História 0800-Híbrido - Quem é você?

- Não, você não tem como estar bêbado - respondeu frustrado Jungkook indo em direção a mesa em que o casal que havia entrado sentou  - Eu não posso ficar aqui conversando, tenho que trabalhar.

- Mas eu estou bêbado! - dizia Taehyung com a voz embargada - Bebi muita cerveja!

- Tae - Jimin se aproximou, pegou uma das latas que se encontrava na mesa em que o outro deitava a cabeça e colocou bem em frente ao rosto do Kim - Era cerveja sem álcool, Pabo!

- Me deixe sonhar, Jimin-ah - ralhou - Eu estou tão focado nos estudos que não posso realmente beber, realmente queria poder beber um pouco...Um pouquinho...

- Você precisa de um tempo, cara - respondeu o Park - Sério, você anda um caos. Talvez seja realmente bom você encontrar um híbrido e…

- Shiiiii! - disse Taehyung colocando o indicador em frente aos lábios e levantando da mesa - Não fala essa palavra! Não fala!

Ele não havia contado ao amigo sobre o aluguel que fizera a três dias atrás… Três dias…

- Merda! - Kim  vocalizou seu pensamento assustando Jimin ao se levantar abruptamente da mesa.

- Merda!? Não me diz que você esqueceu o forno ligado de novo…- falou enquanto o Tae recolhia seus livros da mesa: havia usado um cantinho afastado do café para estudar naquela tarde de segunda-feira, feriado, pois sua casa estava muito mais bagunçada que o habitual.

- Não, não é isso dessa vez - falou correndo para fora do café - É que eu tenho que receber uma encomenda.

Jimin apenas deu de ombros e voltou a trabalhar, seu dia havia sido longo e ainda estava longe de acabar.

<3

Havia feito muitos planos para antes que Suga, o desconhecido do codinome adorável, chegasse: tirar os lixos do apartamento, varrer o chão que vivia cheio de farelos de borracha, colocar os livros nas prateleiras, talvez até os ordenar por tamanho para parecer alguém metódico e respeitável, lavar a louça e até mesmo limpar o vidro da ampla porta da sacada que havia na sala. Queria também ter programado um cronograma e slides com as funções do híbrido, não ele não iria aprender três anos de medicina em um dia, muito menos iria sair por aí tratando criancinhas: sua função era ser um secretário pessoal que ajudaria a organizar todo o material necessário, e também ajudaria na visitação aos leitos, brincando com as crianças e passando casos.

Entretanto, Kim Taehyung não havia seguido o planejado: no sábado dormiu o dia inteiro e depois saiu pela rua para tomar ar fresco, acabou achando um restaurante italiano legal a um preço acessível e jantou por lá, tirou um dia de folga, pois no domingo já estava estudando para sua prova de quarta-feira e na segunda-feira decidiu passar o dia no café de Jimin e bom, estudar e atazanar a vida do amigo.

Esqueceu completamente que no fim daquele dia Suga, que sequer havia imaginado como seria, provavelmente alguém de alma doce, pelo apelido, chegaria e agora estava correndo e torcendo para que ele não houvesse chego, para poder, ao menos, arrumar o apartamento superficialmente.

Não fazia ideia por onde começar. Pela louça? Não queria, odiava lavar louça. Pelo chão? Desde quando seu chão tinha um aspecto tão asqueroso?

E então como alguém vira ouvindo os passos de um assassino se aproximando em um filme de terror o menino focalizou a parede tomada de papéis que ficava ao lado de sua mesinha.

Mas, como assim uma parede tomada de papéis? Logo que se mudou para Seul pediu ao proprietário para pintar uma das paredes de gesso do apartamento de preto fosco, queria usar aquele espaço para fixar contas, horários, calendário de provas, lista de compras e outras coisas. Tae trabalhava, quando estava fora de seu período de provas, periodicamente como fotógrafo de eventos, books e qualquer trabalho que coincidisse com seus horários e esse era outro dos motivos que tinha para ter aquela parede que acabou por ser mais de um de seus planos falhos de organização.

Sempre esquecia de tirar os papéis da parede depois que as datas passavam e eles acabavam por serem colados um por cima dos demais.

Engoliu em seco, bendita hora em que havia criado a regra de somente limpar a casa quando estivesse de bobeira, ele nunca estava dessa forma. Jogou-se no sofá e pensou que Deus provavelmente lhe concederia piedade e o híbrido chegasse apenas no dia seguinte, afinal atrasos sempre ocorrem em prestação de serviços, sempre. Sorriu orgulhoso de sua conclusão e ouviu a campainha tocar.

Deus, onde está sua piedade? Pensou, que merecia pelo menos um tiquinho, um mínimo grão de areia, quem sabe? Um fagulha de piedade.

Era quase santo! Mal e porcamente bebia, nunca colocara uma droga sequer na boca, mesmo tendo curiosidade sobre os efeitos do LSD, mal tivera sexo em sua pobre vida de pertencente coreano do vale homossexual. Todavia amava pornografia e como! Não aquela de linguagem barata, como cenas feitas porcamente, ele gostava de que cada porno que visse fosse de qualidade absurda e por isso até o ato de buscar inspiração para tocar-se tornava-se um penoso sofrimento. Por isso Deus devia ter piedade consigo, era um bom menino, para não se dizer ótimo.

E agora, a campainha que toca incessantemente denunciava a chegada de seu híbrido de aluguel. Levantou-se e parou em frente a porta, suspirou. Passou a língua pelos lábios que, curiosamente, mesmo após ter ingerido cerveja sem álcool possuia certo amargor do café que lhe era tão rotineiro, ajeitou os fios com seus longos dedos magros e sentiu na raiz dos mesmos que suas mãos se encontravam gélidas, abriu a porta.

Em sua frente, encontrava-se um garoto de tranças vermelhas e orelhas pretas em pé, essas que possuíam duas argolinhas prateadas na esquerda e que combinavam com as orelhas humanas onde haviam mais brincos, braços totalmente tatuados até onde, ou mais, não saberia dizer, sua camiseta folgada branca ia, essa que combinava, aliás, com sua pele de tom leitoso, calças de moletom extremamente largas, tênis preto estilo streat no pé. Em seu ombro direito uma mochila preta descansa informalmente com o auxílio de sua mão e ao lado de seu pé esquerdo jazia uma mala de mãos preta.

- Quem é você? - perguntou Taehyung com a voz trêmula e os olhos extremamente arregalados, sentia-se tonto e aos poucos as coisas pareciam passar de forma lenta ao seu redor, seus ouvidos zuniam.

Sabia quem era, mas precisava confirmar.

- Sou o Codinome Suga - falou o homem com uma voz grave, rouca, arrastada e um tanto sonolenta.

A face serena do outro, que contrastava de forma totalmente des contextual com o restante de seu estilo gangster e com sua voz extremamente masculina, foi a última coisa que Kim Taehyung viu antes de desabar no chão frio do hall de entrada do seu apartamento bagunçado.