Ana
- Onde vai ser o show hoje mesmo? - Vitória me pergunta dando o último de uma série de beijos.
- No teatro das artes - Digo rindo, porque sempre sou a única a lembrar onde fazemos os shows.
- Aaah é!! Esse lugar é foda. - Ela diz e eu concordo. Sempre gostei de fazer show nesse teatro, que é em Sampa e fica perto de casa. A energia sempre é incrível, e nada como dormir na própria cama depois de um show.
- Mas a questão é: O que fazer até o show? - Vitória me pergunta contornando meu corpo com o dedo indicador e com uma sobrancelha arqueada.
- Nada disso, mocinha - Mordo seu dedo indicador quando ela passa por meu rosto. - Se a gente fizer amor de novo sem comer pelo menos um carboidrato a gente vai caí desnutrida no show.
Arranco uma gargalhada alta de Vitória, a que eu mais gosto.
- Tá, então só um cafézinho da manhã, aí a gente volta pra cá - Ela passa a mão na cama, com um olhar sedutor.
- Meu Deus, Vitória. Não sabia que tu era assim, não - Ela faz um biquinho de triste mas sorri com minha próxima palavra - Gostei.
Aperto o botão do celular e vejo as horas: 11:00. Assusto ao ver como as horas voam quando Vitória fica comigo.
- Meu Deus, Vi. Não é hora de café não. Precisamos almoçar. - Digo, já tendo uma ideia. - Já sei! Vou cozinhar pra gente.
- Meu Deus, Ana. Você não era assim não - Vitória imita minha frase - Gostei.
(...)
Vitória
- AH NÃOO!! - Ouço Ana gritar na cozinha e saio correndo.
- Ninha, que foi?? - Pergunto enquanto entro igual uma doida na cozinha, trupicando. E vejo Ana olhando pra dentro da geladeira, intacta.
Ela começa a rir do meu desespero.
- Primeiro, não tem nada nessa geladeira pra eu cozinhar. E segundo, se eu sofrer algum acidente, tô ferrada, porque tu é muito atrapalhada.
Fico indignada.
- Ana Clara. Primeiro, tem um mercado há 200 metros daqui. Segundo, quando TU - dou bastante ênfase no tu - caiu da escada, eu te peguei no colo e desci 2 andares sem cair em nenhum. Acho que atrapalhada não é a palavra certa. Talvez ágil.
- Vitória Falcão. Primeiro, Vamos no mercado, então. Segundo - ela diz se aproximando de mim, e termina a frase no meu ouvido - Ágil também serve. Principalmente na cama. - Ela sussurra a última frase e me arrepia inteira. E sai da cozinha rindo por ver que a provocação funcionou.
(...)
Ana
- Escolhe aí o que tu quer comprar que vou ali ver aquele quadro - Vitória diz, olhando fixamente pro quadro minúsculo que fica perto do caixa. Não consigo não rir e não me apaixonar mais com a visão dela observando cada detalhe do quadrinho, que retrata duas crianças felizes.
Vitória sempre me ensinou isso. A dar valor nas mínimas coisas. No sorriso de qualquer pessoa na rua. "Tu já reparou que quando vemos alguém rir, a gente sorri junto sem nem perceber?". Ela sempre me disse isso. No começo, eu nunca tinha reparado, mas de tanto ela falar, comecei a prestar atenção em Vitória quando via alguém rir, e ela sempre sorria junto.
Aprendi com ela a prestar atenção em cada tipo de arte. Das mais óbvias, como uma pintura, uma música, até as mais discretas, como o jeito de alguém se vestir, se maquiar, ou o som que alguém reproduzia ao batucar em qualquer lugar.
Pensando bem, fui completamente ensinada por Vitória. Se sou o que sou, devo muito a ela. E graças ao bom Deus, tenho a oportunidade de dividir tudo que aprendi com ela do meu lado. Não só como duo, mas como melhor amiga, e namorada.
- Ei, mulher - Vitória estala os dedos na minha frente e acordo dos meus devaneios nela mesma. - Tá viajando pra onde?
- Em tu - Sou sincera e ela sorri me dando um beijo estalado na testa.
- É difícil mesmo não olhar pra essa divindade - Ela aponta pra ela mesma, me fazendo rir de sua falta de humildade.
- Ai, Vi. Só tu - Me direciono ao caixa e pago a conta.
(...)
Vitória
- Só vai poder ver quando tiver pronto - Ana diz, me empurrando pelas costas, me expulsando da cozinha.
- Mas o cheiro tá bom demais. Tô com fome - Me jogo no sofá fingindo manha.
- Mulher, eu tive que esperar você se apaixonar por mim outra vez. Cê num vai morrer esperando um almoço. - ela diz voltando pra cozinha.
- Eu me apaixonei mais rápido que esse almoço - Digo, alto suficiente pra ela ouvir da cozinha. Escuto sua risada e rio junto.
Ana nunca cozinha. E o fato dela tá fazendo isso, trás na minha mente uma frase, que anoto, pensando numa possível música:
Por você eu viro até cozinheira, pra te fazer ganhar 3 kilos a semana inteira.
Faço de tudo pra você ficar só 5 minutos enrolando aqui na cama.
Faço de tudo pra você não ir. Porque quando você tá aqui eu só sei sorrir.
- Querida, o almoço tá pronto - ouço Ana dizer e acho graça por parecer que somos casadas. Olho pro celular e vejo que passaram 25 minutos depois que comecei a escrever, e só fiz essas frases. Compositora iniciante.
(...)
Ana
Vitória entra na cozinha sorridente por saber que vai almoçar. A pior coisa que existe é vê-la com fome. Mas a melhor coisa que existe é o bom humor dela depois de um belo almoço.
Ela se aproxima da panela e me olha. Faço que sim com a cabeça e ela tira a tampa. A fumaça da macarronada faz era fechar os olhos e respirar fundo.
- Que cheiro bom. - Ela diz enchendo o prato. Mas quando eu olho pro prato, vejo uma coisa que me faz bater na testa. Ela vê na mesma hora e faz uma cara de decepcionada.
Fiz um molho a bolonhesa. Com nada mais nada menos que ... Carne.
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