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História 3 - A Floresta do Medo - Uma Morte


Escrita por: Samuel_Super_

Notas do Autor


Oie! Vim postar essa fanfic e espero que gostem. Quero lembrar que, como todas minhas fanfics, A Floresta do Medo terá conexões com as outras duas que fiz, no caso A Casa Vermelha e O Outro Lado da Ilha. Como sempre. E...


Boa Leitura!

Capítulo 1 - Uma Morte


Fanfic / Fanfiction 3 - A Floresta do Medo - Uma Morte

- Eles estão aqui, Emillie!

Abri os olhos. Parada na minha frente e sentada na minha cama, podia ver minha irmã mexendo-se inquietas. Um coro de vozes rígidas ecoava lá fora de casa. Bem, não era minha casa, mas fiquei ali tanto tempo que já me acostumei.

            - O que houve? – perguntei em meio ao sono. Sentei na cama e esfreguei o rosto.

Ela olhou para os lados com medo.

            - Os alemães. Eles estão aqui!

Sopot, 1941

Levantei-me de supetão. Coloquei meu agasalho e olhei pela janela. Cerca de cinco homens alemães estavam prontificados em círculo ao redor de uma figura central. Eles apontavam armas na direção do homem no centro enquanto outro os rodeava com as mãos rentes à cintura.

            - Aquele é o London? – perguntei limpando o vidro embaçado devido à noite fria.

Minha irmã encostou-se ao meu lado.

            - É ele Emillie. Precisamos ajudá-lo! – ela falou aos prantos. Lágrimas caíam pelo seu rosto.

Eu sabia há muito tempo que ela estava gostando do London. Ele foi um irmão para nós por toda a caminhada e por toda manifestação que, no fim, não gerou resultados. London nos acolheu de forma rebelde em sua antiga casa nessa cidade. De qualquer forma, eu devia muito a ele.

            - É verdade. Mas como os guardas chegaram? Aqui é muito bem escondido... – parei para pensar um pouco, mas nada me vinha na cabeça.

            - Acho que os alemães não sabem que estamos aqui em cima. – ela disse.

Marjorie não pensava direito. Então ignorava as coisas desnecessárias que ele pensava e dizia; na verdade fiz isso por muito tempo. Entretanto eu devia unir-me com ela para poder sobreviver. Desde que o centro de Sopot foi tomado pelos alemães, eu jamais me senti tão presa à Marjorie.

Lá fora uma conversa desenrolava. Podia ouvir gritos distantes, mas a dicção estava péssima devido à distância. O soldado que rodeava o grupo para e conversava cara a cara com London. Seu corpo suava e seus olhos estavam arregalados. Eu tinha de fazer algo.

            - Vamos descer. – ordenei. – Tive uma ideia.

 

Descemos as escadas silenciosamente. A casa não era muito grande, mas era confortável. Entrei na sala e analisei a cena de perto pela fresta da janela. Agora algo podia ser escutado.

            - Não há ninguém comigo, Herr Hauptmann! Juro! – London insistia.

O hauptmann era uma espécie de capitão. Ele comandava um grupo grande pelas cidades tomadas de toda a Europa. Eles casavam incessantemente os rebeldes, ou seja, Marjorie, London e eu.  

            - Muito difícil um jovem como você sobreviver só. – o capitão disse. Ele tinha uma voz grossa e altamente letal, daquele tipo de gente que toma a frente em discursos políticos. A Alemanha Nazista era assim: hipócrita e, ao mesmo tempo, política.

Engoli em seco. Disparei da janela para a cozinha com Marjorie no meu encalço. Alcancei uma faca e a prendi no meu cinto, junto com uma bolsa de mantimentos que levava. Marjorie pegara as coisas mais importantes para sobrevivermos. Nós precisávamos sair dali.

Abri a porta dos fundos que dava para uma floresta. Ela estava escura e silenciosa.

            - Vá. Vá agora. – despedi-me. – Nos encontramos em Sopot, naquele mesmo local do começo.

Uma lição que as crianças aprendem é que, em momentos de crise, temos de captar os olhares. Infelizmente, minha irmã de onze anos, Marjorie, aprendeu isso muito cedo. No lugar onde ela deveria brincar, havia uma bomba, além de estudar, ela coletava frutas para vivermos. Não, desculpa o termo viver: sobreviver.

Por isso ela correu. Saí após ela quando a garota entrou na mata. A luz do lampião foi sumindo, conforme ela tomava distância.

            - Bom Emillie. Agora é com você. – falei para mim mesma.

Fechei a porta o mais calmo que podia, quando uma arma foi disparada e um grito masculino cortou o ar atrás de mim. Era London. Corri até a extrema direita da residência e olhei para a cena. Os policiais alemães atiraram na perna do meu companheiro. Suas mãos forma laçadas numa árvore enquanto o hauptmann mantia uma faca em seu pescoço.

Tinha de colocar meu plano em ação. Assim, pus minha capa e ergui o gorro me mantendo completamente irreconhecível e, como digo, do lar. Peguei um cesto de frutas e me joguei na frente dos guardas chamando a sua atenção.

Eles me olharam fixamente. Então soltei um grito de dor.

            - Socorro! – gritei caindo novamente no barro com as frutas sendo lançadas na área em que eles se encontravam.  – Dois rebeldes me esfaquearam! Eles estão fugindo para lá! – apontei para o lado leste.

Quebrei o extrato de tomate na minha barriga. Os soldados me olhavam com os olhos arregalados. Então o hauptmann mandou eles correrem em buscas dos tais rebeldes. London se debatia ainda mais gritando nossos nomes. Cala a boca London!

            - Senhora, está bem? – perguntou o capitão se aproximando e segurando minha cintura. Antes que ele me tocasse, lancei-me ao chão novamente e encolhi na lama.

Ele hesitou, então pôs a mão no lugar do suposto corte. Dessa forma, prendi sua mão em meu abdômen e tapei sua boca; joguei minhas pernas entre suas costas e finquei a faca nas suas costas. Ao mesmo tempo, coloquei um chumaço em sua boca, para não gritar. Enquanto o hauptmann desmoronava lentamente sem ruído algum, desamarrei London e o ajudei a caminhar.

Fomos até o extremo da área, ao longe dos guardas e nos jogamos ao lado de uma árvore frondosa. Eles não iriam nos encontrar.

            - Ei, vai dar tudo certo. –disse. Ele abriu a boca para falar, mas coloquei meu dedo em seus lábios. – Não fale nada. Poupe-se. 

London fechou a boca. Sangue jorrava da sua perna esquerda e um corte fraco liberava um fio de sangue por seu braço.

Tirei uma toalha azul da bolsa e fita adesiva. Enrolei sua perna na toalha após estancar o sangramento e derramei uma dose de uísque por cima. Tapei sua boca enquanto ele fazia força para não gritar.

Derramei água da garrafa na cabeça dele e dei de beber. Então sentei ao seu lado na árvore ouvindo gritos bem distantes: talvez de uma cidade pedindo socorro ou dos guardas atrás de mim. Mas sabia que tudo ia dar certo, ou tudo ia dar errado. Em poucos minutos eu peguei no sono.

 

Acordei às 7h da manhã. Levantei-me lentamente para não despertar London de seu sono e acendi uma fogueira. Recolhi água de um riacho ali ao lado e preparei um chá.

            - Ei, amigo! – chacoalhei o homem.

Ele abriu os olhos castanhos e sorriu após um tempo. Entreguei a xícara velha de chá para o moribundo e me sentei ao seu lado.

            - Eles estão com mais tropas, Emy. Parece que nunca vai acabar. – London olhava distante.

            - Temos de conseguir. – falei. – Vamos continuar seguindo o plano.

Estendi um mapa que levei comigo no chão.

            - Estamos aqui, na ponta da Polônia. – informei. – Há o porto na cidade de Sopot, que não está longe, onde poderemos entrar num dos barcos de militares. Assim vamos partir daqui para a Suécia.

            - Sabemos que lá a Alemanha não invadiu. – London disse se empertigando. – Então temos que sair daqui o quanto antes.

Fechei o mapa.

            - Mandei Marjorie ir à frente de nós. – contei. – Ela vai estar num lugar que nós duas conhecemos.

Ele tentou levantar-se.

            - Então vamos logo! – London falou.

Arrumamos as coisas. Voltamos a caminhar após apagar a fogueira completamente. Atravessamos a floresta que, mesmo na luz do Sol, parecia sombria. As árvores se empertigavam num ângulo estranho, podia sentir coisas se movendo nas diversas direções. Quando olhei para a bússola, percebi que o ponteiro girava loucamente. Algo de errado estava acontecendo.

            - London, repare. – ergui a bússola.

London analisou todo o objeto tentando achar imperfeições. De repente olhou todo o perímetro da floresta e segurou minha mão. Agucei a audição e comecei a ouvir: um som distante e mórbido. Algo estava se levantando, ou se aproximando, não dava para distinguir.

            - Alemães... – disse.

Então começamos a correr feitos loucos pela mata. Atrás de nós a floresta se movia: árvores dançavam quando o vento passava entre elas. De repente, algo inusitado ocorreu. Uma árvore envergou-se totalmente e seus galhos enrolaram-se ao redor de London que estava na minha frente. Parei abruptamente enquanto meu companheiro era levado para cima e gritava de horror.

            - London! – minha cabeça doía. Berrava como uma louca.

Então o solo ao meu redor foi ruindo. Pulei a tempo numa árvore que vaporizou fazendo com que eu caísse no chão. Levantei-me rapidamente e segui correndo com lágrimas nos olhos. Pulei um tronco de árvore, então uma lasca de madeira atravessou meu tornozelo. Sangue jorrou por todo o chão que era coberto por folhas marrons.

Segurei meu pé para parar o sangramento e comecei a chorar. Gritos sombrios e assustadores perpetuaram a floresta toda. Uma voz ressoou:

            - Ninguém sai da minha floresta. – havia rancor na voz.

Então ouvi passos largos e rápidos. Caí e tudo ficou preto.

 

Abri os olhos. Pontos pretos dançavam na minha frente, mas senti-me estranhamente confortável. Havia meses que me sentia perdida, mas agora eu estava quente e familiar. Levantei da cama improvisada e olhei ao redor: uma lareira rústica iluminava uma casa pequena de madeira revestida de hera. Móveis foram colocados de forma bem localizada no espaço pequeno – um sofá na frente da lareira, uma poltrona ao lado do sofá e um corredor escondido levava para um cômodo pequeno.

Havia um balcão com frutas. Atrás dele algo fez barulho. Um movimento rápido cortou o silêncio, apenas o crepitar do fogo. Andei lentamente e percebi que meu tornozelo estava enfaixado; sangue estava jogado no chão.

Atravessei a sala e olhei por cima do balcão, tomei um susto. Um homem vestido de folhas estava agachado em frente a um freezer que gelava e tirava jarras de algum líquido. Ele movia-se rapidamente, como se estivesse assustado. Então ele se virou notando minha presença.

            - Olá... – ele levantou-se lentamente. – Te vi jogada na floresta, sangrando, e te trouxe.

O olhava de forma estranha, talvez notando seu modo confiante de andar.

            - Chamo-me Francis – ele ergueu o braço num aperto de mão. Retribuí o gesto num abraço.

            - Muito obrigado, moço. – ele me envolveu.

Francis corou.

            - Nada... – ele disse envergonhado. – Há muito tempo não vejo ninguém. E também você precisava de ajuda.

Meu estômago roncou do nada. Ri desconfortável.

            - Bem, sente-se na lareira. – ele disse em meio à um meio-sorriso. – Vou preparar algo pra você.

 

Poucos minutos depois, eu estava em frente ao fogo com uma bandeja de biscoitos e um copo de chá verde. Comia aquilo rapidamente. Percebi que Francis me olhava sem parar, talvez achando estranha a forma como eu comia.

            - Ah... Desculpa. – perdoei-me. – Faz tempo que não faço uma refeição completa, sabe, a guerra. – dei um sorriso.

Ele fez um gesto com a mão para eu não me importar.

            - Não é isso. É sua presença. Assim como você, muitas coisas foram tiradas de mim, mas infelizmente nunca repus. Então você apareceu e eu me senti como antes.

Voltei a comer. A guerra fez isso com muitas pessoas, por isso entendia ele: sua família deve ter sido devastada e só ele sobrou. Percebi que ele devia ser judeu: a pele clara do rosto era coberta por uma barba rala, cabelos bem cacheados caíam como jujubas até a testa. Ele era bonito de um jeito rústico. Seu corpo era de um homem formado.

            - Quantos anos você tem? – perguntei.

Ele tomou um gole de chá.

            - 23. E você? – indagou Francis curioso.

            - 20.

Ficamos calados por um tempo – eu saboreando meus biscoitos e ele seu chá. Então coloquei a bandeja em cima da mesinha de centro precária.

            - Francis... O que foi aquilo na floresta? Algum fenômeno? – perguntei me aproximando dele.

Seu olhar era calmo. Um vento forte acoitou as cortinas da casa. Lá fora a floresta se mantia silenciosa. Lembrei-me da cena de London gritando de horror enquanto uma árvore o puxava.

            - Muitas coisas ainda não entendo dessa floresta. – ele começou. – Apenas sei que eu e você fomos os únicos sobreviventes até agora... Encontrei nesse casebre alguns trechos de livros que antigos visitantes escreveram sobre essa floresta: algo de obscuro habita nesse solo.

Engoli em seco e um calafrio percorreu meu tornozelo. Levantei um pouco o pé.

            - Mas e aquele árvore que puxou meu amigo? Tinha o solo também que se abriu...

Eu tentava concertar sem ficar perturbada, mas aquilo fora mais assombroso que toda a tropa de Hitler.

            - Essa floresta faz isso. – ele informou. – Sou um judeu, acho que você já percebeu isso. Fugi para cá após a perda da minha família. Abriguei-me aqui e já avistei fenômenos horrendos: sons guturais, passos intermináveis e árvore batendo nas outras sozinhas. Tudo partiu dessa mata.

Ouvia com atenção. Ele disse que se refugiou aqui quando ele foi atacado uma vez. Algo estava seguindo ele pela floresta, raspando metal em metal. Enfim, era tudo um horror, mas ele conseguiu sobreviver. Então ele me viu a poucos metros jogada no chão e veio me salvar.

            - Bem, mas você tem de sair às vezes, não é? – perguntei.

Ele assentiu.

            - Saio para o quintal que é coberto e só. Lá eu planto minhas verduras e nada me ataca. – ele disse.

Então Francis levantou-se e levou a bandeja para a pia. Fiquei quieta olhando para a lareira. Já devia ser tarde: o Sol estava se pondo e, assim como meus pensamentos, fui adormecendo com o som de Francis lavando a louça.



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