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História 366 Universos - Capítulo Um


Escrita por: miukie

Notas do Autor


Primeiramente: OBRIGADA PELOS FAVORITOS E COMENTÁRIOS!!! Eu li e reli cada um e fiquei pasma com o quão amorzinhos vocês podem ser. Obrigada mesmo <3

Segundamente: Boa tarde, como vocês estão?

Esse é – oficialmente – o primeiro capítulo da 366 Universos. Não vou enrolar aqui, então vamo lá, espero que gostem!

Boa leitura~

Capítulo 2 - Capítulo Um


Fanfic / Fanfiction 366 Universos - Capítulo Um

Capítulo Um

Estou lutando para permanecer neste mundo caótico de merda.

Um, dois, três...

Estou respirando fundo.

Olhei para baixo algumas vezes, com um certo medo do jeito com que o meu corpo inteiro se arrepiava cada vez que eu mexia um músculo. Medo. Era o que eu mais vinha sentindo ultimamente.

Naquele momento, estava sentado no terraço do meu condomínio, ele não tem grades de proteção nas extremidades do prédio, o que facilita para que eu me sente ali todos os dias e grite, respire fundo, olhe para baixo, grite novamente e então espere para que o sol dê lugar a lua e as estrelas que brilham tanto no céu azul escuro. Também não é tão alto, o prédio tem apenas cinco andares, ainda posso ver algumas pessoas andando lá embaixo sem que elas pareçam formiguinhas, e bem, eu não deveria estar aqui. Tanto porque eu arrombei a fechadura da porta que dá acesso ao terraço, quanto porque na mesma tem uma placa escrito à mão pelo síndico a seguinte frase: "Acesso restrito para funcionários. E caso consiga acesso, por favor, não cometa suicídio". Eu gosto de obedecer ao síndico, ele sempre me dá bom dia e balas de hortelã quando nos encontramos, e, apesar de tudo, não tenho vontade de me matar. Sequer tenho coragem, na verdade.

Gosto de pensar em mim como alguém vaidoso, e não seria nada bonito ter meu corpo totalmente desfigurado no meio da calçada. Talvez fosse poético, mas não bonito. Seria desagradável, e não dariam boas fotografias para os jornalistas, eles não poderiam colocar aquilo no jornal.

E lá estava eu divagando outra vez, pendurado a cinco andares de altura, um pouco de impulso e eu voaria em direção ao chão.

Fechei os olhos, imaginando que estava em um lugar diferente. Viajando com minha própria mente para lugares incríveis. Bati a mão algumas vezes sobre o murinho, apertando os dedos ali e cravando as unhas curtas, o vento soprava forte no meu rosto algumas vezes, como se quisesse dizer: "Acorde, Jungkook, esse não é o seu lugar".

E eu sei que não é, mas eu quero saber qual é a sensação, qual foi a sensação que ele teve. Quero saber se houveram chances dele parar para pensar antes de pular, e chego a conclusão que houveram, sim, mas eu não posso saber no que exatamente ele pensou. Ou em quem.

Gritei seu nome algumas vezes, sentindo que ele podia me ouvir onde quer que ele estivesse.

Minha mãe costumava dizer que as almas de pessoas que cometem suicídio não vão para o céu, então por que eu estou ali tentando estar perto dele?

— SEU FILHO DA PUTA EGOÍSTA! — Gritei, sentindo a cabeça latejar — VOCÊ PODERIA TER ME ESPERADO!

Eu não sou de falar palavrões o tempo todo, mas foda-se, eu estava revoltado. As coisas desandaram completamente depois que ele se foi, e mesmo que tenham se passado anos, não consigo evitar a vontade de vir aqui todos os dias para tentar descobrir o que foi que ele pensou quando decidiu pular.

Percebi uma movimentação não muito longe de mim, e então olhei para o lado. Um garoto. Estava sentado a mais ou menos seis metros de distância, eu não tinha reparado nele ali quando cheguei, apesar da cor do cabelo dele fazer com que o mesmo fique extremamente visível. Um laranja bem chamativo.

As pontas de seus dedos estavam brancas demais, denunciando a força com que o mesmo se segurava no murinho, ele parecia com medo como eu, não parecia querer fazer aquilo.

— Oi. Quem é você? — Me arrastei com cuidado para o seu lado.

O ruivo olhou para mim meio assustado, e então meu coração deu um pulo no peito.

Rapidamente minha mente me levou a cafeteria, onde aqueles mesmos fios coloridos brilhavam a luz do sol e se bagunçavam com o vento. Eu conhecia ele.

— O que está fazendo aqui? – Perguntou.

Pisquei duas vezes, ele estava mesmo me perguntando aquilo?

— O mesmo que você, aparentemente. Não respondeu minha pergunta.

Apesar de já saber, eu queria saber qual seria sua resposta. Queria saber o que Jimin responderia caso alguém o perguntasse quem ele era, saber se sua resposta seria tão interessante quanto a sua pessoa.

Ele abaixou a cabeça de novo, olhando para baixo e apertando os olhos.

— Não olhe.

— Park Jimin. — Soltou baixo, quase como num sussurro.

Park Jimin, o garoto que faz faculdade de astronomia no mesmo lugar que eu curso fotografia, e, consequentemente, o garoto da cafeteria. O mundo é realmente pequeno.

Fiquei me perguntando se ele lembrava de ter me visto semana passada, de ter cruzado seu olhar comigo, mas estava claro que não.

E só o que me surpreendia mais que Park Jimin tendo um impulso suicida no terraço do humilde prédio onde eu morava, era Park Jimin tendo um impulso suicida no terraço do humilde prédio onde eu morava. Ele era popular, amado por todos, a mente brilhante de todo o campus, o namorado de Lee Hyemin, a estrela do vôlei. Que vida poderia ser melhor que a dele? Com certeza, nem a do presidente poderia ser tão perfeita.

— Eu te conheço — Desviei o olhar — Na verdade, todo mundo conhece. E eu não deveria estar falando com você.

— O que quer dizer? — Senti seu olhar sobre mim.

— Você é tipo uma celebridade, se me verem com você, vão pensar que eu estou te induzindo a se matar. — Respondi.

— Você está?

— Hm? Claro que não.

— Então assunto encerrado. — Falou e então o olhei, seus dedos percorreram os fios de cabelo laranjas, os ajeitando para trás. — E você?

— O que tem eu?

— Quem é você? — Perguntou, mas não parecia realmente interessado em saber, era mais como a pergunta obrigatória para o questionário obrigatório da situação em que nos encontrávamos.

Eu deveria perguntar o que ele fazia ali, já que aparentemente tudo na sua vida dava certo, mas não era da minha conta e ambos sabíamos disso. Eu era só um estranho, mais um dos diversos rostos que passavam despercebidos por ele todos os dias, seja no campus, nas ruas do centro, ou na cafeteria aquele dia. Todavia, eu era o único no terraço de um prédio pequeno de cinco míseros andares. Ou talvez isso não fizesse de mim menos estranho a seus olhos.

Levantei-me, batendo de leve nas calças para tirar o pó e enfiando as mãos no bolso do casaco.

— Não sou ninguém interessante.

E saí, empurrando a porta de acesso restrito com a mensagem para prevenir suicídios.

De todos os prédios onde ele poderia estar, quais eram as chances do destino tê-lo levado ao meu?

. . .

Bocejei, tamborilando os dedos na mesa de forma que os mesmos encontravam um ritmo do qual eu não era capaz de controlar. O sol batia de leve no meu rosto, aquecendo-me um pouco mais do que as bolsas de água quente que se encontravam no bolso do meu casaco. Seul era bem fria naquela época do ano.

— A primeira fotografia reconhecida remonta ao ano de 1826 e é atribuída ao francês Joseph Nicéphore Niépce – O professor ajeitou os óculos redondos no rosto, aqueles do estilo Harry Potter que só ficavam bonitos em uma quantidade limitada de pessoas — Contudo, a invenção da fotografia não é obra de um só autor, mas um processo de acúmulo de avanços por parte de muitas pessoas, trabalhando, juntas ou em paralelo, ao longo de muitos anos.

Encarei meu bloco de notas, e logo depois o ponteiro do relógio em meu pulso, faziam exatos vinte e três minutos que a aula havia começado e eu simplesmente não conseguia focar em nada que não fosse o movimento dos carros e das pessoas na rua. Aquela não era uma aula obrigatória, mas eu gostava dessas introduções, elas me faziam pensar melhor, porém, meu cérebro não conseguia trabalhar em nada do que o senhor Kim dizia.

— Vocês devem saber que a fotografia não é a obra final de um único criador, e que ao longo da história, diversas pessoas foram agregando conceitos e processos que deram origem à fotografia como conhecemos. Já que, como todos sabem, ela muda conforme o tempo, assim como a beleza e o caos encontrado no mundo ao redor.

Beleza. Caos.

Suspirei, eu era bom em prestar atenção em coisas inúteis, então por que parecia tão difícil me concentrar nas palavras do professor Kim, um dos melhores e mais conhecidos fotógrafos da cidade? Eu estava esperando por aquilo a muito tempo, já que perdi sua palestra dada gratuitamente por conta do meu atraso, e agora que tinha a chance de participar de uma das primeiras aulas, estava desperdiçando totalmente o meu tempo aproveitando a vista do lado de fora do prédio, ou aproveitando a relação do casal a minha esquerda.

Estava literalmente viajando, completamente longe daquele lugar, embora meu corpo estivesse na cadeira, curvado levemente para trás, enquanto equilibrava um pequeno caderno praticamente em branco nas pernas cruzadas. 

“A beleza pode ser vista em todas as coisas, ver e compor a beleza é o que separa a simples imagem da fotografia.”

Aquela frase era a única coisa que eu tinha anotado, espiei alguns cadernos dos alunos a minha frente e tive um pequeno susto ao reparar que em quase todos havia uma folha inteira com anotações – provavelmente importantes – que eu havia perdido pelo simples fato de estar o tempo todo com a mente vagando entre as pessoas daquela rua movimentada.

Bufei e passei a mão pelos cabelos, tentando não atrapalhar a visão das pessoas sentadas atrás.

Aquele garoto, de fato, havia mexido comigo. Perguntas triviais que eu considerava de extrema importância rondavam minha mente o tempo todo, me dispersando de tudo ao redor, como se eu estivesse preso numa bolha.

Ele não parecia nada relevante para mim, e provavelmente continuaria sendo irrelevante, então por que esse sentimento me perseguia? Era como um misto de curiosidade e interesse, mas bizarro ao mesmo tempo.

Quando as pessoas ao meu lado começaram a levantar e levar consigo seus cadernos, deduzi que a aula havia encerrado. Levantei-me, juntando minha câmera e enfiando o bloco de notas na bolsa de um jeito meio atrapalhado.

Antes que eu pudesse sair, ouvi chamarem meu nome, era Seokjin.

— Jungkook, certo? – Ele perguntou sem me olhar, apagando o que tinha escrito na lousa branca.

— Sim, senhor. – Me curvei.

— Vi você divagar várias vezes durante a minha aula, eu sou assim tão entediante?

Engoli em seco.

— De forma alguma, senhor, eu só... estou com coisas demais na cabeça essa semana, foi difícil para mim me concentrar. Me desculpe.

Eu só estou pensando no meu irmão morto e na minha vontade de sumir, mas nada com que o senhor precise se preocupar.

O professor riu.

— Não fale comigo como se eu fosse um velho, eu tenho quase 30, mas não chego a ser um senhor. Me chame de hyung. – Ergueu o olhar e estendeu o braço, apertei sua mão e assenti — Dei uma olhada nas grades do curso, parece que vamos nos ver bastante nesse semestre, já que eu serei professor da sua classe. Você me chamou a atenção, Jungkook, e eu espero poder ver seu potencial daqui para frente. Pode ir.

Meneei a cabeça e atravessei a porta de saída, soltando um suspiro de alívio ao sentir o vento gelado bater contra meu rosto. Eu não sabia se o que ele havia me dito era bom ou ruim.

Ótimo, eu mal volto pra Seul e já tenho um professor pegando no meu pé porque eu sou cabeça-de-vento.

Um garoto de bicicleta estava vindo desastradamente pelo campus, desviando das pessoas de uma maneira tão perigosa que eu temia que ele perdesse o equilíbrio e caísse. As pessoas o xingavam por ser tão atrapalhado, mas ele não parecia nada afetado, ele sorria. Só então reparei nos mesmos cabelos ruivos que eu havia visto antes. Era ele. O garoto que tinha ganhado minha atenção algumas vezes, mesmo eu não sabendo se era porquê seus piercings na orelha e a cor de cabelo o faziam tão singular, ou se era porquê seu sorriso e seus olhos eram extremamente brilhantes.

De repente senti meus músculos formigarem, eu queria sair dali rapidamente, ele estava vindo na minha direção e eu estava parecendo um idiota segurando uma câmera e o encarando sem nem disfarçar.  

Mas o que mais me intrigava era que ele estudava astronomia, e não fotografia. Seu departamento ficava do outro lado do campus, longe o suficiente do meu para que não nos esbarrássemos em circunstância alguma.

E se ele estivesse ali por mim?

As chances eram mínimas.

Eu, Jeon Jungkook, o esquisitão que anda com uma câmera para lá e para cá e tem no total um amigo – esse que não vejo a um bom tempo já que ando o evitando – tenho 0,0001% de chances de um cara legal, bonito e inteligente como Park Jimin perder tempo para atravessar o complexo de prédios para vir falar comigo.

Fiquei até imaginando como seria nossa segunda conversa. Eu daria um sorriso, tentando parecer gente-fina, e esperaria ele se aproximar.

“Oi”, eu diria quando ele viesse até mim, “acho que já te vi antes”. Na minha cabeça, ele responderia algo como:

“Eu me lembro de você! Você é o garoto que estava sentado no terraço onde eu pensava em me matar, né?”, eu daria de ombros, tentando parecer indiferente, e diria:

“É, acho que sim”, e, com certeza, eu ficaria vidrado em seu sorriso, e para disfarçar perguntaria algo como “qual a marca da sua pasta de dentes?” no intuito de fazê-lo rir. Estava curioso para saber como era o som da sua risada.

Mas é claro que isso não aconteceria.

De todos os rostos bonitos e marcantes que cruzam o caminho dele todos os dias, o meu era apenas mais um borrão, mais um garoto qualquer que Park Jimin havia visto – e talvez nem reparado.

Balancei a cabeça negativamente antes de ajeitar a mochila em um dos ombros e dar meia-volta, eu parecia um idiota tentando formar um diálogo na minha mente com alguém que eu não fazia ideia de quem era.

Antes que eu chegasse até o portão, ouvi alguém gritar um “espere!”, seguido do som de pneus cantando a alguns metros atrás de mim.

Me virei, Jimin estava realmente falando comigo.

Céus, eu sou vidente.

— Está falando comigo? – Quis ter certeza, e apontei para mim mesmo, ele assentiu, arrastando a bicicleta consigo de maneira engraçada, sem se levantar do banco. Quando ficamos próximos, ele ajeitou o cabelo e estreitou os olhos.

— Então, Jungkook, eu só vim dizer para que esqueça o episódio da semana passada, e por favor, não diga a ninguém que me viu prestes a...

Como ele sabia meu nome?

— Pular de cinco andares? Não, tudo bem, não vou dizer. Seu segredo está guardado comigo. – Dei de ombros e virei de novo para ir embora, mas ele segurou meu braço.

— O seu também, na verdade.

— Não é segredo pra ninguém que eu sou meio esquisito. – Ri baixo e continuei meu caminho.

Eu não queria soar tão ignorante, mas talvez eu tenha, e talvez ele nunca mais venha falar comigo outra vez.

Até porque, em hipótese alguma ele cogitaria ser amigo do garoto que costumava ser motivo de piada no fundamental por gostar de outros garotos.

. . .

Eu juro que tentei dar um jeito na minha vida, mas é muito difícil.

E assustador.

Estive evitando meu melhor amigo durante todo esse tempo, tanto que ele nem sabia que eu havia voltado, na verdade, acho que ele sequer se lembra de mim. Até porque faziam dois anos, dois anos desde que eu fui para Busan assistir o inferno que era para minha mãe viver com aquele homem imundo, dois anos desde que meu irmão não aguentou segurar as pontas e se foi, dois anos aguentando ela me perguntar sempre a mesma coisa:

“Ele pulou?”, ela me encarava com seus olhos tristes, as olheiras denunciando o quão mal ela estava por ter perdido o filho mais velho, e a raiva existente bem no fundo sempre que olhava para mim, sei que ela pensava que eu havia o induzido à aquilo, todos pensariam, até porque eu estava junto.

“Não, ele escorregou”, eu respondia, mesmo que odiasse mentir para minha mãe.

Caminhei pelos corredores do dormitório da faculdade, procurando seu nome nos quartos.

Quando passei pelo 115, achei seu nome.

“Min Yoongi”, escrito em tinta roxa.

Dentro do quarto eu podia ouvir uma música alta tocando, algum indie rock desconhecido.

Tudo bem, Jeon, você consegue fazer isso.

Tentei girar a maçaneta, mas parecia que algo me travava. Não sabia se ter voltado era mesmo uma boa ideia, se vê-lo seria reconfortante, se ficar longe da minha mãe me faria bem, e se dar um tempo a mim mesmo era a melhor escolha a se fazer.

Eu já estava fugindo da realidade a tempo demais.

Suspirei e tirei a mão da maçaneta. Meu melhor amigo – não sei se ainda poderia chama-lo assim – sempre fora rancoroso, então eu estava com medo.

A música de dentro parou e eu ia tentar abrir a porta, se ela não tivesse sido aberta na mesma hora em que eu ergui a mão.

Engoli em seco e levantei o olhar para encarar o garoto baixo de cabelos tingidos de verde-menta. Ele não parecia surpreso em me ver, e eu não sabia bem o que dizer.

— Cor de cabelo maneira.

Yoongi bufou e revirou os olhos, me puxando para dentro com toda a força possível e batendo a porta.

— Seu filho da puta, você some por três anos e quando volta com uma porra de uma câmera na mão, presumo que decidido a ficar aqui novamente, elogia o caralho do meu cabelo? – Ele estava ofegante, falando sem pausas, e eu sabia que não adiantaria argumentar.

Sempre que Yoongi tinha esses surtos de raiva, era melhor ficar quieto e ouvir tudo o que ele tinha para dizer – inclusive os palavrões hediondos – antes de abrir a boca, ou então ele jogaria uma pedra na sua cabeça.

Acreditem, experiência própria.

— Foram dois. – Murmurei.

— Você é um idiota, Jungkook, sabe quanto tempo eu esperei todos os dias para saber se você ligava ou mandava uma mísera mensagem? Sabe quanto tempo eu deixei de trancar a porta antes de dormir porque pensava que a qualquer momento de madrugada você chegaria e deitaria na cama de baixo, como sempre costumava fazer? SABE QUANTO TEMPO EU ESPEREI PELO MEU MELHOR AMIGO QUE DESAPARECEU DEIXANDO UM ÚNICO PAPELZINHO RASGADO DE DESCULPAS? – Gritou, apontando o dedo na minha cara — Seu merda! Nem pra comprar um post it bonitinho você presta.

Abaixei a cabeça, suspirando.

— Aconteceram tantas coisas... – ele andava de um lado para o outro enquanto eu estava sentado na cama como uma criança que acabara de aprontar e estava levando bronca dos pais — Eu desejei contar tudo pra você, mandei mensagens, liguei...

— Meu celular quebrou.

— ...até mesmo cogitei espalhar cartazes de desaparecido. Onde você foi?

— Busan  – murmurei — Olha, eu...

— CALA A BOCA QUE EU TO FALANDO. – Outro grito, eu estava errado, mas se pelo menos ele soubesse... — Por que você fez isso comigo? Por que me abandonou? Não se lembra da promessa que fizemos no fundamental? “Ficar do lado um do outro para sempre”, não significa nada?

Entreabri a boca, buscando palavras válidas para dizer.

— Claro que significa, hyung, você sabe que sim – o encarei — Mas eu não pude, eu tive meus motivos, eu precisei ir embora.

Ele franziu os lábios, como se estivesse prestes a chorar, e então pegou o casaco.

— Tanto faz, espero que tenha válido a pena deixar seu melhor amigo aqui e fugir para outra cidade.

E então ele saiu, batendo a porta com força, fazendo o porta retrato preso na mesma cair e quebrar.

Me agachei para pegar a foto e os pedaços de vidro, acabando por cortar a ponta do indicador.

Resmunguei um palavrão, levando o dedo a boca a fim de fazer o sangue parar.

Era uma foto de nós dois, onde eu fazia aegyo e Yoongi ameaçava me bater. Ri baixo, ele odiava quando eu fazia isso.

“Você fica fofo demais fazendo isso, pare”, eu podia ouvir sua voz arrastada na minha mente dizendo exatamente isso.

Assim que terminei de recolher os cacos e jogá-los na lixeira, pendurei a foto no mural dele, juntos as outras diversas que haviam ali. O garoto tinha prendido algumas fotos por cima das que costumavam ficar lá, ou seja, as nossas.

Parei para observar sua nova vida, com novos amigos, e em uma ele estava junto de Jimin.

— Então eles são amigos... – murmurei.

Não me surpreendia que Yoongi tenha ficado amigo do pessoal popular depois da aberração aqui ter ido embora. Mas era doloroso saber que aquelas pessoas preencheram o vazio que eu deixei.

Olhei para a porta. Sempre que ele saía e deixava a mesma fechada, significava que eu não deveria ir atrás dele.

Infelizmente, eu era muito teimoso.

. . .

Encontrei-o sentado no chão do seu esconderijo – que nada mais era do que o armário do zelador –, fumando um cigarro e evitando olhar para mim.

Era evidente que ele havia mudado muito, seu jeito durão e sua forma fria de falar ainda continuavam ali, mas sua postura, sua aparência, tudo estava diferente. Pude reparar em um pequeno corte no lábio inferior onde ele pendia o cigarro e manchinhas roxas na altura dos olhos, ele havia brigado com alguém.

Não era segredo para ninguém que Yoongi costumava ser briguento, mas eu costumava cuidar dele, eu costumava estar ali para fazer seus curativos.

Tive vontade de pergunta-lo com quem ele havia brigado, mas não o fiz.

Me sentei do seu lado e suspirei, decidi não falar nada, até que ele finalmente abriu a boca.

— Como me achou aqui? – Murmurou.

— Você sempre gostou de se enfiar em lugares pequenos e sossegados.

— Pelo menos você lembra. – Bufou.

Me calei, brincando com as cordinhas do moletom, como uma criança após levar uma bronca por ter aprontado.

Eu nunca quis ter ido embora de repente, mas quando o seu irmão se mata, seu pai abandona sua família para viver com outra e sua mãe despenca em depressão, a única coisa que se pode fazer é ir.

Deixar tudo para trás e cuidar da única pessoa da família que restou, antes que ela decida partir também.

— Me diga a verdade. – Ele pediu.

Sabendo que poderia confiar em Yoongi, apenas abracei os joelhos e disse:

— Wonwoo cometeu suicídio. Um dia antes de eu ir embora.

O mais velho olhou para mim, provavelmente se perguntando se eu estava mesmo falando sério, e eu apenas meneei a cabeça.

— Eu sinto muito, Jungkook... – ele pousou a mão no meu ombro — Cara, eu explodi com você e nunca imaginei que isso podia ter acontecido, eu... me desculpe, sério, agora me sinto muito culpado.

Assenti.

— Você gritou bastante, tem sorte de eu estar acostumado com seus surtos – ele riu e eu olhei para ele — Me desculpe por ter evitado contato todo esse tempo.

— Não se preocupe, você está aqui agora, então acho que posso te perdoar.

— Acha?

— É, tenho uma condição. – Sorriu ladino.

Revirei os olhos.

— O que é agora?

— Você vai conhecer todos os meus amigos, e vai se enturmar, ou eu tomo essa câmera de você e nunca mais devolvo.

Abracei minha câmera.

“Conhecer todos os meus amigos”, isso incluía Jimin também?

Eu estava relutante, nunca fui bom em conhecer pessoas novas, e Yoongi sabia disso, ele estava fazendo de propósito.

Quando éramos menores, costumávamos ser apenas nós dois. Melhores amigos inseparáveis, na escola, na rua, em casa, nunca houve espaço para uma terceira pessoa, então isso meio que me deixava enciumado. Todavia, agora não éramos mais crianças, e eu teria que aceitar a ideia de que não seria só nós dois novamente. A verdade era que o que eu mais temia era que fosse deixado de lado pela única pessoa que eu confiava, que não houvesse espaço para um esquisitão no grupo deles. Grupo esse que parecia ser dos garotos descolados e populares, até porque Yoongi tinha cara de ser descolado e popular.

Isso fazia eu me sentir num filme clichê de adolescentes.

— Vai, é pro seu bem.

Bufei, me dando por vencido.

— Certo.

Ele sorriu e bagunçou meu cabelo.

— Ótimo. Bem-vindo de volta, melhor amigo.


Notas Finais


Como um bom primeiro capítulo, esse nos levou a conhecer um pouco mais da mente do nosso Kookie, do seu modo de enxergar as coisas, da sua relação com familiares e amigos, etc etc. Se tiver triste demais, me perdoem, eu sou muito intensa quando escrevo algo como isso. KJDSKJDSKDJSKJD

Me sigam no twitter! Eu sou legal, juro: @jeonexotic.

O trailer da fanfic está indisponível em dispositivos móveis, mas se vocês clicarem em "versão para desktop" dá pra assistir suave: https://www.youtube.com/watch?v=AqXRHwj-s60&t=25s

E a playlist, caso queiram relaxar um pouquinho: https://open.spotify.com/user/taehyungerz/playlist/5qTcmyQlmFGKOeTMwxmVAU?play=true&utm_source=open.spotify.com&utm_medium=open&play=true

Amo vocês, até o próximo!


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