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História Juntos até o fim - Loving you is a losing game


Escrita por: RafaMC

Notas do Autor


Eu sei que to atrasada, mas por favor me desculpem eu não tive a intenção de atrasar tanto!!! 🥺🥺
Sobre esse capítulo, eu não gostei do título e eu sei q reclamei bastante dele kkkk mas eu espero que vocês viagem comigo nessa doideira q eu inventei e espero q gostem. Com vocês o capítulo 18!!!

Edit: Eu vim aqui e editei o título do capítulo, e agora eu gostei

Capítulo 19 - Loving you is a losing game


Clara entrou em casa, o sorriso nos lábios ao ver todos reunidos na sala, mas logo o lindo sorriso da menina se apagou ao perceber que advogado da família também estava presente. E se Merival estava em sua casa, certamente era para conversarem apenas sobre um único assunto: O Divórcio. 

 

Zé Pedro com seu terno impecável e uma gravata que parecia sufoca-lo ocupava um lugar ao lado da mãe, Lucas de pijamas sentava curvado e emburrado de braços cruzados no braço do sofá. Zé Alfredo estava sozinho em um sofá o lugar ao seu lado vazio esperando pela presença dela. 

 

Clara por um segundo relutou, mas decidida como sempre caminhou até o lado de seu pai e se sentou. José Alfredo sorriu para a menina e assentiu para o advogado. Merival não esperou mais do que sinal do Comendador e colocou sobre a mesinha de centro os papéis já pré selecionados e tantas vezes revisados. 

 

Ela estava sentada bem à frente de sua mãe, o advogado falava, mas ela simplesmente não conseguia prestar atenção devida. Estava em transe viajando pelo mar esverdeado dos olhos da mãe. Marta movia o olhar do advogado para o marido, as expressões mudavam do sarcástico ou irônico e depois voltavam a completa apatia. 

 

Maria Marta notou o olhar de Clara, a menina primeiro entrou e se sentou em seu devido lugar, ao lado do pai. A filha olhava para um ponto fixo, talvez para a estante cheia de fotos de família atrás dela.

 

Quando o olhar castanho de Clara causava uma certa irritação Marta decidia chamá-la, fazer com que ela desse sua opinião e a menina falava determinada como se tivesse certeza de todas as palavras proferidas. 

 

Há verdade era que Clara só estava tentando se proteger, como uma auto defesa, seu cérebro apenas decidiu que prestar atenção na presença envolvente da mãe era melhor do que escutar o prenúncio do divórcio dos pais. Por que, afinal, qual filho quer ver os pais se separarem? 

 

— E você João Lucas o que acha? — a voz grave de seu pai ao seu lado a tirou do transe daquelas névoas de pensamentos. 

 

— Sei lá, tanto faz — ele balançou os ombros — Eu não quero discutir sobre isso. 

 

— João Lucas, não é questão de querer... 

 

— E questão de querer sim — a voz saiu forte cortando a fala do pai. Lucas se levantou e o Jose Alfredo também. 

 

A cabeça de Marta zuniu em alerta, a cada passo que João Lucas dava em direção ao pai o sinal de alerta ampliava fazendo seu cérebro vibrar, o prenúncio de uma tragédia. 

 

— Tudo nessa família é questão de querer, Comendador — Lucas debochou do título do pai, Zé Alfredo sentiu o corpo formigar com o desrespeito, ele poderia dar aquele surra em João Luca que tantas vezes Marta o impediu por ser “apenas um menino” — Do seu querer — Ele apontou o dedo na cara do pai, aquilo foi o limite, sua paciência de anos esgotou ali, seu filho já não era mais um menino, era um homem formado. Ele não somente poderia, mas como também daria uns bons tapas em João Lucas. 

 

Lucas apontou o dedo no rosto do pai, a mágoa que ele guardou e ignorou durante esse último mês em nome de proteger a mãe, de facilitar a vida dela, foi liberada em forma de raiva. 

 

Ele estava com raiva de tantas coisas que era difícil de numerar, mas o motivo principal ele sabia, diferente do pai João Lucas ouvia. Ele passou os últimos 7 meses escutando o choro da mãe, os soluços e o modo como ela tentava abafar a própria voz. 

 

— What hell João Lucas — Jose Alfredo gritou, usando uma das mãos ele puxou o menino pela camisa — Moleque, você não me desafie - José Alfredo falou entre os dentes tentando conter a raiva que já não estava contida. 

 

— Ou vai fazer o que? — O filho falou pausadamente, aquilo era mais que deboche, o maxilar de José Alfredo tremeu de raiva. 

 

— Chega! — Marta entrou no meio do marido e do filho. Nenhum dos dois esboçou reação de mudança com a aproximação da mulher — Eu disse chega, solta ele Zé! — O Comendador não soltou, manteve a mão fechada no colarinho de João Lucas — Solta o meu filho, José Alfredo! — ele sentiu as mãos dela o empurrarem, foi fisicamente fraco, contudo forte o suficiente para fazê-lo ceder e lembrar de quem se tratava. 

 

João Lucas apesar de um homem crescido ainda era seu filho e se tenta-se desferir qualquer castigo ao menino, muito provavelmente Marta iria interferir e ele não era homem de bater em mulher. 

 

Ele deixou as pernas cederem e caiu sentando novamente no sofá, agora ele podia sentir a dor no peito e o coração disparado o que parecia a beira de um infarto. 

 

— João Lucas, chega! — Marta direcionou o olhar para o filho, a voz cansada, o menino fez menção de contesta-lá — Eu disse, chega! — dessa vez foi mais forte e autoritário, Lucas abaixou o olhar, não iria desafiar a mãe. 

 

Zé notou como a guarda de Lucas desarmou com as palavras de Marta. Meses atrás João Lucas jamais teria desarmado tão rápido e fácil para a mãe, mas agora ele fazia. O que provocou essa mudança em João Lucas em relação a mãe? Por que Marta parecia diferente? O que aconteceu naquela casa enquanto ele esteve ausente? 

 

— Já que o Lucas resolveu voltar pro seus dias de rebeldia — A voz da filha o fez voltar a situação presente, sair daquela confusão de perguntas que o incomodavam desde o dia que voltou aquela casa. Clara levantou e como sua última frase ironizou — Eu também to saindo dessa família

 

A menina fugiu, ele não poderia culpá-la, a dias sua relação com Clara estava um tanto estremecida. 

 

A presença da filha sempre forte e constante ao seu lado se esvaiu assim que ela passou pela porta. Ao contrário da presença de Marta que mesmo ausente, raramente ausente, sua presença também forte e constante, nunca se esvaia. Estava sempre ali cheia de pompa, com alguma carta na manga esperando para ser lançada. A menina estava aprendendo, se assemelhava a mãe, tem potencial para ser melhor e com Clara ao seu lado José Alfredo sabe do que é capaz. 

 

— Num vai sair também não, meu filho? — Ele encarou, quase como um desafio o filho mais velho. Se naquela guerra Clara estava do seu lado e João Lucas estava contra, então só restava saber de qual lado José Pedro estava? 

 

— Eu não. Eu fico do lado da minha mãe — Marta sentiu seu filho apertando sua mão, Pedro afirmava mais uma vez que já tinha escolhido um lado naquele jogo. O lado da Imperatriz, como sempre. 

 

A raiva em chamas que o olhos tão negros de José Pedro transmitia em apenas uma direção, a do pai sentado a sua frente. Existia também outro sentimento, a mágoa que o menino tentava conter apertando os lábios até que eles formassem apenas uma linha no rosto de príncipe de Pedro. 

...

Clara estava ao volante, o carro dirigia em apenas uma direção a sua memória muscular trabalhando em chegar o mais rápido possível ao restaurante do namorado. 

 

Ela tentava chamá-lo, o número a muito tempo já decorado e o barulho do celular que ele por algum motivo, que ela espera ser bastante plausível, não lhe atendia. 

 

— Enrico? — ela chamou pelo noivo, o restaurante estava escuro, apenas a parte da cozinha mantinha suas luzes acesas. 

 

Maria Clara adentrou mais o estabelecimento. Ela tentava conter as lágrimas pelo menos até chegar nos braços de Enrico. 

 

— Enrico? — não foi o noivo que ela se deparou. Foi com Vicente. 

 

— Clara? — Vicente estava surpreso e não era pelo fato da noiva do chef estar presente, mas sim pelo estado que Clara se encontrava. A garota tinha rastros de lágrimas por suas bochechas e as mãos, ela segurava com força a alça de sua bolsa — O Enrico não está. 

 

— Não está!? — ela falou baixo mais para ela do que para ele, em uma tentativa de assimilar as palavras de Vicente. As mãos ao redor de se mesma em um abraço.

 

— Não, ele não está, saiu mais cedo — Clara continuou parada, o olhar parecia perdido e vazio. As mãos apertando os braços envoltos na jaqueta de couro até os nos dos dedos ficarem brancos — Tá tudo bem com você, Clara? — cauteloso Vicente se aproximou da garota. Ela levantou os olhos vermelhos, lágrimas em forma de cristais prestes a cair. 

 

— Quer me contar o que aconteceu? — ele pegou delicadamente as mãos da menina, ele não deixou de notar o anel de noivado de Clara. Os sentimentos de Vicente entrando em conflito. 

 

Aquilo foi o seu limite, o contato, as mãos de Vicente, os olhos na cor do mel. Ela estava vulnerável e Vicente... ele estava ali e então... 

 

O celular em seu bolso tocou rompendo a atmosfera de Clara e Vicente. 

 

— Eu tenho que ir! — ela mordeu os lábios.

Ele ficou em silêncio, as mãos ainda ao redor de sua cintura, a situação a deixava sem graça — Então... tchau Vicente! 

 

— Sim, tchau Maria Clara! — ele estava atordoado pelo momento, seu coração dividido batia forte por Maria Clara. 

 

Mas como todos os homens imbecís ele a via escapar por seus dedos e mais uma fez ela estava indo para os braços de outro e ele sem fazer nada para impedir. 

...

A mensagem de Merival brilhava na tela de seu celular. “Os papéis de ontem já estão prontos, quando posso levar para você?” Zé Alfredo estava no banheiro, ela tinha questões de minutos para decidir, tocar naquele assunto de ontem e arriscar atrapalhar o clima harmônico que por algum motivo desconhecido tinha se estabelecido sobre a família ou não dizer nada. 

 

— O que foi em Marta, viu assombração? — o deboche na voz do Comendador interrompeu os pensamentos de Marta. 

 

— Olho para sua cara todo dia, já estou acostumada com moribundo perambulando por aí — ela se levantou deixando ele sozinho no quarto. 

 

Não iria tocar no assunto, o jantar de ontem a noite já tinha sido... ela não tinha palavras, o que surgia em sua cabeça era a definição de estressante, no mínimo isso, o jantar em família já fora estressante o suficiente. 

 

Marta passou por ele, parecia com raiva. Ele não conseguia compreender o que estava acontecendo? Em alguns momentos ela parecia ela mesma, quatrocentona, frescurenta e debochada. Uma leoa com pose de Imperatrizmas em outros Marta parecia diferente, a desconfiança dele sendo alimentada por esses momentos em que ela parecia diferente, ela lhe escondia algo. 

 

O nome Fabrício Melgaço surgindo novamente em sua cabeça. 

 

— Shit Maria Marta o que aconteceu? — ele repuxou o bigode. 

...

— Nossa, lembro até hoje quando aprendi a  nadar — Enrico estava deitado na espreguiçadeira junto a Clara, eles falavam com entusiasmo sobre a infância ao observarem Bruna nadar. 

 

— Eu também, foi meu pai que me ensinou! — Clara comentou distraída. O noivo ergueu a sobrancelha em total deboche. 

 

— Seu pai que te ensinou, sério? 

 

— Enrico! — ela bateu no ombro do noivo em divertimento — É claro que foi ele que me ensinou. 

 

Flashback on

 

— Entre Zé Pedro — José Alfredo estava da cintura pra baixo submerso na piscina, não era fundo para o pai. Mas para as crianças de 8, 7 e 6 anos de pé na beirada da piscina era bastante fundo — Entre José Pedro, agora! — o pai do menino gritou, estava impaciente com a recusa da criança que tremia e tinha os olhos vermelhos prestes a chorar.

 

— Então entre você, Maria Clara — a menina tremia também, não de medo, mas sim de frio. Clara agarrou a mão do irmão caçula e seguindo o comando do pai pulou naquele precipício de água fria. 

 

Pelo que pareceu minutos, horas se fosse possível ao ser humano sobreviver submerso por tanto tempo, ela e seu irmão tiveram seus peitos esmagado pelo peso da água, até o braço do pai puxarem os filhos para cima. O ar voltando aos pulmões, o vento que já estava frio soprava ainda mais gelado e cruel sobre o rostinho das duas crianças. 

 

Mas a segurança de estar no braço do pai foi rápida e passageira, no segundo seguinte eles estavam de volta soltos nas águas, as duas crianças se debatendo para alcançar a borda da piscina.

 

Maria Clara chegou primeiro, os dedinho vermelhos de frio seguraram com veemência a pedra portuguesa que bordejava a piscina. Lucas veio logo depois segurando firme nas costas da irmã, chegava a arranha-la pela força. Os dois tinham quase o mesmo tamanho, mas Clara por meses de diferença era a mais velha, se sentia na obrigação de proteger o irmão caçula, deixou Lucas apoiar-se nela enquanto seu pai gritava com seu irmão mais velho, que como ela batia o queixo de frio e agora ela sentia medo também. 

...

As três batidas na porta despertaram Maria Marta, a mulher dormia de bruços e com uma camisola preta de ceda, o clima frio da serra era perfeito para dormir até mais tarde. Aliás qualquer clima era perfeito para dormir, a ricaça odiava ter que acorda cedo. 

 

— Aí o que que foi Silviano? — a voz grogue de sono, ela tateava a cama para constatar que seu marido já não estava mais ao seu lado. O mordomo levou a pergunta da mulher como uma sugestão para entrar. 

 

— Com licença madame! 

 

— Que que foi Silviano? — ela sentou na cama e cruzou os braços, a impaciência de Marta era evidente em seu tom de voz — Eu não disse que era pra me acorda somente depois das 10:00 e são... — Marta parou, olhou para o relógio na cabeceira — 7:00 da manhã, nem está perto de 10:00 — ela estava com raiva, a ousadia do novo mordomo de entrar em seu quarto às 7:00 para acorda-lá, sendo que ela pediu claramente que só queria ser acordada depois das 10:00. 

 

— Me desculpe madame — ele abaixou a cabeça no que parecia uma reverência — Mas achei prudente alerta que Lord Ship levou às crianças para um banho de piscina. 

 

O olhar de Marta passou de raiva para a incredulidade em questão de segundos. Em passos firmes e sem se importar com o frio Marta fez o caminho até a área da piscina. 

 

— Zé Alfredo — Ela gritou o marido ao se deparar com a cena a sua frente. Clara e Lucas dentro da piscina, as duas crianças tremiam e Zé Alfredo tentava força Pedro a entrar na água também. 

 

A primeira coisa que Marta pensou foi em correr até seus filhos na beirada da piscina, o mais velho já corria até ela, o caçula chorava e Maria Clara estava com os olhos arregalados em total desespero. Ela nem sequer olhou para o marido, os meninos estavam muito gelados em seu colo. Correu de volta com as três crianças para dentro da casa com José Alfredo seguindo e gritando. 

 

As babás já estavam posicionadas com toalhas na mão, a ordem de Marta dada para elas em sucintas palavras: banho, moletom, cama e leite. 

 

— Você está ficando louco — como uma fera Marta gritou em direção ao marido. 

 

— Meus filhos precisam aprender a nadar Marta — José Alfredo gritou de volta, apontando na direção que as babás tinha levado as crianças. 

 

— Nossos filhos precisam de muita coisa José Alfredo, a começar por um pai presente — ela deu ênfase no “nossos”. 

 

— Eu estou aqui! — Ele gritou com raiva, já tinha tido uma briga por telefone com o mesmo tema. 

 

— Mas não estava ontem quando o José Pedro quase se afogou — Pedro tinha caído na piscina, o jardineiro que estava por perto o salvou. 

 

— To aqui agora Maria Marta, vou ensinar eles a nadar e aquilo de ontem nunca mais vai acontecer.

 

— Você vai é matar os nossos filhos, se não for afogados, vai ser de hipotermia — Ela gritou contra, os braços cruzados denunciando que até mesmo ela sentia frio. Ele ficou sem argumentos, bufando em frustração. 

 

— Pois bem, se não dá pra ensinar eles aqui — Marta ficou mais aliviada, ele tinha desistido de ensinar as crianças a nadar — Então arrume as coisas nós estamos indo pro lugar mais quente desse mundo! — e em questões de segundos ela estava desesperada de novo, não existia a palavra desistir com seu marido, mas surpresas e incertezas eram constantes. 

 

Flashback off

 

— E pra onde vocês foram? — Enrico perguntou divertido ao escutar a história. 

 

— Pra Pernambuco é óbvio. Mamãe ficou com muita raiva — Enrico riu e Clara o acompanhou. 

 

— Imagino como e você gostou? 

 

— Gostei, na verdade nem me lembro muito bem como foi a viagem. Daquelas férias eu me lembro muito mais de estarmos na serra e não em Pernambuco. 

 

— Então vocês não ficaram muito tempo lá? 

 

— Não sei, mas acho que ficamos um bom tempo sim porque nas fotos eu estou muito queimada de sol. 

 

— Uhmm adoro quando você fica queimada, minha morena — ele beijou o pescoço de Clara. 

 

— Bobo — ela riu e empurrou ele — Eu era uma criança! 

 

— E eu também! — ele puxou Clara para seus braços novamente, dando beijos no pescoço e na pela exposta dela. 

 

— Para com isso Enrico, agora! — ela chutou o namorado e virou de costas para ele — Mãe aquela viagem nossa pra Pernambuco, durou quanto tempo? 

 

— Qual delas? — Marta estava pensativa, das vezes que tinha viajado para o nordeste do Brasil sempre tinha sido contrariada. 

 

— Aquela que o papai ensinou eu e meus irmãos a nadar — Marta olhou confusa para filha, não se lembrava de uma viagem em que Zé Alfredo tivesse ensinado as crianças a nadarem. 

 

— Aquela tia, depois que o Zé Pedro se afogou! — Amanda percebeu a confusão no olhar de Marta e esclareceu a pergunta de sua prima. 

 

Em algum momento do início do “namoro” com José Pedro, o primo tinha lhe contado sobre a história do afogamento e principalmente sobre aquela viagem, a cada quatro palavras de Zé Pedro sobre a viagem à Pernambuco, três eram “foi um inferno”. Depois de certo tempo ela descobriu que a tia lembrava daquela viagem como uma das inúmeras em que José Alfredo tinha lhe traído e como ela passou uma parte chorando e outra parte brigando com o marido. 

 

Era impressionante como a perspectiva de cada um mudava o jeito deles enxergarem o mesmo acontecimento. A viagem a Pernambuco, a qual Clara lembrava e falava com tanto divertimento, tinha se tornado um inferno, quase um trauma na cabeça de Zé Pedro e para sua tia era motivo de mágoa. 

 

— Nós ficamos lá durante 4 dias — Marta bebericou o drink. Aquilo era muito pouco tempo comparado aos dias de férias que eles realmente tinha.

 

Clara ficou em silêncio por alguns minutos, na sua cabeça de criança sua família tinha ficado por muito mais tempo na praia. Mas se eles não ficaram certamente era culpa de Marta, a filha sabia quanto a mãe odiava viajar para o nordeste do país. 

 

— Só isso, por quê? — ela arqueou uma sobrancelha como uma espécie de desafio para Marta. A Imperatriz percebeu só pelo tom de voz de Clara que ela tentava culpá-la pelo pouco tempo. 

 

— Porque seu pai não podia ficar, ele foi viajar Maria Clara — a presença do pai ou melhor a falta da presença dele em sua vida sempre foi uma constante. 

 

Por isso que quando Clara se sentia sozinha e desamparada ela tentava se apegar as boas lembranças com o pai, aquelas em que eles se abraçavam quando ele chegava de uma viagem e a rodava pelo aeroporto, como aquela viagem até Pernambuco onde ele a ensinou a nadar. Aquelas viagens eram tempos bons que duravam muito, certo? Sua infância teve bons momentos, certo? Longos momentos de pura felicidade. 

 

Ela se apegava a isso, aos momentos de felicidade, seu pai tinha sido ausente, mas ela fazia questão de lembrar apenas da presença dele. Será que a presença foi tão constante quanto a ausência? Será que ela seria um motivo forte o bastante para ele continuar presente? As dúvidas começavam a ter mais força, não dava mais para contê-las somente com as boas lembranças, quando ela começava a desconfiar das mesmas, colocar em xeque, estava realmente do lado certo? 

 

Marta queria completar com “ele foi embora porque estava me traindo com uma qualquer da rua e eu vi. Se quiser culpar alguém, culpe a ele” mas ela não fez, já tinha tentado conversa com Clara várias vezes sobre o pai e em todas elas acabavam brigando, era melhor deixar Clara chegar as próprias conclusões sozinha. O divórcio era iminente, o jantar na noite anterior e a mensagem de Merival provava isso, Marta precisava deixar Clara voar e escolher um lado concreto. E se fosse para a filha bater direto contra a parede então que fosse assim, o máximo como mãe que poderia fazer agora era está lá para cuidar das feridas de Clara. 

...

E mais um pouco de vodka para completar. Maria Marta analisou a taça a sua frente, será que seria uma má ideia ela adicionar whiskey? Seria, com certeza seria. Ela riu com pensamento, o objetivo da bebida era fazer com que ele esquece os mil problemas que sua vida tinha e não trazer mais um para o momento. 

 

— Vamos dançar? — ele chegou por trás sussurrando aquele pedido no pé do ouvido dela. A barba molhada roçando na pela exposta da mulher, um arrepio percorreu a espinha da Imperatriz. 

 

— José Alfredo! — ela girou nos calcanhares ficando cara a cara com o marido, a mulher arfou, eles realmente estavam tremendamente próximos — O que esta fazendo aqui? 

 

— Vamos dançar? — ele repetiu a pergunta ignorando qualquer objeção de Marta. 

 

O que estava exatamente acontecendo? Na noite anterior eles estavam discutindo sobre o muito provável divórcio, no dia anterior os dois estavam naquela montanha infernal onde por algum motivo ele a prensou contra aquela maldita preda e falou coisa indecentes. E agora ele estava ali sendo romântico a chamando para dançar como se fossem o casal que um dia se amaram. 

 

Que tipo de jogo era aquele? Eles estavam transitando muito rápido entre o ódio e o amor, ou aquilo não passava de desejo, uma vontade incessante de controle por parte do Comendador? 

 

— Milady, a mesa está posta como a senhora ordenou! — a voz de Silviano interrompeu os pensamentos de Marta. 

 

O mordomo era reservado, ele se dirigia a Marta com todo o respeito, mas continuava olhando para a frente para um ponto muito além e oposto da cena íntima do casal. O funcionário era discreto, já tinha presenciando atos mais pecaminosos dentro daquela família.

 

— Está bem Silviano, obrigada! — o mordomo assentiu e segui pelo caminho que tinha entrado. Marta fez menção de ir pelo mesmo caminho, mas Zé continuou a pressiona-lá contra a bancada. 

 

— Você gostava de dançar — ele disparou, ainda insistente no pedido.  

 

— E ainda gosto — ele sorriu, ainda conhecia a mulher tão bem quanto antes — mas não mais com você — o sorriu dele caiu, ela o empurrou se desvencilhando dos braços do marido e adentrando a casa. 

 

Ácida. Marta costumava passar por estágios quando estava se embriagando alegre, debochada, pensativa e algum momento ela não conseguia mais conter os sentimentos e ninguém nunca poderia imaginar o que o coração daquela mulher revelaria depois de uma dose de bebida. Ele tinha chegado cedo demais, talvez mais tarde ele não sofreasses tantas retaliações. 

...

— Leque, que que tua mãe tá fazendo lá? — Du e Lucas olharam para uma Maria Marta sentada em um banco de madeira perto das árvores. 

 

— Não sei, mas vou lá descobrir. Te conto depois — João Lucas pegou a cerveja da mão da esposa e saiu correndo pelo gramado em direção a mãe. 

...

João Lucas apoiava o pai até a varanda. 

 

O menino tinha largado o pai pra deitar no sofá à esquerda, mas o Comendador caminhou até o enorme puff em que Marta e o restante da família estavam sentados. 

 

— Não Zé — ele se jogou no meio deitando, usando o colo da Imperatriz como travesseiro. 

 

As meninas faziam alguns stories divertidos, o entretenimento era um comércio para eles as pessoas gostavam de saber sobre a vida da família Imperial, é nesse momento que Clara mirou a câmera para os pais. 

 

— Está filmando isso? — Marta virava outro drink. 

 

— Estou! — Clara afirmou rindo e segurando o celular na mão. 

 

Tinha começado a chuviscar, os Medeiros tiveram que sair da área externa da piscina e agora estavam sentados na varanda. 

 

— Quero outro filho — o Comendador levantou só um pouco a cabeça, a voz arrastada pela bebida. 

 

— Você já tem quatro, quer outro pra que homem? — Marta perguntou, o marido tinha bebido demais e agora falava coisas sem sentidos. 

 

— Vamo ter outra menina — Marta revirou os olhos. José Alfredo sabia da preferência dela por meninos e mesmo bêbado insistia em uma menina. 

 

— E você quer outra menina pra que, se já tem duas?! — ela queria ver até onde aquela discursão iria, os filhos incentivavam. 

 

— Porque menina é bom, elas são decididas — ele apontou para a barriga de Maria Marta. 

 

— E quanto aos meninos, tio? — Amanda que estava do lado perguntou instigando ainda mais a conversa. 

 

— Menino não, menino da trabalho. José Pedro quer tudo e João Lucas não quer nada — ele gesticulava em algumas partes da fala, Lucas e Pedro não gostaram do comentário, mas o restante da família não perdeu a chance de ironizar.

 

— Vamos ter mais um, eu quero uma mão cheia — José Alfredo levantou uma mão, mas deixou cair logo em seguida sobre a barriga de Marta, a bebida deixando ele letárgico. 

 

O vídeo dos stories de Maria Clara acabava por ali, ela tinha marcado a família. Ísis clicou no primeiro @jlucasmedeiros, ele tinha repostado o vídeo da irmã com um comentário: Do jeito que meu pai é, até o final desse ano temos outra irmã. 

 

Ísis tinha passado o dia olhando as postagens da família Medeiros, principalmente as de Clara. Viu um boomerang do Comendador e Maria Marta muito próximos na piscina brincando com Bruna, as fotos deles com os netos e pra fechar o dia, Eduarda tinha postado uma foto dos sogros deitados juntos na varanda. A legenda: Meu sogros = meta de relacionamento 

...

— Vai logo Zé, entra! — ela puxou o marido para dentro do box do banheiro. O homem estava bebado e no mínimo ela tentava fazer com que ele tomasse um banho. 

 

Cambaleando ele entrou no box e propositalmente jogou o peso para cima do corpo de Marta sabendo que ela não iria aguentar. 

 

— Zé! — ela gritou, seus pés vacilaram e ela escorregou. Marta esperou pelo impacto que provavelmente resultaria em dor, mas ela não caiu, pelo contrário José Alfredo parecendo mais sóbrio do que dizia estar a segurou. 

 

Foi proposital, ele a fez escorregar para poder segura-lá. Marta arfou, não esperava esse tipo de reação do marido, ele tinha o sorriso de canto. 

 

— Me solta Zé — sua voz saiu em um sussurro, ela estava presa tanto pelos braços dele quanto pelos olhos que agora pareciam muito mais sóbrios.

 

— Quer mesmo que eu te solte, Imperatriz? — ele também sussurrou provocando ela, manteve o contato com olhos. Os verdes dela estavam mais escuros, havia muitas emoções ali aos quais ele não conseguiu decifrar ou talvez apenas não quisesse decifrar. 

 

— Quero, me solta Zé! — ele ficou em silêncio. Ela entrou em conflito, realmente queria que ele lhe solta-se? Contudo as mãos dele ao redor de sua cintura começavam a incomodar trazendo lembranças que ela não queria recordar, então sim, ela queria que ele lhe soltasse. 

 

Ele avançou um pouco mais, roçou a barba no rosto dela. Ela prendeu a respiração, as mãos dela se fecharam em volta do braço dele fincando as unhas. A parte racional de Marta não a deixando abrir a boca, se ele quisesse beija-la ele que desse o primeiro passo. A eletricidade subindo e mais um pouco as faíscas virariam fogo, mas ele a soltou. 

 

— Está bem, eu te solto — ele se afastou, sorriu debochado, gostava de provocá-la e principalmente quando deixava aquela quatrocentona cheia de vocabulário sem palavras. 

...

Marta saiu do quarto em um conflito de emoções, ela estava um pouco instável, enquanto ela andava o barulho chuveiro ficava mais distante a memória muscular a guiando para a cozinha. 

 

— Meu príncipe! — Marta beijou o topo da cabeça de José Pedro. 

 

— Oi! — José Pedro foi monossilábico, Maria Marta estranhou a frieza de seu filho. 

 

— O que foi José Pedro? — ela tocou no braço do menino forçando o contato visual. O olhar apático, sem raiva, sem mágoa, sem ódio, mas também sem carinho, sem afeto, sem amor ou qualquer outro sentimento que José Pedro pudesse dirigir a ela, denunciava que algo estava errado.

 

Enquanto o menino distribuía olhares de raiva, uma raiva que beirava ao ódio ao pai, para mãe ele era um protetor, um príncipe no cavalo branco pronto para duelar contra o rei em nome da rainha. Se em algum momento da vida José Pedro dirigiu sentimentos ruins para a mãe, nenhum dos dois se lembrava. Mas havia momentos em que também não existia os sentimentos bons, então não existia nada. Sobrava apenas a apatia. 

 

— A senhora ainda me pergunta o que foi? — ele encarou os olhos da mãe, ela estava lhe abraçando, ele não retribuía, mas também não se desvencilhou do colo dela. 

 

— É claro que te pergunto José Pedro, eu ainda não tenho bola de cristal. 

 

— Meu pai — é claro, José Alfredo Medeiros era sempre o motivo da chateação de seu filho. Marta fechou a cara, aquele homem que ela chamava de marido mesmo nos momentos mais harmônicos conseguia causar algum estrago, aquilo era desgastante. O conflito interno entre amá-lo e odiar-lo era desgastante.  

 

— O que aconteceu? Me conte! 

 

— Meu pai foi lá no hotel onde eu estava pra me “recontratar” — Zé Pedro revirou os olhos, para todos os efeitos ele estava de férias, uma demissão de um membro do conselho naquele momento seria um escândalo ao qual eles gostariam de evitar — Chegou lá daquele jeito grosso dele e falou que precisava de mim pra conseguir a titularidade do monte de novo. 

 

— Esse é o problema? — ela arqueou a sobrancelha debochando — Ele apenas te querer pra conseguir a titularidade daquele morro de novo? — Marta achou o motivo pouco plausível, era frescura seu filho ficar chateado apenas por isso. 

 

— Não mãe, não é problema ele me querer apenas pra isso. Apesar de que eu estudei pra muito mais — Ela concordou. José Pedro tinha estudado para muito mais, ela sabia que seu filho tinha capacidade pra ser muito mais. 

 

— Então qual é o problema, José Pedro? Não enrole, seja direto! 

 

— Ele me chamou de fraco, mãe! Disse que sou um moleque manipulável! 

 

—Como é que é?! — ela soltou o menino, a raiva de repente se manifestando e explodindo — Por que ele falou isso com você? 

 

— Ele viu uma mensagem da Amanda no meu celular, ficou falando que eu deveria terminar com ela e aí eu discuti com ele e então uma coisa levou a outra e aí ele falou que sou um moleque manipulável, que a Senhora e a Amanda me manipulam. 

 

— Sobre o que era a mensagem de Amanda? — aquela história de Zé Pedro parecia uma mentira bem feita com pingos de verdade. 

 

— Eu sei lá mãe! Não lembro, acho que até apaguei. Mas a Senhora sabe que meu pai nunca aprovou meu relacionamento com Amanda e não precisa de muito pra ele ser um impulsivo do caralho — Seu filho tinha razão, bastava uma faísca, um amassado, um erro ou um cisco fora do lugar para José Alfredo explodir. Com seu aval Silviano acobertou por meses o início do relacionamento entre o Pedro e Amanda. E quando anos atrás aquele homem controlador descobriu, foi um tudo pelos ares um verdadeiro estrago. 

 

Aquela história era verdade, pelos menos algumas parte, ela ainda conseguia perceber que Pedro omitia certas informações, talvez palavras mais brutas ditas por Zé Alfredo que por mágoa e vergonha Pedro não queria compartilhar. 

 

— Foi só por conta da mensagem mesmo? — Questionar. Seus filhos, seu marido sempre reclamavam de seus questionamentos, mas por qual outro motivo eles falariam se ela não questionasse. Por livre e espontânea vontade que não seria. 

 

— Foi só por conta da mensagem sim — Zé Pedro desviou o olhar — Mas já é motivo suficiente pra ficar com raiva dele — Ele voltou seu olhar nervoso de volta a mãe, seu primogênito tinha razão, era motivo suficiente, aliás um entre inúmeros motivos plausíveis. 

 

— E motivo suficiente pra ficar com raiva dele. Mas por que você está com raiva de mim também? 

 

— Não estou com raiva de você — ele falou rápido, a mera chance da mãe cogitar que ele sentia raiva contra ela o assustava — Mas é que mãe. A Senhora tá entrando com esse pedido de divórcio, eu to passando por cima de um tanto de coisa — Ele se referia a disputa pela guarda de Bruna — pra te apoiar e aí ver você sendo tão fácil para o Comendador, ele tá lá dormindo no seu quarto, você tá basicamente ficando de... 

 

— José Pedro você pare por aí, me respeite! — ela cortou a fala do filho — Eu sou a sua mãe, independente das minha ações ainda sou sua mãe e exijo respeito.  

 

— Tá mãe, eu sei, desculpa! Não foi na intenção de ofender! 

 

— Não foi, mas ofendeu! Você não haja como seu pai, não ouse fazer o que ele faz — lágrimas começaram a brotar nos olhos de Marta. José Pedro cedeu, segurou as mão da mãe. Desde criança ele vê aquela força da natureza se desmoronar por conta de um homem, seu pai. 

 

Enquanto Maria Clara focava nas memórias boas e felizes, José Pedro alimentava sua raiva com os gritos dos pais, com as memórias de humilhação e desespero que as incertezas e impulsividade do Comendador lhe traziam.

 

— Pare de chorar Dona Marta — com carinho ele abraçou a mãe — Não fiquei assim, eu vou dar um jeito de conseguir aquela cadeira para nós. 

 

— Para você meu filho! 

 

— Para nós. A Senhora vai estar do meu lado, num é? 

 

— E claro. Eu serei sua conselheira, seu braço direito, seu braço esquerdo. Vou fazer de tudo por você... 

 

— Como sempre fez de tudo por mim — sorrindo, Pedro interrompeu a mãe. 

 

— E claro, você é meu filho. Faço e faria tudo de novo por você e pelos seus irmãos!

 

— Eu sei. E te amo por isso, mãe! — Marta sorriu, as lágrimas que ela estava arduamente contendo cederam a declaração de seu filho. José Pedro era seu preferido, isso era verdade e ela não poderia negar, mas seu filho raramente lhe dizia essas três palavras que tem o poder de mudar tudo. 

 

— Mas José Pedro Medeiros — ela se desvencilhou bruscamente do abraço do filho, secando as lágrimas — você não ouse, nem sequer pense em me jogar pra escanteio como seu pai fez. Não ouse! — ela levantou o dedo o “ameaçando”. Zé Pedro riu, apesar de sua idade a mãe ainda lhe tratava como uma criança que estava prestes a aprontar. 

 

— Nunca mamãe, jamais vou fazer isso com a Senhora — ele sorriu de canto, postura de príncipe como ela lhe ensinará, mas sorriso malandro porque não negava a genética de José Alfredo no sangue. 

...

Ela voltou ao quarto e assim que abriu a porta deu de cara com um José Alfredo deitado na cama apenas de toalha. Ela parou no meio do caminho percorreu o olhar pelo corpo do homem, ele usava somente uma tolha em volta da cintura. 

 

— Vai vestir uma roupa, Zé! — O homem abriu um pouco os olhos, sorriu ironicamente e voltou a fechá-los. 

 

— Pode esperar sentada Maria Marta, eu só saio dessa cama amanhã quando sol raia, se quiser dormir vai ter que ser assim mesmo. 

 

— Não quero dormir. Nós precisamos conversar — Como ele odiava aquela frase “Nós precisamos conversar” sempre vinha antecedido de uma briga. 

 

— What hell Marta, sobre o que você quer conversar agora? — Ele já estava irritando, passou as mãos pela barba um pouca úmida como uma tentativa de dissipar a raiva — Já não te bastou o jantar de ontem?

 

— Não fale como se a culpa do desastre do jantar de ontem fosse minha, não fui eu que quase briguei com o Lucas. 

 

— Não foi! — ele bateu a mão no colchão, odiava ter que admitir que a mulher estava certa — Mas foi você que começou com essa shit todo de divórcio, só por conta de um examezinho. 

 

— Só por conta de um examezinho?! — ela mordeu a língua, riu ironicamente da falta de noção do homem de preto, aquele que se proclamava o dono do mundo mal sabia o motivo do próprio divórcio — José Alfredo pare de achar que tudo gira em torno dos seus desejos. A motivos muito maiores seu egocêntrico! 

 

— Então Marta quer dizer que se o mundo não gira ao meu redor, ele gira em torno do seu então?! — ele bufou de raiva, estava ficando cansado de todo esse mistério, o que Maria Marta tinha aprontando em sua ausência que só de tocar no assunto ela mudava completamente. 

 

— Não, ele gira em torno das nossas ações. Ações essas que tem consequências as quais você prefere ignorar! 

 

— Que consequências são essas em Marta? — ele bufou, bateu o mão no colchão — Tá falando do roubo do dinheiro? Porque eu resolvi essa shit. Num resolvi, Marta? Você tá agora regada da cabeça aos pés de diamante porque eu — ele bateu no peito orgulhoso — Eu resolvi esse problema que você trouxe pra casa! — Ele se referia a Maurilio e só a mera menção do homem lhe trazia lembranças desagradáveis e provocava mal estar.

 

— Trouxe porque você não me deu outra opção! — ela gritou, a melhor defesa era o ataque. 

 

— Que não te dei opção, Marta. Pare de bancar a vítima, não combina com essa tua pompa de quatrocentona! — ele rebateu gritando de volta. 

 

— Não estou bancando a vítima, Zé! Só estou dizendo a verdade que você não aceita e que por muito tempo eu também não aceitei. Nosso casamento acabou

 

— Porque você quer Marta — ele gritou, o rosto ficando vermelho — você que tá insistindo nesse divórcio sem cabimento — ele apontou em direção a ela em tom acusatório. 

 

— Não, não fale como se você nunca tivesse me pedido o divórcio também Zé — ele tentou interrompê-la. Contestar a fala da mulher e tentar explicar os motivos aos quais ele não tinha tanta certeza de serem tão concretos, que levaram ele a tantas vezes a pedir o divórcio, mas a voz dela se sobrepôs a dele, não sobrando alternativas a não ser o silêncio por parte do Comendador. 

 

— Deixa eu continuar, me escuta de verdade pelo menos uma fez nesse casamento — ele observou em silêncio, o tom da voz dela não era mais imperativo, parecia mais uma súplica e no fundo ele sentiu um desconforto no peito ao notar a rápida mudança de postura — Nosso casamento acabou quando você parou de me amar — ele poderia abrir a boca e dizer “nunca parei de te amar”, mas preferiu ficar em silêncio — Quando toda aquela gritaria me humilhando, que sabe sei lá Deus como eu aguentei por tanto tempo, se transformou em traição — a voz dela era embargada, ele podia ver o peito dela subir e descer. Marta parecia fazer um esforço enorme para tentar conter as lágrimas, ele deu um passo inconsciente para frente — Você me traiu na cama, me machucou da pior forma possível. Você levou aquela... a Ísis pra nossa casa, você me humilhou e desrespeitou de todas as formas possíveis e impossíveis — a última frase vacilou na boca dela, ela queria chamar a garota de putinha, vadia e tantos outros, mas o verdadeiro traidor era José Alfredo. A garota não passava de uma coitada, uma mera criança que estava sendo ludibriada por um homem muito mais velho. 

 

— Não sabia que tinha sido assim, não percebi que te afetou tanto — ele estava envergonhado. Ele realmente não notou que a magoou até aquele ponto, a mulher se dizia tantas vezes inabalável que com o passar dos anos José Alfredo realmente começou a acreditar — Você não me deu nenhum sinal! 

 

— Sinal? — ela gritou, apertou os olhos deixando algumas lágrimas caíram. O passo que ele tinha dado para frente, agora ele recuava — Quantos mais sinais você queria? As minha lágrimas não foram o suficiente, dos meus gritos você não escutou nenhum? — a expressão era de incredulidade, mas no fundo Marta sabia, o que mais ela esperava de um homem que jamais havia a escutado?

 

— Eu não percebi que tinha sido assim, Marta — Ele respirou fundo tentando compreender todas as palavras de sua esposa. 

 

— Você não percebe muitas coisas, Comendador! — Ela deu as costas e puxou a porta com uma força mais do que suficiente. 

 

— Espera, Marta! — Sua voz foi alta, mas ele não gritou, não era uma ordem, era um pedido — Eu não vou mais trazer a Ísis lá pra casa! — E depois de tudo o que ela disse ele ainda queria sair como o herói e deixá-la como vilã, o monstro que ele havia pintado pra ela, a megera que ele gritava aos quatros ventos que ela era. 

 

— O mínimo! — a resposta veio rápido, depois de tudo ela não iria aceitar sair como vilã — Não trazer a sua vadia para casa da sua família é o mínimo que você pode fazer em respeito aos seus filhos. 


Notas Finais


Então espero que vocês tenha gostado. Sobre a conversa entre o Lucas e a Marta vou mostra ela no próximo capítulo. Teve bastante interação malfred nesse né, mostrou flashback, teve a Ísis stakeando os Medeiros kkkk bem foi isso!! Até o próximo sábado (se Deus quiser eu vou conseguir postar) Bjs1!!


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