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História 2012 - Falando mais do que devia


Escrita por: Mallagueta

Capítulo 27 - Falando mais do que devia



No capítulo anterior, Titi descobre que Aninha e Jeremias estão saindo juntos. Enquanto isso, Armandinho percebe que Toni está escondendo algo.

05 DE MAIO DE 2012

Na saída da escola, Jeremias esperava por Aninha com medo de que Titi tentasse alguma coisa contra ela. Que sujeito mais estúpido aquele! Durante os dias seguintes, ele a perseguiu mandando e-mails e fazendo telefonemas ameaçadores. Ele só parou quando a turma inteira acabou se voltando contra ele.

(Mônica) – Seu toscão, deixa a Aninha em paz!
- Isso não é da sua conta!
- É sim, ela é minha amiga!
- A Aninha não devia ter ficado com mais ninguém!
(Cascuda) - Você fez a mesma coisa e fez muito mais vezes!
- Eu sou homem, é diferente!

Aquilo foi um erro. Todas as garotas de uma vez o xingaram e lhe deram a maior bronca. Os rapazes ficaram de fora e não levantaram um único dedo para lhe defender. E nem tinha como.

- Vocês ficam falando essas coisas, mas o mundo é assim mesmo! Homem pode tudo e mulher não pode nada!
- Mas eu posso te dar uns socos, quer ver só?
(Cebola) – Deixa de ser mané, cara! Esse mundo vai acabar mesmo, tudo vai mudar! De que adianta ficar com essas besteiras agora?
(Nimbus) – Sem falar que a Aninha e o Jeremias estão namorando sério, quem tá galinhando por aí e ficando com todo mundo é você! Ela não fez nada de errado. Já você...

Não adiantou Titi protestar, gritar e nem espernear. Ninguém da turma ficou do lado dele. Ainda assim Jeremias achou melhor ficar de olho para que ele não tentasse fazer nada contra Aninha.

- Oi, gato! Você veio me buscar, que fofo!
- Claro! Eu não quero ver aquele zé ruela te rodeando.

Os dois foram embora, sob os olhares felizes das outras garotas. Aninha merecia mesmo alguém que lhe desse valor, diferente daquele Titi que não podia ver um rabo de saia que logo ia correndo atrás.

Quando viu que não ia acontecer nada de mais interessante, Denise resolveu ir para casa. Ela tinha que se preparar para aquela noite. Xaveco precisava trabalhar naquele dia e os dois não iam poder se ver. Melhor assim.

“É... lá vou eu ter minha primeira vez com um desconhecido... que coisa mais sem glamour!” ela foi pensando pelo meio do caminho. Irene ainda tentou fazê-la mudar de idéia, mas ela se manteve irredutível.

- Dei minha palavra, agora tenho que ir até o fim. Fica fria, gatz. Isso não vai demorar nada e no fim vou sair com vinte mil limpinhos!

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Assim que botou os pés dentro da casa do traficante, Toni foi recebido com vários beijos da sua nova “namorada”.

- Oi, meu lindo! Senti saudade!
- Eu também, boneca. E o seu pai?
- Ele já vem. Ah, vamos sentar um pouco, vem!

Eles se sentaram e Toni tentava não vomitar quando ela o beijou. Será que ela não podia ao menos ter tirado o batom? E que beijo era aquele? Por um instante, ele teve medo de ser sugado para dentro da boca dela. Que horror! Ela só parou quando o pai dela entrou na sala, para alívio dele.

Armandinho não gostou nem um pouco de ver aqueles dois se agarrando no sofá da sua sala. E também continuava desconfiando das intenções daquele rapaz. Por enquanto, ele pretendia deixar quieto, mas dependendo do que a ruiva lhe falasse naquela noite, muita coisa ia mudar.

Ao se lembrar do compromisso que ia ter aquela noite, seu humor melhorou consideravelmente. Tinha custado caro, mas ele sabia que ia valer a pena.

- E aí, rapaz, como vão as coisas?
- Tudo bem, seu Armandinho.
- Nenhuma novidade?
- Er... não senhor.

“Seu almofadinha desgraçado!” ele pensou ao ver que o rapaz estava mentindo. Era óbvio que ele estava escondendo alguma coisa.

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O dia passou rapidamente, mas se dependesse dela teria durado muito mais só para evitar o inevitável. Ao ver que não tinha mais jeito, Denise pegou sua bolsa e saiu, indo para o lugar marcado. Não demorou muito e o mesmo carro parou perto dela.

- Está pronta?
- Estou.
- Ótimo. Agora entra que temos muito que fazer.

O clube ficava em um prédio que tinha a aparência de um prédio comercial, feito apenas para negócios lícitos.

- É um bom disfarce, não acha?
- Eu nunca ia adivinhar.
- Claro que não. Tudo aqui é feito com muito sigilo.

Denise foi levada para um quarto, decorado com um luxo extravagante como se fosse um quarto de motel.

- Tome um banho caprichado e vista as roupas que estão em cima da cama. As sete em ponto, o cliente vai aparecer para reclamar a mercadoria. Quando tudo terminar, você recebe sua parte.

Tudo o que ela queria era sair correndo dali. A cada minuto que passava, Denise foi tomando mais consciência do que estava prestes a fazer. Como não podia mais voltar atrás, ela foi tomar um bom banho. As “roupas” que aquele homem disse para ela vestir eram na verdade uma camisola transparente com uma calcinha minúscula. Ela vestiu-se, morrendo de vergonha ao imaginar que um desconhecido ia vê-la daquele jeito.

“Ai, meu santo! Tomara que tudo seja bem rápido, tomara!”

Ao terminar de se vestir, ela sentou-se na cama e ficou esperando o cliente chegar. As sete em ponto, um homem entrou no quarto e ela levou um susto. Era impressão sua ou se tratava de Armandinho Ribamar, o traficante mais perigoso do estado e pai daquela árvore de natal ambulante?

- E aí, mocinha? Como vai? – ele cumprimentou e Denise se encolheu toda. Nem a maquiagem foi capaz de disfarçar a palidez do seu rosto e ele viu que ela estava quase a beira de um ataque de choro.

O homem tirou o paletó e sentou-se perto dela, procurando acalmá-la.

- Calma, gracinha. O papai aqui vai ser bem bonzinho pra você, está bem?

Ela não respondeu, apenas fez que sim com a cabeça. Seu corpo tremia e ao segurar suas mãos, ele viu que estavam geladas.

- E-eu n-nunca fiz isso não, moço... promete que não vai me machucar? – ela pediu num fio de voz e ele quis saber, muito intrigado.
- E por que você está fazendo isso?
- P-porque e-eu preciso do d-dinheiro...
- Precisa pra quê? Você sabe que estamos falando de uma quantia muito grande, não sabe?
- Sei...
- Então?

Denise olhou para ele com desconfiança.

- A g-gente não vai começar?
- Você é quem sabe. Podemos conversar um pouco primeiro ou ir direto ao assunto.

Ele deu uma olhada na moça e viu que ela parecia hesitar em falar a verdade, o que acabou lhe deixando ainda mais curioso. Uma idéia lhe ocorreu e ele resolveu jogar um verde para ver se colhia um maduro.

- Teria alguma coisa a ver com os terremotos de julho?

O plano deu certo. Ela pulou de susto e olhou para ele com os olhos arregalados.

- Então você sabe? Como? Quem te contou?
- Calma, docinho. Digamos que eu sei uma coisa aqui e outra ali. E então?
- É... eu estou juntando dinheiro pra sair daqui com minha família.
- Vai ser tão grave assim?
- E como! Não vai sobrar nada! O mundo todo vai se despedaçar!

O homem espantou-se com aquele jeito de falar e quis saber.

- Olha, de vez em quando alguns malucos falam em fim do mundo, só que o tempo passa e o mundo não acaba.
- Dessa vez vai ser diferente.
- Como você sabe?
- A gente tem provas.
- Ah, é? Por que não me fala?

Como queria adiar o ato o máximo possível, Denise foi falando tudo o que sabia, desde as descobertas de Franja, as pistas de Ângelo, os efeitos sobre os neutrinos sobre o núcleo da terra, o enfraquecimento do campo magnético e as revelações que teve através de Boris, o gato de Viviane. Armandinho ouvia tudo coçando a cabeça e achando que aquela garota era maluca.

- E você acredita mesmo nisso?
- Acredito sim e se fosse você, acreditava também.
- Na televisão eles não falam nada.
- Claro que não, né! Quem tenta falar alguma coisa, acorda no dia seguinte com a boca cheia de formiga!
- Tá falando sério?

Ela contou a ele sobre alguns cientistas importantes que tinham sido mortos por saberem demais. Falou também sobre o site do primo de Licurgo, das obras no vale Cho Ming e até do mapa que levava ao local.

- Um amigo meu tem acesso a um satélite e pode ver que eles estão construindo barcos enormes! Eu tenho até as fotos no computador lá em casa!
- Tem? E como a gente faz pra embarcar nessas... arcas?

Denise balançou a cabeça.

- Esquece. Cada passagem custa um bilhão de euros, nem você vai poder pagar isso.
- Que loucura!
- Loucura mesmo, é só pros bilionários. O resto vai ter que se virar como pode.
- Ainda assim, eu não estou acreditando.
- Eu também não acreditei, mas já está acontecendo. O número de terremotos pelo mundo aumentou e você viu como está aquele parque de Yellowstone?
- Como está?
- Tudo secando e morrendo! O lago secou, os animais morreram, os gêiseres ficaram mais quentes... isso você pode conferir por si mesmo!

A medida que a moça foi falando, ele foi percebendo que ela estava falando a verdade, ou pelo menos acreditava que estava falando a verdade. E diante de tantas evidencias, ele também começou a balançar.

- Você quer dizer que estão aparecendo trincas nas paredes das casas de todo mundo?
- Estão. Também deve ter aparecido na sua, não é? E tá até dando terremoto no bairro!
- Eu não percebi nada!
- Porque a maioria é de baixa intensidade, a gente não sente. Mas tem uns que parecem aquele tremor de quando um trem ou caminhão passa perto da gente.

Ele engoliu em seco, lembrando que já tinha sentido tremores como aquele.

- Você acha que esse bairro vai ser muito afetado?
- Vai sim. Pelos terremotos e também tsunamis.
- Não estamos tão perto do litoral assim!
- Com os terremotos que vai ter no mundo, os tsunamis ficarão gigantescos. Eu é que não vou querer ficar por aqui não!
- E para onde vocês pretendem ir se isso vai acontecer no mundo inteiro?
- O Ângelo, nosso anjo da guarda, falou que tem lugares seguros que não serão atingidos pela tragédia. A gente tá juntando dinheiro pra ir pra lá.

O traficante ficou bem interessado.

- Quais lugares, ele falou?
- Eu... acho que já falei demais... não é melhor a gente acabar logo? Eu não posso ficar aqui a noite inteira, tenho hora pra chegar em casa!
- Ora, vamos! Você já falou tanta coisa, o que custa dar só mais essa informação?

Ela não falou mais nada e pelo seu olhar, ele percebeu que aquela garota não ia dar mais nenhuma informação de graça. Bem, ele não queria mesmo perder tempo e resolveu encerrar o assunto por ali.

- Tudo bem, vamos começar a festa então, bonequinha. Dá um beijo no papai!

Foi preciso que ela respirasse fundo para não gritar de desespero quando aquele homem começou a agarrá-la. Dentro do quarto e sem ser visto por ninguém, Ângelo balançou a cabeça tristemente. “Droga, Denise... você não precisava estar fazendo isso...” ele não sabia se devia sair dali ou ficar para protegê-la. Será que ela corria algum perigo? Talvez não...

- Isso te entristece, não é?

Ângelo olhou para o lado e viu Serafim que também assistia a tudo com certa repulsa.

- Demais... só que eu não posso evitar.
- Acho que dá para fazer alguma coisa.
- Sério?
- Ela não é a melhor pessoa do mundo, mas tem alguns méritos. Você não sabe, mas tudo foi conduzido para acontecer exatamente nessa hora e nesse lugar.
- Por quê?
- Você verá.

Sem aviso prévio, o quarto tremeu levemente, balançando os moveis e alguns objetos. O lustre caiu no chão e uma grande trinca se formou no teto. Denise saltou da cama na mesma hora e correu até o canto do quarto tentando se cobrir com a camisola que tinha sido parcialmente rasgada. O traficante também levantou-se, frustrado e ao mesmo tempo assustado com aquilo. Alguém bateu na porta.

- Algum problema aí? – o dono do clube perguntou depois que ouviu o barulho.
- Eu não sei, o quarto tremeu e o lustre caiu no chão!
- Eu também senti o chão tremendo. Você quer trocar de quarto?
- Não, eu já comecei aqui, vou até o fim. Tranqüilo.

Ele fechou a porta e voltou-se para Denise, que olhava a grande trinca que tinha se formado no teto que ia até o começo de uma das paredes. Por mais que estivesse cético, o traficante era esperto o bastante para perceber que aquilo não foi normal. Eles mal tinham terminado de falar sobre o assunto e o quarto tremeu quebrando um lustre?

- Muito bem, mocinha, você me convenceu. Alguma coisa estranha tá mesmo acontecendo e eu quero entender isso direito.
- Eu já expliquei.
- Por que ninguém divulga?
- Porque já estão arrumando tudo na surdina, como eu já disse. O povão mesmo vai é se dar mal.
- Eu é que não quero me dar mal de jeito nenhum! Você disse que o tal anjo sabe dos locais seguros. Quanto você quer pra me dizer que locais são esses? Eu pago bem.

Ela pensou um pouco e respondeu.

- Eu só quero ir pra casa.
- Ah, qualé! Eu paguei trinta mil por você e vou sair sem fazer nada?
- Teve gente que pagou um bilhão de euros pra poder ficar seguro e mesmo assim não tem nada garantido. Perto deles, você tá conseguindo tudo de graça.
- E esses locais, são garantidos mesmo?
- São. Você pode escolher qualquer um deles.

O homem andou para um lado e para outro, frustrado por ter que sair dali sem nem ao menos se divertir um pouco. Se bem que depois do que aconteceu ele acabou perdendo um pouco a vontade de fazer qualquer coisa. E ela não deixava de ter razão. Trinta mil reais por uma informação que poderia salvar sua vida e a de sua filha nem era tanto dinheiro assim, considerando que ele estava disposto a pagar até mais. Por fim, ele concordou.

- Está bem. Eu direi para o dono do lugar que o negócio foi feito. Você sabe, eu não posso sair daqui falando que não fiz nada porque você me tacou medo com esse negocio de fim do mundo. Tenho uma reputação a zelar.
- Por mim tudo bem. Trato feito?
- Feito, mocinha. Você me fala quais são os locais seguros, e eu te deixo sair daqui sem fazer o serviço completo.

Um suspiro de alívio escapou dos lábios dela e Denise falou.

- Chapada dos Veadeiros ou dos Guimarães. Qualquer um deles é seguro.
- É meio longe!
- Mas não serão afetados pelos terremotos e os tsunamis não chegarão ali.
- Isso é...

Ele anotou mentalmente os nomes dos lugares e depois falou.

- Uma pena, mocinha... eu teria cuidado muito bem de você. Tem certeza de que não quer experimentar? – ela encolheu-se toda e ele deu uma risada. – Garota boba, dá pra ver que você não sabe nada mesmo! Está bem, eu sou um homem de palavra. Disse que deixaria você ir embora e vou deixar.

Denise trocou de roupa o mais rápido que pode, quase chorando de felicidade por ter sido poupada daquela situação nojenta. Ângelo suspirou de alívio, embora tenha ficado preocupado por ela ter dado informações aquele sujeito. Serafim adivinhou seus pensamentos e procurou tranqüilizá-lo.

- Não se preocupe, isso esse cara é esperto e teria descoberto de qualquer forma. Quanto a ela, talvez até pare de mexer com essas coisas.
- Obrigado, Serafim, valeu mesmo!

Na hora da saída, Denise pegou o pagamento com um grande sorriso no rosto e foi embora dali suspirando de alívio. Dentro do carro, ela ainda ouviu o comentário do dono do clube.

- Ele fez um serviço bom mesmo, viu só a cara da moça? Hahahaha!



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