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História 14 Dias - A gente precisa conversar


Escrita por: Palavrasaovida

Capítulo 29 - A gente precisa conversar


Ana

Pela janela da sala, a cor mais escura do céu denuncia que é de madrugada. No tapete da sala, o reflexo da lua denuncia a cor de pele que mais combina com a minha. Sua boca tão bem desenhada. Os olhos descansando, fechados. O cabelo bagunçado.

Ver Vitória assim, com a expressão mais pacífica de todas, me faz querer tê-la colada em mim. Os últimos acontecimentos voltam a me incomodar, e a lembrança da expressão de Vitória dentro do táxi me faz querer fazê-la esquecer de tudo que aconteceu.

A olho de novo, dessa vez mais pra baixo. O peito respirando fundo e ritmado. A barriga descoberta depois de provavelmente se virar tanto no tapete. Incrível a capacidade que ela tem de me chamar a atenção, mesmo dormindo. Como cada pedaço dela parece desenhado. O corpo dela é arte. E eu sou a artista.

Não penso em mais nada, e contorno sua manchinha na barriga com meus dedos. Desenho círculos imaginários. Minha tela em branco.

Ela continua dormindo profundamente. E troco meus dedos por minha boca. Beijo molhadamente, e percebo que ela começa a despertar. Meu coração salta no peito, de desejo.

Vitória

Sinto cócegas na barriga, e desperto do meu sonho sobre táxis e filmes clichês.

Quando as cócegas continuam, olho pra baixo e dou de cara com Ana, em cima de mim, beijando minha manchinha. Meu corpo inteiro acorda, pedindo por mais.

Mas quando ela olha pra mim, sei que ainda tá bêbada. Isso não seria um problema. Mas as lembranças do que aconteceu voltam a me acertar em cheio, e não é assim que as coisas vão se resolver. Ana me trocou por Mike naquela hora, e lembrar daquele abraço apertado me faz segurar o rosto de Ana, que me olha sorrindo:

- Não Ana - O sorriso dela some. Mas ela começa a insistir, puxando minha camisa mais pra cima. Eu solto seu rosto e seguro a barra, puxando pra baixo. - Agora não, Ana! - digo com mais firmeza, mas ela parece não ouvir nada do que digo e começa a descer minha calça. - Para Ana Clara. Não é assim que você vai resolver as coisas!

Minha voz sai mais alto e ignorante do que eu queria, e Ana entende que isso não vai adiantar. Sai de cima de mim e levanta, um pouco tonta:

- Tudo bem, Vitória. Amanhã conversamos - Diz, num tom triste que corta meu coração. E se dirige pro seu quarto, batendo a porta, talvez matando alguém de susto no andar de baixo.

Ana

Em que caralhos eu tava pensando? Achando que iria resolver tudo transando com a Vitória. Deve ser o álcool, só pode.

Me jogo na cama e solto um grito abafado no travesseiro. Sei que ela não tem culpa de nada, que acha que eu também quis abraçar o Mike. Eu nem sequer expliquei nada e já fui me jogando pra cima dela. E sei que se fosse eu, também estaria chateada, e também não aceitaria uma transa em forma de desculpa.

Mas, mesmo assim, fico com raiva de Vitória. E durmo com essa sensação. O sono mais agitado que já tive em anos, sonhando com Marjorie, Mike, Vitória, acidentes, enquetes, braço quebrado e coração partido.

Vitória

Minhas costas doem com o chão duro. Meus olhos ardem com o sol que bate na minha cara. Quando faço força pra me levantar, solto um gemido de dor na cabeça, que parece que vai explodir em segundos. Ana escuta meu gemido e surge da cozinha. Quando me vê massageando as têmporas, solta um seco "fiz café", que me faz lembrar que nessa madrugada, praticamente a rejeitei. Em outras palavras, o dia vai ser um saco, porque não temos tempo de conversar, já que hoje tem show, e temos que passar o som.

Mesmo com raiva e magoada com Ana, é impossível não me apaixonar mais ainda, quando chego na cozinha e na bancada encontro minha xícara preferida, cheia de café, um comprimido pra dor de cabeça e um pão com manteiga, ainda na chapa, estralando. Ana vestida com uma camisola branca, e só. Ela nunca usa sutiã em casa. Mas quando ela vira pra pegar outro pão, e o sol bate mais embaixo, vejo que ela também não veste nenhuma calcinha.

Minha vontade é de tirar a única peça que ainda a cobre. Mas o clima é completamente desfavorável pra que isso aconteça. E a cara de velório que ela tá me faz pensar se vou conseguir conversar com ela sem perder algum dente. Mas eu que deveria estar brava, não ela. Fico irritada instantaneamente.

Ana

Por mim, eu ficaria o dia inteiro dentro de casa tentando explicar pra Vitória tudo que aconteceu. Quando olho para trás e vejo a cara de irritada que ela esboça, sei que tenho que explicar logo o que aconteceu. Mas lembro dessa noite e fico mais brava ainda.

O celular de Vitória toca, alto demais, e nós duas fazemos careta com a dor de cabeça que a música proporciona.

- Alô? - Vitória atende com o celular longe da orelha. - Tá bom, vou avisar. Até. - Era o Felipe. Quer que daqui 1 hora estejamos lá no teatro pra passar o som.

Não tenho tempo de responder e ela vai pro banheiro tomar um banho. Decido que vou explicar tudo antes do show, porque lembro de uma frase que o Fê sempre fala pra gente:

" Pra vocês pode ser só mais um show. Mas pra muita gente, é o dia mais feliz de suas vidas. Então façam valer".

Ele sempre diz isso, principalmente pra mim, que fico de mal humor com facilidade. E se não explicar o que aconteceu pra Vitória, vamos levar esse climão pro palco, e os fãs não merecem ver isso.

(...)

Vitória

- Vi, vamo conversar sobre ontem - Ana diz assim que saio do banheiro. Ela me olha dos pés à cabeça, já que estou só enrolada na toalha. Mas logo dá uma piscada forte e volta a me encarar, esperando uma resposta.

- Ana, eu queria muito conversar e resolver tudo isso. Mas, eu conheço você, e tu se conhece. Temos só 50 minutos pra ir pro teatro. Se a gente for conversar agora, vamos se atrasar. - Digo, o mais carinhosamente possível, pra não piorar o clima que já não tá bom.

- É verdade. No carro, talvez - Ela parece encarar tranquilamente e entra no banheiro, trancando a porta. E lembro daquele dia, no carro. Com certeza não é disso que ela tava falando. E com certeza ela ainda tá brava pelo que fiz a noite, porque não me lembro dela trancando a porta pra tomar banho.

(...)

Ana

"O motorista tá chegando aí pra pegar vocês".

Leio a mensagem que Felipe mandou e me sinto vitoriosa por estar arrumada, sem ter precisado da ajuda de ninguém e sem me desesperar. Coloco uma roupa bem nada vê, só pra passar o som. Espero Vitória sair do quarto e quando a vejo, não consigo desgrudar o olho.

Ela fica linda no preto que sempre usa. Mas esse vestido branco que ela nunca tira do guarda-roupa caiu tão bem no claro da pele dela e com o vermelho natural que a boca dela sempre tem, que mesmo sabendo que ela tá brava comigo, que eu tô brava com ela, me permito dizer:

- Você fica linda nesse vestido - Digo, um pouco seca. Mas ela parece gostar e sorri de canto, melhorando pelo menos 0,09% do nosso clima.

(...)

- Quer conversar agora? - Vitória me pergunta, enquanto o motorista nos leva ao teatro.

- Sim - decido não prolongar mais nenhum segundo, e explicar tudo que aconteceu. Mas antes que eu possa continuar, o carro para na frente de um prédio que conheço. E Júlia entra no carro.

A expressão de Vitória é de desânimo, porque não dá pra ter uma DR com Júlia dentro do carro. Ela diz 'no camarim' quase sem som, e entendo que vou ter que explicar tudo minutos antes do show. Ou vai dá bom, ou vai dá ruim.

- Uai, tá fazendo o que aqui? - Vitória pergunta pra Júlia, expressando a mesma curiosidade que eu.

- Uai, sem mim vocês não tem essas belezinhas aqui - ela imita o tom de Vitória, e balança um pano preto. Debaixo dele, um branco, e identifico ser nossos figurinos.

Júlia sempre deixa nossas roupas já no camarim pra não precisar estar presente em todo show. Mas como esse é o único dia em que eu não queria que ela atrapalhasse, ela teve que vir. Mas, deixo isso pra lá e puxo assunto com ela, que é claro, percebe rapidinho que eu e Vitória não estamos bem.

Ela arquea a sobrancelha pra mim, mas só faço que não com a cabeça. Ela entende que não quero papo e acabamos ficando em total silêncio, até que, 20 minutos depois, chegamos no teatro.

(...)

Vitória

Se fosse pra descrever a passagem de som em uma palavra, sem dúvida seria frieza. Ana não me direcionou nem um olhar, e depois de eu olhar 2 vezes, também parei. Porra, será que ela não entende que se jogar pra cima de mim depois do que ela fez não era a coisa certa a fazer? Pelo jeito quem vai levar a culpa por tudo isso sou eu.

Fico o tempo todo imaginando mil coisas na cabeça, o que só me deixa mais irritada e ansiosa pra conversar e ver o que vai acontecer.

Somos dispensadas por Felipe e vamos direto para o camarim. Nem entramos direito e Ana dispara a falar, rápido demais:

- Vitória, a gente precisa muito conversar. Eu não aguento mais esse clima. Você tá com essa cara de bunda o dia inteiro e...

- Só eu, né? - A interrompo, já vendo que a culpa está sendo jogada em mim. - Você tá super normal comigo, né Ana Clara?

- Eu sei que não tô. Mas tenho motivos, você sabe bem quais! - Sua voz se altera e seu rosto começa a corar. Sinto meu sangue ferver.

- Só tu tem motivo pra tá assim, então? O que você fez comigo ontem não é nada demais, pra mim não me importar? - Igualo minha voz, no volume da dela.

- Se você tivesse ficado lá eu poderia ter explicado. Mas você foge de tudo, não espera e já vai chamando táxi e indo embora - seu tom é de deboche, e fico indignada por ser tachada de culpada.

- Ficar lá pra que? Pra assistir você se agarrando com o Mike? Me poupe né. - Rio, porém a lembrança do abraço me desmancha por completo minha risada falsa.

- Que mané me agarrando, Vitória. Por isso que tamo assim. Você já vai tirando suas conclusões e não me deixa explicar. Aí fode né? - Ela parece não se importar em ser ouvida por alguém, e sua voz soa diferente do que estou acostumada.

- To esperando sua 'explicação' - Faço aspas com os dedos, e seus olhos os acompanham.

Ela abre a boca pra dizer alguma coisa. Mas nunca vou saber se é pra gritar mais ainda, ou realmente se explicar, porque alguém bate na porta. Abro. Júlia.

- Vamos se arrumar? - Ela pergunta e começa a tirar os vestidos dos cabides. Sem dúvida nenhuma, percebe o clima, e permanece em silêncio, enquanto eu e Ana começamos a tirar a roupa.

Meu coração ainda bate acelerado. Ainda sinto minhas bochechas arderem. Ainda tenho milhões de coisas entaladas na garganta. Ainda não tenho nenhuma explicação.



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