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História 13.03.2015 - Capítulo Único


Escrita por: sappy

Notas do Autor


OI GENTE TO NERVOUSER

Essa é uma OneShot participante do Primeiro Concurso de FanFics Héteros de K-Pop promovido pelo @Jornalecos. O link estará nas notas finais, caso alguém queira dar uma olhada e/ou participar.

Bem... É a primeira vez que eu dou as caras como autora desde que eu tenho esse perfil aqui no site. E é também a primeira vez em muito tempo que eu realmente escrevo/posto algo, então estou consideravelmente nervosa e apreensiva.
Isso foi algo que surgiu na minha mente e que conseguiu se adequar às regras do concurso.

Quanto à formatação... EU SEMPRE APANHO PRA ESTA MERDA o~o
Alguma coisa simplesmente não foi com a minha cara e o negócio dos parágrafos bugou todo. Resultado: eu tive que arrumar um por um. Pelo o que eu chequei, tudo pareceu se ajeitar, mas nunca se sabe né, então caso tenha ficado algo estranho podem avisar (e sorry :c)

UM AVISO LOKO: TEM RECOMENDAÇÃO DE MÚSICA!
Como eu sou movida à música, eu simplesmente tinha que catar uma (bem troste por sinal, amo).
EntãO, eu me inspirei um pouco em "I'm So Tired" do Fugazi. Qualquer coisa o link estará nas notas finais.

Okay. Acho que é isso. Não vou me alongar mais por aqui.

Boa leitura! Até as notas finais!~

Capítulo 1 - Capítulo Único


Nos teus olhos, Kim SeokJin, não vejo nem mais a penumbra que também é presente em minha volta. Não! Nem mesmo isso. Apenas breu. Apenas breu e nada mais. Este castanho, outrora até mesmo brilhante, agora possui a opacidade da falta de vida.

Estás seco, assim como um graveto em meio a um monte de réplicas quebradas. Observo-te assim, dos cantos, assim como eu faço com todos os seres já afogados em mágoas. Observo tua aparência apática, o modo fraco com que te locomoves, o pouco de alimento que ingeres goela abaixo de maneira desgostosa, o revirar do teu corpo nos lençóis em decorrência da insônia que te pega todas as noites. Observo todas essas noites. Observo todos os dias de claridade incômoda — ao menos o escuro da madrugada não te irrita os olhos. Acompanho teu cotidiano maçante. Sigo teus passos esperando e já sabendo o que tu farás a seguir. Sei de todos os teus pensamentos.

Observo o que se passa em tua mente turva.

 

~

 

Cimento parecia me prender àquela cama. Meu corpo pesava e parecia fundido a um material espesso e duro, fazendo com que eu me mexesse com dificuldade. Mas na verdade era só o meu colchão. Esse, responsável não somente por tornar minha noite pior ainda, como também o meu dia — meu corpo rangia por inteiro. Já não bastava minha mente.

Como um gato velho se arrastando, consegui me desprender daquele concreto rotineiro mais uma vez e pôr a roupa usual, como um rato corporativo uniformizado.

A roupa usual, com a cara usual, com a comida usual pra dentro do meu organismo, e o programa matinal usual com mais algum crime.

Suspirei olhando para a televisão e notei um novo velho bochechudo e enrugado para noticiar as tragédias do dia-a-dia. Ele tinha uma cara preocupada e parecia se preparar para dar uma notícia importante.

Não que eu me importasse.

Nada mais me importava.

E naquele dia, eu pareci me importar menos ainda.

Era sexta-feira, e simplesmente aconteceu de ser o décimo terceiro dia do mês. Dia 13/03/2015. As pessoas supersticiosas relacionavam tudo de ruim que acontecia naquele dia com aquela combinação específica. Eu simplesmente não via o porquê, afinal era somente mais um dia ruim dentre muitos outros iguais.

Aquela parecia ter sido a semana mais longa e exaustiva da minha vida. Minhas energias tinham sido sugadas pelo meu dia-a-dia de merda e meus pensamentos que se tornavam cada vez mais obscuros.

A única coisa que pude fazer ao fim do expediente de sexta-feira foi suspirar pesadamente, mas mesmo assim nada pareceu adentrar meu ser.

E então os pensamentos dos últimos tempos formaram-se em uma última decisão: aquilo ocorreria naquela noite. Eu não aguentaria mais uma semana de trabalho. Eu não aguentaria mais uma semana sabendo que eu estava vivo, mas ao mesmo tempo inerte a tudo.

Todos aqueles ratos corporativos saíam de seus trabalhos — eu incluído — e fui surpreendido por uma proposta de meus colegas para jantar fora.

Aquilo sairia de minha rotina atual.

Às sextas-feiras eu voltava pra casa, assim como todo o resto da semana. E eu basicamente dormia e me alimentava quando era preciso.

Porém, como eu sabia, em minha mente, de que aquela sexta-feira seria diferente de qualquer jeito, resolvi aceitar o convite. Era como se fosse uma despedida.

Afrouxando a gravata, entramos em um bar qualquer e sentamo-nos à vontade junto a garrafas de soju e algumas cervejas.

— O que vocês acham de pedir bulgogi também? — Jimin, um dos meus colegas engomadinhos, sugeriu, e os outros concordaram animados enquanto eu assentia brevemente.

Todos jogavam papo fora e eu tentava prestar atenção em algumas histórias engraçadas pra eles, mas que pra mim não possuíam sentido nenhum. Na verdade, o que mais me entretinha era observar tudo o que acontecia no restaurante, dentro da minha zona de conforto, espiando por cima da barreira que me distanciava dos outros e me deixava camuflado em silêncio.

Havia dois senhores sorridentes que pareciam ser bons amigos, mas se davam as mãos por debaixo da mesa, escondendo-se do resto das pessoas que apontam o dedo e julgam. Mais ao canto tinha uma mulher que olhava para a comida que seu marido havia pedido com desprezo e nojo; ou talvez para o próprio marido. Ao lado dos velhos amigos, notei uma boca rósea e chamativa curvar-se em um sorriso, e aí parei.

Foi no dia 13/03/2015 que eu me deparei pela primeira vez com ela.

Aquele sorriso, na verdade, estava sendo direcionado a mim, e por um momento me senti perdido e descoberto.

Desviei meu olhar para algum canto vazio, mas como se fosse inevitável, olhei a dona daquele sorriso nos olhos. Como se estivesse sendo puxado para fora da minha zona de conforto e para dentro de algum ambiente desconhecido e excitante.

Havia algo sobre aqueles cabelos em um breu que caía sobre os ombros e aqueles lábios finos que lembravam a maciez do algodão.

Em momento algum ela desviou suas íris castanhas da minha direção, e percebi isso porque cada vez que eu tentava espiá-la de novo, era pego em minha insistência.

De repente, notei pessoas levantando-se, e aí me dei por conta de que o jantar estava sendo finalizado. Meus colegas de trabalho faziam um pouco de algazarra e estavam claramente bêbados e cambaleantes depois de tantas garrafas de soju e cerveja.

— Ah! Estou cheio! — disse Taehyung, o novato, que foi o último deles a se levantar para seguir Jimin, Namjoon e Hoseok (que já havia pagado pra todo mundo, em um impulso de generosidade).

Meio desnorteado, levantei-me e lancei um último olhar para a mesa em que ela supostamente estaria sentada, porém fui surpreendido por alguém tocando o meu braço de leve. Quando levantei o rosto, pude ver aquele sorriso de perto e flores brotaram em meu peito. Os rapazes já saíam pela porta fazendo barulho e eu fiquei lá, parado, sem saber como reagir, até que ela entregou-me um papel e direcionou-se ao banheiro. E então eu tive que me mexer para alcançar o bando de bêbados, mesmo sem ter processado direito o que havia acontecido.

Naquele papel havia um número. E aquele número me deixou tão intrigado a ponto de adiar tudo o que eu havia planejado para aquela noite.

Para o número, acabei por mandar uma mensagem no sábado cinzento após aquela sexta-feira.

“Olá”, foi o que continha, apenas. Não consegui elaborar nada a mais, mas estava muito intrigado para apenas deixar passar.

“Quem é?” foi a resposta, e me senti idiota por não ter enviado identificação, mas ainda assim respondi: “Eu estava no Banchan ontem, você me entregou um papel com o seu número”.

“Ah, você é aquele garoto enigmático”.

Na verdade, eu achava absolutamente o contrário. Aqueles olhares lançados a mim eram completos enigmas, tanto é que não pude me conter ao continuar aquela conversa animadamente, como eu não me sentia há tempos.

Aquele sábado passou cinzento em cores, mas não em sentimentos. Assim como o domingo. Assim como o resto daquela semana em que continuei a conversar com ela. Foi tão mais fácil quebrar o concreto matinal contínuo, e tão mais fácil encarar o cotidiano, que eu nem vi o tempo passar — quando me dei conta, sexta havia chegado, e foi com uma iniciativa partindo dela que resolvemos nos encontrar no sábado.

Como se minha barriga estivesse sofrendo um ataque, vesti-me. Desenterrei meu perfume, olhei-me no espelho e respirei fundo. Meu apartamento estava limpo; não no estado razoável em que habitualmente se encontrava, porque dessa vez eu preocupei-me em fazer mais que o usual.

Eu iria recebê-la. Ela disse que iria, que queria conhecer o lugar onde eu passava o meu tempo quando não estava no trabalho, e mesmo a conhecendo há apenas uma semana, eu aceitei de primeira enquanto euforia tomava conta do meu ser.

Ao ouvir a campainha, pulei e corri até a porta, olhando para a minha roupa em uma última checagem antes de eu finalmente abrir a última coisa que me impedia de ver aqueles lábios e todo o conjunto de seu rosto que não saía de maneira alguma de minha mente.

Encontrei seus olhos que se fixaram nos meus por um instante, e senti um arrepio por todo o meu corpo para que assim eu saísse daquele transe e visse o sorriso luminoso que ela já formava. Sua boca se preparou para algo que eu imaginei que seria um cumprimento.

— Eu não sabia que iríamos pra uma festa de gala, Jin — foi o que ela disse antes de soltar uma risada descontraída, porém aquilo fez apenas com que minha mente girasse em dúvidas.

Acho que eu nunca fui acostumado com aquilo. Encontros, socialização, qualquer coisa que envolvesse mais do que o usual em relação a interações humanas acabava por fazer com que minha falta de experiência me embaraçasse. E assim eu fiz aprumei-me em um traje formal para uma simples visita.

Dessa forma, travei por vergonha, mas o cumprimento ainda não vindo acabou por vir em forma de abraço, e novamente fui pego de surpresa quando seu corpo veio de encontro ao meu em um rápido gesto e ela falou:

— Não fique tão embaraçado.

Era evidente que eu estava tenso; aquilo não havia ajudado. De qualquer forma, murmurei um “entre, por favor” ainda desconcertado, e assim ela o fez, sorrindo.

Seus passos cruzaram meu apartamento até o centro da sala. Não havia muito espaço, eu vivia sozinho e não costumava receber visitas, porém acho que meus cuidados especiais acabaram por tornar o local aconchegante.

Havia um sofá marrom em frente a uma televisão e uma mesa de centro com alguns livros e um videogame, e um tapete azul ao centro, por cima do chão de madeira escura. Ao lado daquele pequeno espaço, no mesmo cômodo e sem divisória alguma, estava inclusa uma mesa de jantar pequena, com apenas quatro lugares e que geralmente não era utilizada, mas naquela ocasião estava posta e bem arrumada. Essa mesa se encontrava bem na frente da única janela, que não tinha uma visão muito romântica, apenas a tipicidade urbana de alguns prédios velhos e embolorados, porém algum ar fresco houvera de se passar.

 — Então é aqui que você vive... — falou ela, seus olhos analisando os móveis e aparelhos eletrônicos naquela sala. Então sentenciou: — É bem aconchegante.

— Obrigado — respondi feliz com o resultado daquilo, observando-a por um tempo.

Ela estava vestida em uma beleza tão simplista e natural que me fazia perguntar-me se aquilo era a realidade. Não havia posto um traje formal, assim como eu — que me repreendi em pensamento por ter sido tão avoado e não ter calculado bem as circunstâncias —, estava com uma blusa de tecido leve e uma calça jeans que delineava suas penas finas.

Por fim, eu disse para que ela se sentisse à vontade, e assim ela o fez, aparentemente.

Conversando, nós havíamos nos aproximado bastante para apenas uma semana de contato, mas pessoalmente eu parecia perder a noção disso e de muitas outras coisas. Ela, por outro lado, demonstrava sua simplicidade em sorrisos que de certa forma me reconfortavam, apesar de que me deixavam meio perdido também.

Ainda que atrapalhado, fiz um esforço para seguir adiante, e assim jantamos o Japchae que eu havia colocado tanto esforço em fazer. Com minhas habilidades culinárias limitadas, eu podia considerar aquele um sucesso, pois ela pareceu comer com gosto e um brilho no olhar — fazendo assim, com que o brilho do meu aumentasse.

Em certo ponto a conversa fluiu, porque ela havia tantos assuntos fascinantes pra falar e eu estava disposto a conversar sobre todos eles, com o interesse fora do comum que tudo aquilo havia despertado em mim. Descobri mais sobre histórias de infância e trapalhadas na adolescência que eu nunca fui capaz de vivenciar, e também sobre problemas e mistérios do início da vida adulta que eu estava começando a me deparar. Ela era apenas três anos mais velha, mas parecia que apenas um ano de sua vida era mais movimentado e interessante do que toda a minha.

Aquilo poderia me entristecer, mas eu resolvi deixar o fascínio crescer e tomar conta de qualquer outro sentimento ruim que pudesse surgir.

Depois que jantamos, eu não queria que aquilo acabasse. Sugeri um filme, estava disposto a sugerir qualquer coisa que pudesse prendê-la mais um pouco. Assim, vimos um filme e quando eu percebi estávamos aninhados no sofá.

Eu, sentado, ignorando meu traje risível e tendo meus braços por cima de seus ombros. Ela, com os pés já em cima do sofá, enroscando-se em cima desse e encostando sua cabeça em meu peito. Meu coração variava de calmo, pelo clima agradável, para acelerado, pelo pensamento de tê-la tão perto.

— Sabe — ela começou —, sua escolha de roupa pode ter sido um pouco extravagante, mas você está lindo. E cheiroso — disse enquanto elevava seu nariz até meu pescoço para suspirar o meu perfume.

Aquilo fez com que meu coração pulasse, e apesar de nervoso, eu olhei-a nos olhos.

Olhei para o labirinto daqueles dois pontos infinitos que emanavam o brilho de um castanho tão intenso, aquela boca naturalmente inesquecível, e foi assim que entregamo-nos no nosso primeiro beijo, que se moldou em um calor agradável em meu rosto e meu peito. Eu finalmente havia provado daqueles lábios de algodão que me obtinham tão fascinado.

O usual de um encontro assim é que tenha essa finalidade, geralmente, e era de se esperar só isso do primeiro, porém aquele calor alastrou-se rapidamente pelo meu ser, e aparentemente foi contagioso, e esse foi o estopim para que nós acabássemos vendo estrelas ali mesmo, naquele sofá, naquela sala. No meu apartamento.

O nervosismo havia tomado conta de meus movimentos, e eu nunca tremi tanto quanto havia tremido para desfazê-la de suas roupas. Das minhas, ela cuidou, me olhando nos olhos enquanto tirava minha gravata borboleta brega. Finalmente eu estava livre daquele maldito traje, e ela continuava em sua simplicidade e beleza estonteante.

Seus seios pequenos ficavam a me hipnotizar na altura do rosto enquanto nossos corpos balançavam em um ritmo lento e ela me sussurrava coisas que me deixaram ainda mais excitado.

Eu nunca havia sentido tanto prazer, nunca havia gemido tanto quanto naquela noite, enquanto nos desfazíamos suados e grudentos em ondas avassaladoras.

Um colapso naquele sofá. Eu nunca havia sentido tanto em uma noite só.

Após meus lábios serem tomados em um beijo de despedida, eu consegui dormir tão facilmente como não fazia há tempos, e no outro dia fui para o trabalho renovado, brilhando em pensamentos e palavras.

Meus colegas estranharam, me olhando de canto, mas eu continuei naquele mesmo ritmo.

O final de semana chegou novamente e nosso encontro se repetiu, fazendo com que quiséssemos encontrar-nos durante a semana também. Havia uma vontade mútua e incontrolável de ver-nos novamente.

Posteriormente, aquilo tornou-se necessidade, e nossa presença completava-se em tantos sentimentos pueris, quanto em um desejo ardente que se alastrava e fazia com que nós víssemos mais e mais estrelas no decorrer de nossos encontros.

Continuávamos a nos falar por mensagens. Trocávamos trivialidades, usualmente.

Era uma atmosfera leve, até que recebi a notícia de que ela estava partindo. Aquilo me deixou perplexo, lembro-me do vazio grande em meu peito. Mas ainda assim eu lhe disse que esperaria por seu retorno com paciência, e assim eu fiz.

Esperei.

Esperei por um mês. Comunicávamo-nos sempre.

Alguns meses. Comunicávamo-nos, mas nem sempre.

Um ano. Comunicávamo-nos com escassez.

Dois anos. Eu não obtinha mais respostas das minhas mensagens.

O vazio que eu sentia sem aquela presença apenas aumentou nesse tempo, e quando me dei por conta, senti que estava tão vazio quanto àquela época sombria antes dela chegar. Estava mais vazio ainda.

A soma de sentimentos ruins me deixou louco, e a raiva da volta daquele cotidiano maçante me fez parar de ir ao trabalho de uma vez por todas. Eu não possuía mais refúgio daquela realidade triste.

O ar me faltava. Concreto me prendia àquela cama novamente. Fui engolido por meus pensamentos e tudo o que eu via era cinza.

Eu não aguentava mais aquele cinza. Estava tão esgotado que tudo o que eu queria era livrar-me daquela escassez de cores, nem que pra isso fosse preciso trocá-la por um tom negro infinito.

Queria cegar-me de uma vez, e pra isso fiquei de pé no parapeito daquela janela. A janela onde uma vez eu havia encontrado meu refúgio.

Em frente àqueles prédios sujos e fedorentos seria o meu fim.

Olhei pra baixo e vi algumas pessoas olhando e alertando outras. Senti um calafrio, mas não senti vontade de desistência alguma, então apenas respirei fundo aquele ar frio da cidade.

Direcionei meu olhar para as pessoas que apontavam antes e percebi que um aglomerado havia se formado. Alguns apontavam, outros tinham o celular no ouvido, e tudo o que eu conseguia pensar é que deveria fazer aquilo logo antes que alguém tentasse me impedir de vez.

Um pouco de coragem ainda me faltava, mas eu não queria desistir.

Senti o vento mexer-me os cabelos e escutei gritos protestantes. Aparentemente, as pessoas estavam preocupadas de que eu fosse realmente fazer aquilo — e eu iria!

Meus pés foram mais à ponta.

Prendi o ar em meus pulmões.

 E quando eu ia soltar minhas mãos que ainda seguravam-se em algo, ouvi a porta do apartamento bater com certa força.

Aquilo poderia ter feito eu tomar um susto tão grande a ponto de simplesmente cair sem a total intenção, mas eu me virei para deparar-me... para deparar-me com ela.

Ela estava lá. Ela simplesmente estava lá, parada e parecendo ter corrido uma maratona para chegar onde estava. Prostrada em frente ao sofá onde nos entregamos um ao outro pela primeira vez, ela mantinha seus olhos preocupados e arregalados focados em mim.

Após dois anos, eu vi seu rosto de novo. Vi aqueles lábios novamente. Pude sentir algo novamente. Pude ver algo além daquela escala cinza.

Pude descer daquela janela que eu estava prestes a pular a qualquer momento.

 

Senti algo gelado atingir o meu corpo que tremeu no mesmo instante. Encolhi-me e aquela sensação veio mais forte, então abri os olhos e olhei em volta: eu estava deitado no sofá. O ar frio adentrava da janela de cortinas esvoaçantes. Meu apartamento estava, na verdade, uma bagunça, e perguntei-me se meus hábitos que adquiri com a presença dela não estavam se mostrando mais eficientes.

Naquele momento, percebi que o tempo parecia ter pulado misteriosamente, e não fui capaz de lembrar-me o que aconteceu após eu tê-la reencontrado.

Era tão estranho... Ela não estava mais ali. Procurei-a pelo apartamento, ela realmente parecia ter simplesmente evaporado de um momento para o outro, e eu havia acordado naquele sofá sem mais nem menos.

Resolvi contatá-la pelo celular, mas na minha caixa de entrada havia apenas mensagens de alguns colegas de trabalho mais próximos. Muitas chamadas perdidas constavam nas notificações; eram tantas que meus olhos despertaram-se de vez da sonolência que eu ainda sentia. Eu nunca havia recebido tantas, além do mais de um grupo pequeno de pessoas.

Então fui ler as mensagens; todas elas estavam carregadas de preocupação, como se eu estivesse doente ou algo assim. Entre elas, havia uma do meu chefe, e eu não entendi o que ele quis dizer com o meu “mau desempenho e péssima assiduidade”, e “demissão por justa causa”.

Meu peito acelerou. Resolvi caçar o contato dela de uma vez por todas, porém eu não achava. Tentei pesquisar pelo nome, exceto que...

Pisquei meus olhos e minha cabeça girou.

Senti-me perdido como nunca antes.

Eu não lembrava mais o nome dela.

Busquei desesperadamente entre todas as informações gravadas no meu cérebro, mas seu nome não estava em nenhuma deles.

Foi aí que me dei por conta: ela não possuía nome. Eu nunca havia perguntado. Ela nunca havia me dito. Esse fora sempre uma incógnita que eu nunca havia tentado descobrir.

Eu me sentia tonto e enjoado.

Olhei a data e meus olhos estavam prestes a saltar pra fora. Meu sangue corria rápido e a taquicardia estava no mesmo ritmo que minha respiração.

Aquilo não poderia estar acontecendo. Era impossível.

13/03/2015. Dia treze de março de dois mil e quinze.

Eu não sabia o nome dela — ela não possuía nome.

O tempo não havia passado.

Eu estava completamente perdido.

 

~

 

Na verdade, Kim SeokJin, no dia 15/03/2015 tu havia dormido e acordado no teu apartamento.

 Não houve restaurante, nem nenhum evento especial. Não houve luz alguma pros teus sentimentos.

Aquela semana inteira tu não havia saído ao menos para comprar comida. Alimentava-te com o que tinha nos armários desorganizados, ainda assim comendo pouco. Estava magro.

Não havia muito dinheiro também. Não foste ao trabalho por mais de um mês, nem recebeste ajuda de amigos — primeiro porque tu não tinhas, segundo que os teus colegas mais próximos, nas vezes que bateram à tua porta, foram ignorados. Teu único resto era a herança que teu velho pai deixou — mas deste velho tu não gostavas de falar, não é? Era apenas passado. Não fazia diferença; era melhor apenas conviver com a inércia de sentimentos bons e apenas os sentimentos ruins do presente do que escavar aquele passado horrível.

De qualquer maneira, como um grão de areia em uma onda gigante, foste afogado em águas turbulentas quando abriste os olhos para a situação. No teu coração, a escuridão tomou-te os últimos pensamentos daquela noite enquanto tu observavas a imagem daquela janela que te tomava a cabeça.

Tu nunca havia a encontrado. Ela nunca fizera parte do teu cotidiano, nem da tua dimensão, nem de nada da tua vida. O labirinto daquele olhar infindo lançado à ti, na verdade, nunca fora percorrido. Aqueles lábios nunca estiveram cravados por debaixo dos teus cabelos e dentro do teu cérebro — aquilo não ocorreu por mais do que algumas horas, e ainda, a existência deles nunca fora verídica.

Na verdade, Kim SeokJin, aquela janela tomou mais tempo em tua mente do que ela, considerando que ela existiu só por aquela noite. Tua ideia de refúgio não durou aqueles anos; não passara de uma ilusão de tempo indeterminado, porém ainda assim curto, dentro do teu próprio apartamento.

Sentado naquele sofá, após te acordar no dia 13, tu te relembraste de tudo o que tua mente havia projetado, tudo o que estava dentro da tua cabeça cansada, inclusive o turbilhão daquilo que te afligia.

Como um avalanche, tuas ideias voltaram sobre ti; tu caíste em teus joelhos ao chão daquele apartamento que continuava tão morto como sempre e olhaste com a intensidade que pôde para aquela janela.

E eu te observei. O tempo todo, em tua miséria, eu te observei. Inclusive os teus cacos se perderem em meio à bagunça, aos poucos, até que o tempo do teu mundo levou-te até a tua falsa felicidade em pensamentos para a turbulência nesses, naquela noite fatídica.

No ápice de tudo o que tu pudeste sentir, eu me implantei de vez em tua volta, para absorver tudo aquilo que teu corpo já fraco podia irradiar de mais.

Foi então que eu captei o teu peito se inflando com o ar que pôde guardar, como se fosse uma última tentativa de colocar pra dentro de ti algo que tu pudesse sentir além daquilo que tu já não era mais capaz de suportar. Achei que tu não terias forças para se levantar do piso frio do teu apartamento, e eu realmente poderia ser enganado por aquilo se eu já não soubesse o que se passava como um filme em tua cabeça.

Cambaleantes, tuas pernas te puseram de pé, ainda que corcunda e errante. Assim, caminhaste até a janela, e eu estava antecipando aquilo há tempos. Teu desejo contínuo de tentar segurar-te um pouco mais fez com que tu buscasse mais intensidade naquele momento, olhando para o céu ou qualquer outra bobagem, enquanto eu, em minha presença, apenas sentia a ambição crescente de saber teus últimos momentos.

Meus olhos — ou o que quer que aqueles fossem — estreitaram-se em uma última palpitação de ansiedade, conforme tu te prostraste na posição em que eu já te queria há tempos.

Teu peito ainda estava inflado com ar, aquilo já escapava por onde conseguia, e foi então que tu soltaste tudo aquilo, tudo o que estava guardado lentamente saía pelo teu corpo.

Na queda contínua, eu estava realizado. Eu pude presenciar e absorver teus momentos mais sombrios. Pude presenciar tudo o que tu havia caminhar pelo teu corpo, rodopiar na tua mente, sair pelas tuas partículas...

Até que se acabasse.

Até que o dia 13/03/2015, finalmente, se acabasse.


Notas Finais


Link do concurso: https://spiritfanfics.com/perfil/jornalecos/jornal/primeiro-concurso-de-fanfics-heteros-de-k-pop-6269603
Recomendação musical: https://www.youtube.com/watch?v=_7x1lXVebfM

E aí? O que acharam?
Ainda tô nervousror.

Lembrando que isso é uma história fictícia! Eu não quero influenciar nenhum tipo de pensamento negativo em vocês, tá gent? Plsss

Bem... Eu acho que é isso. Obrigada aos que leram, e alozinho pra Iara que é um amor e me deu suporte~ <3

xoxo


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