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História 10 lições para ser uma boa menina. - 2 Lição: Comporte-se como uma dama.


Escrita por: Alice90

Capítulo 2 - 2 Lição: Comporte-se como uma dama.


A minha história é dividida em dois momentos. Antes e depois da festa de 15 anos da minha prima Cecília. Uma festa na qual eu descobri muito mais da vida do que realmente eu desejava saber.

Nunca vou esquecer da magia daquela noite. Uma magia comprada com rios de dinheiro da alta sociedade. E litros de chamapanhe francês acompanhados de caviar e coquetéis de camarão rosa.

Cecilia era 1 ano mais velha que eu, no mês que fiz 14 anos, ela fez 15. Era filha mais velha de três irmãos e a única menina. Meu Tio, Osvaldo, o pai dela, era médico cirurgiã plástico, e tinha uma clínica particular famosa e frequentada por pessoas com muito dinheiro e prestígio social. Já a mãe da minha prima, tia Ana (de quem eu era sobrinha de sangue) era uma dondoca, que se preocupava apenas em ser bonita e em montar jantares.

 A vida de Cecília era perfeita. O que causava muita inveja em uma garota mais nova, menos bonita e com muito menos dinheiro do que eu, filha de professores. Cecília ia para a escola particular, com uniforme que exigia sapatos e meias sociais, tinha aulas de francês em casa de tarde e de tênis ás 17:30.

Sempre visitava minha prima sentindo inveja de todas as coisas que ela tinha e fazia de tudo para agradar a minha prima rica, tentando me aproximar de seu mundo perfeito. Cecilia, no entanto, não tinha nada de bom a oferecer para mim, nem mesmo uma amizade. Mantinha consigo sempre um ar de superioridade e exibia seus conhecimentos e talentos de alta sociedade sempre que podia, era comum eu me sentir humilhada. Sempre que me via falava mal de meus sapatos e roupas comprados em brechó, e por horas me arrumava e pintava como se eu fosse uma boneca humana, dizendo que para andar ao lado dela eu deveria ao menos parecer mais apresentável.

Nunca deixei de ir a casa dela em cada final de semana, mesmo sendo tão desprezada, conseguia suportar a humilhação apenas para ficar entre as sedas, veludos e tafetás de seus vestidos de boutique. Não me importava com o orgulho ou dignidade quando me via no reflexo do espelho que cobria uma das paredes do quarto dela, arrumada como uma linda princesa. Uma princesa cheia de modos refinados.   

Imitei em tudo minha prima, em todos os seus modos refinados de menina grã-fina. A forma como ela sentava a mesa para comer, como pegava nos talheres, como bebia a água da taça de cristal, como cumprimentava alguém que não conhecia. Cecilia era uma verdadeira dama, assim que crescesse se casaria com alguém rico, teria lindos filhos e viveria uma existência de regras e beleza, que eu só podia ver em filmes.

Naquele ano, teria a festa de debutante dela, e para tornar a minha sensação de inadequação ainda mais forte. Minha prima passava diversas horas em aulas de dança de salão, aprendendo a movimentar-se como um cisne gracioso. A forma como Cecilia deslizava pelo assoalho, tão delicada durante a valsa vienense ou o foxtrote, fazia-me perceber o quanto eu vinha de um mundo selvagem e sem delicadezas.  

A festa aos poucos foi se tornando real, bolo de 4 andares branco enfeitado com rosas amarelas, rosas amarelas enfeitando todo o salão de festas, um lugar enorme com um lustre de cristal encomendado da Bavaria, uma enorme escada de mármore, canapés de camarão e bacalhau, jantar com 6 opções de pratos principais diferentes, vinho tinto francês, whisky 18 anos, convite em papel com letras douradas, um enorme quadro dela na entrada da festa, docinhos finos e em abundância, um lindo vestido amarelo para a entrada e depois o lindo vestido branco que imitava o vestido da cinderela.

Ganhei um vestido azul simples e caro e um par de sapatos em outro tom de azul, simples e caro. E me senti uma princesa quando usei tudo ao mesmo tempo, com o cabelo e a maquiagem esculpidos por mãos profissionais. Era a primeira vez que me senti parte daquele mundo e eu queria aproveitar para fingir o que eu não era, uma dama.

Tudo foi perfeito, lembro da torre de taças de champanhe, a primeira vez que bebi algo alcoólico. Lembro de cada detalhe, e da música e das danças. Com certeza lembro da música, dela deslizando dançando jazz ao som de uma linda banda, lembro da segunda música a mais linda e animada que ela dançou após a troca do vestido. Dançou com um dos seus doze príncipes.   

Fly me to the moon and
Let me play among the stars.

Era Frank Sinatra, encantador, cantando em meu primeiro baile de princesa. Nunca mais seria princesa depois dele.

Fill my heart with song and
Let me sing for ever more

Após tanta dança, Frank Sinatra ficou apenas na memória, e o vinho selecionado de uma adega especial e o uísque misturados, já começavam a fazer o seu trabalho de perturbar os sentidos de todos os adultos. Os jovens, rápido escapavam para tomar uma ou duas taças de champanhe francês. E rápido vi um mundo secreto se formar entre os garotos de 14 a 17 anos. Todos bêbados e dançando, flertando entre si.

Não era muito bonita ou interessante o suficiente para chamar a atenção de alguém. Talvez todos soubessem que eu era apenas a prima pobre de Cecilia. Por isso de uma certa forma me senti um tanto isolada naquele mundo lindo, eu era feia no meio de tanta beleza.

Em um breve momento em que quis recuperar um pouco da minha dignidade, comecei a caminhar só, pelo jardim que ficava do lado de fora do salão de festas. Lembro de ficar admirando a lua, enquanto ouvia longe o barulho da música e das risadas das pessoas. Começava a sentir-me mal e deslocada, e o vestido azul parecia não combinar ou se ajustar ao meu corpo. Fui caminhando em direção a casinha de madeira do parquinho, que crianças usam para brincar de boneca. Queria ficar um pouco no balanço, me animar ou tentar acreditar que aquele mundo um dia poderia ser meu também. Estava me sentindo deslocada, por aquele mundo tão delicado, não me querer ali.

Minha aproximação me fez perceber um som saindo da casinha de madeira. A casinha não era grande, mas podia muito bem esconder uma ou duas pessoas lá dentro. As janelas estavam fechadas, e me assustei, apesar de não ter feito barulho, quando vi que alguém abriu bruscamente uma das janelinhas pequena. O local estava escuro, e eu apenas podia ouvir os burburinhos que vinham de dentro.

“Está quente, vai estragar o meu cabelo”

“Não fale muito, ou vão te ouvir”

Eram duas vozes, uma feminina e outra masculina. Fiquei paralisada no momento, eu estava testemunhando algo que não sabia dizer o que era. Uma mão grande, segurou a janela e a fechou de novo, estava escuro, não podia ver detalhes. Mas podia ouvir, fiquei atrás da casinha, encostada, sem quase respirar evitando que alguém pudesse se dar conta de eu estava ali escutando. Ouvi os gemidos e barulhos, um homem uma mulher.

As vozes eram familiares, lembrava de ter ouvido essa voz sair da boca do médico sócio do meu tio, um homem solteirão de 40 anos famoso por ter muitas namoradas jovens. A voz da moça, demorei a acreditar de quem fosse, nunca havia ouvido aquela voz gemer e dizer tanto palavrão.

“Quem é a sua puta?”

Ela falava, e perguntava diversas vezes.

“Você”

Ele respondia gemendo.

“Quem é a sua melhor puta?”

Ela perguntava de novo.

“Você Cecilia, você”

Então ela pedia.

“Me chama de puta”

E ele obedecia. E entre os gemidos que ouvi, dei-me conta que a bela dama da alta sociedade, estava gozando com um homem 25 anos mais velho em uma casinha de bonecas. Já sabia o que se passava lá dentro, em minha escola aos 14 anos já tinha colegas de escola grávidas. Mas nunca imaginara que no mundo mágico de Cecília a vulgaridade das classes mais baixas pudesse ser tão presente.

Saí de fininho para não atrapalhar o que me pareceu ser o ápice dela, não me pareceu certo impedir que ela tivesse aqueles breves segundos de prazer. E enquanto caminhava em direção a festa horrorizada e rindo ao mesmo tempo, assustada, surpresa e confusa, jurando nunca contar nada daquilo para ninguém. Senti meu corpo me dizer.

“A vulgaridade existe em todas as classes”  


Notas Finais


Espero que esse cap esteja bom. Aceito sugestões e críticas construtivas.


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