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História 2012 - Hora de partir


Escrita por: Mallagueta

Capítulo 47 - Hora de partir



No capítulo anterior, Carmen começou a ver coisas que ninguém mais via e acabou indo atrás de D. Morte. As duas tiveram uma conversa bem interessante.

8 DE JULHO DE 2012

Mônica, Cebola e Cascão assistiam com o coração em pedaços Magali se despedindo de cada um dos seus gatinhos entre lágrimas e beijos.

- Tchau meus fofuchos! Fiquem bem bonzinhos, por favor! – ela falava para cada um deles enquanto os abraçava.

Era domingo, dia de Licurgo ir para a Chapada dos Guimarães onde tinha preparado o abrigo. Ele tinha prometido levar os gatos da Magali para ajudá-la, já que para ela seria mais difícil levá-los.  

- Magá, fica assim não! Você vai vê-los de novo!
- Eu sei, Mô! É que... ai, e se tudo der errado? E se a gente não conseguir fugir daqui a tempo?

Na noite anterior, os pais de Mônica convocaram uma reunião em sua casa para decidirem qual rumo tomar. Após verem as provas que Franja tinha mostrado, nenhum deles teve dúvidas de que o melhor era fugir dali o quanto antes. Nem lhes passava pela cabeça que a situação estava tão critica assim.

(Cebola) – A gente consegue sim, Magá. Esquenta não. Eu já tô vendo as passagens pra todo mundo. Já vi que comprando em grande quantidade dá pra conseguir um bom desconto.
(Cascão) – Cara, eu mal vejo a hora de vazar logo daqui! Esse troço tá ficando sinistro demais!

Um a um, Magali foi acomodando os gatos em caixas de transporte após passar pelo menos cinco minutos beijando, abraçando e conversando com cada um deles. Primeiro os filhotes, depois Aveia e por fim Mingau, seu companheiro de infância. Ela o estendeu um pouco no ar para poder olhar seus olhos azuis. O gato a olhava de volta, como que sabendo o que estava para acontecer.

- Mingau, meu lindinho! – ela falou chorando ainda mais ao lembrar do dia em que ele chegou em sua casa e da alegria ao ver aquela bolinha de algodão na sua frente. Ele era um filhote fofo, brincalhão e muito levado. Os dois cresceram juntos e nunca passou em sua cabeça se separar dele.

Mônica colocou uma mão em seu ombro e falou suavemente.

- Magá, chegou a hora. A gente tem que levar eles pro Licurgo.
- Eu sei. – ela colocou o gato em sua caixa de transporte e os quatro foram para a casa do louco com cada um segurando uma caixa e Mônica levando duas mais uma mochila onde tinha sacos de ração e alguns brinquedos para gatos. Pouca coisa, já que ela não queria abusar da boa vontade do professor.

Por estar de bicicleta, Cascão levou a dele na garupa junto com outro saco de ração. Magali queria que pelo menos por uns dias, seus gatos tivessem o que comer.

No meio do caminho, ela ainda chorava e a cada passo que ela dava, seu coração apertava cada vez mais com o medo de nunca mais poder ver seus gatos novamente.  

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- Mama mia! Se eu soubesse que aqui fosse tão problemático, teria ficado na Itália!
- Tio, vocês não podem voltar pra Europa. Lá tá pior ainda!
- E o que você sugere, Carminha?
- Chapada dos Guimarães. É seguro lá. O nosso professor já conseguiu um abrigo pra todo mundo.

O pai de Carmen não estava gostando muito daquela situação.

- E nós vamos viver amontoados em uma casa como refugiados?
- Se o senhor tivesse me ouvido, agora teríamos uma casa só pra nós!
- Como eu ia saber que isso tudo era verdade?
- Deviam ter confiado em mim! Agora teremos que seguir com o resto da turma e seus pais. Aqui a gente não pode ficar.

A mãe dela entrou em desespero.

- Como vai ficar nossa casa? Têm muitos objetos de arte aqui, quadros valiosos, móveis raros e antigos.

Carmen balançou a cabeça irritada com a futilidade da mãe. Nem ela era tão fútil assim.

- Mãe, isso vai ter que ficar pra trás!
- Você ficou louca? Nem parece minha filha!
- Ainda bem... – ela sussurrou.
- O que disse?
- Nada. Você ouviu o que o pai da Mônica falou ontem, nós temos que...

Seu pai cortou na hora.

- Eu não vou misturar com a ralé!
- Pai, a “ralé” são os meus amigos e a gente precisa deles para sobreviver!
- Nós não precisamos de ninguém. Temos uma bela casa na praia de Santos e podemos ir para lá a qualquer momento.
- Na praia? Não, isso seria pior ainda!

A moça tentou explicar brevemente sobre tsunamis, feliz por ter gasto algum tempo estudando aquele assunto.

- Então podemos ir para a nossa casa de campo.
- Essa casa fica perto da cidade, é muito perto do litoral!
- Que bobagem! Nenhuma onda seria tão grande assim a ponto de nos atingir.
- Ainda tem os terremotos!
- Não faça drama, Carminha. O Brasil nem é pais de ter terremotos!
- Ah, não? E o que foi aquilo que derrubou o shopping e matou a minha amiga?

O homem gaguejou um pouco tentando encontrar qualquer outra explicação e por fim acabou perdendo a paciência.

- Vá arrumar suas coisas. Nós iremos ainda hoje para nossa casa de campo. E não quero mais discussão. Quem manda aqui sou eu!
- Pai, não podemos...
- Vamos, filhinha. – D. Frufru foi levando Carmen pelo braço. – Você precisa arrumar suas coisas.
- Mãe, tenta conversar com o papai!
- Seu pai sabe o que está fazendo, querida. Nós não precisamos viver amontoados na casa de ninguém. Somos a família Frufru, esqueceu? Temos dinheiro, influência...
- Isso não vai adiantar de nada!
- Deixe de ser dramática, por favor.

Não adiantou argumentar. Carmen se jogou na cama, chorando desesperada.

- Carminha, não chora! Eu vou cuidar de você!
- Oh, meu xodozinho! Quem tem que cuidar de você sou eu!
- A gente vai ficar bem?
- Eu não sei... que droga, por que eles não entendem?

Ela levantou-se da cama irritada com a teimosia dos seus pais e foi até a janela para respirar ar fresco. Péssima idéia. Os emissários da morte voavam por todos os lados e vê-los a fazia lembrar da tragédia que estava por vir.

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Na UTI do hospital, Tia Nena respirava com o auxílio dos aparelhos. Sua vida estava por um fio e os médicos sabiam que era só questão de tempo. Os pais da Magali estavam do lado de fora aguardando por notícias. E a qualquer momento, eles poderiam ter uma notícia bem triste.

- Acorde. Está na hora. – uma voz falou, fazendo com que a senhora abrisse os olhos com dificuldade. Tudo a sua frente estava embaçado e ela só pode ver um vulto preto.
- Ela está bem fraca... – Ângelo falou olhando bem para a mulher.
- Está sim. Você vai ter que ampará-la enquanto eu faço o desenlace. Tem que ser bem devagar.

Enquanto D. Morte foi ceifando a vida da mulher aos poucos, Ângelo foi tirando o espírito dela do corpo do jeito mais gentil possível. Dentro de pouco tempo, os médicos entraram afoitos na sala e começaram todos os procedimentos para tentar salvar sua vida.

- Droga, detesto quando isso acontece! – com a ação dos médicos, o espírito dela retornou rapidamente ao corpo, dificultando ainda mais o trabalho da morte.
- E agora?
- Vou começar de novo. Fique atento.

Eles começaram uma espécie de cabo de guerra, com a morte tentando tirar a mulher do seu corpo e os médicos tentando mantê-la viva.

Do lado de fora Carlito e Lina esperavam do lado de fora aflitos e angustiados. Temendo pelo pior, ele resolveu ligar para a filha para que ela fosse rapidamente ao hospital. Aqueles podiam ser os últimos momentos da tia Nena.

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Se separar dos seus gatos tinha sido um golpe muito duro para Magali, que fazia o caminho de volta amparada pela Mônica. Cascão também tentava consolar a amiga e até ofereceu para lhe pagar um sorvete ou comprar uma melancia. Nada parecia resolver. Sua tristeza era tanta que nem toda comida do mundo ia deixá-la alegre. Só que ela não sabia que as coisas iam ficar um pouco piores quando o seu celular tocou.

- Alô? Pai? Não, eu tô bem! É que eu acabei de deixar os meus gatos com o professor... o que foi? A tia Nena? Ai, não! Eu já tô indo! – ela desligou o celular e falou para os amigos. – Gente, a tia Nena tá muito mal, eu tenho que correr!

Como o hospital ficava longe e levaria tempo até ela conseguir pegar o ônibus, Cascão se ofereceu.

- Sobe na garupa aí que eu te levo. Assim você não perde tempo.
- Valeu, Cascão!

Ele pedalou o mais rápido que pode enquanto Magali ia na garupa da bicicleta segurando sua cintura e sentindo o coração se partir mais ainda ao imaginar que estava prestes a perder sua tia.

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- Está quase, Ângelo. Só mais um pouco, não deixe que ela recue para o corpo dela senão vamos começar tudo de novo! Ela já está sofrendo muito.
- Pode deixar.

Um médico tentou reanimá-la com um desfibrilador. Um choque, dois choques e nada. Outro lhe aplicou uma injeção na veia enquanto um terceiro checava seus sinais vitais. A equipe trabalhava intensamente, o suor escorria pelo rosto de todos eles e todos estavam muito concentrados.

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- Pai, mãe!
- Ai, Magali! Acho que vamos perder a tia Nena! – sua mãe chorou abraçando a filha.
- Mãe...

Carlito abraçou as duas ao mesmo tempo, tentando confortar esposa e filha. De uma hora para outra, tudo ao seu redor parecia prestes a desmoronar e ele não sabia o que fazer.

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- Está feito. – D. Morte disse quando conseguiu terminar o serviço. Os médicos largaram os equipamentos desanimados por terem perdido aquela batalha.
- Ufa, que alivio! Agora eu vou levar ela pro outro lado.
- Pepo? – ela sussurrou começando a recuperar a consciência. – Cadê o Pepo? – Ângelo respondeu.
- Tá te esperando lá no outro lado. Vamos?

Tia Nena deu um leve sorriso, mas ainda ficou preocupada.

- E a Magali?
- Ela vai ficar bem, prometo. Vou cuidar direitinho dela. Agora vamos que a senhora precisa descansar.

Ela concordou e se deixou conduzir pelo rapaz até uma passagem para o outro mundo onde outras entidades já esperavam para levá-la ao local de recuperação. Depois que a mulher foi embora, Ângelo voltou-se para D. Morte.

- Puxa, valeu mesmo! A Magali tava muito preocupada com a tia dela.
- Tudo bem, de qualquer forma a hora dela estava mesmo chegando, então não houve problemas em adiantar algumas semanas. Vai ser melhor para todos.
- Vai sim.

Os dois saíram da UTI a tempo de verem o médico dando as notícias para Magali e seus pais. Ângelo chegou a chorar ao ver sua amiga chorando junto com sua mãe enquanto seu pai ainda tentava se manter forte para amparar as duas. No fim ele também caiu no choro. Não deu para segurar.

- Eu ainda tô meio preocupado com a Magali... como ela vai conseguir agüentar tudo isso?
- Não há como saber. Ela pode superar ou desabar de vez. Se tiver os amigos por perto, então as chances dela serão boas.

Como não tinham mais nada para fazer ali, os dois saíram do hospital em silêncio. O clima entre eles estava meio estranho desde a morte de Aninha e foi com muito custo que Ângelo conseguiu falar com D. Morte para ela lhe fazer aquele favor. Vendo que o rapaz estava muito silencioso, ela resolveu acabar logo com aquilo.

- Sei que deve estar zangado por causa da sua amiga...
- E tô mesmo! Não por você ter levado ela, isso não. Se era a hora dela, eu entendo.
- Então?
- Por que você não me falou nada? Eu queria ter estado do lado dela que nem aconteceu com o Toni!
- O caso era delicado porque as duas estavam na minha lista e a hora da outra não tinha chegado. Não sabia como você ia lidar com isso.
- E no fim você nem levou a Carmen. Por quê? – ele perguntou ainda confuso.
- Por que ela lutou pela vida.
- Muita gente luta e você leva assim mesmo.
- Ela me enfrentou para salvar a amiga. Lutar pela própria vida é fácil, faz parte do instinto de sobrevivência dos humanos. Agora, lutar pela vida de outra pessoa não é qualquer um que consegue. Ela poderia ter fugido e ficou para lutar. Respeito isso.
- Só que você deu um soco na cara dela!
- E ela me deu uma mordida, chutou a minha canela, encheu minha cara de tapa e me chamou de baranga!
- Eu ainda não acredito que a Carmen brigou com você. Sei lá, ela sempre foi muito fresca, cheia de frufru! Só que agora eu tô preocupado porque ela consegue ver os portais e os seus emissários! Isso não é bom, é?
- Considerando que as outras pessoas não podem ver nada, vão pensar que ela ficou louca. Não se preocupe, isso é temporário. Vai passar dentro de um ou dois meses.
- Ufa, ainda bem! Nem todo mundo tá preparado pra ver essas coisas.

Ao chegarem a determinado ponto, os dois precisaram se separar porque cada um tinha que seguir um caminho diferente. Antes de se despedir, Ângelo ainda quis saber de mais uma coisa.

- Ô D. Morte, até agora eu não entendi porque você deu aquele biscoito da sorte pra Aninha.

Ela deu um sorriso maroto.

- Quando eu vi que você estava distribuindo as pistas aos seus amigos, vi que você esqueceu de uma muito importante: a de viver cada dia como se fosse o último, porque em alguns casos pode ser mesmo. E principalmente eu quis que aquela moça pudesse viver bem o tempo que lhe restava.
- Poxa, valeu! Isso até que ajudou bastante o pessoal.
- De nada. agora eu tenho que ir. Você sabe, muito trabalho pra fazer.
- Tranqüilo, a gente se vê.

D. Morte foi embora sentindo-se um pouco mais leve ao saber que não tinha perdido seu único amigo. Ainda assim ela queria acertar as contas com Serafim por causa daquela confusão e pretendia procurá-lo quando tudo acabasse. O dever sempre vinha primeiro.



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