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História 2012 - V de Vingança


Escrita por: Mallagueta

Capítulo 41 - V de Vingança



No capítulo anterior, Carmen deu uma festa de despedida para os amigos, mas desmaiou quando tentou contar a Ângelo sobre os sonhos que ela estava tendo.

3 DE JULHO DE 2012

Após várias tentativas frustradas, Penha explodiu de raiva chutando as velas para todos os lados. Já era duas da madrugada e até então ela não tinha conseguido nenhum resultado.

- Déteste ça!(1) Por que não funciona ? Por que?

A magia de convocação tinha sido feita corretamente, sem erros. A única explicação era que Agnes não queria ou não podia mais falar com ela. aquilo podia ser ruim. Após conseguir convencer seu pai a comprar uma linda casa na Chapada dos Guimarães usando seu olhar do desprezo, Penha quis fazer uma parada no bairro das Pitangueiras para poder tramar sua vingança contra a Mônica antes de viajar para o Mato Grosso com seus pais. Sua idéia era bem simples: impedir que Mônica e os amigos dela pudessem se salvar e ficassem ali no Limoeiro para sofrerem com toda a tragédia. Essa seria sua vingança.

- Bem que ela tinha dito que não podia mais me ver... Ce n'est pas juste!(2) Preciso falar com ela e fazer uma pergunta !

Frustrada por não estar conseguindo nada, ela resolveu encerrar por ali e pensar em outra coisa. Penha estava quase saindo do quarto para mandar uma empregada arrumar aquela bagunça quando uma vela se acendeu sozinha, chamando sua atenção. Aquilo seria um sinal? Mais do que depressa ela arrumou tudo novamente, acendeu todas as velas e recitou novamente as palavras do encantamento. Seu rosto se iluminou quando a fumaça saída das velas formou um redemoinho e uma forma começou a se materializar. No entanto, sua alegria durou pouco ao ver que aquela forma não era Agnes.

- Q-quem é v-você? – ela perguntou para a forma que parecia um homem vestido com roupas de xamã, repleta de penas, garras e dentes de animais. O rosto dele estava pintado com tinta negra e ele parecia ter uns cem anos de idade, embora tivesse a postura firme e ereta.

Ele respondeu, mostrando os dentes amarelados e falando com uma voz grave que não parecia ser humana.

- Sou o rei da legião dos rejeitados. Você me convocou.
- Esperra, eu não querria te convocar! Estou querrendo falar com minha amiga Agnes. Conhece?
- A entidade a quem você chama de Agnes não poderá mais atender a seu chamado. Ela está sob tutela daqueles que trabalham para a luz.
- Heim? Ah, isso não me enterressa! Eu precisava dela parra ter uma informação muito importante.

O sujeito segurava em uma das mãos um colar feito com dentes e ossos, que ele apalpava segurando cada um dos pingentes. Após alisar alguns dentes, o xamã assustador falou de novo.

- Você quer saber onde seus inimigos escondem os valores para sua salvação.

Levou um tempo até ela entender o que aquele homem estava dizendo e um sorriso perverso surgiu em seu rosto.

- Isso mesmo! Eu querro saber onde eles escondem o dinheirro parra as passagens! Você sabe? Se sabe, então me diga! Posso te recompensar muito bem, sou muito rica!

Uma risada desagradável se fez ouvir e antes que ela esboçasse alguma reação, ele falou muito sério.

- Aqui onde vivo sua riqueza não vale nada.
- E o que tem valor aí então?
- Sua alma.
- O quê? Ficou louco? Quer que eu venda minha alma?
- É sua escolha. Em breve, eu irei com meus seguidores até um novo mundo. Quanto mais seguidores melhor. Eu te dou a informação e você se junta ao meu grupo.
- E que mundo é esse? Por um acaso não é um daqueles primitivos, é?
- Sim. Trata-se de um mundo que ainda está nos primórdios da civilização e...
- E você quer me arrastar até um lugar onde ainda é idade da pedra? Esquece!

Ele deu de ombros.

- Se você não quer fazer o pacto, a escolha é sua. Mas eu também não lhe darei nenhuma informação de graça.
- O que custa falar? Não vai levar nem um minuto!
- Criança tola! Se quiser aprender uma lição nessa vida, aprenda essa: tudo tem um preço. Para ter algo, você deve pagar o preço equivalente.
- Já ouviu falar em carridade? – foi a pergunta sarcástica.
- E você já fez caridade alguma vez na vida? Já fez algo sem esperar nada em troca?

A moça ficou em silêncio e não teve resposta melhor do que aquela.

- Se você nunca fez caridade para ninguém, com que direito exige que eu faça o mesmo?

Penha andou de um lado para outro praguejando em francês. Aquilo não era justo, não mesmo! O que custava aquele avarento dar uma simples informação? Talvez fosse pensando nele que Agnes tinha alertado para esquecer sua vingança contra a Mônica, mas como esquecer toda a humilhação sofrida? Seu orgulho tinha sido ferido, ela foi derrotada, ridicularizada e teve praticamente que fugir do Brasil para escapar de toda a vergonha. Como deixar aquilo impune?

Em sua cabeça, Penha se achava especial demais para sofrer qualquer tipo de derrota. Não, ela era melhor que todo mundo, muito acima de toda a ralé e as pessoas tinham era que agradecer por terem um pouco da sua atenção. Ninguém tinha o direito de lhe ferir, contrariar ou de negar qualquer um dos seus caprichos.

“Hum... talvez eu consiga passar a perna nesse bobalhão! Sim! Eu falo que aceito o acordo, mas quando chegar a hora, irei para o mundo de Agnes! Se me mandarem para lá, ele não vai poder fazer nada. Brilhante!”

Agnes acompanhava tudo de perto e ficou preocupada com o rumo dos acontecimentos. Aquilo nunca ia dar certo e ela tentava de todas as formas fazer com que aquela maluca desistisse daquela idéia. Foi em vão. Penha estava com tanto rancor, tanto ódio que não conseguia deixar aquilo de lado nem mesmo para o próprio bem. Ela preferia afundar e levar Mônica junto do que se salvar e deixar sua inimiga em paz. Garota tola!

- Vous avez gagné.(2) Eu farrei o trato. Você me dá a informação e eu te sigo até esse outro mundo.

O Xamã deu um sorriso perverso, sabendo muito bem que aquela garota pretendia enganá-lo. Tudo bem. De qualquer forma, ela não ia conseguir lhe passar a perna, então não havia nada a temer. Agnes ainda tentou mais uma vez fazer com que Penha mudasse de idéia antes que o trato fosse selado. Tarde demais. O sujeito balançou o colar e anunciou.

- Trato feito. Eu lhe direi onde está escondido o dinheiro. Quando seu corpo perecer e sua alma for libertada, você se tornará minha seguidora no novo mundo.
- Certo, certo. Agora deixe de dramas e me fale logo.  

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10:00 da manhã

- Cara, eu não tô entendendo o que a gente veio fazer aqui!
- Segura a onda, careca. Você vai saber logo logo.

Os dois estavam diante da sede da Associação das Tiazinhas Politicamente Corretas, ou o clube das caretonas como os jovens da turma gostavam de falar. Aquelas senhoras implicavam com tudo o que era divertido e sempre tentavam transformar o bairro em um lugar chato e monótono.

Não demorou muito e as senhoras começaram a sair do estabelecimento, conversando entre si em voz baixa, tomando todo cuidado para não fazerem nenhum escândalo. Elas se vestiam de maneira austera, com cores escuras, saias longas, mangas compridas e a gola cobrindo todo o pescoço.

- É agora! – Cascão falou indo até as mulheres.
- Não vai me dizer que você quer entrar pro clube delas!
- Tá doido? Claro que não! Olha só!

Cascão foi até elas, que logo notaram a presença do rapaz vestido de forma rebelde e, que coisa horrível, com um brinco na orelha! Antes que elas ameaçassem dar uma bronca, Cascão virou-se de costas, abaixou a bermuda e a cueca e sacudiu o traseiro pelado bem na frente delas.

- Arggghhhh!
- Seu desavergonhado!
- Eu vou contar pro seus pais!

A histeria foi geral. Umas gritaram, outras desmaiaram e algumas queriam ir para cima do Cascão armadas com seus guarda-chuvas. O rapaz vestiu a bermuda rapidamente e saiu dali correndo junto com o Cebola, ambos morrendo de rir.

Assim que se viram livre das senhoras, eles voltaram a andar normalmente ainda rindo da situação. Já que o mundo estava para acabar, por que não aproveitar um pouco para fazer tudo o que dava vontade?

- Você não presta mesmo!
- Hahaha! Eu sempre quis fazer isso com aquelas chatas!
- Cara, seu pai vai arrancar teu couro!
- Deixa ele, não tô nem aí! Escuta, você já teve AQUELA conversa com a Mônica?
- Eu falei com ela ontem e tá tudo planejado! – o careca respondeu mal contendo a empolgação. Apesar de ter sido necessário gastar muita lábia e argumentos para convencer a namorada, no fim eles acabaram chegando a conclusão de que o melhor era aproveitar enquanto eles ainda podiam ter algum conforto e privacidade.
- E quando vai ser?
- Nesse fim de semana os pais dela vai viajar. Aí eu vou dormir na casa dela de sábado pra domingo.
- Legal. E os seus pais? Se você falar pra eles que vai dormir na casa da Mônica, não vão deixar.

Cebola fez aquela cara amalucada de plano infalível e antes que Cascão pudesse sair dali correndo, ele o agarrou pela blusa e falou sobre o esquema que tinha armado para aquele fim de semana.

- É o seguinte: eu vou falar pros meus pais que vou dormir na sua casa, mas na verdade vou dormir na casa da Mônica, entendeu?
- Cara, isso não vai dar certo!
- Vai sim, é só você não falar demais e estragar tudo! Presta atenção que vai ser bem simples. Eu janto lá com vocês e depois a gente vai dormir. Então, quando todo mundo apagar a luz, eu saio pela janela e vou pra casa da Mônica!
- Tem certeza de que isso vai funcionar?
- Claro! É na mesma rua, não fica muito longe! Eu vou e volto antes de amanhecer. Seus pais nem vão perceber!
- Sei não...
- Relaxa, eu sei o que tô fazendo! Esse plano é...
- Infalível!
- Claro!
- Vixe! Então não vai dar certo!
- Blé! Não fica agourando não, valeu?

Os dois foram conversando e rindo, planejando como iam gastar o tempo que sobrava. Apesar do medo inicial, a turma logo percebeu o grande potencial da situação e como tirar proveito dela. Cada um resolveu aproveitar o tempo que restava fazendo tudo aquilo que dava vontade sem se importar com as conseqüências.

Ângelo observava tudo muito preocupado com os amigos. Pelo visto, ninguém ali estava levando nada a sério. Eles tinham se esforçado tanto para reunirem o dinheiro necessário, pareciam focados e centrados... depois acabaram perdendo o juízo.

- Droga... eles não deviam estar levando tudo na brincadeira desse jeito, não deviam mesmo!

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De dentro do carro luxuoso do seu pai, ela falava com um sujeito mal encarado que estava parado na calçada.

- Então você sabe o que fazer.
- Já entendi tudo. O dinheiro está mesmo onde você falou?
- Não tem como errar. Você pega o pacote e me traz sem falta. Eu te pagarrei muito bem. Agorra vá. Sei que não tem ninguém na casa dele a essa horra, então você poderrá fazer isso sem problemas.

O homem saiu dali e foi rapidamente até a casa indicada e Penha mandou que o Chofer esperasse na esquina porque tudo ia ser rápido. Os pais do Cebola tinham saído e a irmã dele estava na casa de uma amiga. O próprio Cebola tinha saído com o Cascão e ela sabia que ele ia demorar, então não tinha erro.

“Hahaha! Eu quero só ver como aquela dentuça vai sair dessa! Finalmente a vitória é minha!” em sua cabeça, ela planejava como ia humilhar aqueles dois. Tinha que ser algo especial. Talvez ela pudesse fazer um acordo, expondo os dois a uma situação terrível, humilhante e dolorosa prometendo com isso devolver o dinheiro. Então, depois de eles terem cumprido todas as suas ordens, ela acabaria não lhes dando nada. Podia haver algo melhor? Ah, claro... ela também tinha que dar um jeito na Denise. Aquela atrevida era a única pessoa que não podia derrotar seu olhar do desprezo e Penha não podia admitir que alguém assim continuasse andando sobre a terra. Aquela seria a próxima a sofrer com sua vingança.

Ela estava tão perdida em seus devaneios que não viu quando alguém se aproximou do carro e só percebeu quando o homem bateu no vidro da janela.

- E então?
- Aqui está. – ele falou dando a ela um pacote envolvido em um plástico preto e preso com durex. Ela pegou e viu que parecia ter mesmo muito dinheiro ali e ficou satisfeita.
- Muito bem. Aqui está o seu pagamento.

Ele pegou o pacote, contou cuidadosamente o dinheiro e foi embora feliz da vida. Que patricinha mais burra aquela! Pelo peso do pacote, ele imaginou que não devia ter tanto dinheiro assim lá dentro e ele imaginou que o pagamento recebido, vinte mil reais, era muito maior do que a quantia dentro do pacote.

Muito satisfeita com o que tinha acabado de fazer, Penha foi embora dali já planejando o próximo passo do seu plano brilhante. Aqueles dois não perdiam por esperar.


Notas Finais


(1) - Que ódio
(2) - Isso não é justo
(3) - Você venceu.


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