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História 2012 - Atos e conseqüências


Escrita por: Mallagueta

Capítulo 28 - Atos e conseqüências



No capítulo anterior, Denise contou para Armandinho sobre a tragédia que está por vir em troca de não ser obrigada a completar o serviço.

10 DE MAIO DE 2012

- Então você esteve com os amigos dele ontem?
- Estive, papai! Eles são tão engraçados! Meio malucos, mas engraçados. Dá pra acreditar que eles acham que o mundo vai acabar no fim de julho? Que povo mais doido!

Ele se interessou.

- É mesmo? E o que te falaram?

Valeska contou ao pai a conversa que ouvira deles, era basicamente a mesma coisa que a Denise tinha lhe contado dias antes e os mesmos locais seguros que ela tinha revelado. Nada de novo.

- E o seu namorado, falou alguma coisa?
- O Toninho disse que é só uma modinha, sabe? Ele não acredita nessa historia de fim do mundo não!
- Não credita?
- Não mesmo! Eles estão juntando dinheiro pra fugir, mas o Toninho está juntando para comprar um carro, não é demais?

O homem franziu o cenho.

- Quer dizer que todo mundo daquela turma está dizendo uma coisa e somente ele, justo ele, está falando outra?

Ela também ficou séria.

- Ué, o que tem? Eles são malucos e o meu Toninho tem a cabeça no lugar!
- Ou será o contrário? De repente, o maluco aqui é o seu namorado.
- Ah, papai! Não vai me dizer que o senhor acredita nessa historia sem pé nem cabeça?

Armandinho esfregou o rosto com as mãos e resolveu falar a verdade para ela, explicando detalhadamente sobre tudo o que tinha descoberto nos últimos dias. Depois de falar com Denise, ele fez pesquisas nos sites que ela indicou e pode ver que algo estava mesmo acontecendo com o planeta. Acontecimentos estranhos e explicações duvidosas.

- Pois eu não acredito! Se fosse verdade, o Toninho já tinha me falado.
- É verdade, querida. Você sabe que seu pai tem muitos informantes e descobre muita coisa quando quer, não sabe?
- Sei... – algumas lágrimas começaram a correr pelo rosto dela.
- E sabe que eu nunca fui de acreditar nessas coisas.
- Não mesmo!
- Se eu estou falando nisso, é porque tenho provas suficientes pra saber que é tudo verdade. Calma, princesa, não precisa chorar que eu vou dar um jeito de tirar a gente daqui. Eu já sei quais são os locais seguros e estou negociando uma casa bem legal pra gente na Chapada dos Veadeiros.
- Mesmo?
- Mesmo! Tem até piscina, você vai adorar e vai fazer vários amigos novos!
- E o Toninho? Vai ver ele só está esperando uma chance pra me avisar!

Ele balançou a cabeça, duvidando muito daquilo. Não, aquele rapaz só estava se aproveitando da sua filha para cair nas suas boas graças. Ele queria apenas dinheiro. Ainda assim, ele resolveu fazer um pequeno teste.

- Eu vou dar a esse rapaz a chance de falar a verdade.
- Ele vai dizer a verdade, sei disso!
- Pois bem. Se ele te falar a verdade, tudo bem. Não vou fazer nada com ele. Do contrário, você sabe.

A moça concordou, esperançosa de que Toni ia falar toda a verdade. Assim eles poderiam ir embora juntos para a nova casa do seu pai e viveriam felizes. Sem falar que ela queria muito acreditar na sinceridade do rapaz. Tanto que nem falou ao pai sobre o dinheiro que vinha dando para ele. Eram quantias consideráveis, que ela usaria para os seus gastos pessoais. Fazendo assim, ela achava que estava o ajudando a comprar um carro. Se descobrisse que aquele rapaz estava mentindo, então seu pai poderia fazer o que quisesse com ele. Ela não ia mais se importar.

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Aproveitando-se de que seus pais não estavam em casa, Mônica resolveu contar o dinheiro que conseguira juntar até aquela data. Seu trabalho teve dias bons e dias ruins. Em alguns dias, ela conseguiu levar muitos cães para passear, mas teve outros em que não apareceu cliente algum.

“É... dá pra mim e pros meus pais e sobra um pouquinho... puxa!” ela lembrou-se de que seu pai tem dinheiro no banco. Quando pode olhar o extrato bancário, Mônica viu que eles tinham pelo menos quinze mil, resultado de anos de economia. Aquilo a tranqüilizou um pouco. Pensando bem, ela nem precisaria gastar o seu dinheiro, mas ainda assim achou melhor guardar tudo. E se não fosse possível tirar o dinheiro do banco? Cebola alertou que tudo podia acontecer e era preciso estar preparado.

Ela olhou mais uma vez para o amontoado de notas e moedas em cima da sua cama. A maioria das notas era de dois, cinco e de dez, poucas de vinte e o restante eram moedas. Como sair carregando aquilo tudo em caso de emergência? Talvez ela devesse tentar trocar aquilo por notas mais altas.

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Cebola estava terminando um programa encomendado pelo supermercado do bairro quando o celular tocou.

- Alô?
- Oi, Cê. Aqui, eu tava contando meu dinheiro e vi que ficou um amontoado de notas e moedas. Você não sabe um lugar onde eu posso trocar tudo por notas de valor mais alto? Assim fica mais fácil de carregar.
- É mesmo! Eu nem tinha pensado nisso! O meu também ficou num volume muito grande e isso não é muito pratico. No banco do bairro tem um cara que eu sei que pode ajudar a trocar esse dinheiro. Mais tarde a gente leva tudo pra lá e ele troca.
- Ai, valeu! Eu já consegui o suficiente pra comprar as passagens pra mim e pro meus pais. E você?
- O meu também vai dar tranqüilo e acho que vai dar pra mais umas duas pessoas também, se for o caso.
- Ainda bem. Agora só falta eles acreditarem na gente, né?

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Franja olhou para seu laboratório totalmente vazio. Tudo o que ele tinha ali foi vendido, mesmo as invenções inacabadas, já que as peças poderiam ser aproveitadas em outras coisas. Ficou somente o sismógrafo e seu computador ligado ao satélite da nave Hoshi. Assim ele podia continuar monitorando as atividades do sol. Do jeito que as coisas estavam caminhando, ele sabia que mais cedo ou mais tarde tudo acabaria entrando em colapso.

- Oi, amor? Nossa, você vendeu tudo! – Marina exclamou entrando no laboratório.
- É isso aí, não sobrou nada!
- O que é aquela pilha de caixas ali?

Ele sorriu orgulhoso da própria inteligência.

- Dei um jeito de armazenar todo meu conhecimento e meus projetos ali.
- Jura? Que tudo!
- Pois é. Eu vou colocar em uma caixa blindada para que a radiação vinda do sol não afete os dados e quando tudo se acalmar, vamos ter conhecimento para recomeçar a nova civilização.
- Que boa idéia! Só mesmo você pra pensar em algo assim! – ela o parabenizou com um beijo estalado na bochecha, deixando o namorado inchado de orgulho. – Sabe, acho que eu vou ver se faço a mesma coisa com meus livros de pintura! Temos que pensar no lado cultural também, né?
- No seu caso vai até ser mais fácil porque são de papel. Se você tiver algo em CDs ou pen drivers, entrega pra mim que eu guardo nas minhas caixas também. E fala pro resto da turma ir fazendo o mesmo.  
- Vou falar sim, aí todo mundo vai guardando o que é importante pra não se perder. Nossa, você é mesmo um gênio viu?
- Nem tanto... – ele falou com o rosto vermelho, mas feliz em ter sua genialidade reconhecida.

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Por que aquela garota estava fazendo aquela compra fenomenal? Por que ela precisava de tantas lanternas? Ele não fazia a menor idéia e não pretendia perguntar. O importante era a comissão gorda que ia ganhar naquele dia.

- Deixa eu ver, também vou precisar daquelas bolsinhas para kits de primeiros socorros, na mesma quantidade que eu falei antes. Também vou querer facas, canivetes e... deixa eu ver aqui...

Ela foi falando e o homem corria de um lado para outro tentando providenciar tudo. Do seu lado, Aninha começou a ficar preocupada com o tamanho daquela compra.

- Carmen, tem certeza?
- Tenho sim. Outro dia o pessoal reclamou que não vai poder montar o kit de emergência porque não podem gastar, então eu vou fazer isso pra eles.
- Puxa, que legal da sua parte!
- É, querida! Eu sou mesmo fabulosa! Ô moço, deixa eu ver aquela mochila ali, ó!

Após examinar a mochila detidamente e ver que era do tamanho certo, ela pediu.

- Vou levar 27 dessas aqui também, tá?
- Como é que é?
- Ué, eu preciso de 27. Não tem aí não?
- E-eu v-vou olhar no estoque.  

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Os dois caminhavam pela rua, tomando todo cuidado para não atraírem atenção indesejada. Mônica e Cebola estavam chegando do banco, onde tinham trocado o dinheiro que conseguiram com seu trabalho por notas de maior valor. Mônica levava sua bolsa junto ao corpo e Cebola olhava para os lados atentamente.

- Oi, Moniquinha! Oi, Cebolinha troca-letras.
- Grrrr! Tonhão da rua de baixo!

Os dois se encararam e seus olhos soltaram faíscas.

- Deixa pra lá, Ce! A gente tá com pressa, esqueceu?
- Com pressa de quê, linda?
- Não chame a MINHA namorada assim!
- Pois eu vou tratar de negócios muito importantes!
(Cebola) – Ah, tô sabendo. Vai lá então, mexer com gente que não presta!
(Mônica) – Toni, eu ainda acho que você devia deixar esse povo pra lá! É perigoso!
- Perigoso nada, eu sei me cuidar muito bem!
- Se você soubesse se cuidar tão bem, nem teria entrado nessa. – uma voz vinda do alto falou e todos olharam para cima.
(Mônica) – Ângelo? Bom que você chegou, vê se tenta enfiar um pouco de juízo nessa cabeçona dura dele!
- Toni, pela última vez: sai dessa enquanto ainda é tempo! Esse pessoal é perigoso!
- Vocês só sabem falar isso, mas até agora nunca tive problema nenhum com eles! Por que eu deveria ter medo?

Ângelo ia abrir a boca para falar algo quando viu D. Morte atrás de Toni lhe fazendo sinal para que não falasse nada. Era preciso que ele decidisse por si mesmo.

- Você deveria ter medo porque pra esse cara, a vida humana não vale nada. Quando ele resolver que não precisa mais da sua ajuda, já era!
- Até lá eu já estou longe daqui e ele estará sendo soterrado pelos terremotos.  

Ele lançou para ela um olhar suplicante, pedindo que ela lhe permitisse falar a verdade. A morte balançou a cabeça negativamente, mostrando que não pretendia fazer nenhuma concessão naquele caso. Denise tinha recebido auxílio de Serafim porque tinha algum mérito para merecer aquela ajuda extra. Aquele loiro narcisista, por outro lado, não tinha mérito nenhum. Seu coração era duro como pedra e ele não se importava em passar por cima dos outros para conseguir o que queria.

- É isso aí, galera. Eu vou faturar mais uma graninha hoje, valeu? – ele falou em tom de deboche e foi embora dali ignorando os apelos dos amigos. Ângelo o viu se afastar, sendo seguido pela D. Morte e sabia o que aquilo significava.
(Cebola) – Fala sério, que idiota!
(Mônica) – Será que a gente não devia ir atrás dele?

Ângelo teve um sobressalto.

- Nem pensar! Ele tá indo pra um lugar perigoso! Se forem atrás dele, podem se meter em encrenca.
- Mas...
- “Mas” nada, Mo! O Ângelo tá certo. O Tonhão que se vire pra sair das suas encrencas, a gente não pode fazer mais nada por ele.

Por fim, ela acabou concordando e os dois foram embora para suas casas. Além do mais, eles tinham uma grande quantia em dinheiro que tornava ainda mais perigoso andarem por aí sozinhos.

- Ângelo... – ele virou-se e viu Nina diante dele.
- Eu não consegui convencer o Toni... ele... ele vai... – o rapaz começou a chorar, sendo consolado pela namorada.
- Você fez tudo o que podia, amor! Fez tudo o que podia fazer!
- Mas eles vão...
- Eu sei... também vi D. Morte indo atrás dele.
- Não posso deixar, isso não é justo! Tenho que fazer alguma coisa!
- Você sabe que não pode interferir no trabalho dela!
- Sei disso, mas ainda posso tentar fazer o Toni mudar de idéia. Vou atrás dele!

Sem pensar em mais nada, ele saiu voando dali a toda velocidade.

Toni tinha chegado na base do morro e começou a subir a ladeira. Uma voz falou em seu ouvido.

- Toni, volta pra sua casa! Ainda dá tempo!
- Heim? - Ele falou em voz alta e depois sussurrou. – Me deixa em paz, tá legal? E pára de falar na minha cabeça!
- Você tá correndo um grande perigo, cara! Ele já sabe!
- Sabe o quê?
- Que... humffff!
- Ângelo? Eu heim!

Ele continuou subindo o morro e não viu que Ângelo se debatia tentando se libertar de sombras escuras que tinham se formado ao redor do seu rosto.

- D. Morte, o que foi isso? – ele perguntou quando pode se libertar.
- Seu tolo! Mais uma palavra sua e você ia ter sérios problemas com Serafim! Você quer ser mudado de setor e perder a guarda dos seus amigos? É isso que você quer?
- Mas ele está em perigo!
- Esse rapaz já foi avisado, mais do que isso seria interferir no livre arbítrio dele!
- Isso não é justo! Eu ainda tenho que falar com ele!

O anjo tentou voar atrás de Toni e sentiu algo segurando suas asas. D. Morte o puxou de volta para trás e segurou a gola da sua camisa.

- Nunca, sob hipótese alguma, interfira em meu trabalho ouviu? – ela falou entre dentes, fuzilando o rapaz com os olhos. – Esse humano imbecil teve toda chance para mudar de idéia e não ouviu ninguém. Pois que agora arque com as conseqüências dos seus atos.
- D. Morte...

Ela o soltou, um tanto arrependida daquele gesto brusco e falou em um tom menos ríspido.

- Ângelo, se quiser você pode vir comigo para ampará-lo quando tudo terminar, mas não vou permitir que você interfira.

Ele abaixou a cabeça e acabou concordando. Pelo menos aquilo era melhor do que nada.

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Chegando na casa do traficante, Toni foi recebido por Valeska que tinha se arrumado como sempre. Ridícula e espalhafatosa. Ele a cumprimentou com um suave beijo nos lábios, mas ela não ficou satisfeita com aquilo e lhe deu outro quase enfiando sua língua na garganta do rapaz.

- E aí, minha princesa? Cadê o seu pai? – ele perguntou assim que conseguiu se libertar dela.
- Papai teve que sair um pouco. Vem, vamos esperar ele lá perto da piscina.

Foi com muito custo que ele não mostrou descontentamento. Ficar sozinho com aquela garota não o agradava nem um pouco. Se ela ao menos soubesse se vestir, até que daria para ter alguma diversão.

Eles se sentaram no banco e ela começou.

- Nossa, o dia tá lindo hoje, né Toninho?
- Está sim, gatinha. Aqui, seu pai vai demorar muito?
- Ué, deixa ele demorar! Aí você fica pra jantar com a gente. Você também não quer ficar sozinho comigo um pouco? Dá pra fazer muita coisa, sabe?
- Er... eu não quero te faltar com o respeito...
- Seu bobo, não precisa se preocupar com isso não!

Ela o segurou pela gola da camisa e lhe deu outro grande beijo, que ele correspondeu com má vontade. Sua intuição feminina apitou na hora e ela percebeu que ele estava tenso. Será mesmo que seu pai estava falando a verdade? Decidida a tirar a prova, ela resolveu ir direto ao assunto.

- Sabe, Toninho, eu fiquei o dia inteiro pensando naquilo que seus amigos falaram...
- O que foi? Aquele papo doido de fim do mundo? Que coisa, eu já disse que aquilo é só viagem da cabeça deles.
- Engraçado... por que só você não concorda?
- Por que eu tenho os pés no chão. Eles é que ficam nessas modinhas de profecia maia, fim do mundo, essa bobajada toda.
- Mas você tá juntando dinheiro...
- Dinheiro para comprar um carro e levar uma princesa como se deve! – ele falou dando um beijo em sua mão e exibindo seu melhor sorriso.

Por um instante, ela vacilou e quis mesmo acreditar na sinceridade dele. Não, seu pai nunca errava. Ele jamais iria acreditar em algo sem ter uma razão muito forte para isso. Aquele sujeito era o mentiroso ali.

- E se alguma coisa fosse mesmo acontecer, você me avisaria?

Toni desviou os olhos do rosto dela e perguntou.

- Por que isso agora, linda? Vamos deixar esse assunto bobo de lado!
- Você não me respondeu. Fala, vai! Olhando nos meus olhos! Você me avisaria? Falaria a verdade pra mim?

Ele continuou tentando se esquivar, não respondendo a pergunta dela e nem olhando em seus olhos. Por que aquela garota tinha que ser tão chata? Um tapa estalou em seu rosto, fazendo-o olhar para ela assustado.

- Seu cachorro sem vergonha! Papai!
- Como é que é?
- Papai!

Armandinho saiu de casa, junto com seus dois capangas e Toni começou a tremer de medo.

- Valeska, gatinha, o que está acontecendo?
- Vai pra dentro, querida. Eu me resolvo com ele.

Ela saiu dali chorando sem nem mesmo olhar para o lado dele. Não lhe importava mais o que seu pai pretendia fazer com aquele aproveitador. Ninguém partia seu coração daquela forma. Quando a moça entrou em casa, o traficante olhou para ele com um olhar duro e assassino, falando com a voz ameaçadora.

- Parabéns, seu idiota. Você abusou da minha confiança e partiu o coração da minha filha. Foram dois erros graves que irão te custar muito caro!

O rapaz ficou apavorado.

- O-o que é isso, seu Armandinho? Eu não fiz nada, juro! Olha aqui! Eu trouxe todo o dinheiro das drogas, tudo certinho!

Um dos capangas pegou o dinheiro da mão dele e conferiu a quantia.

- Está tudo certo, chefe!
- Viu só? Não roubei nem um centavo.
- Não se trata disso, seu moleque. Você sabia do que vai acontecer em julho, sabia dos terremotos e não falou nada! Estava me usando esse tempo inteiro pra conseguir o dinheiro e pretendia ir embora e deixar a gente morrer aqui!
- Isso? N-não, é só uma t-teoria b-boba de fim do mundo!
- Não, não é teoria e você sabe disso. Você estava usando minha filha pra cair nas minhas boas graças e quando chegasse a hora, você planejava ir embora e deixá-la pra trás! Isso eu não vou admitir de jeito nenhum! Ninguém me engana. Janjão!

O brutamontes deu uma coronhada na cabeça do rapaz, que caiu desacordado no chão. Ângelo assistia a tudo se esforçando para não interferir conforme havia prometido. Por que as coisas tinham que acabar daquele jeito?

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- Alô? Que foi careca?
- Cascão, a mãe to Tonhão ligou pra você?
- Ligou, cara! Ela tá procurando ele há um tempão e achou que ele estivesse aqui em casa... o que tá pegando?

Cebola explicou a situação para o amigo, que ouvia tudo chocado e sem acreditar.

- Cara, você tá falando sério? O Tonhão mexendo com drogas?
- Fala baixo, cabeção! Hoje ele foi lá pro morro falar com o traficante e parece que ainda não voltou.
- Peraí, já passou das oito da noite! Isso é ruim, não é?
- Muito ruim! A gente vai ter que falar a verdade senão o bicho vai pegar pro Tonhão! Porcaria, ele sempre fica dando trabalho!

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Ele não sabia há quanto tempo estava trancado no porta-malas daquele carro. Tudo estava escuro e ele sentia dores pelo corpo por causa da posição. O veiculo pareceu rodar por muito tempo, talvez por horas. De repente, o carro parou e alguém abriu o porta malas. Do lado de fora, tudo estava escuro e ele viu apenas o facho de uma lanterna apontando para seu rosto.

- Sai logo, moleque! Eu não tenho a noite toda! – uma voz grossa e rude falou, segurando-o pela gola da camisa e fazendo com que ele saísse à força.

Toni mal conseguia se manter de pé. Que lugar era aquele? Parecia um local ermo, sem nem mesmo um poste de luz por perto. Só mato e o som dos grilos cantando ao fundo.

- Gente, peraí! Faz isso não! – ele começou a implorar pela sua vida. Nenhum dos dois se comoveu com aquelas súplicas.
- Ninguém mandou você querer enganar o chefe, agora vai se ferrar bonito!

O homem o levou para longe do carro e fez com que ele se ajoelhasse no chão. O cano frio de uma arma encostou em sua nuca e o rapaz chorava feito criança, se arrependendo pela primeira vez por ter se envolvido com aquelas pessoas perigosas. Tarde demais.

- D. Morte, não tem jeito de ele não sentir nenhuma dor? Pelo menos ele tá arrependido!
- Arrependido porque vai morrer, não porque tomou consciência do seu erro. Aff! Está bem, vou dar um jeito nisso, não custa nada mesmo.

Toni estava de olhos fechados, tremendo e chorando como nunca tinha chorado em toda sua vida. Um dedo frio segurou seu queixo e ergueu seu rosto. O rapaz deparou-se com uma mulher pálida vestindo um capuz preto e ao ver aquela foice brilhando sob a luz fraca da lua, ele percebeu quem estava a sua frente.

- Rapaz bobo. – uma voz baixa e fria lhe falou. – Você ainda tinha muitos anos pela frente.
- Eu... eu não quero morrer!
- Tarde demais. – ela encostou nele sua foice, fazendo seu corpo tremer levemente. Toda sua vida passou por seus olhos em uma fração de segundo e assim que o homem deu o tiro, ela tirou o espírito dele do seu corpo rapidamente para que ele não sentisse nenhuma dor. A morte foi instantânea.

Ele olhou para os lados, sentindo-se confuso e quando deparou-se com seu corpo caído no chão com uma poça de sangue se formando, Toni começou a gritar apavorado. Seu corpo estava morto! Um corpo tão bonito, tão bem cuidado e cheio de vida! Ele chorava, lamentava e implorava por uma nova chance.

- Me deixa voltar, por favor! Eu faço qualquer coisa!
- Isso não é possível. Agora só te resta seguir em frente. Ângelo, pode aparecer.

Quando o anjo apareceu, Toni correu para ele ainda chorando e implorando.

- Cara, faz alguma coisa, por favor! Eu não quero morrer! Não posso!
- Foi mal, Toni. Eu não posso fazer mais nada por você!
- Não, isso não é verdade! Tem que ter outro jeito!
- Melhor você vir comigo, eu vou te encaminhar pro lugar adequado onde você pode se recuperar.
- Minha mãe, minha família!
- Devia ter pensado neles antes de entrar nessa. – D. Morte falou com frieza.
- Pois eu pensei, sua mocréia! Eu fiz tudo isso por eles!
- Humpt! – ela virou o rosto para o outro lado e continuou andando. Logo atrás, Ângelo ia amparando Toni que estava com dificuldade para andar.
- Não tem mais jeito, cara. Você tem que vir com a gente. Acabou.

Ao ver que não tinha outra alternativa, o pranto dele aumentou mais ainda, deixando o anjo de coração partido por causa do rapaz. E ainda havia o resto da turma. Como eles iam receber essa notícia?

- Ângelo, o dinheiro que eu juntei está na primeira gaveta do meu armário! Pega esse dinheiro e entrega pra Mônica, dá pra fazer isso?
- Er... D. Morte?
- Sim, Ângelo. Você pode fazer isso.
- Toni, esse dinheiro não é pra comprar passagens pra sua família?
- É sim, mas eles podem acabar gastando com outras coisas e ficar na mão depois. Entrega pra Mônica que quando chegar a hora certa, ela devolve pra eles.
- Pode deixar, cara. Agora vamos, você tem que seguir aquela luz.

Toni foi embora, acompanhado por dois emissários que o conduziram ao local certo. Tudo acabado. Ângelo deixou que suas lágrimas caíssem livremente, lamentando a morte do rapaz.

- Eu sinto muito, Ângelo. De verdade. Mas lembre-se de que você não é responsável pelos erros desse rapaz. Foi ele quem escolheu o próprio caminho.
- Ainda assim...
- Agora está feito e não há como mudar.
- E aquele patife? Vai sair livre dessa?

Ela deu um sorriso enigmático.

- Não. O que é dele está guardado. Quando chegar a hora, eu me encarrego dele.

Os dois foram embora dali e Ângelo ainda sentia o coração apertado só de pensar em como seus amigos iam receber aquela notícia. Com certeza seria o primeiro grande golpe que eles iam receber nos próximos meses.



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