História 20 anos depois - A salvação da Escola Mundial - Capítulo 50

A LIOA Toys foi inaugurada no dia 5 de janeiro, com muita bagunça e alegria. As crianças estavam extasiadas pela ideia de Alicia e Marcelina terem uma loja de brinquedos, achando que isso lhes garantiria estoque ilimitado de brinquedos (o que não era de todo uma mentira).

Conseguiram que a loja ficasse pronta a tempo com a ajuda dos amigos. Usando o recesso de final de ano, todos se dedicaram a ajudar na loja. Com Joana e Gabriela cuidando das crianças, acompanhadas de Bibi, o resto do grupo se dedicou totalmente à loja, apesar de as donas, Margarida e Laura não poderem carregar peso pela gravidez.

“Gente, isso ficou incrível demais!” Elogiou Hannah. “Acho que é o sonho de todo mundo quando criança... Crescer e ter uma loja de brinquedos.”

“Eu fico me segurando para não levar todas as Barbies que vejo para casa. Eles inventam cada uma incrível.” Confessou Marcelina.

“Torce para ser um menino, Mário... Ou sua casa vai virar o paraíso das bonecas.” Alfinetou Koki.

“Eu não ligo, cara... Vou adorar, independente do que for.”

“E quando vamos saber o sexo desse bebezinho?” Perguntou Valéria.

“Eu preciso estar de oito semanas para fazer o exame. Completo na sexta que vem, e faço o exame de sangue na segunda.” Contou Marcelina. “E você, Laura?”

“Eu to com dez dias a menos que você, Marce, então ainda vai demorar um pouquinho.”

“Caramba, sabe até o dia em que a criança foi feita?” Se surpreendeu Jaime.

“No fundo, a gente sempre sabe essas coisas, cara.” Confessou Jorge.

“É, e foi a primeira vez que nós transamos. Depois dela, ficamos alguns dias sem fazer nada. Então não tem muito para onde correr.” Explicou Adriano, vendo os amigos gargalharem.

“Majo, está tudo certo para a festa da Antônia?” Perguntou Alicia.

“Tudo encaminhado, amiga... No dia, minha mãe vai levar ela dar uma volta enquanto nós arrumamos tudo na casa dos meus pais, e a noite ela chega e encontra a surpresa.” Os olhos da estilista brilhavam.

“E para a festa do Jack amanhã?” Perguntou Daniel.

“É buffet, né? Não tem muito o que nós ajudarmos.” Explicou Margarida. “Mas está tudo resolvido já. Ele quis fazer da Liga da Justiça, a fantasia de Batman já está em casa... E as nossas também.”

“Vocês também vão usar fantasia?” Gargalhou Paulo.

“Só na hora dos parabéns. Ele pediu para eu ser o Superman e para a Marga ser a Mulher-Maravilha grávida.” Explicou o loiro, causando risadas. “O que nós não fazemos por eles?”

“Ainda mais que é a primeira vez que ele vai comemorar o aniversário com nós dois, e com toda a nossa família e amigos. E a única que vai ser como filho único.” Lembrou a mãe do menino.

“Então deixem ele curtir bem, e curtam bastante ele.” Sugeriu Alicia. “No próximo, com a Bela pequena, vocês vão estar bem cansados para isso.”

“Primeiro aniversário do Lucas, depois que a Isis nasceu, a gente nem sabia quem era.” Confessou Paulo.

“Isso foi parte culpa nossa, né? Porque vocês estavam nos ajudando com a Olívia.” Se desculpou Mário.

“Aliás, como vocês vão fazer com as crianças agora?” Perguntou Maria Joaquina. “Porque a loja funciona o dia todo, e eles estão de férias.”

“No caso, a Olívia ainda não pode ir para a escola, né? Ela só tem um ano.” Explicou Marcelina. “Mas minha mãe, a Nathalia e a Eloísa vão se revezar para cuidar deles três para nós. Nesse começo vamos ser eu, a Alicia, o Paulo e o Mário na loja... Mas o Mário trabalha a tarde e o Paulo começa na Mundial no fim do mês.”

“E eu não vou te dar moleza, Guerra... Não é porque você é meu compadre que vou deixar fazer corpo mole, sou uma diretora séria.” Carmen encheu o saco do amigo, que gargalhou.

“Quem diria, hein? Paulo Guerra preferindo ser professor a cuidar de uma loja de brinquedos.” Kokimoto encarou o amigo. “Posso dizer que presenciei um milagre.”

“Você ainda está conhecendo o seu milagre, cara... O meu começou quando o Lucas passou a existir, e mudou minha vida inteira. O Heitor ainda é muito recente na sua vida, espere para ver.” Profetizou o homem, abraçando a esposa e acariciando a barriga dela.

“É, eles são os nossos milagrinhos.” Suspirou Valéria, e o grupo encarou as crianças correndo ali perto, os maiores ajudando e “cuidando” dos menores.

~*~

Antes de abrir os olhos, naquele dia de manhã, o corpo e a mente de Margarida viajaram para aquele mesmo dia, três anos antes. A temperatura era negativa, a neve cobria o lado de fora do apartamento ao ponto de o resgate não conseguir chegar. Ela não tinha anestesia, não tinha médicos, não tinha nada... Apenas Diana ao celular, o medo e o amor pela criança que estava querendo sair de seu ventre.

Agora, o calor do lado de fora era arrebatador, seu corpo estava calmo, sereno, descansado, uma nova criança crescia tranquila dentro de si e à sua frente, estava seu anjo, aquele que com muito esforço ela tinha conseguido trazer ao mundo são e salvo. Jack significava algo como “abençoado por Deus”, e com certeza era o nome perfeito para aquele menino.

O pequeno dormia entre seu corpo e o de Jorge, e ela e o noivo estavam bem agarradinhos a ele. Sabia que sempre enchiam o filho de amor e carinho, mas queriam que fosse ainda mais intenso no aniversário dele.

Afinal, Jack era a benção completa de Deus na vida dos pais, e o dia de seu aniversário deveria ser celebrado como tal.

~*~

“Feliz aniversário, gatinho da madrinha.” Maria Joaquina abraçava o afilhado, o enchendo de beijos. “Todas as alegrias desse mundo para você, meu amor.”

“Parabéns, campeão.” Cirilo bagunçou os cabelos escuros do garoto, que riu. “O Kike quis trazer seu presente.”

“No caso, é meio grande para ele carregar, então eu ajudo.” Riu Guilherme, ajudando o irmão.

“Que presentão, tia Majoca. É maior que eu.” Disse Jack, surpreso.

“Espero que você goste, meu lindo.” A estilista o colocou no chão, vendo ele correr até os amiguinhos. “Parabéns, amigos.”

“É, parabéns pelo filho incrível.” Cirilo abraçou Jorge, enquanto Maria fazia o mesmo com Margarida.

“Valeu, gente... É uma sensação incrível o dia de hoje, ver o filho comemorando aniversário. Vocês vão ver no aniversário da Antônia, daqui alguns dias.” Sorriu o advogado.

“Acho que estamos mais ansiosos do que ela. Ela nem faz ideia do que vai acontecer.” Suspirou Maria, vendo as crianças abrindo o presente. “O presente foi ideia do Cirilo.”

“O quê?” Os pais de Jack encararam, vendo que o menino ganhara um jipe dos padrinhos. “Não acredito...”

“Apesar de tudo, nos divertimos muito com nossos carrinhos.” O carpinteiro deu de ombros, recebendo um sorriso do advogado. “Pedi para a Alicia e a Marce encomendarem para mim.”

“Tenho certeza que o Jack vai se divertir, e divertir muito os amigos, com esse brinquedo.” Garantiu Jorge. “Obrigado.”

“Não por isso. Vou ajudar eles a montarem.” Cirilo se afastou, e Maria foi atrás.

Margarida encarou o noivo, vendo o quão emocionado ele estava. O abraçou, deitando a cabeça em seu peito e recebendo um beijo na testa.

“Esse carrinho significa mais para eu e o Cirilo do que vai significar algum dia para o Jack. É a última pedra para cobrir todo o passado.” Suspirou o homem. “Como foi?”

“O quê?”

“O momento em que o Jack nasceu. Você nunca falou sobre isso.” Ele a encarou.

“Ah, nada do que vemos na TV, loirinho... O mundo estava acabando em neve lá fora, nós estávamos no apartamento da Diana, eu estava morrendo de medo do que poderia acontecer com o nosso filho, porque eu não tinha feito pré-natal. A Diana me deu uísque para beber, para anestesiar um pouco, e foi falando com um médico pelo telefone, um tal Dr. Jack.”

“Agora entendi de onde veio o nome dele.” Os dois riram baixinho.

“E depois do que pareceu uma eternidade, ele nasceu. Bem, saudável, grande, pesado. Na hora eu já dei o peito para ele, e ele mamou até o resgate chegar e nos levar para o hospital.” Ela continuou narrando. “Foi o momento mais lindo e mais assustador da minha vida. Segundo a Diana, eu só chamava por você, o tempo todo.”

“Acho que eu ouvia. Meu pai tinha ido passar o fim de ano comigo, e eu lembro de acordar em uma noite, uma das primeiras do ano, ouvindo você me chamando. Foi quando eu decidi ir atrás de você, mas demorei alguns meses para criar coragem mesmo.” Contou ele, acariciando o rosto dela. “Eu daria tudo o que eu tenho, Margarida, cada centavo e cada pedaço da minha herança, para ter podido estar ali, naquela tempestade, segurando sua mão enquanto nosso filho nascia.”

“O que importa é daqui para a frente, Jorge.” Ela o abraçou com mais força. “Em alguns meses, a nossa Bela chega, e você vai poder estar ali, segurando a minha mão. Vai segurar ela assim que nascer, eu vou ver você apresentando ela para o Jack, e nós vamos estar completos. Vai ser com o que você sentiu do carrinho... Tudo vai ficar completamente para trás, e à frente será só alegria.”

~*~

“Até o final do ano, eu vou estar rolando.” Garantiu Kokimoto. “Percebi no aniversário da Olívia... Por que a gente come tanto em festa de criança?”

“Porque somos crianças ainda... Pelo menos em espírito.” Jaime largou o prato vazio, outrora cheio de coxinhas. “Isso sem contar que temos uns cinco casamentos esse ano, né?”

“Aliás, gente... Nosso casamento foi adiantado.” Avisou Davi, surpreendendo a todos. “Ideia dos nossos pais... Vamos nos casar no começo de fevereiro.”

“Mas já está aí, um mês só.” Se estarreceu Marcelina.

“Ah, tudo já estava decidido, então só adiantamos um pouco.” Hannah deu de ombros.

“Papai, mamãe, vem ver eu pular.” Sara apareceu correndo, pegando os dois pela mão e puxando.

“Eu não sei se vou me acostumar com a Sara chamando a Hannah e o Bernardo de pai e mãe.” Comentou Adriano.

“Não importa nós nos acostumarmos... Para ela está tudo certo, e é o que importa.” Laura disse para o noivo, que sorriu.

“Agora vamos falar outra coisa... Ninguém aqui sabe usar camisinha mesmo?” Paulo disse indignado.

“Tá louco, irmão?” Reclamou Jaime.

“Vai dizer que não sacou porque eles anteciparam o casamento?” Perguntou Marcelina, vendo o homem dar de ombros. “Ela está grávida.”

“Tá?” Perguntou Kokimoto.

“Com certeza.” Concordou Mário. “Vocês não viram o Davi abraçando a barriga dela o tempo todo?”

“É todo mundo Xerox Homes aqui, isso sim.” Suspirou o Palilo, apanhando mais coxinhas.

~*~

“Ouvi dizer que seu casamento está chegando.” Valéria parou ao lado de Davi, que observava Hannah e Sara na piscina de bolinhas. “E boatos de que você vai dar um irmãozinho para a Sara.”

“Eu falei para a Hannah que o pessoal ia sacar, é todo mundo meio louco aqui.” Riu o judeu. “É, eu engravidei minha noiva de dezenove anos. Pode me julgar.”

“Davi, você só precisou de uma tentativa para me engravidar... Já devia ter aprendido que você é bom de mira.” Os dois gargalharam juntos. “E eu não estou em condição de te repreender.”

“Você está me zoando, né?” Ele arregalou os olhos. A mulher negou, rindo baixinho. “É como você disse... Eu te engravidei de primeira tentativa. Mas, espera... Nós...”

“Não é seu, Davi, respira. Depois da noite que a gente passou junto, eu menstruei.” Ele respirou aliviado. “Mas, desconfio que tem uma turminha bem animada querendo vir para esse mundo, sabe? Todos com pressa.”

“Achei que vocês não iam querer ter outro bebê.”

“Não queríamos, como falamos. Para nós, só a Sara e o Rafa estava perfeito. Inclusive o Benny usa camisinha sempre, mas... Como eu disse, tem uma galerinha que deve querendo vir junta.” Riu Valéria. “Mas eu to bem no começo ainda. Nós não contamos porque estamos esperando o primeiro exame, contar para a Sara e o Rafa. Nós fizemos ele ou ela na noite em que o Heitor nasceu.”

“Você está brincando, né?”

“Não, por quê?”

“Porque eu e a Hannah fizemos o nosso nesse dia também.” Os dois gargalharam de novo. “Foi a nossa primeira vez, e depois, com a loucura que tudo virou, nós ficamos um bom tempo sem nada.”

“Mesma coisa.” Riu a Ferreira. “Será que algum dia a nossa vida vai desentrelaçar, Davi?”

“Não, a Sara nunca vai deixar isso acontecer. Mas eu fico feliz de você construindo uma vida nova, junto com a nossa filha, o Rafael e o Bernardo... E esse novo anjinho que você espera.”

“Te digo a mesma coisa. Acho que esse é o nosso final feliz, não é?” Perguntou a mulher, emocionada.

“E por que tem que ter um fim, Valerinha? Vamos simplesmente chamar de recomeço, e agradecer por ele.” O judeu a puxou para um abraço, os dois emocionados.

~*~

“Graças a Deus você nunca inventou isso de fantasia, Lucas.” Suspirou Paulo, vendo Jorge e Margarida vindo fantasiados com Jack.

“Micão demais, papai.” Garantiu o menino.

“Ensine isso para as suas irmãs também, por favor.” Implorou Alicia, a pequena família rindo junto.

Jack estava vestido de Batman, pulando animado no colo do pai. O bolo era de quatro andares, lindo, todo em pasta americana e decorado da Liga da Justiça. A barriguinha de Margarida já ficava bem marcada no collant da fantasia, e todos babavam nela.

“Está feliz, filho?” Jorge perguntou para o garoto, que assentiu.

“É o dia mais feliz de todos os dias, papai.”

“É o seu dia, meu amor... Hoje é tudo para você.” Prometeu Margarida, beijando seu rosto. “Pronto para cantar parabéns?”

“Eu quero vocês dois me abraçando.” Pediu ele, já que a mãe só estava ao seu lado.

“Tudo o que você quiser, minha vida.” A mais velha o abraçou, indicando que acendessem a vela.

Todo o salão cantou alto e animado, mas Jack não prestava muita atenção. Ele pegou a mão de Jorge com uma de suas mãozinhas, e pegou a mão de Margarida com a outra, começando a bater uma palma engraçada e que os fazia rir.

“Agora fecha os olhos e faz um pedido para assoprar a vela, campeão.” Mandou o pai, os três se inclinando. “Um, dois, três.”

Assopraram as velas juntos, e logo o rosto de Jack era amassado e beijado pelos pais. O menino gargalhava, deliciado. Ele encarou os pais, sorrindo.

“Feliz aniversário, meu anjinho.” Desejou a mãe.

“Feliz aniversário, filhão.” Repercutiu o pai. “Te amamos muito.”

“Eu também amo vocês, papai... Demais.”