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História 21 Primaveras - Senti sua falta, hyung


Escrita por: yewoon

Notas do Autor


AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA VOLTEI! Olha só quem resolveu botar a cara no sol (no caso, enfiar a cara no word?).
Fazia um bom tempo que eu estava escrevendo esse capítulo, li, reli, escrevi e reescrevi certas partes várias vezes, e embora não ache que esteja perfeito, até que gostei. Espero que vocês também. Ainda não tive tempo de revisar, perdoem quaisquer errinhos, por favor. Eu sempre arrumo depois, prometo.
Ah! Finalmente: Jimin e Jungkook entraram na história! Espero que vocês deem muito amor aos meus filhinhos, porque, segundo a minha linda melhor amiga, esse jikook tá bem flufflyzinho sim ♥! (Mas a felicidade não vai durar muito, então prepara o kokoro) Gente, nessa fanfic ninguém escapa da sofrência, logo aviso.
Um aviso sobre o capítulo: a introdução do Jimin se deu no MESMO dia em que o Taehyung, Hoseok e Seokjin foram ao parque de diversões, ok? Para não ficar muito confuso, tentei mostrar o ponto de vista de cada um primeiro, e isso vai acontecer no próximo capítulo também (vocês vão entender quando chegarem ao final). E esclarecendo outra coisa, Taehyung, Namjoon e Jimin já se conhecem, como eu mencionei no capítulo, só não são próximos.

Espero que gostem anjinhos <33
Até logo!
*tentando achar um gif com menos de 1mb*

Capítulo 8 - Senti sua falta, hyung


Seokjin e Hoseok ainda se abraçavam quando Taehyung decidiu erguer a cabeça e caminhar até o deque de madeira, balançando a sacola na mão. Abriu um sorriso como uma tentativa de parecer mais confiante, mas não era o mesmo sorriso que havia dado a poucas horas atrás, aquele sorriso sincero e inocente. 

O mais velho do trio sentiu de imediato a presença do mais novo, e com algumas últimas batidinhas nas costas do amigo, se afastou. Sabia que seu rosto provavelmente estava todo vermelho, como acontecia quando chorava. Era por esse motivo e outros que evitava ao máximo chroar na frente de outras pessoas. Mesmo assim, o sorriso iluminado sob os lábios carnudos era quase como um analgésico para Taehyung. O de cabelos negros deu uma última fungada, antes de virar-se para se deparar com o mais novo, que os olhava de forma atenta.

— Oi, Tae. Acho que vou embora agora, ainda tenho que pegar um táxi. Tudo bem pra vocês?

— Claro. Até mais, hyung. — Hoseok respondeu, suave, e Taehyung retribuiu o sorriso do amigo, que até então parecia preocupado. Mas estava tudo bem, mesmo.

Não tinha o por que de não estar, na verdade. Todos os três eram amigos. E além disso, Seokjin namorava o Namjoon. 

Os dois observaram a imagem do mais velho afastando-se, até finalmente desaparecer de seu campo de visão. O mais novo mordeu os lábios, nervoso. — Ah! — Colocou a sacola em cima da mesa e entregou à latinha de refrigerante à Hoseok, que riu. — Já ia me esquecendo, desculpa.

— Tudo bem. Seokjin é meu exagerado, eu já estou bem melhor. Acho que pegamos o mesmo caminho daqui, né? Vamos?

Assentiu e começou a caminhar ao lado do outro. Taehyung não suportava o silêncio quando estava com Hoseok. Não existia nada pior do que parecer um idiota à sua frente.

— A propósito, hyung...como você e o Jin hyung se conheceram? — E assim, do nada, aquelas palavras escaparam de sua boca. Não era exatemente o tipo de conversa que queria ter, e tampouco sabia se queria ter uma resposta. Por que não podia simplesmente calar a boca?

 — Ah, é uma longa história. — O sorriso de Hoseok murchou e ele encolheu os ombros, como se estivesse desconfortável com alguma coisa. Taehyung percebeu. — Nós estudamos juntos. Eu, Seokjin, Yoongi e...é, foi isso. Mas depois que eu parei de ir pro colégio, nos afastamos um pouco. Acho que...naquela época, fui meio injusto com ele.

— Ah. — Fez, e foi a única coisa que pôde falar naquele momento. 

 

Taehyung não queria dormir. Não queria que aquele dia acabasse, porque a partir do momento em que acordasse no dia seguinte, tudo aquilo não passaria de uma memória. Apenas mais uma memória e tudo voltaria a ser a mesma merda de sempre. E tinha medo, vivia com medo do que podia acontecer no dia seguinte, do que podia acontecer no futuro. 

Respirou fundo e abriu os olhos, voltando a fitar o teto escuro. Antigamente havia estrelinhas ali, aquelas de borracha que brilham no escuro, porque quando era pequeno sempre acordava de madrugada chorando com medo de que algum monstro saísse do armário, ou apenas de ficar sozinho no escuro, onde não podia enxergar nada, e corria para o quarto dos pais. Agora nem mais aquelas estrelinhas podiam iluminar a sua escuridão ou tirar de si o medo. 

Nem mesmo estava na "hora de dormir" ainda, mas aquele provavelmente era seu último domingo de folga, antes de começar a turnar por mais tempo na boate. Mas, para falar a verdade, tinha algo, ou melhor, alguém que não saía de sua cabeça: Jung Hoseok.

Por que pensava tanto naquele rapaz? Por que queria tanto se aproximar dele? Era estranho. Todos ao seu redor pareciam conhecê-lo, ter uma história com ele, e Taehyung era o único que não sabia de nada. Era um peixe fora d'água. Há pelo menos um mês, negaria com todas as forças que talvez se sentisse atraído por ele, que talvez estivesse gostando de um homem. Porque não queria isso. Não merecia isso. O que ele tinha feito de tão errado, se é que fez alguma coisa? Também não conhecia Yoongi há muito tempo, mas, mesmo assim, era diferente. Foi diferente desde sempre. Desde o momento em que ficou preocupado que aquele desconhecido pudesse tentar alguma coisa com todos aqueles comprimidos, desde que entregou a carteira que ele havia perdido de volta, e, principalmente, desde que havia visto Seokjin abraçá-lo.

Queria que fosse ele, ali, naquele momento. Queria preservar aquele sorriso em sua memória pra sempre, e sentir a mão do outro segurar a sua novamente. Porque era diferente com ele. Diferente de quando beijara pela primeira vez, e, meu Deus! Seu primeiro beijo foi com seu melhor amigo. 

Taehyung não era burro; nunca havia sentido aquilo por alguém antes. Sabia que aquilo não era algo a se ignorar, afinal, não podia. Uma parte de si tentava rejeitar aquilo a todo custo. Porque, o que seria dele gostando de homens? Saindo com homens? Será que já não bastava tudo pelo o que estava passando? E tinha certeza de que, até então, Hoseok nem o considerava como amigo. Toda vez que se viam eram obrigados a encarar aquele silêncio constrangedor e odiava quando Hoseok sorria forçado quando parecia incomodado com alguma coisa. Sentia-se completamente impotente, afinal, como poderia fazer algo por algúem, quando já havia desistido de si mesmo?

Mas queria ver todas as formas de Hoseok, todas as formas de seu sorriso. Porque naquele momento, uma primeira primavera estava desabrochando em si.

Park Jimin, dezoito anos, cabelos cor de fogo e, como sempre, atrasado. Mas aquele era um dia particularmente especial, então talvez estivesse atrasado apenas em sua mente desesperada, porque fez questão de se arrumar duas — isso mesmo, duas — horas antes do previsto.

O motivo? Jeon Jungkook. Jungkook era o melhor amigo de Jimin, embora este fosse mais velho que o primeiro por um ano, e o conhecia desde que descobrira que sua mãe não se chamava realmente mãe. A questão é, no primeiro ano do colegial, os pais de Jungkook foram transferidos para a Inglaterra e, finalmente depois de longos e tortuosos dois anos, ele estava voltando. Mas dessa vez ele estava sozinho, e isso era uma coisa que o próprio Jimin ainda não sabia explicar muito bem.

De um dia pro outro, de repente, a Sra. Jeon ligou para os Park avisando que o filho voltaria para a Coréia e pediu para que o acolhessem. Jimin não duvidava de que eles podiam alugar um apartamento de luxo para o filho se quisessem, mas é óbvio que não recusariam, Jungkook era como um segundo filho na família, e sabia que a Sra. e o Sr. Jeon também sabiam que ele ficaria melhor se não estivesse sozinho. E além do mais, era bom pensar que agora teria o melhor amigo mais perto do que nunca. Jimin não tinha se aproximado ou feito muitos amigos desde que ele fora embora. Quer dizer, Jungkook estava um ano atrás de Jimin, e ele até conhecia algumas pessoas de sua sala, como Taehyung, Namjoon, Jinhwan, Soeyon...mas não era como se fosse próximo deles ou algo do tipo.

Desceu as escadas com pressa, quase tropeçando por causa das meias — Jimin tinha esse costume de andar por todo o lugar de meias, não era à toa que vivia sempre com machucados espalhados pelos braços e pernas. Era impossível esconder aquele sorriso que fazia seus olhos quase desaparecerem em meio às bochechas gordinhas e fofas. 

Impressionantemente, já tinha até mesmo tomado café, e agora só conseguia ficar jogado no sofá, observando atentamente o relógio preso na parede, em cima da porta que dava acesso à cozinha. Contava os minutos para poder finalmente sair de casa. Era estranho, porque quando ficava tão ansioso, embora animado, Jimin quase não falava — e sua expressão era mais séria do que desejava.

— Jimin, sua boca vai cair se continuar com esse bico. — A Sra. Park disse, tocando levemente o queixo do filho e um sorriso se abriu em seus lábios — Jimin tinha aquele mesmo sorriso tímido. — O que foi? Achei que estivesse ansioso para ver o Jungkook.

— E estou. Só estou com um pouco de medo de as coisas não serem mais as mesmas, sabe? — Respondeu com um sorriso murcho.

Jimin era o tipo de pessoa que se preocupa com pequenas coisas.

— Como assim?

— Não sei, acho que as pessoas perdem intimidade quando não se veem por um tempo.

— Ah, amor. Vocês são melhores amigos, tenho certeza que as coisas continuam as mesmas. — Ela disse, e aquilo aliviou Jimin, os conselhos de sua mãe eram os melhores. A mulher se levantou do sofá para pegar o controle na mesinha de centro e desligar a TV. — As coisas já estão arrumadas pra ele no seu quarto, certo? Já está na hora de ir. Já chamou um táxi?

 

E lá estava ele. Os olhos esperançosos buscavam Jungkook em cada passageiro que desembarcava, segurava uma plaquinha com o nome do amigo, que ele mesmo tinha feito com aquela caligrafia que poucos eram capazes de entender.

Foi então que seus olhos finalmente encontraram aqueles grandes e curiosos olhos redondos, os lábios vermelhos perfeitamente contornados e a pequena pinta debaixo deles, e a cicatriz deixada no seu rosto ainda quando era pequeno — Jimin se lembrava bem daquele dia. Jimin estava tentando ensiná-lo a andar de bicicleta, mas como o Jeon estava com medo, decidiram ir juntos. A bicicleta caiu, e o mais novo cortou o rosto no galho de um arbusto. Jimin teve que bajulá-lo muito para que parasse de chorar. O sorriso do ruivo se alargou ao se lembrar daquilo

— Jungkookie! — Gritou, caminhando em passos rápidos até a escada rolante. Levantou o cartaz, quase escondendo o próprio rosto, e teve que ficar na ponta dos pés para conseguir ser visto no meio daquela multidão.

— Hyung! — O mais novo desceu os últimos degraus quase atropelando as pessoas ali, indo de encontro ao hyung às gargalhadas. — Estou em casa. 

Ainda era difícil acreditar que estava de volta. Que estava na Coréia novamente, que estava em casa. 

— E aí? Como foi lá? — O Park passou o braço pelos ombros do melhor amigo, ajudando-o a carregar as malas com a outra mão. — Wow, você cresceu!

— Hyung, acho que foi você que encolheu. Quer que eu busque um banquinho?

— Yah! — Reclamou, dando um tapinha na cabeça do outro. — O que há com esse garoto, hein? Além de mais alto voltou mais ousado? Não tem medo de morrer, Jeon Jungkook?

— O hyung não viveria sem mim. 

— Aish...o que eu faço com você? — Riu. — Ah...vamos logo. O táxi 'tá esperando, você demorou!

Jimin se sentou no banco da frente e Jungkook ficou atrás, observando atráves do vidro escuro da janela do carro cada prédio ou casa pelo qual passavam, com todos os minímos detalhes. O restaurante de mandu e kimchi, as casinhas tradicionais e até mesmo o aspecto mais tecnológico de Seul. Aquele era o seu lugar. Sem garotas loiras e esnobes andando por todos os cantos, sem restaurantes de fast-food a cada vinte metros — embora venerasse a pizza dos EUA, e sem o medo do desconhecido. 

— Jungkook-ah, do que você mais sentiu falta quando estava fora?

De você. — Kimchi. Não lembro qual foi a última vez que comi. — Seus olhos se desviaram pela primeira vez desde que havia entrado no carro para aquela cabeleira cor de fogo, e ele sorriu, tímido.

— Kimchi? — Jimin piscou várias vezes, surpreso. Jungkook mal comia kimchi quando ainda morava na Coréia.

— Uhum. — Fechou os olhos. — Eu poderia comer uma panela inteira. 

O Park sorriu, encostando a cabeça na janela. Ainda não sabia se gostava ou não da chuva, mas podia passar horas apenas observando as gotinhas escorrerem devagar pela janela, como lágrimas. 

— Hyung?

— Hm?

— Senti sua falta.

E de novo, o rubor que lhe tomava as bochechas. Era extremamente raro conseguir alguma demonstração de afeto pelo lado de Jungkook, então, mesmo que breves e minímos, aqueles momentos lhe eram especiais.

— Eu também. — Respondeu por fim, antes de se ver procurando a carteira pelos bolsos para pagar o táxi que havia parado bem em frente de sua casa.

— Aigo.. — Resmungou, saindo do táxi com as pequenas mãos sobre a cabeça. Jungkook não era do tipo que ligava muito pra isso, mas você sabe, é difícil não se importar quando se passa mais de duas horas por semana hidratando o cabelo. Então, é, o instinto protetor de Jimin era maior do que ele.

— Hyung... — O mais novo balançou a cabeça, em desaprovação, rindo. Pegou as malas do porta-malas e acenou brevemente para o taxista, correndo então para o melhor amigo. Colocou as malas no chão quando o Park abriu a porta, sorrindo bobo à medida que seus olhos corriam pela casa do outro. Aquela era a sua casa também, agora. 

— Jimin, bebê? — Uma voz feminina chamou, e Jungkook começou a rir. Logo a Sra. Park surgiu de trás da porta, com um sorriso enorme. — Ah! Jungkookie! Omo, é tão bom ter você aqui de novo! — Abraçou o filho postiço com carinho, dando-lhe batidinhas nas costas.

— Mãe...mãe, para com isso.

— Aigo, o que foi? Está com ciúmes? Você é meu filhotinho também! — Puxou Jimin para si, abraçando os dois garotos — ambos mais altos que ela — como se não os visse há meses. — Ah! Venha, Jungkook! Eu fiz kimchi! — Os soltou, com um aperto no coração, fazendo sinal com a mão para que a seguissem até a sala de jantar. Jungkook olhou para trás, como se perguntasse com os olhos se Jimin precisava de ajuda antes de irem comer, mas este apenas balançou a mão em negação, e então estava sozinho.

Rindo, pegou uma mala em cada mão e subiu as escadas rápido, pulando alguns degraus. Praticamente jogou a bagagem em cima das camas e desceu na velocidade da luz. 

Na sala de estar, a mesa já estava servida. Os Park não costumavam almoçar cedo, mas aquela era uma ocasião especial, então merecia um esforço. Jimin sorriu e se sentou ao lado de Jungkook, que parecia apreensivo. Ele olhava cada canto da sala como se fugisse de qualquer contato visual, o que era engraçado, porque ele fazia a mesma coisa quando estava perto de garotas — ok, Jimin também não era lá o ser mais desinibido do mundo, na verdade boa parte de sua timidez com garotas se esvaiu quando, bem, descobriu que suas preferências pendiam para o mesmo lado, mas era impossível não achar engraçado. 

— Por que está tão nervoso? Você passou quase sua infância inteira aqui. 

— Ah, é só...estranho. Acho que esqueci um pouco dos costumes coreanos. Digo, eu nem sei mais o que é um gimbap! 

O mais velho riu.

— Relaxa...é o seu primeiro dia de volta. E você vai estudar na mesma escola que eu, né? Vou estar lá se precisar de ajuda.

Jungkook abriu os lábios para dizer alguma coisa, talvez um agradecimento, ou fazer uma pergunta, mas no mesmo instante a mãe de Jimin entrou em cena segurando uma panela cheia de kimchi. 

Bem, coreanos comem kimchi tanto quanto respiram. Uma vez, na terceira série, um garoto da sala de Jimin até mesmo fez uma redação sobre isso. 

— Com fome, meninos? 

— Ah, muita! Obrigado...ahn..tia. Parece delicioso. — Jungkook respondeu, agradecido, mas Jimin não demonstrou muita reação. Ultimamente, ele não tinha comido muito.

— Ah, querido! Aproveite, por favor. — Pediu, sorridente. — E então, Jungkook, como vão seus pais? Sua mãe me contou que seu pai ganhou uma nova promoção na empresa, não é isso?

— Ah, sim. Minha mãe pretendia voltar comigo para a Coréia, mas como surgiu essa oportunidade...ela achou melhor ficar lá para ajudar o meu pai. — Jungkook e a Sr. Park conversaram por minutos, embora Jungkook ainda fosse tímido perto de pessoas com as quais não estava habituado, sentia um carinho enorme por ela e tinha certeza de que se acostumaria facilmente, desde com os seus carinhos espontâneos até com suas broncas de mãe. O ruivo escutava tudo atentamente, em silêncio.

— Seu pai vai passar a noite na empresa hoje, Jiminie. Então será que você pode passar lá antes do trabalho e entregar a papelada que ele pediu? — O Sr. Park trabalhava em um escritório de contabilidade. Não era lá o trabalho dos deuses, e sim, passava a maior parte de seus dias lá, quando poderia estar em casa assistindo TV ou coisa do tipo, mas a parte boa é que às vezes conseguia levar o trabalho para casa e descansar um pouco mais. Jimin não nascera em uma família rica, ao contrário de Jungkook, cuja família sempre fora muito bem sucedida. Sua mãe era professora de história, até parar quando Jimin completou nove anos, para poder dar mais atenção ao filho. Como a situação financeira da casa ainda não estava cem por cento estável, até mesmo levando em conta que imprevistos podem sempre acontecer, ela ainda dava aulas particulares algumas vezes.

— Claro. 

— Como assim "trabalho"? Hyung? — Jungkook olhou para o amigo, perplexo. 

Jimin abriu a boca para responder, mas então foi interrompido pela mãe:

— Jimin não te contou? Ele está com essa ideia de trabalhar agora. — Lamentou, esperando que o mais novo compreendesse. — Mesmo eu tendo dito que é perigoso, ele continua insistindo. 

— Ah, sim.. — O moreno riu, abafado, e olhou para a comida no prato. De repente até ela perdeu o sabor. Jimin com certeza era um rapaz de ouro, responsável, bonito, amoroso. Tinha certeza de que suas intenções em tentar arrumar um emprego eram as melhores, sabia que ele queria ajudar os pais, e de alguma forma aquilo o fazia se sentir mal, inútil, inferior. 

Jungkook nunca precisou se preocupar com despesas ou coisas do tipo. Mas, sabe, viver uma vida plenamente confortável por tanto tempo acaba se tornando desconfortável também.

— Mãe, não é perigoso. Eu já tenho quase dezoito anos, sei me cuidar muito bem. — Respondeu, sério, levando um pedaço de mandu à boca.

— E é por isso que está sempre cheio de hematomas pelo corpo? — A Sra. Kim rebateu, e Jungkook riu, como forma de quebrar o clima tenso que se formava em volta da mesa, então voltando a comer em silêncio.

No fim, mesmo que tivesse perdido a fome por um breve momento, Jungkook não deixou nem um vestígio sequer de que naquele prato já fora cheio alguma hora, enquanto Jimin deixara pelo menos metade do dele. 

Assim que ajudaram a retirar a mesa, subiram para o quarto, e a primeira coisa que o de cabelos cor de fogo fez foi se jogar na cama, rindo.

— Woaah, o seu quarto mudou bastante. — Jungkook observou. — Mas no fim das contas, você é mesmo um nerd. — Jungkook riu ao ser atingido com uma almofada, sentando-se ao lado do ruivo jogado na cama. O quarto de Jimin era bem organizado, ele tinha uma estante cheia de livros — que tinha certeza serem todos de temas entediantes ou romances água com açúcar, e algumas coisas de videogames. 

— Então, aonde você está trabalhando?

— Ah...lembra do meu tio? Aquele que tem uma boate no centro de Seul? Ele me arrumou um emprego lá como barman. — O mais velho se levantou, sentando-se corretamente na cama.

— Quê? Achei que sua mãe odiasse que você ficasse perto dele porque ele sempre nos ensinava brincadeiras perigosas. — Disse, pasmo.

Jimin riu. — É, mas eu consegui convencer ela depois de muita insistência. Acho que ela sabe que eu sou fraco demais pra bebidas e essas coisas.

— E quanto aos seus turnos?

— Hum, das seis e meia às onze em dias e das nove às duas aos fins de semana.

— Às duas?! Jiminie, como assim você não vai ficar comigo para jogarmos videogame de madrugada? — Choramingou o Kook. A verdade é que não se sentia muito confortável em pensar em seu Jiminie trabalhando em um lugar do tipo. Sabia que a boate do tio do Jimin era na verdade um lugar bem "luxuoso" e conhecido, por assim dizer, mas as pessoas ali só estavam ali por três motivos: bebida, drogas e sexo, e até mesmo um garoto de dezesseis anos como Jungkook estava mais do que ciente disso. 

— Jungkook, são só cinco horas, e é o melhor que eu posso conseguir no momento. Eu preciso trabalhar.

— E eu não posso ir com você? — Abriu um sorriso amarelo.

— De jeito nenhum.

— E por que não?!

— Você é menor de idade. E não tem uma identidade falsa. — Respondeu, sério, se levantando para abrir a mala do outro e ajudá-lo a arrumar suas coisas. — E nem pense em fazer uma. — Jimin alertou, preocupado. Não duvidava nada que Jungkook tentasse algo do tipo.

— Mas hyung! Ninguém vai saber. Eu sempre quis entrar em uma boate...e você também é de menor!

— Não importa, porque eu sou seu hyung e você tem que me obedecer. — Se aproximou novamente apenas para dar um petelco na cabeça do outro, que fez um bico e cruzou os braços, emburrado.

— Humpfh, eu vou acabar indo lá alguma hora mesmo... — Resmungou, mostrando a língua pro outro quando esse o olhou de forma ameaçadora. 

Depois daquilo, ficaram conversando sobre várias coisas, sobre Jungkook, sobre Jimin, e até sobre os assuntos mais triviais possíveis, como lançamentos de novos jogos ou filmes. Jungkook tinha inúmeras perguntas para fazer, mas queria conhecer o novo Jimin com o qual viveria dali pra frente com calma, sem pressa. Porque agora podia finalmente estar perto dele. 

— Aaaaah, não quero ir trabalhar, Kookie. — Passou os braços pelos ombros do amigo, sentado no sofá, abraçando-o para trás. Agora já estava vestido, a camisa social branca, a icônica gravata borboleta e o cabelo ruivo penteado para trás. 

— Sabia que você ia ficar com preguiça... — Murmurou, rindo, antes de se virar e se deparar com um Jimin completamente diferente do usual. Desviou o olhar do do outro antes de sentir o calor das próprias bochechas. — N-Não sabia que você precisava usar um uniforme...

— Ah, é... — Jimin se afastou, envergonhado, olhando o próprio corpo de cima abaixo com um sorriso tímido. — Não ficou muito legal, né?

— Não, hyung! Ficou ótimo em você, mesmo. — Protestou o mais novo, sentando de joelhos no sofá e largando o console. — Não posso mesmo ir com você? — Perguntou baixinho, olhando-o com aquele olhar pidão ao qual sempre cedia.

— Desculpa, Jungkookie. Mas você pode ir comigo levar os papéis do meu pai e me acompanhar até a boate. Mas depois disso, você tem que ir embora, entendeu? — Os olhos do mais novo se iluminaram, e ele sorriu.

 

Eram sete e meia. O turno começava às nove, então Jimin decidiu sair naquele mesmo momento. Não eram as raras as vezes em que se atrasava para compromissos, mas agora precisava levar o emprego a sério e dar o seu melhor. Afinal, só assim poderia pagar a sua faculdade — não achava justo que depois de tanto tempo seus pais ainda continuassem a pagar algo para si. E bem, ainda havia a possibilidade de entrar em uma faculdade pública, caso conseguisse, então com certeza guardaria o dinheiro para alugar um apartamento ou coisa do tipo. 

Jungkook estava um pouco nervoso; não porque parecia não se lembrar totalmente das ruas daquele bairro, mas porque estava ao lado, depois de tanto tempo, do homem mais bonito que já conhecera. Algumas garotas o olhavam enquanto passavam, e por mais que soubesse que garotas não eram a praia do Park, ainda havia um sentimento se insegurança. Porque, quer dizer, não sabia o que seria pior: vê-lo com uma garota — porque, neste caso, não havia muito o que fazer —, ou vê-lo com outro homem, o que só comprovaria sua teoria de que tinha zero chances com o mais velho.

Mas sabe, tinha um lado bom naquela amizade. Jungkook podia andar grudado ao outro sem que esse estranhasse, sentir que era seu namorado. E é claro, enviar olhares irritados para as pessoas que os olhavam demais. 

— Ah, é aqui. — Jimin segurou com força o envelope nas mãos. Estava meio escuro, então era quase impossível ver o ponto mais alto do prédio.

— Quer que eu suba com você?

— Não, eu vou só deixar na recepção. — Respondeu, subindo as escadas que levavam à entrada do prédio em passos rápidos. Não demorou muito para voltar para Jungkook, com um sorriso tímido no rosto.

E bem, dentro de alguns minutos chegaram a boate. Era de fato um lugar bonito, todo iluminado por luzes neon do lado de fora, sem ser muito extravagante. Não era um lugar refinado, afinal apenas jovens frequentavam ali, mas não tinha nem comparação com aqueles barzinhos fedidos de esquina. 

Jeon sabia que aquela era a hora em que ele era enxotado, então logou empinou o nariz e fez um bico do tamanho do mundo. Parecia uma criança mesmo. Mas é que, bem, que garoto de dezesseis anos não tem vontade de entrar numa boate, não é? Às vezes odiava o fato de Jimin tratá-lo como criança. Era ele quem precisava ser protegido, Jimin era precioso demais. Jungkook não podia deixar que seu sorriso sumisse, por um dia sequer. — Posso te acompanhar todos os dias?

Jimin arregalou os olhos. — Todos?!

— É.

Jimin acabou rindo. Apertou as bochechas do mais novo, bagunçou seus cabelos escuros e apenas assentiu, antes de entrar no local de trabalho. E nem sequer olhou para trás.

 

Para falar a verdade, o lugar era bem melhor do que pensava. O seu tio estava lá, então estava sendo bem instruído. Park Han, era o irmão mais novo de sua mãe, e com certeza o tio mais foda que poderia ter. Eles não se viam muito, e Jimin se sentia um pouco envergonhado perto dele porque literalmente era o tipo de jovem que caía só de tomar uma rodada de álcool, e provavelmente do mais fraco, então era meio que constrangedor. Ele sempre oferecia cigarros ou bebidas para o sobrinho, e esse sempre ficava assustado, mas então ele ria e dava algum doce no lugar. 

Jimin estava completamente abssorto em seus pensamentos. De alguma forma, se sentiu meio sozinho, porque não tinha muitos funcionários por ali naquela noite. Ele levava alguns copos vazios em uma bandeja, cantarolando junto à música que tocava alto, sem prestar muita atenção ao seu redor.

Bem, deve ter sido por isso que as coisas acabaram daquele jeito.

Jimin viu os estilhaços de vidro se espalharem pelo chão, e foi tudo muito rápido, porque nem mesmo ele sabia o que havia acontecido.

Então ele caiu pra trás, e à sua frente estava um rapaz de cabelos ruivos, branquelo, o rosto redondinho, mas ele tinha cara de quem não prestava. Foi então que entendeu. — A-Aigo! Me desculpe, mesmo! Eu não estava prestando atenção... — Começou a catar os cacos do chão. — Espera...Você se machucou? Está tudo bem? — Disparou, em preocupação, caçando algum vestígio de sangue pelo chão, sem perceber que ele mesmo havia cortado a mão. Tentou buscar a mão do outro, para conferir se este havia se ferido, mas então ele começou a rir, e Jimin não entendeu nada.

— Está tudo bem, a culpa foi minha. — Yoongi garantiu, ajudando o outro a pegar os cacos maiores do chão. — Ah, olha só. Você que se machucou. — Franziu o cenho, pegando a mão do outro e mostrando o sangue que escorria pela palma da mão. Buscou um papel no bolso, um lencinho, e colocou por cima da mão dolorida do outro. Esperou que o ruivo percebesse o papel rasgado com um número ali antes de se levantar e sorrir malicioso, se virando para ir embora.

Jimin leu rápido o papel. Havia um número de celular ali. Olhou novamente para a multidão, que não tinha nem sequer ouvido o estrondo. Procurou as costas do homem ruivo, aqueles cabelos coloridos — além de seus próprios — se destacavam na multidão. Suas bochechas enrubesceram, e lá estava ele, em pé e parado, observando o desconhecido de longe. 

Guardou o papel no bolso. 



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