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História 3 - A Floresta do Medo - Perdas (Penúltimo Capítulo)


Escrita por: Samuel_Super_

Capítulo 9 - Perdas (Penúltimo Capítulo)


Fanfic / Fanfiction 3 - A Floresta do Medo - Perdas (Penúltimo Capítulo)

 

Não senti nada na hora. Apenas um reboliço de corpos e por alguns instantes minha consciências se fragmentou. Mas logo após eu sentia uma tontura e tudo voltava ao que era antes. Senti um braço me apertando e ruídos ao meu redor. Tudo era escuro e cinza, assim como o espaço.

Por um momento, percebi que Francis e Jane me seguravam pelo punho. Eles se aproximaram de meus ouvidos, tentando falar algo, entretanto não conseguiam. Assim se afastaram e não voltei a senti-los. Devia ter se passado uns cinco minutos enquanto eu girava no vazio. Os ruídos pararam e eu gritei. Nada como um sussurro.

Então senti como se estivesse parado. A sensação de queda parou por um minuto. Então eu desabei. Estava em solo definitivo. E fechei os olhos quando tudo começou a girar.

 

Acordei por um tempo indeterminado. Sentia como se meu corpo todo ardesse em chamas. Minhas pernas eram gelatina pura, por isso doeram após minha tentativa falha de me pôr de pé. Olhei para onde podia e vi que estava numa floresta, uma mata bem similar.

            - Não, não, não – chorei resmungando. – Não pode ser!

Chafurdei o solo em busca de um apoio. Encontrei um galho resistente ao meu lado e, com dificuldade, me pus de pé. Olhei ao redor e reparei numa paisagem inusitada: de fato, eu estava na Floresta do Medo, mas com um pé fora dela.

Voltei ao um passado, na história de Bacelar e estremeci. Ao meu lado direto, havia a floresta em que o garoto entrou, enquanto do lado esquerdo o enorme terreno baldio. À distância, uma cidadezinha fora destruída. Por fim, saí da Floresta do Medo.

A sensação era a mesma de estar fora. Não me importei onde estava Jane e Francis; a euforia de estar longe do lugar em que você quase morreu é muito forte. Devia ser umas 7h30 da manhã, já que o Sol ainda não estava no ponto ápice.

Caminhei até o interior do terreno que antes me deixara marcas. Lembrei-me de Bacelar me ajudando na saída da Floresta. Captei todos os sentimentos que ele me passara, assim como Francis e Jane que me ajudaram a sair. Tinha que fazer valer a pena, por eles. Mas no fim: onde eles estavam? Francis tinha dito que iríamos para o mundo dos mortos, e de lá faríamos outro portal para o mundo dos vivos. Mas parece que fomos direto. Se deu certo para mim, porque não para eles?

Atravessei a área e pulei uma cerca de arame. Depois entrei por uma rua estreita na rua principal de Sopot. A área rural estava completamente em pedaços: telhas de casas foram arrancadas, paredes derrubadas, baixa demografia e o cheiro forte de morte. Podia ver alguns corpos empilhados num poço, mas ignorei.

Vi uma casa familiar. As sãs persianas estavam pegando fogo, e tudo parecia abandonado. Há muitos anos ninguém a habitava, e eu sabia o motivo. Eu morava ali. Caminhei até a varanda da casa e olhei pelas janelas. Assim como no sonho, estava tudo destruído, apenas o quadro intacto. Estava de volta ao meu lar.

Arrombei a porta e entrei penosamente. A sala estava um caos, assim como no pesadelo. Andei pelo corredor e entrei na cozinha. Vasculhei todo o cômodo em busca de algum alimento. Encontrei vários enlatados e um pouco de farinho de milho processada. Um pouco de óleo estava dentro de uma vasilha estranha, mas eu estava com fome né!

Peguei uma caixa de fósforos e acendi a lareira. Arrastei os móveis destruídos e me acomodei. Comi o que tinha de comer e me lembrei do pesadelo. Os alemães ainda estavam em guerra. Provavelmente passei a virada do ano na Floresta, e perdi as contas. Mas pelo visto era 1942. Tinha de me precaver.

Infelizmente ali não era mais meu lar. Aprendi que nenhum lugar era seguro. Temos de viver em constante movimento, pensei. A Floresta do Medo, mesmo longe, me dava arrepios e traumas. Por todo lado eu via algum fantasma, e, depois de algumas noites nas casas da cidade, podia ouvir a voz de Francis bem distante...

 

Paris, 1948

 

- A economia dos países afetados pela guerra estão voltando ao normal, após dois anos do término de uma das maiores catástrofes da história – disse o repórter.

            - Países como a Polônia, Inglaterra e França assumiram a liderança em um ranking mundial de reconstrução de suas cidades. – completou a repórter. – Infelizmente chegamos ao fim demais uma edição do ParisNews.

            - Não perca o novo programa da BFM France hoje, às 21h30m da noite. – anunciou o repórter. – Boa noite.

As câmeras se afastaram. Corri até o William, o repórter, e o abracei.

            - Obrigada, Will. – agradeci. – Você tem sido o amigo mais perfeito que tive!

Ele sorriu e segurou minhas mãos.

            - Você que é perfeita, Emy. – ele falou. – Bem, tem um tempo para o almoço, agora?

Assenti.

            - Tenho muito trabalho, você sabe claro. – eu disse. – Minha vida mudou tanto depois do best-seller nos Campos de Punição. – engoli em seco.

Mesmo depois de seis anos das torturas, os flashes dos alemães viam à tona. Com uma rotina baseada em remédios anti-depressivos e terapias intensas, eu podia me dar o luxo de ser uma escritora renomada pelo “Emy: A História de Uma Sobrevivente”, através da editora Franche.

Não, eu devia esquecer aquilo. Tinha uma mansão em Paris, uma filha que precisava de meu amor, além de bons amigos ao meu lado para qualquer hora. Assim como meu passado, eu sofria até hoje. Mesmo depois de tanto tempo, eu devia manter as minhas estórias apenas para mim. Ninguém iria acreditar se falasse.

            - Ei... – chamou Will. Ele percebeu que eu estava viajando. – Não reviva isso. Você está bem agora. – ele olhou para o relógio e segurou minha mão. – Vamos! Temos pouco tempo para o almoço.

Atravessamos a Unier Drive rapidamente. Will desviou de um carro na calçada ao meu lado e, juntos, entramos no restaurante em frente ao estúdio. Percebi que alguns repórteres de jornais e rádios locais vieram em minha direção.

            - Senhora Jane! – gritou uma – São verdades as histórias de seu passado em Frankhurt?

            - Em “Emy: A História de Uma Sobrevivente”, a senhorita fala de um estupro por alemães nazistas. – citou outro mais perto – Sua filha inesperada seria fruto de um desses ataques?

Will socou esse repórter que caiu no chão de pedra. O arco que fecharam sobre mim, se afastou bruscamente.

            - Saiam daqui! – expulsou William. – Agora!

Entramos no restaurante. Algumas pessoas me olharam assustados, mas a maioria apenas acenou. Eram amigos de trabalho.

            - Desculpe Will – pedi. – Não sabia que...

            - Shiii... – ele exclamou com um gesto. – Não fale nada. Sente-se.

Meu amigo puxou uma cadeira. Sentei-me e logo depois ele repetiu à minha frente. Pedimos espaguete com molho aspargo, o de sempre na verdade. Um garçom trouxe um champanhe com duas taças.

            - Bem – comecei enchendo minha taça e a de Will – Nunca pensei que o livro ia fazer tanto sucesso em apenas alguns meses.

Will maneou a cabeça.

            - Ouvi falar nos estúdios que querem fazer uma exposição no cinema. – contou ele. – Acho que os americanos gostaram do livro.

Parei. Olhei espantada para ele enquanto um sorriso brotava em seu rosto.

            - Sério? – perguntei estupefata. – Como assim?

            - As pessoas gostaram da história Emy. – ele respondeu. – Mas me conte: isso deixou traumas, certo? Como você lida com isso?

Engoli em seco. Enchi a taça novamente.

            - Ainda tenho visões do passado. – respondi. – Não é nada fácil. Acho que o momento mais perturbador foi em 1942 quando os alemães me pegaram. Eles levaram para Berlim, e depois fui enviada à Frankhurt em 1943 para o Campo de Punição. Lá fui torturada como ninguém nunca foi.

Will tinha um brilho encantado no rosto. Sempre soube que ele amava histórias, por isso era uma das únicas pessoas que me abria.

            - Mas antes disso, Emy? Você morava em Sopot e então sua família morreu. Mas e depois? Você não conta no livro. – Will questionou.

Olhei para ele.

            - Como assim? Eu falei, não? – perguntei. Suspirei enfim. – Depois que eles morreram, eu e minha irmã vivíamos fugindo dos nazistas. Até que nos pegaram. Eu aguentei, mas ela não. Nunca mais a vi. – menti.

Claro, eu tinha de mentir. Não podia me abrir assim. A Floresta do Medo não devia ter presença no best-seller, afinal, foi um momento chocante e sobrenatural nesse período. Ninguém iria acreditar.

O prato chegou. Um garçom pousou os pratos nos nossos lugares e comemos.

            - Acho que não está falando a verdade, Emy. – ele disse. – Você está escondendo algo.

Franzi o cenho.

            - Sim, Emy. – ele afirmou. – Você disse que em 1941 fugia com sua irmã, mas você pula um curto período entre 1941 e 1943. Nessa época o que aconteceu? Continuou fugindo?

Encarei William. Ele sabia de tudo. Ele sabia da existência da Floresta do Medo, claro. Deixei a metade do espaguete na mesa e me retirei. William veio correndo e segurou meu braço.

            - Emy, desculpa. Fui muito persistente. – ele me olhou.

Soltei-me.

            - Tenho muitas coisas para o programa hoje à noite. – disse rispidamente.

Saí tempestuosamente do restaurante.

 

Eu via meu reflexo. Um rosto abatido e sofrido, apesar de escondido por camadas de maquiagens diversas. Pensei o que Francis diria se me visse naquele estado, e se Jane riria da minha cara por parecer um palhaço. Afastei os pensamentos da cabeça. Eles tinham morrido na viagem. Provavelmente ficaram no mundo dos mortos na hora que me largaram.

Mesmo com 28 anos eu tinha muitos problemas. Uma estrela em ascensão era a febre na época. Muitas emissoras da França inteira queria uma horinha em algum programa de apresentação. Mas eu era ambiciosa. Emillie tinha que ter seu próprio programa. No fim, a BFM France foi a que propôs isso.

Agora lá estava eu. Achei meu sucesso por todo o mundo. Estrelas dos Estados Unidos eram minhas amigas, fotógrafos profissionais ficavam horas e horas perdidos na minha mansão e a única coisa que decepcionei era a única que me fez feliz: minha filha. Lisa estaria em casa com a empregada, triste.

Passei o blush nas maçãs do rosto. Uma mulher entrou no camarim.

            - Faltam dois minutos, senhorita Emillie. – ela anunciou bem expressiva.

Assenti e ela se retirou. Levantei da cadeira e encarei o espelho com uma expressão dura. Depois soltei um sorriso: o gesto que diria se eu faria sucesso ou não. Então começou.

- Bem-vindos à Hora da Emy! – saudei em meio aos aplausos.

Surpreendi-me com a plateia cheia. Pessoas de diferentes tipos me olhavam felizes e aplaudiam a minha entrada. Então olhei para uma jovem com um homem me encarando alegres. Por um segundo vi os rostos de Jane e Francis me olhando. 



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