1. Spirit Fanfics >
  2. 2 - A Casa Vermelha >
  3. Cueca de Coelhinho

História 2 - A Casa Vermelha - Cueca de Coelhinho


Escrita por: Samuel_Super_

Capítulo 3 - Cueca de Coelhinho


Fanfic / Fanfiction 2 - A Casa Vermelha - Cueca de Coelhinho

A música era alta demais.

Nunca, jamais, pensaria que uma festa na roça fosse algo eletrônica ou um heavy como estava sendo daquele jeito. Sentei-me num puf enorme ao lado do sofá e estiquei meu vestido apertado e curto tentando esconder minhas pernas. Ajeitei o cinto e retoquei o gloss na mesma hora.

Até agora eu só tinha comido vários tipos de comida estranhos e percebi que os roceiros não tinha nada de pureza, na verdade eles eram os piores. Em cima de uma mesa de granito, um casal se beijava e tirava aos poucos uma parte da roupa enquanto faziam um shote estranho com vodka e conhaque.

Ali tudo era muito escuro e as luzes em lofts piscavam freneticamente me deixando tonta. Se você quisesse ir ao banheiro de cima, passaria por um corredor que era chamado de Corredor dos Ruídos, onde dava para ouvir os jovens transando loucamente nos quartos.

Levantei-me e peguei um copo de Coca que estava em cima de uma bandeja. Passei raspando em pessoas que eu nem conhecia pedindo licença para voltar ao meu cantinho desolado.

            - Ei! – Chad me saudou.

Ele estava sem roupa com apenas uma cueca enfeitada com orelhas de coelho saindo e a língua descendo.

            - Oie, você tá meio... – murmurei.

Ele riu.

            - Peladão! – gargalhou e eu o acompanhei. Ele tinha uma expressão moderna, diferente de Donovan que possuía uma expressão antiga. – Tá gostando da festa?

Olhei ao redor.                                           

            - Sinceramente, me surpreendi com a música e a quantidade de bebidas. – respondi. – Mas pelo menos vocês, daqui de Green Bay, sabem dá uma festa de cidade grande.

Ele sorriu. Segurou seu copo com mais força e o levantou.

            - Sexo, droga e bebida! – gritou ele.

            - ME ACOMPANHARÃO POR TODA A VIDA! – respondeu os outros jovens.

A música tocou mais alto e a bunda musculosa de Chad se afastou de mim.

Andei lentamente me apertando pelas pessoas tentando não derramar o copo nas pessoas. Algumas vezes isso acontecia, mas todo mundo estava tão louco que ninguém se importava. Pela primeira vez na vida entendi o motivo de Sodoma e Gomorra terem sido destruídas.

Às 02h da manhã, a festa ainda rolava louca com mais gente chegando e a troca das cuecas estranhas de Chad ocorrendo, como se fosse preciso usar aqueles brinquedos como o patriarca. Porém eu estava muito cansada. Andei cambaleante até onde a voz de Chad dava pra ser ouvida. Precisava me despedir dele.

            - Chad... – gritei hesitante.

Um cara vestindo roupas coloniais passou na minha frente com uma tocha na mão. Desviei dele quase caindo no chão pela aproximidade da luz natural do fogo. Quando olhei para a direção que ele sumiu, não havia chama nem nada ali. Eu devia estar tendo alucinações, entretanto afastei aqueles pensamentos da minha cabeça.

Dois garotos me seguraram tentando me beijar. Chutei as bolas deles e andei mais rápido para a porta. Alguém me puxou pelo pulso com a mão gélida e me virei já com a resposta na ponta da língua.

            - Nã...

Donovan tocou nos meus lábios em um sinal de silencio. Pisquei e de repente ele não estava mais ali. Andei para trás atordoada pelo timbre da música eletrônica. Esfreguei os olhos e ignorei aquilo olhando para trás.

Não sei o que deu em mim, mas subi de quatro a escada querendo fugir da música. Então me encontrei no Corredor dos Ruídos. Cambaleei até um dos quartos que estavam vazios enquanto as luzes do corredor piscavam, como se a energia quisesse acabar. Fechei a porta e me joguei na cama.

Então a merda aconteceu. Não ouvi a porta sendo aberta, então apenas fechei os olhos. Em questão de segundos, dois garotos grandes subiram em cima de mim e tiraram minha roupa. Rapidamente senti um deles dentro de mim.

Isso durou cerca de dois minutos enquanto eu gritava de dor. Nunca sofri um abuso, mas é aquele ditado: você começa a levar a serio quando acontece com você. Alguma coisa assim. Rapidamente abri os olhos e percebi que os caras usavam roupas largas e antigas, com chapéus de couro e barbas enormes. Eles eram novos, mas suas roupas não eram nada estilosas. As luzes começaram a piscar e então o cara que estava em cima de mim foi lançado para a parede oposta e ficou preso nela em posição de cruz. O outro cara foi derrubado no chão e arrastado para baixo da cama.

Móveis e objetos começaram a flutuar enquanto as luzes piscavam sem parar. Alguma coisa me puxou pelas pernas lentamente. Eu esperneava e gritava pedindo socorro. Então a mesma risada daquela noite reverberou.

            - Há-há! – aquilo me deixava morta de medo.

Tomei coragem e perguntei.

            - Quem é você? – gritei.

Então o trinco da porta foi girado. Tudo caiu num baque surdo, assim como eu e os caras. Chad entrou correndo e me pegou pelos braços.

            - O que houve Sally? – perguntou.

Um fio de sangue corria pela minha testa. Apontei para a parede oposta onde o cara tinha caído. Nada estava lá.

            - An? – perguntou Chad confuso. – Vou te levar até em casa. Você tem a chave de casa?

Balancei a cabeça negativamente. Pela sua expressão, Chad parecia ponderar sob a situação.

Depois daquele incidente na casa do meu vizinho, me lembro apenas dele me carregando nos braços até a escada de precisão que dava para meu quarto. Ele abriu a janela e me deitou na cama. Seu hálito bêbado inundava minhas narinas.

            - Boa noite. – ele disse me cobrindo.

            - Você me trocou, não foi? – perguntei sorrindo. O mundo girava.

Ele sorriu.

 

Acordei após receber uma luz solar maravilhosa na minha cara.

Decorrente da minha recente mudança, eu não tinha aula. Então passava os dias limpando a casa e, consequentemente, descobrindo coisas novas sobre ela. Ou melhor, antigas.

Na época da colonização, as redondezas reconheciam aquela casa como A Casa Vermelha. Não só pela cor que era, mas também pela quantidade de sangue que foi derramado no local: ataques frequentes de nativos destruíam colonos, mortes de nativos pelas mãos dos colonos através de, como eles chamavam a guilhotina, um “Bem Poderoso”.

Ao contrário da América Latina, os EUA e o Canadá foram colônias de povoamento, onde milhares de nativos foram mortos para manter a área “limpa”. Como A Casa Vermelha era praticamente um matadouro, milhares de nativos passaram pelo Bem Poderoso.

Até 1673, quando ocorreu uma longa época de infrutividade e muitos colonos morreram de fome. Assim a casa começou a sofrer mistérios sobrenaturais que geraram danos ao local, tanto economicamente quanto socialmente, já que muitos da alta sociedade iam festejar muitas noites ali.

            - Depois de muitos anos, a casa sofreu do tempo e de solidão. Assim a famosa Casa Vermelha ficou conhecida como Casa Fantasma. – disse Donovan sentado na minha cama de madrugada.

Peguei meu copo de café e tomei um gole.

            - E o nome CROATOAN escrito lá em cima no sótão? – perguntei. – Pesquisei na internet e apenas achei a lenda da colônia Roanoke.

Donovan se levantou rapidamente e rodou o quarto.

            - Algumas lendas indígenas afirmam que Croatoan era um demônio feminino que tinha influencia em alguns indígenas aqui na América do Norte. – ele respondeu. – Porém Croatoan era também uma ilha situada não muito longe de Roanoke, onde, supostamente, os desparecidos tinham se mudado. Entretanto nada foi achado lá.

As luzes estavam desligadas. Contei para Donovan sobre o que tinha acontecido semana passada na casa de Chad. Ele apenas disse que aquela área toda tinha muitos segredos que não deveriam ser desvendados por mim. Então me vi tendo um melhor amigo naquele lugar sombrio. Geralmente eu comecei há passar pouco tempo fora de casa e com meus pais. Na verdade, quase toda noite, meus pais saíam para fazer compras ou se divertirem.

Eu e minha irmã ficávamos assistindo séries, porém eu comecei a falar de madrugada com Donovan que, segundo ele, tinha problemas para dormir em casa.

            - Repasse a história da voz. – pediu ele.

Então repeti sobre o que a voz e a presença me diziam.

- Eu sempre me sinto daquele jeito estranho... A sensação interminável de que algo ruim vai acontecer, sinto aquele ar quente na nuca... – olhei fixamente para Donovan - E quando me olho no espelho, ele sempre está lá.

Donovan se aproximou curioso.

            - Ele quem? – perguntou.

            - Nunca cheguei a velo de perto. Porém eu já o avistei na floresta.

Ele anda encurvado e sempre carrega uma tocha. Sua capa negra é cheia de folhas. Apesar dos calafrios que sinto quando ele se aproxima, acho que ele não é a presença estranha que vive, ou não, falando comigo. Chegamos a certa etapa de nossa vida que não duvidamos mais de nada. Às vezes o mundo vira uma pegadinha obrigatória.

            - Posso te contar um segredo? – indagou.

Assenti. A cortina branca tremulou.

            - Acho que também vejo esse cara. – ele contou. – E acho que ouço a mesma voz que você.

Olhei fixamente para ele. O jeito que a luz da lua inundava aquele quarto parecia deixar o clima mais estranho. Talvez fosse pela porta do guarda roupa aberta, ou pelo modo antigo que Donovan me olhava, como se quisesse me devorar, que me lancei no seu colo e o beijei.

O beijo durou poucos segundos. Um grito de horror assolou toda a casa.

            - O que foi isso? – perguntei com os olhos arregalados.

Donovan estava estranhamente calmo.

            - A Casa Vermelha voltou a trabalhar. 



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...