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História 2012 - O manto negro da morte


Escrita por: Mallagueta

Notas do Autor


É isso aí, gente. Como eu não postei nada nesse fim de semana, pra compensar eu resolvi fazer uma dobradinha hoje. E acho que vcs vão gostar desse capítulo.

Capítulo 34 - O manto negro da morte



No capítulo anterior, Valeska decidiu que precisava descontar na Mônica toda sua frustração por ter sido enganada pelo Toni.

10 DE JUNHO DE 2012

O centro da cidade estava com o movimento máximo. O transito estava caótico por causa da hora do rush. As pessoas se acotovelavam nas calçadas, se espremendo e procurando andar apressadamente para cumprir seus afazeres. Os feirantes gritavam tentando vender sua mercadoria. Em algumas bancas, verduras, legumes, temperos e grãos. Outras vendiam carnes, peixes e muitos frutos do mar como polvos, lulas, camarões, lagostas de todos as espécies, ostras, mariscos e caranguejos. Também havia carne de porco, boi e partes de frango como crista e pés, que eles apreciavam muito. Em outra barraca, várias gaiolas repletas de cães que eram vendidos ali como os frangos são vendidos no Brasil. Todos prontos para o abate.

Havia barracas com espetinhos de todas as qualidades. Cavalo marinho, lesmas, ouriços, estrelas do mar, larvas, mini-tubarões, aranhas e escorpiões. Outros feirantes vendiam bolinhos de arroz, yakissoba, bolos da lua, brotos de bambu, camarões fritos entre outros.

Naquela feira não tinha somente comida. Os feirantes exibiam vários produtos como lanternas coloridas de papel, chaveiros transparentes com bichinhos vivos que tinha se tornado moda na China, roupas, calçados e produtos eletrônicos. Outras lojas exibiam sacos plásticos com lindos peixes coloridos, que na China eram considerados talismãs de boa sorte. Por todos os lados, gritos, música alta, buzina dos carros, conversas das pessoas, fregueses tentando pechinchar os produtos e o barulho do motor dos carros que disputavam o espaço nas ruas com os puxadores de riquixás.

Era uma aglomeração humana de grandes proporções, todos mergulhados em seus problemas cotidianos e alheios ao que acontecia fora dos seus mundos fechados. Só importava trabalhar para comer e assim poder trabalhar no dia seguinte. A luta pela sobrevivência tinha tomado a conta de todas aquelas vidas.

D. Morte olhava a movimentação de cima, contemplando aqueles rostos confusos e preocupados com problemas e contas para pagar. Atrás dela, seus emissários aguardavam suas ordens. O grande portal tinha sido aberto e estava logo acima da cidade, embora não pudesse ser visto pelos humanos. Com um pequeno gesto da sua mão, seus emissários saíram voando, se espalhando em vários pontos da cidade e se puseram a esperar.

Ela deu um suspiro, coisa que raramente fazia já que não precisava respirar e abriu os braços. O seu manto aumentou de tamanho, como uma espécie de energia negra, e foi tomando conta de todo aquele centro urbano. Mesmo estando coberta, a cidade continuava sendo iluminada pelo sol e as pessoas não se deram conta do que estava acontecendo acima das suas cabeças. Suas mãos, que até então estavam abertas, fecharam-se com força e sua fisionomia endureceu.

O chão daquela cidade começou a tremer, assustando os moradores. O pânico tomou conta de todos quando alguns prédios começaram a desmoronar como um castelo de cartas. O local, que já era caótico antes, se tornou um verdadeiro pandemônio. Pessoas eram soterradas pelos destroços dos prédios que caiam, buracos foram abertos nas ruas engolindo os carros e explosões ocorriam em vários lugares.

Os emissários iam e vinham levando as almas e as encaminhando para o portal. A movimentação era intensa e o manto de D. Morte continuava cobrindo a cidade. Ela se concentrava, olhando para o céu com o rosto ainda endurecido, como que se esforçando para não desmoronar. Suas unhas começaram a furar sua pele e um líquido negro pingou de sua mão. Se doía, ela não demonstrava. Sua pior dor não era a física.

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Franja acordou com o alarme do rádio-relógio e ele procurou desligá-lo rápido para não acordá-la. Marina ainda dormia tranquilamente abraçada a ele e Bidu se espreguiçava no pé da cama. Sempre que ele acordava, o cachorro acordava também. Ele deu um sorriso, pensando no que tinha acontecido na noite anterior e agradecendo por ter privacidade em seu laboratório. Quem podia imaginar que o namoro deles teria chegado tão longe? Quando crianças, ela sempre fugia das suas aproximações. Ele a tinha pedido em namoro várias vezes e em todas recebido um não. Foi só quando ela completou quatorze anos é que finalmente veio o sim.

O rapaz levantou-se tomando cuidado para não acordá-la, vestiu um short e foi dar uma olhada no sismógrafo.

- Não, peraí... isso não pode estar certo! – ele falou em voz baixa, olhando para os gráficos. O aparelho tinha sido aperfeiçoado ao longo do tempo, tornando-se mais sensível sofisticado, não perdendo em quase nada para aqueles dos centros de pesquisa.

Será que aquilo estava com algum defeito? Será que não estava medindo corretamente? Por via das dúvidas, ele correu para seu computador a fim de olhar os sites de notícias. Algo tão grande assim deve ter caído nos noticiários.

“Um terremoto de 8,2 graus de magnitude abalou nesta sexta-feira a cidade de Shangai, localizada na costa central da China, informou o Centro de Redes Sismológicas da China (CRSC).
O epicentro, com uma profundidade de 8 quilômetros, foi monitorado a 30,8 graus de latitude norte e 122,5 graus de longitude leste, de acordo com o CRSC. O número de mortos ainda não foi informado pelas autoridades locais.”

- Minha nossa, 8,2? Essa não!

Ele continuou a pesquisar em outros sites de notícias e viu que as informações sobre as vítimas fatais eram muito vagas, o que era estranho. Também havia poucas fotos e as informações eram escassas, dando a impressão de que estivessem escondendo alguma coisa.
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Na cozinha, Valeska preparava o café da manhã para todos, procurando não mostrar desagrado com a tarefa. Por ser a única mulher do grupo, seu pai determinou que ela teria de cozinhar porque aquilo não era coisa para homem. Ela pôs na mesa a garrafa de café, manteiga, um copo de requeijão que seu pai gostava e uma caixa de leite. Faltava só o pão e o presunto que um dos capangas tinha ido buscar.  

- O papai já acordou? – ela perguntou ao Janjão que tinha acabado de entrar na cozinha.
- Daqui a pouco ele vem. Já sentiu o cheiro do café.
- Tá bom. Escuta, você não esqueceu do plano de hoje, né? Não pode esperar mais porque a gente viaja na segunda e amanhã não vai dar.
- Hoje a noite eu vou ter que sair pra acertar uns detalhes do carregamento de armas. Na volta, eu cuido disso.
- Que bom! Vê se dá uma boa lição naquela baranga, viu?

Os dois pararam de falar quando ouviram os passos de Armandinho indo para a cozinha a procura do café da manhã. O outro capanga havia chegado da padaria com o pão e o presunto e todos se sentaram para comer.

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- Cara, você acha mesmo que eles estão escondendo informações?
- Acho, Cebola. É muito estranho um terremoto desse ter acontecido e quase ninguém falar nada a respeito.
- É... só que lá na China eles são muito fechados...
- São mesmo, mas você sabe que eles estão trabalhando na construção das arcas, então não é do interesse deles chamar a atenção do resto do mundo.
- Então o troço vai ser feio!
- Vai sim. Acho que tá na hora da gente tentar falar com nossos pais outra vez porque eu não sei por quanto tempo o Brasil vai ficar sem ser afetado pelos terremotos também.

Cebola concordou, sabendo que Franja estava certo.

- O problema é que eles não acreditam na gente...
- Vão ter que acreditar. Não é possível que com tanta coisa acontecendo pelo mundo eles não percebam!
- Não percebem porque na televisão eles falam que tudo tá numa boa e escondem as informações! Se eu falar desse terremoto na China, nem assim eles vão levar a sério porque ninguém informou o número de mortos! Vão achar que não é nada!
- A gente vai ter que pensar em alguma coisa!

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- Mãe, o papai vai fazer hora extra hoje?
- Vai sim, que pena...
- Será que ele chega muito tarde?
- Quando é assim, ele só chega depois das dez. Por quê?
- Er... nada não. E a senhora, vai sair?
- Vou devolver as revistas da Avon para a Rosa. Você tem certeza de que não quer encomendar nada? Tem cada coisa linda!

Mônica balançou a cabeça negativamente. Ela não estava fazendo toda aquela economia só para gastar com bobagens de revista. Luisa pegou a bolsa e falou.

- Não demoro, viu? É rapidinho.
- Tá bom.

Dentro do seu carro, Janjão viu quando a mulher saiu de casa e resolveu agir logo antes que ela voltasse. Era para ser tudo rápido e sem complicações, bastava não deixar que aquela garota gritasse ou fugisse. Assim que ela virou a esquina, ele saiu do carro e entrou no quintal pelo portão que não estava trancado. Já era noite e só a luz da sala e de um quarto do andar de cima estavam acesas. Como não queria ser visto tentando arrombar a porta da frente, ele deu a volta até alcançar a porta dos fundos. Todo o quintal era murado e ali ele ia ter mais privacidade.

Com pouco esforço, ele conseguiu abrir a fechadura sem fazer muito barulho e entrou rapidamente na casa, pensando em ir direto ao quarto. Se Valeska estivesse certa, o dinheiro estaria ali. Tirando o som de música que parecia vir do andar de cima, o resto da casa estava silenciosa. Ele colocou seu capuz para cobrir seu rosto e apalpou o bolso da jaqueta, onde estava seu revolver 38. Embora não pretendesse matar ninguém, ele sabia que aquela arma ia intimidar aquela garota com facilidade.

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Quando estava chegando perto da casa da amiga, Luiza se deu conta de que tinha deixado uma das revistas para trás.

“Grrrr! Que raiva! Agora vou ter que voltar para pegar!” não tinha jeito. Se não fizesse aquilo agora, teria que fazer mais tarde e ela voltou pelo mesmo caminho rapidamente.  

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Mônica estava olhando seu Facebook quando ouviu o som de alguém subindo as escadas. Como pensou que fosse sua mãe chegando da casa da amiga, ela não deu importância. Foi só quando aquele sujeito enorme e corpulento apareceu na porta do seu quarto é que ela se deu conta de que estava com sérios problemas.

- Ei, como você entrou aqui?

Ao invés de responder, ele sacou a arma e apontou em sua direção.

- Se gritar eu meto bala! Anda, desembucha logo: cadê a grana?
- Que grana? Tá querendo minha mesada, é?

Ele chegou mais perto e falou com a voz ameaçadora.

- Não se faça de tonta que eu sei muito bem da grana que você tem guardada aí!

O corpo dela tremia de medo. Embora tivesse força mais que suficiente para dar uma surra no sujeito, ela sabia que não tinha como fazer nada com aquela arma apontada na sua cabeça. Por mais forte que ela fosse, um tiro na sua cabeça seria fatal. Ela tentou ganhar tempo.

- Você tá doido, eu não tenho dinheiro nenhum não!
- Doida é você se não me entregar logo essa grana! – a arma deu um estalo, como se estivesse preparada para atirar e ela se viu num dilema. Se desse o dinheiro, não só sua família ia perder a chance de se salvarem como também a família de Toni. Mas se não desse, ela poderia acabar sendo morta.

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Luiza entrou em casa e foi direto para o quarto do casal, onde tinha deixado a outra revista. Foi quando ela percebeu que tinha algo estranho no quarto da Mônica ao ouvir a voz da filha dizendo.

- Vai embora, a gente não tem nada pra você aqui em casa não! Nós não somos ricos!

O susto foi tamanho que o raciocínio acabou sendo comprometido e Luiza correu para o quarto da Mônica ignorando o perigo que ela poderia estar correndo.

- Quem é você? O que quer com minha filha?

O sujeito levou um susto e apontou a arma para a mulher falando com a voz enérgica.

- Fica quieta aí, coroa! Eu só quero a grana!
- Que grana? Nós não temos dinheiro nenhum!
- Sua filha tem e eu quero agora mesmo! Depois nós vamos nos divertir um pouco, não é dentucinha?
(Mônica) - Como é? Seu tosco!

A mulher se desesperou e acabou indo para cima do homem, que lhe deu um soco em seu rosto fazendo-a cair semi-desacordada no chão. Mônica gritou.

- Mãe! Seu desgraçado, por que não enfrenta alguém do seu tamanho?
- Quem? Você? Hhahaha!

O rosto dela ficou vermelho, mas vermelho de raiva e sem pensar em mais nada, Mônica voou para cima do sujeito, que pego de surpresa não teve tempo de reagir.

- Sua vagabunda, vou te dar uma lição agora mesmo!
- Quem vai te dar uma lição sou eu!

Ele tentou lutar, e então viu que aquela garota era mais forte do que parecia. Mônica segurava seu braço e ele não tinha como apontar a arma para a cabeça dela. Luiza conseguiu levantar-se do chão e ao ver a filha com dificuldades, não pensou em mais nada e bateu nas costas dele com uma cadeira. O homem gritou de raiva e conseguiu empurrar a moça para cima da cama e voltou-se para a mulher.

- Você vai ver só uma coisa! – ele preparou-se para apertar o gatilho e Mônica foi para cima dele outra vez, dando um golpe em suas costas. A arma disparou, atingindo a penteadeira e o sujeito ele tentou ir para cima da Mônica, que lhe parecia a mais perigosa das duas.

Só que ela foi mais rápida e tentou tirar sua arma novamente. Ele tentou apertar o revolver contra o próprio corpo, para protegê-lo e Mônica lhe dava vários chutes em suas pernas tentando fazê-lo cair. Se não fosse um homem muito forte, Janjão já teria caído no primeiro chute, mas ainda assim ele estava com dificuldades para se manter de pé.

Vendo que a moça estava quase conseguindo tomar sua arma, ele apertou o revolver com toda força e de repente, um disparo e o grito de duas mulheres.

- Mônica! Ah, não! – Luiza correu para os dois já imaginando a filha com um tiro na barriga e sangue para todo lado. O sujeito caiu no chão, pressionando o próprio abdome e Mônica caiu de joelhos, também suja com o sangue dele e pálida como cera.
- Mãe!

Por instantes, as duas ficaram olhando o sujeito que se contorcia de dor. Ele virou-se de barriga para cima e abriu os olhos como que tentando se levantar e viu um rosto pálido de uma pessoa que o olhava de cima. Ele tentou abrir a boca para gritar e nenhum som foi ouvido. Uma foice foi cravada em seu abdome, justo no local onde levou o tiro e seus olhos se fecharam para sempre.

Vendo que o homem não se mexia mais, Luiza criou coragem para chegar mais perto e tentou cutucá-lo com um pé. Nada. Mônica tremia e chorava, já percebendo que tinha matado aquele homem.

- Calma, filha, calma! Eu estou aqui! Vem, eu vou te levar para a sala!

Foi difícil fazer com que sua filha se levantasse do chão porque ela mesma tremia e chorava muito com aquela tragédia. Quando colocou Mônica sentada no sofá, ela ligou para a polícia e teve mais dificuldades ainda porque mal conseguia falar direito por causa do choro e também do choque que tivera agora pouco. Ambas estavam com os nervos em frangalhos.
 



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