História 50 Shades Of Jungkook - Imagine - Green

Eu não sabia se aquela mensagem era um pedido de desculpas ou uma mensagem dizendo que ele iria me falar tudo que sabe sobre Jungkook.

Meu orgulho sorria para a primeira opção, mas meu lado profissional e felizmente mais forte torcia pela segunda. Afinal, não é que Jungkook seja o paciente mais colaborativo que já tive, ao ponto de eu precisar buscar informações em outras pessoas.

No final, enviei um "okay" como resposta.
E lá estava eu, na minha rotineira e mesma caminhada para a sala de Jeon Jungkook.
Toda vez que eu caminhava por aquele corredor, eu conseguia ouvir risadas inesperadas, murmúrios baixos de outros pacientes. Mas Jungkook permanecia ali, quieto, me esperando entrar no covil de tigres famintos.

O fato era que eu percebi que estava ansiosa para ver ele, digo, para ter uma consulta. Mesmo sendo estranho e sádico, Jungkook me atraía, e muito.
Mas eu precisava manter o foco.

- bom dia - falei simples me sentando na cadeira, enquanto Jungkook me observava.

Com o mesmo olhar, mesma postura, mesma voz desinteressada:

- você sempre leva as coisas muito à sério.

- o que quer dizer? - controlei minha voz.

- a vida não passa de uma montanha-russa do terror da qual não vamos sair vivos, então pra quê permanecer séria? - ele me olhou - pode gritar o quanto quiser, vai morrer no fim.

Senti meus pelos arrepiarem, e percebi a profundidade do que ele estava dizendo.
Ele lambeu o lábio inferior, sorrindo de lado, ao ver minha reação estática.

Acontece que eu não havia dormido bem, e não estava preparada para isso. Ele sabia como, quando e o quê falar, era... incrível.

- talvez... e-eu - respirei fundo, voltando ao modo séria, sem gaguejos - gosto de ser assim, gosto de fazer o que eu faço.

Ele suspirou, cansado, e soltou uma risada inesperada e sádica, como se tudo não passasse de uma cena de comédia de um filme do qual você era forçado a ver nos finais de semana com sua família.

- você gosta mesmo, ou isso é o que eles querem que você goste? - sua voz saía fraca.

Neguei com a cabeça, pondo um ponto final nesse assunto. O vi sorrir ainda mais, bagunçando os cabelos.

Abri a pasta amarela, com sua ficha. Aquela pasta já estava lotada de anotações, não só minhas, o que me deixou curiosa.
Franzi a testa, confusa, então Jungkook cortou minha linha de pensamento:

- ontem trouxeram um detetive do FBI para vir conversar comigo - ele falou e eu o olhei surpresa - ele me fez algumas perguntas e anotou aí.

Voltei o olhar à pasta, lendo a letra firme do detetive:

"Ele está tendo alucinações. Frequentemente tem o olhar perdido, mas perdido em algo fixo, como se isso o ajudasse a pensar mais. Usa muitas frases que se refiram à experiências do passado"

Reli aquela frase por alguns segundos, e olhei para Jungkook:

- é verdade?

Ele deu de ombros, desinteressado:

- dei o que eles queriam.

- o que eles queriam?

- uma prova.

- uma prova do quê?

Ele simplesmente perdeu o olhar, olhando para um ponto fixo, ignorando completamente nossa conversa.
Respirei fundo:

- Jungkook - o chamei e ele continuou sem me olhar, mas eu sentia que ele me ouvia - eu não quero te ver preso por algo que não fez, então, colabore por que, se você me ajudar, eu - fui cortada quando seu olhar parou bruscamente em mim, e um sorriso mal surgiu em seus lábios.

- ah, querida - ele sussurrava - está se deixando levar...

- o que...?

- já fiz muito mal às pessoas - ele falou, e riu baixo - mas nunca admiti isso.

- está admitindo.

- talvez.

- eu tenho uma prova disso agora.

- você se esqueceu de ligar o gravador.

Meu coração parou. Eu tinha uma prova, e havia esquecido de ligar o gravador! Incrível! Parabéns, ____!
Bufei, ligando aquele aparelho:

- Não vai mesmo colaborar?

Ele sorriu, se divertindo em me desafiar. Respirei fundo:

- está tendo alucinações?

- sonhos - ele me corrigiu revirando os olhos - eles pensam demais em colocar um nome que fará com que eu pareça mais sádico - ele riu e sorriu piscando pra mim - nunca pense demais.

- que tipo de sonhos? - continuei.

Ele mordeu o lábio, pensando. Respeitei seu tempo.

Acabei me vendo perdida nele. Assim, sem risadas sádicas e olhares desafiadores, Jungkook era realmente bonito.
Sua franja, sempre fazendo uma sombra em seus olhos, como se o proibindo de ver a luz. Sua postura, desinteressada e sem medo. Seus lábios grossos e vermelhos, mesmo que levemente secos. E por fim, ele. Jungkook era realmente bonito.

Só então percebi que ele me olhava, e sua boca havia se formado um sorriso discreto:

- tem uma coisa por loucos? - ele mordeu o lábio, sem imaginar o quanto isso o deixava mais lindo, ou talvez soubesse e estivesse me provocando - isso não é nada ético.

- nada é ético com você, Jeon Jungkook - respondi seca olhando a ficha e ele ficou quieto - pesquisei sobre a Kristal.

O olhei por cima dos cílios, e lá estava ele e seu olhar perdido denovo. Mas, perdido em mim. Ele me encarava, com a boca levemente aberta, sorri de lado:

- mas, claro. Como você nem conhece ela, não significa nada para você - sorri completando.

Ele sacudiu a cabeça, respirando fundo. Gostei de brincar com isso...

Vi em meu relógio, que nossa consulta havia acabado. E me levantei, assustando ele com o movimento brusco, já que ele estava perdido, denovo.

Lentamente, fui até ele. Ele apenas acompanhava meus passos, o que deixou tudo mais difícil. Minha respiração não era diferente da dele, fora pelo fato de que a minha estava mais acelerada.
Passei os dedos levemente por suas mãos, que descansavam em cima da mesa. Vi ele se arrepiar e sorri internamente com isso.
O olhei, e o vi me encarando profundamente.
Sorri provocativa:

- sinto muito por ela... às vezes reconhecemos pessoas em outras não é? - o vi arregalar de leve os olhos, e aproximei meu corpo, sussurrando - sei mais do que pensa.

Percebi que sua mão se fechou em um punho,e ele fechou os olhos. Ri baixo, dando as costas:

- estarei contando os segundos para nossa próxima consulta, querido.

Eu estava fechando a porta quando ouvi uma risada sádica dele, e sorri com isso.
Respirei fundo, e fui até a secretaria do hospital.

- eu gostaria de falar com a gerente da área de pisiquiatria - pedi.

Esperei a senhora chegar. Ela era uma senhora que usava aqueles perfumes amadeirados e roupas de marca, colares de pérolas, e não se importava com os pacientes a não ser quando envolvia dinheiro.

Ela saiu de uma porta da secretaria, indo até mim:

- algo errado, doutora?

- um pouco - hesitei - eu queria pedir que não deixasse que o FBI entrevistasse Jeon Jungkook.

Ela franziu a testa:

- Não posso controlar isso, eles entram com aquele distintivo e podem fazer o que quiserem depois disso - ela suspirou - mas entendo seu lado. E acho que poderia ir na delegacia falar sobre isso.

Agradeci, saindo.
Depois de chegar em casa, percebi que havia uma mensagem do irmão de Jungkook:

"na cafeteria Lo Latte às 18:00hs."

Eu tinha pouco tempo. Me arrumei, com uma roupa bem simples, e logo eu estava em direção a cefeteria.

De longe, avistei um homem na porta, esperando alguém, meu coração parou por um segundo.
Era ele.
O irmão de Jungkook era alto, com os cabelos um pouco maiores do que o de Jungkook e em um tom mais claro. O formato de seu rosto era mais triangular, e sua expressão era séria.

Me aproximei, e ele me olhou:

- doutora _____?

Assenti, e nos cumprimentamos:

- meu nome é Ji-Hwan - ele sorriu de lado.

Entramos na cafeteria, nos sentando em uma mesa para dois perto da janela:

- então - ele começou - desculpa pela arrogância aquele dia. Assuntos como Jungkook sempre me deixam nervoso.

- tudo bem - sorri de lado - consigo entender, por um lado.

Ele sorriu de lado em resposta, e me olhou por um tempo, antes de perguntar:

- alguma coisa? - franzi a testa e ele se explicou - alguma prova? Alguma melhora?

Suspirei e olhei para a janela, caía uma chuva fraca:

- Não faz muito tempo que estou tendo consultas com ele, e também Jungkook não é um paciente muito colaborativo - o olhei - mas acho que sim.

Ele arregalou de leve os olhos e continuei:

- acho que ele não é assassino... bom, não do modo que dizem ser.

A reação dele foi estranha. Ele me encarou por um tempo, pensativo. Depois desviou o olhar para o café que estava sendo nos entregue pela garçonete. Levantei a sobrancelha, curiosa:

- isso é... b-bom, digo. Acho que sim - essas palavras pareciam estar entaladas em sua garganta.

Assenti devagar, dando um gole em meu cappucino:

- o FBI fez uma entrevista com ele sem meu consentimento, e eu não gostei nada disso.

- ah, é mesmo? - ele pareceu confuso, e sua franja morena caiu em seus olhos levemente.

Vi Jungkook ali. Era quase idêntico, ou eu estava vendo coisas. Os lábios, o cabelo, a postura. A única coisa diferente era o olhar. Enquanto Jungkook era sádico, Ji-Hwan era sério, concentrado.

- _____? - sua voz me cortou dos pensamentos, e voltei a realidade.

- o que?! - o olhei - ah me desculpe, acabei me perdendo em pensamentos - suspirei e ele sorriu de lado.

- somos parecidos não é? - ele falou baixo.

Assenti, e então pigarreei :

- bom, continue, por favor.

- eu estava dizendo - ele voltou a falar - eu tenho contato com o detetive, tanto por nossa ligação com Jungkook, como por amizade. E eu pensava que ele iria me dizer se fizesse algo assim...

- hm... - mordi o lábio - Ji-Hwan - o chamei e ele me olhou - poderia tentar conversar com ele? Para que ele pare de ter essas conversas com Jungkook? Não me leve a mal, mas só me atrasa.

Ele assentiu devagar, e então havíamos terminado o café. Depois de um tempo em silêncio, cada um em seus pensamentos, ele disse, olhando a chuva:

- Jungkook sempre teve mais sorte...