Muitas vezes em que eu escrevo, acabo usando termos inventados por mim que podem não ficar tão claros. Então, vou resumir mais ou menos esses termos, para que vocês não fiquem boiando.
Torturadores (Tortor infernalis)
Torturadores são seres cruéis e vis, disfarçados como professores, mas são na verdade monstros debaixo de pele humana. Facilmente encontrados. Muitos deles são destorturantes corrompidos pelo stress e pelo cansaço, mas que ainda possuem traços de sua antiga personalidade. Basicamente, são aqueles professores ruins que não arredondam 6,49 para 6,5.
Destorturantes (Legal caelum doctores)
Destorturantes são professores que cumprem o objetivo de muitos: ensinar de um jeito divertido e claro, por isso, são populares e os alunos os amam. Eles tornam a vida na prisão da escola um pouco pior. Infelizmente, são raros de ser encontrados – geralmente há uns dois numa cidade do interior.
Meio-Termos (Meius termolios)
Tudo tem um meio termo, e com os professores não é diferente. Professores médios são razoáveis, meio termo entre os torturadores e destorturantes. O tipo de professor mais comum encontrado nas escolas. Há casos de bipolaridade.
Bombas-relógio
O pior tipo de tortura que a escola pode te oferecer – as provas. Essa tortura geralmente reflete a personalidade do professor – se é um destorturante, sua bomba-relógio é fácil de desarmar (passar). Agora, se é necessário realizar uma prova de um torturador, você precisa saber a fórmula de Bhaskara para desarmá-la.
E essa foi a minha palestra sobre professologia. Não se preocupe, não vou cobrar tarefa.
É a segunda semana de aula. Segunda-Feira. Última aula. Nada de interessante acontece, fora a prova surpresa de Química, aparentemente “não valendo nota” mas que era para a Torturadora “saber testar os pré-conhecimentos da sala”. É, ninguém engoliu essa.
Há boatos de que um pessoal está organizando uma rebelião contra a Torturadora de Inglês. Não sei bem os detalhes, mas ao que me parece, quando ela espernear dizendo “Quem quiser sair da aula PODE SAIR”, o moderador da classe vai se levantar da cadeira e marchar em direção à porta, dando coragem para que outros alunos fizessem isso também. É, duvido muito que esse plano saia do papel, já que o moderador é meio “froxo”, e não teria coragem de ser o primeiro a levantar.
Mas seria foda se isso acontecesse.
Se você ficou decepcionado porque no capítulo anterior eu não falei sobre o que aconteceu sexta-feira passada, sorte a sua – fique sabendo nesse.
Depois de uma semana conhecendo pessoas novas, finalmente chegou o dia – meu primeiro “rolezinho”. É assim que as pessoas chamam o ato de sair com pessoas para locais sociais, fora da prisão (sorte que a minha prisão é de regime aberto – posso ir para a minha casa também. E não como uma prisão-internato, onde você fica preso 24h por dia).
Minha mãe me deixou na porta do restaurante, e disse rapidamente:
_Toma cuidado, não esquece a carteira, não fuma crack nem maconha, cocaína ou coisa do tipo, tá filho?
_O.k. mãe, pode deixar.
Mal acabei de falar minha frase quando a porta do carro se fechou na minha frente e saiu o carro acelerando o máximo que podia. Às vezes, tenho a leve impressão que ela me odeia. Enfim.
Me virei e encarei a lanchonete por alguns segundos. Era uma daquelas sem paredes, sustentada por pilares de metal que se ligavam ao cano da calha – ou seja, uma grande gambiarra bem-feita. Sua tinta estava descascando e era amarelo-opaco, com alguns detalhes vermelhos e um hambúrguer gigante com olhos e um sorriso bobo, mordido em cima, que dizia “Me coma! Hamburguería Seu Zé! ”.
Certeza que ele não chamou um publicitário para bolar o slogan “Me coma”.
Lá dentro, dava pra ver cinco pessoas: Sophia; um garoto de cabelo bagunçado e uma camisa polo estilo nerd; Thiago, o fodão; Lucas, meu amigo asiático e Sophia.
Thiago olhou para rua, preocupado, esperando alguém chegar. Ele me viu, e me fez sinal para entrar.
Ele me apresentou ao cabelo-bagunçado – Matheus, que me olhou enciumado quando Sophia me cumprimentou com um Bate-Aí!
Basicamente, conversamos sobre o plano de sair da aula da Torturadora, sobre como Matheus “tinha” uma quedinha secreta pela Sophia, e de um jogo interessante que Thiago tinha jogado – Life is Weird.
_E aí, João – disse Matheus depois de uma gargalhada falsa feita para agradar Sophia, que tinha dito uma piada mais sem graça do que o “Pavê-ou-Pacumê” – Você... veio de onde?
_Eu vim de São Paulo capital – respondi, ignorando o fato de que todos estavam me encarando.
_MANO, OLHA O CARA – disse Matheus ironizando-me para Sophia – ELE MORAVA NUM LUGAR ONDE TEM BAIRROS SÓ PRA COMPRAR ANIMES E VEIO PRA ESSE FIM-DE-MUNDO!
_Mano... – Lucas respondeu – É uma bosta morar lá. Quer dizer, aqui você pode andar na rua com um notebook que ninguém vai se importar. Agora, roubaram meu Nokia quando eu estava em São Paulo e vi a hora.
_É, mas mesmo assim...
_Seus pais que resolveram vir pra cá? – perguntou Thiago.
Cara, isso aqui é um “rolezinho” ou um interrogatório?
_Eu sou órfão – respondi, encarando-o.
_Ah... – ele desviou o olhar.
Cinco segundos em silêncio.
_Calma cara, é mentira.
Todo mundo começou a rir, e isso se tornou uma piada interna: “Calma cara, é mentira”.
Depois de um tempo, a gente resolveu pagar a conta e ir para uma sorveteria na esquina. Todos fomos, menos Matheus que obedeceu a mãe e ficou no restaurante.
Estávamos voltando tocando campainhas das casas de desconhecidos, quando eu olhei no relógio e vi que faltavam cinco minutos para passar o último ônibus, o que eu uso para voltar pra casa.
Enquanto se divertiam, eu sentei no ponto de ônibus e tomei meu sorvete. Sophia me viu e sentou do meu lado.
_Tá na bad?
_Não, só voltando pra casa.
_Ônibus?
_Ônibus.
Enquanto o sorvete de morango dela escorria pela mão, o ônibus chegou. Acenei em despedida. Quando peguei o celular para avisar minha mãe que estava a caminho, vi em seu reflexo que estava corado.
Sério que vocês gostam de ler isso?
Sem moral hoje.
Adiós.
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