Depois de passar a noite sonhando com olhos de cor diferentes, Anthony já acordara irritado.
Queria sair daquele hospital o quanto antes, mas o médico lhe disse que precisava ficar ali por mais alguns dias, fazendo exames e descansando.
Anthony precisava sair. Precisava voltar a viver. Já tinha passado muito tempo naquela cama, naquele hospital, agora que acordará precisava voltar a vida normal antes de ficar louco.
O moreno bufou, balançando a perna sem parar, enquanto encarava a comida que a enfermeira lhe tinha levado. Nem comida de verdade tinha ali.
Estava esperando pela visita de Arya, já que ela afirmou que o visitaria pela manhã, mas sua esperança morreu quando a porta se abriu e a garota estranha do colégio entrou.
O que ela queria agora?
— Bom dia, Anthony. — Alana tentou abrir um sorriso largo.
— O que quer aqui? — Anthony questionou em um tom nada amigável, o que fez o sorriso dela se desfazer.
A forma com que Alana se encolheu o fez se sentir culpado.
— Você não se lembra mesmo, não é? — Alana questionou em um tom que foi mal um sussurro.
A forma com que ela perguntou o fez forçar a mente mais uma vez.
— Se eu não me lembro do quê? — Anthony tentou forçar a memória, mas a dor latejante na cabeça dele o fez se arrepender.
— De tudo. — A pequena olhou para as próprias mãos, nas quais mexia inquietamente.
— Olha, eu realmente não tenho a mínima ideia do que você está falando. — Anthony revirou os olhos, sem paciência para aqueles joguinhos naquele momento. — A única coisa que me lembro é que estava tudo bem até você chegar com essas perguntas. Eu não sei que intimidade você acha que nós temos, mas eu sinto ter que acabar com essa ilusão. Na verdade, não sinto não.
Ouvir isso fez Alana erguer a cabeça, os olhos brilhando com lágrimas que queriam cair a qualquer custo.
— Garotos como eu, — Continuou, se obrigando a falar as palavras. — não andam como garotas como você. Você e seus amigos são um monte de estranhos, então sequer pense na possibilidade de nos tornarmos íntimos, porque isso não vai acontecer e...
— O que está acontecendo aqui? — Arya o interrompeu, aparecendo atrás de Alana.
Anthony ia responde-lo, porém Alana o fez antes.
— Nada. Só que Anthony não passa de um idiota pretencioso que só pensa em si mesmo e em seu mundinho. — Alana ergueu a mão para limpar uma lágrima que teimou em cair. — Eu queria ter certeza que isso não mudou e agora que a tenho, tudo ficará bem. Eu preciso ir. Até mais.
Anthony observou a menina sair, se dando conta como ela parecia ainda mais pequena ao passar pela porta de cabeça baixa, a mão na boca, sufocando soluços que ele sabia que viria.
O moreno inspirou profundamente, se arrependendo as próprias palavras quando a perdeu de vista.
Tinha sido um idiota de descontar a irritação nela, mas o que Alana queria indo até ali falando asneiras para ele?
Nem mesmo a visão de Arya fez sumir o vazio que começou a se espalhar no estomago de Anthony.
Agatha abraçou ao próprio corpo. Mesmo com o aquecedor do taxi em que estava estando ligado, o frio da chuva que caía do lado de fora ainda era sentido.
O homem dirigia lentamente, fazendo-a aproveitar o som da chuva. Por alguns segundos ela fechou os olhos e deixou a mente viajar.
Podia se ver claramente deitada no grande sofá vermelho que ficava de frente para a lareira na sala da sua casa. Em dias chuvosos como aquele, sua mãe lhe preparava chocolate quente para aquecê-la.
Agatha inspirou profundamente, como se pudesse sentir o cheiro do perfil floral da mãe e ouviu a voz da mulher soar em sua mente, cantarolando as músicas que gostava tanto.
A visão durou apenas alguns segundos, antes dela afasta-las por causa da saudade, então abriu os olhos mais uma vez e seus olhos foram para o lado de fora, observar as gotículas fortes que caíam.
— Espere, espere aí! — Agatha se viu exclamando quando mesmo através da neblina viu uma figura conhecida andando pela calçada.
Ela reconheceria Alana em qualquer lugar por causa dos cabelos platinados dela. A garota andava lentamente, como se sequer sentisse a chuva que caía sobre si com força.
— O quê? — O motorista que até então tinha se mantido calado, questionou.
— Pare o carro! — Agatha exclamou um comando e ele freou imediatamente, parando ao lado de Alana.
Sem saber exatamente o que estava fazendo, Agatha abriu a porta do carro e viu Alana dar um sobressalto de susto com isso. A outra olhou com os olhos arregalados para dentro do carro e não pareceu muito aliviada ao ver quem estava ali.
— Entre. — Agatha disse, antes que pudesse raciocinar.
Alana ergueu as sobrancelhas, negando levemente com a cabeça.
O corpo dela tremia, mas a jovem não parecia sequer sentir o frio que fazia ao ar livre. Ao estreitar os olhos para enxergar melhor, a morena percebeu o quão vermelho e inchados estavam os olhos da outra, como se ela tivesse chorado por muito tempo.
— Entre, ou vai acabar ficando doente. — Agatha lhe estendeu a mão, também estremecendo quando gotas molhadas caíram sem dó sobre sua pele.
Alana pareceu hesitar por mais alguns segundos, então simplesmente deu de ombros e entrou, ignorando a mão estendida. Agatha se inclinou sobre o corpo dela, que agora enxarcava o banco de passageiro e fechou a porta do carro.
O motorista felizmente não fez qualquer reclamação sobre Alana ter entrado molhada, enquanto voltava a dirigir.
As mãos de Ethan não se afastavam de Ivy por nenhum momento. Desde que ele tinha chegado à sua casa aquela manhã depois da mãe da jovem tinha saído para o trabalho, ele a tocava sem parar, como se quisesse ter certeza que estava mesmo ao lado dela.
— Eu preciso fazer algo para comermos. — Ivy tentou falar em meio as risadas por ele a estar seguindo por toda a cozinha, a abraçando por trás.
Precisava admitir para si mesma que estava adorando aquilo, pois também tinha sentindo falta dele. Na verdade, passava a maior parte do tempo tentando não pensar sobre o passado, pois isso lhe causava apenas mais saudade e dor.
— Eu já estou muito bem alimentado. — Ethan murmurou, apertando ainda mais a cintura dele e a mordendo no pescoço.
Ivy estremeceu nos braços dele, rindo ainda mais alto.
Oh céus, fazia tanto tempo que ria com aquela força.
— Mas eu estou com fome. — Ivy lhe deu um tapinha no braço. — Você conseguiu me cansar.
E também fazia tempo que tinha aquele tipo de intimidade com alguém. Por um momento ela se perguntou se ele também, mas não diria tal questionamento em voz alta.
— Tudo bem. — Ethan finalmente a soltou, como se estivesse com dificuldade de fazê-lo, então andou pela cozinha, sentando-se em uma cadeira próxima ao balcão.
Por um momento Ivy não se moveu.
A imagem de quando os dois faziam isso antigamente surgiu em sua mente, lhe causando um aperto no peito.
As coisas pareciam tão boas naquela época, entre eles e entre Louis e Agatha, até Ivy descobrir ter sido enganada e acabar fugindo deles.
— Obrigada por ter vindo até aqui. — Ela murmurou, o encarando. — A garota precisa de nós.
Ethan estava ainda mais lindo do que ela se lembrava, mas aquela postura, aquela seriedade, isso ele sempre teve. Foi a energia dele que lhe chamou a atenção de início.
— Sabe que não vim por ela, Ivy. — Ethan a respondeu e a rouquidão na voz dele a acertou fortemente. — E sim por você. Mesmo depois de tanto tempo eu ansiei pelo dia que você permitisse que eu me aproximasse.
Ivy se virou de costas ao ouvir isso, os olhos ardendo por lágrimas que teimaram a aparecer.
— É doloroso para mim lembrar de tudo que aconteceu, do que eu perdi por causa de seus irmãos e de Megan. — Ela não conseguiu esconder o quão embargada estava a própria voz. — Sei que não teve nada a ver com aquilo, mas te ter ao meu lado é como trazer o passado de volta.
Segundos se passaram sem uma resposta de Ethan. Ivy ouviu quando ele se levantou e se aproximou novamente. Ela não tentou lutar quando ele a virou, colocando a mão em seu queixo e a obrigando a encara-lo.
— Eu sinto muito por isso, você sabe, se eu pudesse voltar no tempo e evitar o que aconteceu... — O moreno se atrapalhou nas palavras. Os olhos dele estavam cheios de remorso. — E sinto muito se minha presença é dolorosa a você. Desculpa ter vindo aqui pela manhã. Estou indo para casa e quando terminamos tudo, irei embora e nunca mais voltarei.
Imagina-lo indo embora, depois da manhã que tiveram, quando ele a fez se lembrar do quanto ela amava estar em sua presença, era mais doloroso do que se recordar do passado.
— Não foi o que quis dizer. Sua presença não é dolorosa para mim, desculpa se foi o que deu a entender. — Ela disse sinceramente. — Houve sim uma época que não conseguia olhar para você sem sentir dor. Não que o culpasse, isso eu nunca fiz, mas porque tudo era ainda tão recente. Mas agora, depois de vê-lo novamente me dei conta do quanto senti sua falta. — A mão de Ethan que a segurava pelo queixo começou a tremer a ouvir isso e Ivy sabia que seu próprio corpo também estava tremulo. — E sei que vai embora quando tudo acabar, mas durante o tempo que estiver ao meu lado quero que fique comigo o máximo de tempo que conseguir.
Um sorriso começou a surgir no rosto de Ethan, ao mesmo tempo em que ele ergueu a outra mão para limpar as lágrimas que caíram do rosto de Ivy.
Como ela poderia ter se esquecido do quanto o amava? E como tinha passado tanto tempo sem aquele toque?
— Sabe que precisaremos contatar Megan em breve, não é? — Foi isso que ele disse e Ivy quase foi para trás ao ouvir tais palavras. O sorriso nos lábios dele se alargou. — Desculpe, ainda estou extasiado com suas palavras.
Ivy riu sobre as lágrimas.
— Então me diga algo bonito de volta. Ou simplesmente me beije.
As mãos de Ethan desceram lentamente para o pescoço dela, o envolvendo com firmeza, enquanto o mesmo aproximava ainda mais o corpo dela.
— Eu amo você, Ivy. Senti sua falta todos os dias e ainda não acredito que estou aqui. — Então ele se inclinou e a beijou com a força que ela gostava.
Ivy se agarrou a ele da mesma forma que tinha feito quando o viu na noite em que ele chegou, o beijando com toda a saudade que sentia.
As mãos dele desceram mais para seu quadril e com um movimento ele a ergueu no ar.
Foda-se o almoço, Ivy pensou entrelaçando as pernas nele.
— Louis? Ethan? — A voz de Agatha ecoou pela casa, quando ela entrou. — Estão em casa?
Nenhuma resposta, o que indicava que os dois tinham saído, provavelmente separados.
A morena se virou e se surpreendeu ao notar que Alana ainda estava do lado de fora, mais uma vez se enxarcando com a água que caía. Era interessante como ela sequer parecia notar.
O fato de Alana não ter reclamado quando o motorista parou em frente a casa de Agatha e a morena a pegou pelo braço gentilmente levando-a até ali, deixava claro que algo estava errado.
— Entre.
Como se esperasse por esse comando, Alana deu um passo para dentro, com a cabeça baixa, levando consigo uma brisa fria.
Agatha se inclinou e fechou a porta. Dentro de casa, o clima estava aquecido, o que era bom.
— Você precisa se secar, senão vai ficar resfriada. — Agindo pelos próprios instintos, Agatha indicou com a mão para que Alana a seguisse.
Incrivelmente a platinada moveu seus pés, saindo da poça de água que se formava aos seus pés e deixando um rastro molhado por toda o caminho que fez.
— Por que estava andando na chuva? — Agatha teve que questionar, enquanto cruzava o corredor que levaria até seu quarto.
Alana a seguiu silenciosamente, sem responde-la.
A morena parou em frente a porta do próprio quarto, desejando que nenhum dos irmãos chegassem antes que pudesse secar o chão, senão eles reclamariam. Somente quando ela abriu a porta do quarto, se lembrou que Selena ainda estava ali.
A exclamação de surpresa dela despertou a atenção de Alana, que ergueu a cabeça e abriu a boca em formato de O ao ver que uma garota adormecida na cama.
O corpo nu de Selene deixava a mostra algumas marcas na pele clara dela.
— Você fez isso?! — Alana exclamou, falando algo pela primeira vez desde que tinha entrado naquele táxi.
— Não é o que está pensando. — Agatha revirou os olhos. Por que toda vez que um bruxo via alguém na cama de um vampiro energético achava que aquilo havia sido forçado?
Agatha deixou Alana parada ali e andou pelo próprio quarto, andando em direção a Selena.
— Sel? — A chamou de forma carinhosa. — Sel, acorde.
Selena abriu os olhos de forma lenta e, ao ver Agatha, fez biquinho e gemeu de forma dengosa.
— Hum? — Ela era um amor, mas não se comparava em nada a Ivy.
Ninguém se comparava a Ivy, Agatha precisava admitir para si mesma. Mas isso não a impedia de continuar se distraindo.
— Acorde. Você precisa ir.
— Por quê? — Selena espreguiçou-se, abrindo um sorriso preguiçoso. O sorriso foi congelado ao ver Alana parada na porta, com as mãos cruzadas na frente do corpo que era balançado para frente e para trás lentamente. — Entendi.
— Não é isso. — Agatha riu levemente ao ver o ciúme da menina na qual não tinha nenhum compromisso além do sexo e troca de energias.
— E o que é então? — Selena levantou-se.
Todo o sono parecia ter ido embora e dado lugar ao ciúme.
Alana arregalou os olhos ao ver todas as mordidas espalhadas pelo corpo esguio e sem qualquer peça de roupa de Selena.
— Não quero que vá embora agora, está chovendo. — Agatha caminhou até a garota, puxando-a para si e acariciou o rosto dela, sem se importar em ter uma pessoa assistindo tudo. — Vá para o quarto de Louis e o espere lá. Quando ele chegar, diga que o mandei como presente para ele.
— Você tem certeza?
— Sim. — Agatha assentiu, desejando não que Ethan não a visse pelos corredores. — Faça o que estou mandando e será recompensada depois.
— Tudo bem, eu vou. — Selene concordou por fim e sem se preocupar em vestir qualquer peça de roupa, andou em direção a porta.
— Vou atrás de você quando terminar aqui. — Agatha afirmou, abrindo um sorriso torto.
Selena assentiu e ao passar por Alana, lhe lançou um olhar de irritação.
Alana se virou para observa-la assim que Selene passou pela porta e, enquanto andava pelo corredor, amarrando seus cabelos ondulados e negros em um coque no alto da cabeça.
Com os olhos estreitos, pareceu ter percebido algo.
Talvez a aura dela. O reconhecimento pela cor roxa dela.
— Sei o que está pensando. — Agatha falou, fazendo a platinada olhar em direção a ela. — Sentiu a energia dela, sabe que é uma bruxa.
Agatha andou até a própria cama e se sentou sobre os lençóis bagunçados.
— Sim. — Alana assentiu e deu mais um passo para o quarto de Agatha, ainda enxarcada pela água da chuva. Ainda tremia levemente. — Está se alimentando da magia dela?
— Você sabe a resposta para essa pergunta, mas ao contrario do que está pensando, não sou um mostro que força as bruxas inocentes e fracas a transarem comigo e ainda me alimento da energia dela.
— Se essa não é a verdade, qual é?
— Ela me procurou. — Agatha disse sinceramente. — Eu estava em uma festa com meu irmão e ela se aproximou. Disse que sentiu que sou uma vampira e queria tentar algo diferente... Eu a trouxe para casa e no meio da transa ela me disse que gosta de coisas mais violentas e me pediu para mordê-la, me oferecendo a energia dela se eu quisesse. É claro que eu aceitei, afinal não é todo dia que isso acontece.
— Se você tem uma bruxa para se alimentar na hora que quiser, por que continua se alimentando da energia de Morgana? — Alana questionou com os olhos estreitos.
— Você não entender nada sobre isso, não é? — Agatha negou levemente com a cabeça. — Se pegamos a energia de seus amigos é porque elas são mais puras que a de um bruxo que se oferece por vontade própria. E nós vampiros gostamos de nos alimentar com energias puras, pois elas nos deixam mais fortes, entendeu?
Alana assentiu algumas vezes, fortemente.
— Aproveitando que você voltou a falar agora, pode me falar o porquê de estar andando sozinha na chuva?
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