1. Spirit Fanfics >
  2. 2012 >
  3. Finalmente partindo

História 2012 - Finalmente partindo


Escrita por: Mallagueta

Capítulo 54 - Finalmente partindo



No capítulo anterior, Cascão perdeu seus pais durante um terremoto e por pouco não desistiu de continuar com seus amigos.

16 DE JULHO DE 2012

02:00 da manhã

- Mãe! Pega a minha mão!
- Eu não consigo. Socorro, filho! Me ajuda! Me ajuda! Ahhhh!!!!
- Filho, me ajuda! – Seu pai gritava também lhe estendendo as mãos e ele não conseguia alcançar nenhum dos dois.

O carro caiu dentro do buraco e ele pode ver os corpos dos seus pais sendo consumidos pelas chamas enquanto eles pediam socorro gritando seu nome.

Cascão acordou sobressaltado e suando frio. Levou um tempo até ele se dar conta de que estava no aeroporto de Uberlândia, dormindo encostado a uma parede enrolado num cobertor que Magali tinha lhe dado. Seu coração palpitava como se quisesse sair do seu peito e ele resolveu levantar para andar um pouco.

Como o banheiro era ali perto, ele entrou para ver se conseguia se aliviar. Por mais que fizesse força, acabou não saindo nada e ele desistiu. Sua bexiga não estava cheia. Ao passar perto da pia, ele resolveu jogar um pouco de água no rosto, coisa que ele não fazia normalmente. Ele esfregou o rosto com as mãos, bochechou um pouco de água e depois cuspiu na pia. De alguma forma, a água fria pareceu acalmá-lo um pouco e ele resolveu voltar para o seu canto tentando não pensar muito no que tinha acontecido no dia anterior.

Infelizmente que as imagens vinham a sua mente com uma teimosia só comparável a da Mônica. Ele se lembrava dos rostos aflitos dos seus pais lhe pedindo socorro, suas mãos estendidas e dos seus gritos apavorados. Será que ele não podia ter feito nada para ajudá-los? E se ele tivesse tentado subir no carro? Cebola tinha lhe explicado que aquilo poderia piorar as coisas acrescentando mais peso ao carro e no fim teria morrido os três.

Às vezes ele se culpava, às vezes tentava se justificar e nada era capaz de diminuir a dor que ele sentia ao se lembrar dos momentos bons em família. O rapaz sentou-se num banco e a sua mente veio a lembrança do dia em que seu pai foi trabalhar como Papai Noel em um shopping. Seu Antenor de vez em quando pegava alguns bicos de natal para lhe comprar um bom presente, só que naquele ano as coisas deram um pouco errado e no fim ele acabou ganhando apenas uma bóia de zebra.

“Poxa... eu era mesmo feliz e não sabia...”

Ele também se lembrou de quando o seu pai foi lhe ajudar a arrumar seu quarto e no fim eles triplicaram a bagunça e a sujeira. Era hilário brincar com seu pai, que sempre foi muito atrapalhado e se metia em encrenca. Às vezes ele era como uma criança grande.

- Cascão? – ele ouviu uma voz o chamando. – Você não devia estar dormindo?
- Eu não consigo dormir.

Magali sentou-se ao lado dele e os dois ficaram em silêncio. Depois de alguns segundos, ela perguntou.

- Como foi a conversa com a Cascuda? Você falou o que aconteceu pra ela?
- Achei melhor não. Quando a gente chegar lá eu falo. Não quero que o pessoal fique preocupado.
- O Quim falou que a agência conseguiu outro vôo pra eles que vai sair amanhã. Tomara que dê tempo.
- É... Tomara. Caramba, será que vai ficar pior do que isso?
- Antes eu duvidava que era possível ter um terremoto assim no Brasil. Agora eu não duvido de mais nada.
- O pior é que na televisão eles agem como se tudo fosse normal! Poxa, será que esse povo é burro?
- Bem que o DC vivia falando que toda a mídia é manipulada.

Ele se remexeu um pouco e perguntou.

- Como a Mônica está?
- Está levando, muito chateada por não ter conseguido puxar o carro.
- Eu nem agradeci a ela por ter tentado salvar os meus pais... As mãos dela ficaram muito machucadas?
- Um bocado. Ainda bem que a Carmen pôs um estojo de primeiros socorros naquelas mochilas. Falando nisso, como será que ela está? Às vezes fico preocupada com ela e também com Felipe e Luísa.
- Se eles ainda continuam na casa de campo dos pais dela, não tem jeito.

Ela deu um suspiro, sentindo vontade de chorar ao imaginar que poderia perder mais três amigos. Mas ao ver a tristeza do rapaz, ela procurou se controlar para não deixá-lo mais deprimido do que estava.  

- O que eu vou fazer agora? – ele perguntou. – Sem meus pais, fiquei sozinho no mundo...
- Você não tá sozinho, seu bobão! Ainda tem a gente!
- É, só que agora eu vou ter que aprender a me virar. Quer dizer, seus pais são gente boa, mas eles não vão querer adotar outro filho, vão? Cara, eu ainda não acredito que isso tá acontecendo! Tá difícil demais!

Magali colocou um braço ao redor do escoço dele, fazendo com que ele apoiasse a cabeça no seu ombro. Cascão se deixou levar, sentindo-se sozinho e carente. Um pouco de carinho não ia fazer mal nenhum. Quando ela começou a lhe fazer cafuné, ele fechou os olhos e procurou relaxar um pouco. O Quim era mesmo um cara de sorte por ter uma namorada tão meiga quanto ela que fazia o melhor cafuné que ele tinha experimentado. Cascuda também era carinhosa, mas não tinha a mesma delicadeza que Magali.

__________________________________________________________

Ângelo abriu o armário para dar uma boa olhada no que tinha sido deixado para trás e viu que ainda tinha muita roupa ali. O que o Cascão tinha levado na bagagem afinal de contas? Certamente revistas, brinquedos, alguns jogos e outras quinquilharias.

- Eu também achei cobertores. – Nina falou trazendo alguns e colocando em cima da cama. – Acho que ele vai precisar.
- Boa! Também tem bastante roupa aqui. Pelado ele não vai ficar. E nem com frio! Só não sei como a gente vai levar... não ficou nenhuma mala pra contar a história!

Nina pensou um pouco e teve uma idéia.

Tem lençóis bem grandes, podemos fazer uma trouxa com eles. Já vi humanos fazerem isso.

- Legal! Então vamos.

Ângelo foi tirando as roupas do armário e Nina foi dobrando do jeito que podia e colocando sobre um lençol. Ela não sabia como dobrar roupas porque nunca precisou se preocupar com esse tipo de coisa e muitas ficaram mais emboladas do que dobradas. Blusas, camisas, calças, bermudas, agasalhos, tênis, cuecas, meias... Tudo o que era roupa Ângelo foi tirando do armário.

Quando ele terminou, a trouxa ficou com um bom tamanho, deixando-o satisfeito.

- Deixa eu ver... Será que precisa de mais alguma coisa?
- Não ficou nada, parece que ele levou tudo.
- O que é uma pena...

Ângelo tentou voltar ao local do acidente para ver se alguma coisa tinha se salvado e viu que tudo ali virou cinzas. Lurdinha tinha levado os álbuns de família e nenhum deles se salvou. Nem mesmo o retrato da família que ficava na mesa da sala tinha se salvado. Ele até pensou em levar algum objeto de valor sentimental para o Cascão, mas também não tinha sobrado ali. Todo o passado e infância dele tinham sido queimados junto com os seus pais.

- E comida? – ela perguntou. – será que não dá para colocar nada de comer?
- Acho que eles esvaziaram a geladeira, mas vou ver se tem alguma coisa na despensa. A gente não pode abusar muito ou o Serafim vai dar bronca.

Os dois foram dar uma olhada nos armários da cozinha e na despensa. Nina perguntou.

- Eu ainda não entendi como você conseguiu convencer o Serafim a nos deixar fazer isso.
- Na verdade foi a D. Morte quem pediu e eu nem faço idéia de como ela conseguiu convencê-lo! Eu pedi, implorei, chorei e nada. Aí foi só ela falar um pouquinho com ele e pronto!
- Nossa! Como será que ela fez isso?
- Deve ter usado muita lábia!

__________________________________________________________

- Minhas penas... Minhas lindas penas! – ele tremia, ainda abalado que o que tinha acontecido algumas horas atrás.
- Calma, Serafim! Elas vão crescer de novo! – o outro anjo falava tentando consertar as penas que ainda tinham ficado nas asas do amigo. – E até que ela foi branda. Considerando o que aconteceu, eu esperava que ela fosse fazer muito pior!

__________________________________________________________

- Hum... Existe o risco de infeccionar. Por que vocês não a levam ao hospital?

Luísa e Souza se olharam e ela respondeu.

- Quando chegarmos ao MT, vamos levá-la ao hospital sim...
- É melhor. Não deixem muito tempo ou vai infeccionar. Vou fazer o seguinte. – o homem tirou um bloco de papel da sua maleta e escreveu nele enquanto falava. – Vocês podem comprar alguns itens na farmácia?
- Podemos.
- Certo.

Souza leu a lista que ele tinha lhe dado. Por acaso aquele médico estava fazendo uma viagem para o MT e ao passar perto das duas, ele viu a mulher fazendo os curativos nas mãos da moça e viu também que os ferimentos não estavam nada bons.

Quando Souza foi comprar os itens da lista, ele deparou-se com o Cascão que vinha na direção oposta.

- Oi... como a Mônica está? – ele perguntou.
- Tem um medico tratando dela. Você podia fazer o favor de comprar algumas coisas na farmácia?
- Claro, tranqüilo.

Na lista tinha curativos, um antiinflamatório, soro fisiológico, analgésicos e anticépticos. Ele foi num pé e voltou no outro, trazendo tudo o que o medico tinha pedido. Luisa foi com ela até o banheiro para lavar o ferimento usando o soro e o médico refez o curativo.

- Ainda bem que não rompeu nenhum tendão ou ligamento e parece que não vai precisar dar pontos. Ainda assim é bom levarem ela ao hospital só por precaução.

O casal agradeceu muito a gentileza do médico e os três se afastaram um pouco, deixando Cascão e Mônica sozinhos.

- E aí, como você está?
- Acho que agora minhas mãos vão melhorar. Que pena...
- Ué! Pena por quê?

Ela sorriu.

- Eu até que estava gostando do Cebola me dando comida na boca!
- Hahaha! Fala sério!

Quando se sentiu mais a vontade, Cascão falou.

- Olha, eu ainda não pude te agradecer por ter tentado salvar os meus pais. Valeu mesmo, você quase se matou por eles!
- Imagina! Teria feito por qualquer um de vocês. Só fico triste por não ter conseguido! Se eu tivesse puxado com mais força...

Ele colocou uma mão sobre o ombro dela.

- De boa, você fez o que pode. Eu não pude fazer nem a metade! Caramba, às vezes eu fico pensando como teria sido se eu tivesse pulado sobre o carro, ou então...
- Acho que se você ficar pensando muito, vai fazer mal. Vai ver o Ângelo tava certo e era mesmo a hora deles, sei lá.
- Melhor nem pensar nisso, senão eu fico mais pirado que o Licurgo. Será que ele tá esperando a gente?
- Acho que sim. Aí é juntar os cacos e recomeçar.

__________________________________________________________


Ao dar uma olhada no pequeno bar do pai, Carmen viu que tinha ali bebidas como whisky, vodka, cortezano, alguns licores e outras que ela não conhecia. Como não tinha ninguém olhando, ela resolveu provar um pouco de um licor vermelho que tinha uma aparência muito boa. O sabor era bem doce e estava gostoso, mas ela logo perdeu o interesse. D. Morte tinha razão, beber sozinha não tinha muita graça.

“Quando é que a baranga vai voltar?” ela queria e ao mesmo tempo não queria que D. Morte aparecesse. Queria porque precisava lhe fazer uma pergunta, mas ao mesmo tempo não queria porque as duas sempre acabavam trocando insultos e alguns tapas. O relacionamento entre elas parecia até um pouco pior do que o da Mônica e do Cebola quando crianças, que sempre saiam brigando por qualquer motivo.

“Humpt! Fala sério, eu nem sei se ela vai responder! Bah, quer saber? Tomara que ela exploda, aquela chata magricela e leite azedo!”

Ela voltou para o seu quarto ainda xingando D. Morte mentalmente e torcendo para que ela não voltasse mais a lhe procurar. Aquela assombração só sabia lhe xingar e puxar o seu lindo, bem cuidado e maravilhoso cabelo, coisa que Carmen não aceitava de jeito nenhum. Principalmente depois de ter feito uma boa hidratação usando um dos produtos caros que ela tinha trazido de casa.

__________________________________________________________

Licurgo olhou para o céu e não viu nada além das nuvens que flutuavam aqui e ali. Aquilo era bom. Nenhum portal, nenhum emissário, nada. Então ele tinha mesmo acertado na escolha do lugar. Ali era mesmo seguro e depois que tudo acabasse, as pessoas iam poder refazer suas vidas. Isso, claro, se conseguissem chegar a tempo. ao receber a notícia de que o avião onde Mônica e seus amigos estavam tinha dado problemas, ele ficou muito preocupado e apreensivo.

Muita coisa poderia acontecer e ele se sentia impotente por não poder fazer nada para socorrer seus alunos. Ali perto, ele viu os professores Átila e Ana Paula passeando juntos. Pelo menos eles tinham sido espertos o bastante para ouvirem seu conselho. Outros preferiram acreditar na ilusão de que tudo estava bem e continuaram onde estavam. E apesar de um terremoto aqui e ali, tudo parecia mesmo tranqüilo e ninguém fazia idéia de que o chão sob seus pés podia se despedaçar de uma hora para outra.

- Humpt! Depois dizem que eu sou louco!

__________________________________________________________

Foi com muito alívio que todos subiram no avião e acomodaram em seus assentos. Finalmente a espera tinha terminado e eles torciam para que daquela vez não houvesse nenhum imprevisto. Como não tinha conseguido um lugar junto com seus pais, Magali teve que se sentar em outra fileira afastada dos outros. Cascão também tinha se sentado perto do fim do corredor. Depois que o avião decolou e os passageiros puderam desapertar os cintos, ela foi até onde o amigo estava e usou todo o seu jeitinho meigo e fofo para convencer um senhor que estava do lado dele para trocar de lugar com ela.

- Puxa, valeu. Tava chato viajar sozinho aqui e aquele cara cheira mal pra caramba!

Ela deu uma risadinha com a ironia da situação. Logo o Cascão reclamando do mau cheiro de alguém? Como estava sentado perto da janela, ele cedeu o lugar para que ela pudesse olhar lá fora.

- Já que você veio até aqui, tem que ficar bem acomodada.
- Obrigada! Acha que vai demorar muito?
- A aeromoça disse que não. Deve levar perto de duas horas, é rapidinho.
- Ainda bem! Mal vejo a hora de chegar!

Como não tinha mais o que fazer e ambos se sentiam cansados, um se apoiou no outro para tirar uma soneca e se preparar para as emoções que iam ter dali para frente. Não ia ser nada fácil.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...