso dizer, com todas as letras, que Cypher é garantia na minha playlist.
O sorriso dele se estendeu ainda mais e começou a recitar baixinho algumas frases da música.
Foi a sua vez de ficar surpresa.
- Ah, Meu Deus! Kim Taehyung!
Ele se encolheu.
- O-O quê? O que foi?
- Você sabe a letra!
- N-não sei.
- Qual é o problema? Isso é incrível, queria eu ter essa habilidade. - você ergueu os dois polegares como Hoseok costumava fazer quando você acertava uma questão no dever de casa. - Daebak!*
Taehyung deu uma risadinha muito semelhante a que as fans de Jimin faziam quando ele estava por perto e a encarou timidamente - Algo que você sequer cogitava que ele fosse fazer.
- Sério? - ele perguntou. - Tipo, você não está dizendo isso por que sou seu chefe e posso te demitir nem nada, certo?
Você riu.
- E se eu estiver?
O sorriso desapareceu quase imediatamente, fazendo-a rir ainda mais. Se fosse demitida por isso, ao menos sairia rindo do carro. Ao ver que você estava rindo, por algum motivo, Taehyung sorriu também, ignorando completamente a brincadeira de antes.
O carro parou.
- Chegamos.
- Ah! - você exclamou, ansiosa para descobrir onde estava.
Você abriu a porta do carro, logo dando de cara com a frente de um restaurante de comida italiana. Havia um letreiro de neon reluzente com um chapéu de cozinheiro e bigodinho sobre as letras verdes, também havia um tapete vermelho estendido desde o interior do restaurante até o fronte do lugar, onde o carro estava estacionado.
Taehyung saiu do veículo.
- Pelo amor de Deus, você não consegue ficar parada um segundo?
Você bufou.
- O que foi? Eu não fiz nada.
- Não, EU que não fiz nada. Eu ia abrir a porta pra você!
Você fez um "Ah" de entendimento, fazendo com que Taehyung suspirasse e colocasse as mãos na cintura de forma irritadiça.
- Eu... Hum... Desculpa? Quer que eu entre de novo no carro?
Taehyung a encarou como quem diz "Sério?", mas logo se derreteu de risos. E você achando que ele fosse uma pessoa difícil de lidar...
Ele negou com a cabeça, desfazendo da oferta e jogou a chave do carro para o manobrista na frente do restaurante. O homem lhe fez uma reverência e um gesto largo em direção ao interior do restaurante.
- É por aqui, senhor. - ele disse. - Estacionarei com cuidado.
Taehyung fez um gesto de desdém e deu um passo em frente. De súbito, ele se virou em sua direção e sorriu, seguido de uma piscadela.
- Você não vem?
- Ah. Claro.
Você não fazia ideia do por que seu vocabulário diminuiu tanto tão rapidamente. Quer dizer, foi só um olhar. E uma umidecia rápida do lábio superior. Ele lhe ofereceu o braço, o qual você não recusou. Indo em direção ao interior do restaurante, seus pensamentos pipocavam loucamente em sua cabeça.
Você não tinha tirado o uniforme escolar pensando que era Seokjin quem tinha chamado. Isso não seria um tanto quanto inadequado num lugar tão chique? Estava caindo a tarde e você se perguntava o que Taehyung queria.
Aquilo não era um encontro... Era?
Oh, merda.
- Ah, Presidente Kim - o funcionário próximo à lista de clientes se agitou, endireitando a gravata. - Não sabia que o senhor viria hoje.
- Ah, mas eu não ia vir mesmo - ele respondeu negligentemente, com um dar de ombros. - Mas mudei de ideia. Teria uma mesa vaga?
Ao pronunciar sua última frase, embora você tivesse a impressão de que aquilo deveria ser uma pergunta, a voz dele soou autoritária, como uma ordem. O funcionário sorriu nervosamente.
- Claro, senhor. Por favor, me acompanhe.
Você apertou com mais força o antebraço de Taehyung. Não queria admitir mas se sentia aterrorizada por entrar num local como aquele, se sentia como uma intrusa. E Taehyung deve ter percebido já que apoiou a mão livre sobre a sua antes de caminhar atrás do funcionário.
O homem os guiou até o interior do restaurante - que a surpreendeu grandiosamente. Era um lugar comum, com mesas comuns, paredes comuns e cadeiras comuns. A única diferença entre o restaurante italiano e uma lanchonete italiana era a atmosfera rígida e requintada que pairava sobre os clientes. Você se sentia sufocada.
- Aqui - disse o homem apontando para uma mesa de apenas uma cadeira.
Você enrubesceu, mas Taehyung encarou o homem como se fosse um inseto nojento grudado à sola de seu sapato.
- O que é isso?
O funcionário engoliu em seco.
- É uma mesa. O senhor pediu...
- Sim, eu pedi. Uma mesa. Para DOIS. - ele fez um gesto sutil, porém visível com o braço o qual você segurava.
Você tentou soltá-lo num súbito acesso de confusão mas ele segurou sua mão com ainda mais força, obrigando-a a permanecer parada.
- Ah, céus - o homem suspirou tapando a boca. - Me desculpe, achei que ela fosse apenas uma estudante tentando entrar no rest...
- Poderia - Taehyung o interrompeu. - deixar de gastar sua saliva nojenta e meu precioso tempo com a senhorita? Estou começando a pensar em mudar a mente de alguns críticos à respeito da recepção dest...
- Não! Por favor, não o faça, senhor! Irei providenciar-lhe uma mesa... Para dois! - acrescentou prontamente, e se afastou.
Taehyung suspirou e apoiou a testa na palma da mão. Podia ver a veia saltando-lhe na testa e os traços rígidos da mandíbula indicando que estava irritado. Era lindo. Claro, a situação que o tinha deixado daquela forma era horrível, você odiaria ter que não perder a compostura perante uma ocasião daquelas, mas ainda assim...
Antes que percebesse, seu indicador estava traçando o caminho da mandíbula dele.
E então ele olhou para você.
Sua respiração falhou e você corou violentamente abaixando a cabeça. Você não queria ter feito aquilo. Sério, realmente não queria. Mas sua mão havia se movido sozinha até o pescoço dele, percorrendo o caminho reto da orelha até o queixo.
Taehyung deu um sorrisinho sutil e umideceu os lábios.
- Incrível.
- O quê? - você indagou.
- Não importa o quão irritado eu esteja ou quão péssimo tenha sido meu dia... Eu sinto que sempre vou sorrir se olhar para você.
Você engoliu em seco e desviou o olhar.
O que raios ele estava falando? E tão subitamente, ainda por cima! Aquilo... Era uma declaração?
Nossa.
- Aqui, senhor - disse o funcionário, surgindo ao seu lado. - Por favor, me sigam.
Você concordou e, inconscientemente, quase soltou o braço de Taehyung. Quando se afastou, o rapaz manobrou os dedos habilmente pelo seu braço até entrelaçá-los aos seus, fazendo-a ficar ainda mais vermelha. Aquele dar de mãos era exatamente como os casais das revistas faziam ao visitar lugares juntos.
Apesar de parcialmente desconfortável, você não tentou largá-lo.
- Fiquem à vontade.
Taehyung a empurrou levemente para trás e puxou a cadeira para você, fazendo-a dar um risinho. Ao ver que sua tentativa de cavalheirismo tinha finalmente sido um sucesso, Taehyung deu um sorriso abobado e se sentou na cadeira à frente da sua.
Seu sorriso sumiu ao ver que o funcionário tinha praticamente virado estátua ao lado da mesa.
- Vai ficar aí o dia todo? - Taehyung perguntou rudemente. - Está dispensado.
O homem concordou freneticamente com a cabeça e correu às pressas para o seu posto de anteriormente, fazendo Taehyung relaxar na cadeira e desabotoar o terno para ter maior conforto.
- Que ultraje - ele murmurou. - Eles vão ouvir de mim novamente.
- Não precisa ser tão rígido - você disse. - Reclame com o chefe dele mais tarde e pronto.
- O quê? Sem demissão, desonra da família, sujar o nome, pressão psicológica e feridas emocionais? Não é assim que eu costumo trabalhar.
Você não resistiu e acabou rindo.
Ele não podia ser real.
- Meu Deus.
Você não disse mais nada. Não tinha mais palavras e Kim Taehyung tinha ficado tímido de repente. Vocês pareciam dois adolescentes sem assunto cujos pais forçavam uma interação social harmônica.
Finalmente, ele pigarreou e quebrou o silêncio.
- Hum... Eu... Queria falar com você...
- Huh? - você incentivou.
- Você não me reconhece?
Você franziu o cenho.
- Taehyung-sshi, você está bem?
Ele suspirou de forma impaciente.
- Por favor, estou falando sério. Você me reconhece? De algum lugar que não seja da televisão ou de qualquer fonte da mídia?
Você pensou. Pensou com afinco. Reviveu todas as suas memórias mas o rosto dele não estava presente em nenhuma delas. Ele já a encontrou antes? Neste caso, como você poderia esquecer um rosto como aquele?
- Não - respondeu finalmente. - Não que eu me lembre. Do que você está falando?
Taehyung engoliu em seco, as sobrancelhas oblíquas numa expressão de tristeza que a fez desesperadamente querer resgatar a memória a qual ele se referia apenas para que aquela expressão desaparecesse.
- Não é de se surpreender - ele disse, afinal - Você levou uma pancada feia com a cabeça naquele dia.
Você arregalou os olhos.
- O quê, como...
- Já fizeram seu pedido? - o garçom se aproximou.
Péssimo timing, amigo.
- Ah, ainda não. Hum... O que acha do especial do dia? À moda do chef?
Você concordou.
- Por mim tudo bem.
- Me parece bom - Taehyung concordou.
- Bebidas?
- Um refrigerante e...
- O mesmo para mim - você disse.
- Dois refrigerantes.
- Dois refrigerantes - confirmou o garçom - Perfeito, com licença.
Ele se afastou e você se voltou para Taehyung novamente.
- Do que estávamos falando mesmo?
- Sua perda de mem...
- Ah, sim, lembrei - você falou. - Enfim, o que aconteceu? Quer dizer que você me conhecia antes de se tornar meu chef?
Taehyung apoiou os cotovelos sobre a mesa e confirmou solenemente com a cabeça. Sua mente começou a trabalhar à mil por hora. Ele a conhecia. Seus olhos diziam isso, como você não tinha percebido antes?
- Na época você era uma garotinha - ele contou com a voz baixa. - Era meio retardada também.
Você fez uma careta.
- Obrigada pela parte que me toca.
Ele riu.
- Eu era o típico filhinho de papai, sabe? Nascido em colher de ouro, tendo tudo na palma das mãos e pagando tudo para meus colegas de turma em cada encontro. Eu era um idiota. De qualquer modo, a empresa do meu carro teve uma queda certa vez e eu tive que diminuir os custos com meus colegas. Foi aí que comecei a ser abandonado por eles pouco à pouco.
- Você... Sofreu bullying? - você perguntou lembrando-se de Jungkook.
Taehyung se indignou.
- O quê? Não! Eu era e SOU bom demais para sofrer tal afronta. Ninguém se atreve a tocar sequer um dedo em minha pessoa. Menos condição financeira não me faz menos precioso.
- Entendo - você respondeu.
Fazer o quê. Amor próprio é tudo.
- Por causa do problema financeiro tivemos que suspender a limusine que me levava para a escola, tempos terríveis aqueles. Mas não posso reclamar de nada, afinal, foi isso que me levou até você. Só nos falamos rapidamente na frente da escola enquanto você esperava seus pais. Até hoje lembro as exatas palavras que foram trocadas naquele dia.
Taehyung olhou para o nada como se, subitamente, onar tivesse ficado mais interessante que a conversa. Ele simplesmente se distraiu do nada e com o nada. Você estalou os dedos na frente dos olhos do rapaz, fazendo-o piscar.
- Oi - você chamou-lhe a atenção. - Quais foram as palavras?
Ele apoiou a bochecha nos braços em cima da mesa e suspirou da mesma forma que um adolescente, com direito a sorrisinho e olhos se fechando.
- Ah, nada demais. Você estava sentada na frente da escadaria do Jardim de Infância, eu sentei do seu lado, você me ofereceu um pedaço do seu lanche e disse: "Você quer?" e eu respondi: "Não gosto de carne de pobre", aí você me chamou de idiota e bateu na minha cabeça. Então sua mãe chegou com um garotinho no colo e você foi atrás dela, mas estava tão ocupada me chamando de idiota enquanto andava que acabou tropeçando e caiu.
Você o encarou desacreditada.
Ele estava falando sério?
- Deixa eu ver se entendi.
- Hum.
- Nos conhecemos no Jardim de Infância...
- Uhum.
- Eu era uma garotinha e você era um pirralho mal educado e riquinho...
- Prefiro optar por "Jovem de Boa Índole e Criação"
Você revirou os olhos.
- E, depois de tudo isso, você acha que eu iria me lembrar de tudo? E pior, colocar a culpa de eu não lembrar em um tombo de criancinha?
- Foi a única opção cabível para o fato de você não se lembrar de meu rosto perfeito e charme incontestável.
Ai, Meu Deus. Ele era uma versão piorada de Jimin, se não igualmente vaidosa. Você respirou fundo e tentou absorver toda aquela informação.
E se... Fosse ele...
Deus, você estava enlouquecendo!
- Sua refeição, senhores.
- Ah, obrigada - disse Taehyung com o bom humor misteriosamente renovado.
Você degustou a comida, que praticamente derreteu em sua boca enquanto mastigava, fazendo-a salivar. Apesar de comovida pela rapidez com que a comida chegou e a visão linda daquele filé às luzes do restaurante, não pode deixar de se sentir um tanto quanto curiosa.
- Uhm... Taehyung-sshi...
- Sim?
- Você... Por acaso... Teria meu número de celular?
Taehyung parou de cortar a carne, largando a faca sobre o prato e enrubescendo tão fortemente que você chegou a pensar que até mesmo um tomate seria menos avermelhado.
- Omo... Isso é rápido até mesmo para mim, mas eu poderia dar um jeito s...
Ele parou de falar subitamente e prendeu o olhar a cima de sua cabeça como se tivesse visto um fantasma. Inicialmente, você pensou que ele tivesse se distraído novamente e até mesmo estalou os dedos na frente de seus olhos, mas então ele piscou e falou:
- H-Hyung!
Jin suspirou e revirou os olhos. Estava vestido com roupas comuns, jeans e jaqueta por causa do frio. Ele bufou e se aproximou de Taehyung, apoiando sua mão em seu cotovelo.
- Taehyung-sumbaenim... Eu acordei hoje, depois do meu soninho da tarde e, adivinha! Eu ia ligar para você e avisar que meu turno tinha acabado mas, por algum motivo, eu não encontrei meu celular!
Taehyung riu nervosamente.
Não era ele o Chefe? Então por que sentir tanto medo de um subordinado?
Ah, sim. Porque esse subordinado era Kim Seokjin. E assustava mil vezes mais irritado que um membro da yakuza.
- É... Hum... Realmente, um grande problema, hyung-nim...
- Pois é - ele sorriu. Um sorriso lindo, porém com um fundo de maldade. Inconscientemente, você se lembrou que era o mesmo sorriso direcionado à recepcionista antes de jogá-la escadaria à baixo. - Hunbae-nim - ele disse, direcionando-se a você e lhe estendeu a mão. - Poderia me emprestar o celular por um momento?
Você engoliu em seco e olhou para Taehyung, que fez uma expressão assustada de olhos arregalados e negou firmemente com a cabeça. Era você ou ele.
- Aqui está, sunbae - você lhe deu o celular.
Taehyung bateu na própria testa repetidas vezes sussurrando consigo mesmo algo como "Por quê eu não deixei esta merda no modo silencioso?"
Jin discou um número, levou o celular à orelha, e um ringtone animado começou a ressoar pelo restaurante, chamando a atenção de todos por ser tão infantil.
Ringtone: https://youtu.be/5AZedMcmzbI
Seokjin sorriu.
Taehyung revirou os olhos.
- Ótimo, Seokjin. Agora vou ser reconhecido pelo ringtone de mulherzinha.
- Bem feito, seu pirralho abusado - respondeu erguendo o chefe pela gola do paletó - Desculpe, hunbae mas esse garoto tem que aprender uma lição.
- Que absurdo! - Taehyung gritou se prendendo à cadeira enquanto Jin o puxava na direção oposta. - Você vai ser demitido Kim Seokjin!
- Tente.
Você se levantou e tentou separar os dois - Uma estratégia quase perfeita já que o sunbae não queria machucá-la e Taehyung era rápido e desesperado como uma lebre numa armadilha de caçador. Em determinado momento, um garçom se aproximou para pedir que se acalmassem devido à inquietação dos demais clientes mas ele levou um soco de Taehyung por engano e acabou desacordado no chão.
- TAEHYUNG!
- OI!
- EU NÃO TE CRIEI PRA ESSAS COISAS!
- VOCÊ NÃO ME CRIOU!
Jin apertou ainda mais a gola no pescoço do chefe, arrastando-o tão ferozmente que quase você foi levada junto. Ele murmurava consigo mesmo xingamentos e repreensões à Taehyung mas você não podia ouví-las pois estava ocupada demais tentando salvar o próprio pescoço enquanto tentava criar um meio termo naquela briga de extremos.
A porta do restaurante se abriu.
- Jin-hyung, o carro está esperando.
- Hyung! - Taehyung gritou e correu em direção ao rapaz, se protegendo atrás de suas costas enquanto Jin recuperava suas forças.
- Namjoon, poderia pelo amor de Deus dar uma surra nesse moleque por mim?
Você congelou.
Namjoon?
Kim Namjoon?
Seus olhos varreram o restaurante até grudarem nos olhos escuros de Nanjoon do outro lado do recinto. Você iria o cumprimentar, iria perguntar o por quê dele estar aqui, iria fazer piadas sobre Seokjin e Taehyung, mas então algo lhe ocorreu:
Ele estava sem a máscara de rosto.
E sem boné.
Aquele rosto... Você o conhecia.
Estava em todos os sites de fofoca das celebridades, em todas as revistas de kpop e em todas as matérias de rap contemporâneo.
- Rap Monster... - você sussurrou.
Ele a chamou pelo nome também, mas você estava tão sem ar que não pode ouvir nada além do som de seus batimentos cardíacos. Ele caminhou em sua direção e você, em pânico, fez tudo o que poderia fazer naquela situação:
Correu.
Correu loucamente.
Como se sua vida dependesse disso.
Ele foi atrás de você, claro, mas isso só a fez aumentar a velocidade da corrida, indo até a cozinha e surpreendendo os cozinheiros ao disparar pela saída dos empregados como se sua vida dependesse disso.
Todas as suas conversas com Nanjoon passaram pela sua cabeça enquanto você procurava por alguma declaração vergonhosa falando sobre Rap Monster para ele mas, por algum motivo, nenhuma lembrança lhe vinha à mente. Você correu até chegar ao ponto de espera de táxi e chamar o primeiro deles, batendo na janela e se jogando no assento, ditando seu endereço como se fosse a última coisa que você fosse fazer na vida.
Enquanto o motorista lhe encarava pelo retrovisor com estranhamento e dava partida no carro, você fez toda uma manobra no assento para conseguir ver a estrada às suas costas. E lá estava ele, Kim Nanjoon correndo pela estrada atrás do táxi como um jato, embora não ultrapassasse a velocidade de Jungkook.
Quando ele desistiu aos poucos de seguir o automóvel, você se jogou no banco tentando regular a respiração - Algo que não deu muito certo devido ao olhar crítico do taxista em sua direção. Quando chegasse em casa, tomaria um banho frio e tentaria repôr todos os caquinhos da sua "cara rachada".
Depois de um banho bem gelado - até por que, não tinha água quente em casa - você se jogou na cama de seu quarto e ficou estática olhando para o teto por um tempo indeterminado até sentir falta de algo muito importante.
Seu celular.
Você suspirou e se levantou, sentindo todo o seu corpo dolorido pela corrida de antes. Você não era bem um exemplo de estatura física, afinal de contas.
Então a campainha de casa soou.
Você caminhou até a sala e se jogou na porta com o suéter se arrastando na madeira escuda assim como sua bochecha quando gritou:
- Não tem ninguém em casa.
Uma vozinha levemente familiar deu uma risadinha suave e respondeu:
- Certo, então acho que irei passar de porta em porta neste bairro e espalhar dom da minha beleza para os reles mortais.
Você abriu a porta de súbito e gemeu com uma careta dolorida:
- Jiminie!
- Oi - ele respondeu sorridente, recebendo-a em seus braços. - Nossa, você está... Acabada. Parece que correu uma maratona.
- Foi quase isso. Pelo amor de Deus, vamos entrar, eu não tenho pernas para ficar de pé aqui.
Ele concordou e a arrastou para dentro, percebendo que você não tinha forças para se mover sozinha. Jimin trancou a porta de casa e a levou até o seu quarto, onde você deitou na cama e se agarrou ao lençol como um bebê enquanto ele se sentava aos pés da cama para vê-la melhor.
- E então? - você indagou. - O que o traz até mim neste dia fatídico, Park Jimin?
- Ah, eu senti falta da minha ajudante número um. A clientela diminuiu desde que você foi embora. A masculina, mais especificamente.
- Avisa para o maldito gerente então - você resmungou.
Jimin riu.
- Vou avisar. Como foi seu dia?
- Arrasador.
- De uma forma boa?
- De uma forma confusa.
Você acabou contado tudo para Jimin, desde o garoto desconhecido no ônibus até sua ligação com seus chefes e a revelação desconcertante de quem Nanjoon realmente era. Jimin riu.
- Você tem um péssimo hábito de correr dos seus problemas... Literalmente.
- E o que eu poderia fazer? Digo, ele estava bem na minha frente com todo aquele... E aquele... Argh! Eu não sabia o que fazer!
Jimin segurou sua mão e você enterrou o rosto nas dobras do lençol. Ele se sentou na cama ao seu lado e deslizou os dedos pelo seu cabelo, algo que deveria ser difícil por conta dos embaraços constantes dos fios mas ele fez parecer tão fácil e suave que quase a deixou com sono.
- Sabe - ele disse. - Você pode até tentar evitar mas eu aposto que ele vai estar no ônibus amanhã, esperando-a. Não adianta fugir.
Você gemeu. Não sabia mais o que dizer. Devia ter ficado. Devia ter ao menos falado com ele, mas agora era tarde e você se sentia em conflito consigo mesma. Uma parte de você dizia "Sua estúpida, você fugiu do seu artista favorito porque você é burra, só pode" mas a outra parte dizia "Pelo amor se Deus, menina. Você vai rachar ainda mais essa cara, não vai no ônibus amanhã, vai de carro, vai de van mas não ouse pisar num ônibus".
- Jiminie...
- Uhm?
- O que você faria se estivesse no meu lugar?
- Eu tiraria uma selfie com minha face angelical e chamaria ele para sair. Não seria muito trabalhoso e a resposta seria previsível demais.
Você ergueu a cabeça e enterrou a ponta dos dedos nas bochechas fofinhas de Jimin, sentindo a pele dele flexionar sob a sua.
- Pois é - você disse. - Mas eu não transbordo beleza como você e não tenho o mesmo amor próprio que pessoas que colocam a própria foto como protetor de tela e... AI MEU DEUS, MEU CELULAR!
Você se levantou rapidamente mas Jimin a puxou novamente para a cama, cobrindo-a com o cobertor assim como uma mãe faria ao seu filho antes que o mesmo adormecesse.
- Não me diga - ele disse. - Que você esqueceu novamente seu celular com algum amigo da escola.
- Na verdade, foi com meu chefe.
- Pra quê seu chefe iria roubar seu celular?
- Longa história.
Então o som de notificação no IPhone de Jimin soou pelo quarto. Ele segurou o celular em mãos e o desbloqueou.
NOVA MENSAGEM DE: DESCONHECIDO
DESCONHECIDO: Desculpe o incômodo
DESCONHECIDO: Mas ela esqueceu o celular no restaurante, sabe.
DESCONHECIDO: Então eu só pude contactá-la pelo seu telefone.
DESCONHECIDO: °^°'
DESCONHECIDO: Dê à ela boa noite por mim.
DESCONHECIDO: Offline.
- Awn - Jimin deu um sorrisinho. - Ele é tão fofo! Eu pegava.
- Park Jimin!
- É brincadeira, relaxa. - ele disse, recostando-se na parede atrás da cama. - Então, não vai responder?
- Ele está offline.
- E daí? As mensagens ficam gravadas, docinho. Aliás, esse cara parece te conhecer. Realmente não faz ideia de quem seja?
Você negou com a cabeça, entristecida.
- Eu tentei, mas parece que esse sujeito é um fantasma.
Jimin concordou lentamente.
- Ou então seja você quem não quer descobrir.
- O quê? Por quê eu não iria querer descobrir quem é? Eu estou quase me matando de curiosidade por isso!
- Você não quer descobrir porque gosta do mistério. Gosta de não saber. Eu também não iria querer descobrir, o resultado pode acabar sendo decepcionante.
Não pode ser, você pensou. Não pode ser tão decepcionante quanto não saber quem é a tal pessoa. Apesar de contrariada, você concordou e se aconchegou em Jimin, sentado de forma relaxada ao seu lado.
- Mais que abusada - ele disse entre risinhos. - Se bem que eu também iria querer deitar no peito abdômen se estivesse do meu lado, é quase um impulso à beleza.
Você revirou os olhos.
- Cala a boca, Park Jimin.
- Sim, senhora.
- Boa noite.
- Boa noite.
Você acordou.
Era de conhecimento seu que Jimin iria embora no meio da noite, até por que, teria que estudar para aquela longa semana de provas.
Para sua sorte, era sábado e você não ia precisar ir à escola - Ou pegar o ônibus.
Seria isso o segredo revelador que Nanjoon queria lhe contar? Por quê ele iria querer revelar uma coisa dessas justamente para você quando todos os outros idols se matavam para proteger sua imagem em público? Veio em sua mente todas as vezes em que ele estava no ônibus antes de você, esperando-a, sorrindo como uma pessoa comum. Ele não estava indo a um lugar específico, mas, mesmo que estivesse em uma das vezes, repetia o trajeto quantas vezes fossem necessárias para começar o dia daquele mesmos jeito: olhando no seu rosto, sorrindo para você, dando conselhos.
Ou estaria você viajando e criando ilusões onde não existe?
Você deu de cara com o travesseiro já que não havia mais o corpo fofinho de Jimin para se apoiar e gemeu de frustração. O plano era passar o dia inteiro em casa, fazendo vários nadas e comendo. Comendo até se fartar.
A campainha de sua casa tocou.
Era a segunda vez na mesma semana, o que era quase um recorde para alguém que mal era visitada diariamente pelos amigos. Acreditando que podia ser Jimin, você abriu a porta mas tudo o que encontrou foi uma caixa de encomenda toda lacrada com papel de embrulho infantil azul bebê.
Você o segurou no colo e trancou a porta novamente.
A assinatura na caixa dizia Kim Seokjin, obviamente. Quem mais teria um gosto tão adorável para papéis de embrulho? Você sorriu para si mesma e, com uma tesoura para não afetar o embrulho, desfez a caixa pouco por pouco até sobrar um pedaço de papelão que pôde ser aberto facilmente.
Era o seu celular, acompanhado de um Bilhete.
"Sinto muito pela descortesia que tive noite passada, sequer pude ter uma conversa descente com você graças à falta de educação do nosso chefe. Por falar nisso, você fez uma sábia escolha me emprestando o telefone. Por isso gosto de você. É inteligente ;)"
Você riu.
Não era brincadeira quando o pessoal da empresa criava boatos sobre Jin ser a mãe do Grupo Kim. Ele era tão extremamente cuidadoso e se estressava muitas vezes mais que uma adolescente.
Você se levantou e foi até cozinha. Não tinha comido a janta na noite anterior e isso a tinha deixado em um estado de quase morte já que comida e séries de TV eram duas coisas das quais você não abria mão.
Então você abriu a geladeira.
Vazia.
Bem, ao menos vazia das coisas que você gostaria de comer. Um alface, um potinho velho de carne e ovos em conserva não alimentavam ninguém. Você pegou o celular, colocou no bolso dos shorts e vestiu um casaco. O supermercado não era tão longe para que tivesse que se arrumar toda e quase ninguém que você conhecia andava por lá.
Você abriu a porta e saiu caminhando pela rua, sem perceber que estava sendo seguida.
*Daebak - incrível
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.