1. Spirit Fanfics >
  2. 2012 >
  3. Quando ninguém escuta

História 2012 - Quando ninguém escuta


Escrita por: Mallagueta

Capítulo 23 - Quando ninguém escuta



No capitulo anterior, enquanto a turma não sabia se ria ou se chorava com as futilidades de Carmen, Ângelo viu que estava na hora de ter uma conversa séria com Toni, Denise, Irene e Titi.  

- O que você tanto faz que não tem tempo pra sair comigo?
- Estou tratando de negócios, gatz.
- Que negócios?
- Não é da sua conta!
-Ah, qualé, Denise! Por que você não quer sair comigo?
- Porque preciso me concentrar em conseguir o dinheiro.
- Eu também tô juntando dinheiro e nem por isso vou deixar de me divertir um pouco.
- Pra você é fácil, sua família é pequena e sua irmã tá segura lá na nave do Astronauta. Aí ficam só você e os seus pais.
- Também não é assim... a namorada do meu pai anda causando problemas.

Denise se interessou.

- Ah, é? Vocês não gostam dela?
- Ela é que não gosta da gente. Toda vez que eu vou visitar o meu pai, ela fica com uma tromba enorme e quando ele não tá olhando, me trata mal.
- E por que você não conta pra ele?
- Sei lá, fica parecendo que eu tô fazendo fofoca só pra separar os dois.
- Fofoca, nada! Ele é seu pai muito antes de conhecer a tal sirigaita e vai continuar sendo mesmo depois de dar um chute nela. Você não pode deixar barato.
- Bom, tem outra coisa que eu não posso deixar barato também.
- O que seria?
- Isso! – Ele a pegou pelo braço e lhe deu um beijo intenso, pegando-a de surpresa. Denise ainda tentou se debater e acabou se deixando levar. Quem poderia imaginar que aquele sonso do Xaveco beijava tão bem?

__________________________________________________________

Cortar grama não era exatamente algo que ele gostava de fazer. Muito menos aparar os arbustos de um jeito tão... tão... convencional! O resultado estava ótimo, considerando o gosto das pessoas normais, mas para ele estava totalmente chato e sem graça. Se não fosse a necessidade, ele teria transformado aquele arbusto em uma privada ou talvez num alien.

“Nossa, eu não sei como as pessoas conseguem viver assim. Que falta de imaginação!” quando o serviço ficou pronto, ele saiu contando o dinheiro satisfeito por pelo menos ter sido pago. Em uma esquina, ele viu Mônica passeando com alguns cães e resolveu ir falar com ela aproveitando que o chato do Cebola não estava por perto.

- Tchau Mônica!
- Oi, DC. Estava cortando grama?
- É. Consegui um bom dinheiro hoje. E você?
- Também. As pessoas pagam bem pra a gente passear com os cachorros delas.

Ele pegou dois cães e foi caminhando junto com ela. Era um dia bonito e tudo parecia calmo.

(DC) - Como andam as coisas lá na sua casa? Seus pais ainda continuam não acreditando?
(Mônica) - Tá tudo na mesma. E os seus?
(DC) - Também, que coisa! Eles não se tocam de jeito nenhum!
(Mônica) - Pois é.

Os dois viram, para sua surpresa, Xaveco andando com Denise de mãos dadas e trocando beijos. Mônica perguntou.

- Nossa, o que será que deu neles?
- Sei lá, vai ver o Xaveco finalmente criou coragem. Ele tava de olho na Denise há um tempão, pelo que eu sei.
- Em se tratando da Denise, ele precisou de coragem mesmo. Ela nunca falou nada sobre ele!
- Bem, a gente tem que fazer algumas loucuras de vez em quando. Falando nisso, por que você não deixa o Cebola de lado e namora comigo? O fim do mundo está próximo, temos que aproveitar!
- Ai, DC! Você é mesmo um bobo, viu? – ela falou rindo e levando aquilo na brincadeira sem saber que ele estava falando sério.

De certa forma ele sabia que ela não ia aceitar sua proposta e não ficou aborrecido. O que lhe aborrecia um pouco era saber que não ia mais ter nenhuma chance com ela, do jeito que as coisas estavam caminhando. Cebola estava se mostrando um excelente namorado e não havia grandes problemas entre eles além das coisinhas que normalmente acontecem entre namorados. “Droga, por que eu fui dar o fora nela, que porcaria!”

Ele prometeu a si mesmo que se saísse vivo daquela, nunca mais iria perder outra oportunidade novamente. Seu hábito de contrariar que fosse para o inferno.

__________________________________________________________

A casa do traficante Armandinho Ribamar ficava no alto do morro e apesar de ter sido construída em uma favela, não perdia em nada para as casas mais elegantes do bairro Limoeiro. Era um imóvel de quatro andares, com aparelhos de ar-condicionado e TVs de LCD em todos os quartos. Além de amplos cômodos, havia uma piscina e um quarto com banheira hidromassagem e TV.

Na cozinha, eletrodomésticos de primeira linha, em aço escovado e mesas com tampo de vidro e passa pratos giratórios. Na sala, o teto era rebaixado e com luzes indiretas. Tudo ali exalava luxo e ostentação, bem ao gosto do traficante que gostava de exibir a todos o quanto era rico e bem sucedido.

Toni estava sentado na sala, esperando para receber o pacote que pretendia vender naquela semana.

- Oi, o meu pai já vem, tá? – uma moça bonita e vestida de forma espalhafatosa falou, fazendo com que ele desse um largo sorriso.
- Beleza, eu espero.
- Aqui, eu vi seu rosto na revista, você ficou um gato naquela foto!
- Valeu.

Ela sentou-se do lado dele, se desmanchando em sorrisos e exibindo um belo par de pernas bronzeadas. Seus cabelos, originalmente castanhos, tinham sido tingidos de loiro e ela exibia roupas de grife compradas com o dinheiro do pai. Há algum tempo ela tinha notado aquele rapaz bonito e estava de olho nele. Sempre que ele aparecia em sua casa, ela se arrumava com muito apuro tentando impressioná-lo embora na visão dele, ela parecesse apenas uma arvore de natal ambulante.

A moça se enfeitava com exagero, como se quisesse exibir suas jóias caras. Sem falar que ele também não sabia dizer se aquilo no rosto dela era maquiagem ou se ela estava tentando roubar o emprego de Patati e Patatá.  

O chefão do trafico daquele morro entrou na sala, seguido por dois capangas muito bem armados. Os dois brucutus eram típicos guarda-costas, altos fortes e mal encarados. Já o chefão tinha uma aparência muito mais civilizada.

- Valesquinha, meu bem, por que você não deixa o papai conversar com o rapaz aí?

Ela deu um tchauzinho para ele e saiu da sala rebolando. Toni procurou manter a compostura para não arrumar encrenca com aquele homem que tinha fama de matar pessoas como se fossem insetos.

- Ô Janjão, dá pra ele o pacote dessa semana.
- Sim, chefe.
- Você tá vendendo muito bem, rapaz. Arrumou uma freguesia de primeira!
- Valeu. Eles sempre querem mais e pagam muito bem.
- Assim que eu gosto.

O sorriso de Toni se desfez e ele olhou para a parede atrás do chefe com os olhos arregalados e o rosto pálido. Os outros três seguiram a direção do seu olhar e se depararam com uma trinca que não estava ali há dois minutos atrás.

- Ah, fala sério! Outra vez? – o homem reclamou indo até a parede examinar o prejuízo. O rapaz remexeu inquieto no sofá sem falar nada. Pelo que ele tinha ouvido falar do Franja, a ocorrência de terremotos pelo mundo estava aumentando e de vez em quando ele também sentia alguns tremores.

Assim que foi dispensado, Toni voltou logo para casa levando o pacote debaixo do braço. Por um instante ele pensou em falar para o sujeito sobre o que estava para acontecer e logo mudou de idéia. Aquele homem não ia acreditar e ele poderia acabar perdendo o trabalho.  

O celular tocou, indicando que tinha recebido uma mensagem.

“O Ângelo quer falar comigo? Eu heim? Ele tá querendo o quê?” aquilo era bem estranho considerando que ele nunca tinha sido muito próximo do anjo.

__________________________________________________________

Quim estava na cozinha da padaria assando cup cakes quando Magali apareceu e sussurrou.

- Oi, fofucho. O seu pai tá aí?
- Não, de boa. Ele saiu. E aí?

Ao saber que o sogro não estava, ela entrou apressadamente e após pegar uma rosquinha coberta com glacê e confeitos coloridos, ela respondeu.

- A pet shop fechou mais cedo hoje porque a dona precisou sair e ela não gosta de deixar a loja com os empregados.
- Que bom, assim você descansa um pouco. Ela tá te enchendo de serviço, não é?
- E como! Agora, quem cuida dos gatos lá sou eu. Ah, tudo bem. Pelo menos o emprego tá garantido.
- Isso é. Até julho você já juntou bastante dinheiro.

Ela deu outra mordida na rosquinha, limpou a boca que tinha ficado suja e voltou a falar.

- Será mesmo que vai acontecer alguma coisa em julho?
- E você ainda duvida?
- Sei lá, é que parece tudo tão calmo! Lá em casa nunca mais apareceu nenhuma trinca e o Franja falou que os terremotos aqui do bairro diminuíram.
- Pode ser, mas nos outros países aumentou muito.
- De repente, acaba não acontecendo nada!

Quim parou um pouco o que estafa fazendo e olhou bem para ela. Mesmo depois de tudo, Magali ainda continuava naquele estado de negação.

- Magá, se não acontecer nada, tudo bem. A vida continua como sempre foi. Ainda assim eu quero me prevenir pra não ser pego de surpresa e acho que você devia fazer o mesmo.
- É que eu não quero sair do nosso bairro pra morar num lugar estranho, Quim! Isso não é Justo!
- Não fique assim, gatinha. De repente, a gente vai poder abrir outra padaria novinha lá na Chapada dos Guimarães.
- Por que não pode ser aqui?
- Porque eu não sei como isso vai ficar, você não entende? Se o Ângelo falou pra gente sair daqui, é porque esse bairro vai ficar todo destruído!
- Depois a gente reconstrói!
- Certo, mas só se a gente sobreviver e pra isso temos que sair daqui. Se for o caso, a gente volta e refaz tudo. Senão, o jeito vai ser recomeçar a vida em outro lugar.

Ao vê-la colocando a rosquinha parcialmente comida no balcão da cozinha, ele percebeu que sua namorada não estava conseguindo aceitar muito bem aquela situação e ficou com medo de ter problemas para sair daquele bairro. E se ela resolvesse ter um ataque de birra e não sair dali de jeito nenhum?

__________________________________________________________


No parquinho do bairro, onde a turma se reunia para brincar quando criança, Ângelo estava diante de Irene, Toni, Titi e Denise. Os quatro olhavam para ele sem entender nada, esperando-o falar a razão daquele chamado repentino sendo que eles não o viam há muito tempo.

Ângelo olhava para os amigos tentando encontrar as palavras certas para falar com eles. Apenas aconselhar, sem condenações, sem julgamentos e sem broncas. Ele estava especialmente preocupado com Toni. D. Morte não lhe disse muita coisa, falou apenas para tentar convencê-lo a deixar aqueles negócios de lado. Se ela estava preocupada com aquilo, era porque devia ter um motivo muito sério.

- Gente, o negócio é o seguinte. Eu sei que vocês estão tentando juntar o dinheiro pra julho e sei que todo mundo tá com medo.
(Denise) – E?
- Só que, bem... eu estou um tanto preocupado com a maneira que vocês arrumaram para conseguir esse dinheiro, é isso. Olha, eu sei que o caso é grave, mas talvez vocês devessem tentar outro caminho.
(Irene) – Que outro caminho, você pode dizer?
- Sinto muito, mas vocês têm que encontrar por conta própria. Um anjo não pode interferir, só aconselhar.

Titi fechou a cara e cerrou os punhos.

- Pois nem isso você tá fazendo direito, porque contou tudo pra gente quase em cima da hora!

Toni o apoiou.

- É mesmo, cara! Se você tivesse falado com mais antecedência, a gente não ia precisar fazer essas coisas pra conseguir o dinheiro!
(Denise) – E agora fica aí querendo dar lição de moral? Ah, não vem com graça que eu não tô podendo!

Ângelo tentou se explicar.

- Não é tão fácil assim! Eu só tive certeza do que ia acontecer pouco antes de janeiro. Antes disso, eu cheguei a pensar que não fosse acontecer nada!
(Denise) – Antes de janeiro? Mas foi só perto do fim de fevereiro que a gente ficou sabendo! Por que demorou tanto pra nos avisar?
- Porque eu não podia falar nada diretamente, é isso!
(Toni) – Ainda assim, você ficou um mês inteiro sem dar nenhuma notícia. Com um mês de trabalho, daria para comprar uma passagem de avião e salvar uma pessoa, sabia?

O anjo abaixou a cabeça e depois voltou a encará-los.

- Desculpem, eu não fiz por mal. É que antes eu não sabia como fazer pra avisar a todo mundo! E agora, nem adianta a gente discutir sobre isso. O que me preocupa é o que vocês estão fazendo agora. Vocês não sabem do perigo em que estão se metendo. Especialmente você, Toni!  

Ele foi pego de surpresa e tentou se justificar.

- Eu não tô fazendo nada demais, só revendendo a mercadoria. Se eu trabalhar direito, não tem grilo nenhum!
(Titi) – Quanto a mim, vou pedir demissão daquele trabalho lá pelo fim de maio. Aí não vou ter mais nenhum problema.
– O que a Denise e eu fazemos também não é nada perigoso! – foi a única coisa que Irene pode dizer, já que ela não queria dar nenhum detalhe do que as duas faziam para conseguir o dinheiro. E também não havia mesmo perigo já que ela apenas vendia fotos, vídeos e roupas íntimas.

Ângelo não se deu por vencido.

- Pessoal, vocês não entenderam! As cosas não são tão simples quanto vocês pensam e tudo pode acontecer! Toni, você tá se metendo com gente muito perigosa! Aquele cara mata pessoas como se elas não valessem nada!
- E por que ele ia querer me matar? Eu não fiz nada contra ele!
- Eles não pensam dessa forma. Se ele cismar que vai te matar, já era! Cara, sai dessa enquanto é tempo!
- Nem pensar! Agora que eu tô faturando uma boa grana!
- Você já juntou tudo o que precisa! Agora chega!

Toni agarrou a gola da blusa de Ângelo e falou ameaçador.

- Se liga, mané! Você não manda em mim não, valeu?

Os outros três tentaram separar os dois antes que acontecesse uma briga e Toni continuou.

- Você fica aí dando esses conselhos sem utilidade, mas quem vai se ferrar quando tudo isso for pras cucuias é a gente!
(Denise) – O bonitão aí tá certo, Angel Boy. Eu tentei trabalhar honestamente, juro, mas eles pagam uma porcaria de salário e obrigam a gente a fazer coisas nojentas.
(Titi) – Eu acho que levaria uns dois anos pra ter o que eu consegui trabalhando com esse meu colega. Isso vai me salvar e salvar toda a minha família!

Ele deu um triste suspiro e tentou mais uma vez.

- Será que vale a pena salvar a vida e estragar a alma?
(Denise) – O Licurgo falou isso. Frase bonita, mas acho que ainda prefiro sair viva dessa confusão.
(Titi) – Além do mais, a gente não vai continuar fazendo isso a vida inteira, cara! É só pra conseguir o dinheiro, depois entramos na linha.
- Vocês não entendem!
(Irene) – Não, quem não entende é você! Eu quero sair viva disso tudo, ouviu? Quero sobreviver e salvar minha família! E pra isso, faço qualquer coisa!

Ângelo ainda tentou falar mais alguma coisa quando Toni o interrompeu.

- Se você tiver outra idéia melhor pra gente arrumar a grana, beleza. É só falar que a gente segue numa boa. Senão, melhor ficar quieto e não encher o nosso saco porque eu não vou ficar ralando feito um escravo pra ganhar miséria.

Sem falar mais nada, Toni saiu dali ignorando os apelos de Ângelo. Ele era o que mais precisava seguir sua orientação e no entanto estava sendo o mais rebelde de todos. Denise e Irene também foram embora, tristes e cabisbaixas. Mesmo tendo entendido o que o anjo queria lhes dizer, elas não conseguiam enxergar outra alternativa para contornar aquele problema.

- Titi... olha, eu sei que você não é assim cara!
- Mas Ângelo, eu preciso do dinheiro...
- Você já tem o suficiente, não tem? Olha, eu sei que esse esquema que você armou com seu colega rendeu dinheiro o suficiente pra você salvar sua família. Então já chega! Sai dessa enquanto ainda pode.

Ele pensou mais um pouco e tentou se justificar.

- É que se eu quiser sair, o Antonio vai pegar no meu pé, o patrão pode desconfiar e...
- Fica frio que aquele cara vai continuar sozinho e nem vai sentir sua falta. Quanto ao seu patrão, você mesmo disse que ele não vai perceber tão cedo. Olha, eu não posso mandar na sua vida, mas como anjo da guarda é meu dever te avisar quando você tá fazendo algo errado.
- Eu sei cara, acontece que...
- Acontece que se você for pego, vai pra cadeia!
- Glup!
- Isso mesmo! Você já tem dezoito anos, esqueceu? Já pode ser preso como adulto!

Ao ver que estava conseguindo fazer o rapaz vacilar, Ângelo continuou.

- Se você for preso, vai causar um transtorno enorme pra sua família e também vai perder todo o dinheiro que conseguiu.
- Isso não!
- Pois é. Sem dinheiro e jogado na cadeia, você não vai conseguir salvar ninguém. Abre o olho, cara! A vida é sua, mas você tem que pensar nos outros também.

Ângelo foi embora, deixando Titi sozinho no parque e muito assustado com o que ele tinha lhe falado. Seria mesmo possível ele ir para a cadeia? Ele não sabia. Antonio tinha lhe garantido que ia levar muito tempo até que o dono das peças percebesse a falcatrua. Talvez ele nunca descobrisse nada. Mas será que valia a pena arriscar?

Ele foi embora, contando mentalmente o dinheiro que já tinha conseguido. Eles estavam no final de abril e lá pelo dia 30 ele já teria em mãos pelo menos vinte mil reais. Talvez fosse mesmo a hora de parar enquanto ainda era tempo.

“Cara, ele tá certo, eu não quero ir pra cadeia de jeito nenhum! No fim do mês, eu vou pedir demissão daquele emprego. O Antonio que arrume outro pra aprontar junto com ele!”

__________________________________________________________

Toni andava pela rua ainda remoendo de raiva por causa do Ângelo. Que direito aquele intrometido com asas tinha de dar palpites em sua vida? Tudo estava correndo bem e ele não via perigo nenhum. Depois que a droga era vendida, Toni levava o dinheiro para o traficante e só então recebia sua parte. Tudo feito com honestidade. Enquanto continuasse assim, não haveria razão para aquele sujeito querer matá-lo.

Sem falar que ele estava caindo nas boas graças da sua filha. Ele sorriu levemente ao lembrar-se de Valeska se insinuando para ele com aquelas roupas provocantes. Da última vez que ele esteve lá, a moça conseguiu convencer o pai a deixá-lo ficar para o jantar, coisa que ele não tinha costume de fazer. Pelo visto, aquele homem fazia todas as vontades da sua filha.
 
Ele tinha ouvido de outros capangas que o Armandinho tinha perdido sua esposa numa troca de tiros com um rival, ficando somente sua filha que ele mimava como se fosse uma princesa. Nem Carmen recebia aquele tratamento dos seus pais.

“Então é isso, eu tenho que ficar bem com ela de qualquer jeito! Assim ele não vai querer me matar!” o plano era brilhante. Depois que conseguisse o dinheiro, ele pretendia ir embora sem olhar para trás. Ela que se virasse para se salvar depois.

__________________________________________________________


- Você quer falar comigo? – D. Morte perguntou ao chegar perto da mesa de Serafim.
- Exato. Acho que temos um problema imprevisto.
- Que problema? Os portais não estão funcionando adequadamente? Será que meus emissários não estão bem treinados?
- Não é nada disso. Diz respeito a um dos amigos do Ângelo. Parece que ele está se metendo onde não deve e isso pode significar mais um nome para sua lista.

D. Morte se concentrou um pouco e falou espantada.

- Espere um pouco, não é a hora desse rapaz! Ele ainda tem muitos anos de vida!
- Bem, isso pode mudar se ele continuar indo por esse caminho.
- Serafim, eu não sei se estou gostando disso. Esse rapaz a segunda pessoa que você diz pra eu levar antes da sua hora!
- Ah, sim... você ainda está aborrecida por causa das outras duas pessoas. Olha, para uma delas, o tempo de vida na Terra acabou de fato e não há nada que se possa fazer.
- Sei disso. O problema é que para a outra ainda não chegou a hora!
- Ela estará no lugar e na hora certa.
- Muitas pessoas estarão e nem por isso serão levadas. Por que você insiste tanto nesse caso?

Serafim remexeu-se inquieto diante do olhar fixo e penetrante da morte. Ele detestava quando ela o olhava daquela forma.

- Nesse caso, nada está definido também e as coisas podem mudar na última hora. Mesmo assim, você deverá fazer seu trabalho. Com esse rapaz é a mesma coisa. Se ele tomar juízo a tempo, será poupado.
- O Ângelo disse que ia falar com ele hoje...  
- E já falou, só que esse rapaz é bem difícil de lidar e não quis escutar as recomendações dele. Enquanto for assim, não há nada que se possa fazer.

Ela apertou com força o cabo da sua foice, gesto que usava para disfarçar seu nervosismo.

- Eu só espero que se for preciso levar esse rapaz (e talvez a outra pessoa), - Serafim falou olhando bem para o rosto dela. – Você não acabe amolecendo e deixando de fazer seu serviço.

A morte o olhou de volta com um olhar que o fez se encolher de medo e arrepender de ter falado aquilo. Às vezes ele se esquecia de que estava diante de uma das bestas do apocalipse. Sem falar mais nada, ela apenas virou as costas e foi embora.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...