História (500) Dias com Ele - (002) Dias com Ele

"Essa é a história que um garoto conhece outro garoto. "

(Dia 300)

Minji pedalava sua bicicleta sem rodinhas como se não houvesse amanhã. A cada virada de esquina ou descida sentia-se flutuando, correndo em um carro em alta velocidade ou voando entre as nuvens. O vento da noite batia contra seu corpo e fazia seus cabelos irem de encontro ao mesmo - saindo do capacete e indo aos ares. Seu rosto branquinho e as bochechas fofinhas agora estavam rubras, vermelhinhas.

A asma poderia lhe matar depois, Jimin precisava de si. 

Em uma freada brusca parou com a bicicleta rosa de frente para um enorme prédio já conhecido, prendeu a bicicleta no local adequado deixando o capacete da mesma cor com o cadeado. Passou pelo porteiro, dando um tchau com as mãos suadas e rumou direto para as escadas. O elevador do prédio de Park sempre estava estragado.

Subiu quatro lances de escada, as pernas já cansadas e o coraçãozinho batendo como se fosse um tambor de tão alto. Chegou no corredor do irmão e encostou-se primeiramente como uma mão na porta bonita e a outra no coração. Sentiu uma falta de ar e tentou respirar fundo até normalizar. Bateu a mão na porta de forma apressada e não demorou muito ouvir as chaves batendo contra a fechadura, logo sendo aberta. Hoseok apareceu com sua cabeleira em um vermelho típico e desbotado, usando suas roupas grandes de costume e sendo seguido por um Seokjin de cabelos rosa.

—  Ainda bem que você chegou — Hoseok disse com preocupação na voz.

— É o caso sun novamente  — Jin falou. Minji entrou no apartamento e ficou de costas por um tempo para os dois. Observou a casa de seu irmão atentamente, tudo estava no devido lugar. As paredes pintadas em cores frias, os moveis seguindo essa mesma tendencia e alguns objetos de coração em cores quentes. Tudo estava simplesmente arrumado.

— Vocês fizeram o certo em me chamar — disse virando-se para os dois. — Onde ele está? - perguntou e Jin virou o rosto indicando para a cozinha. - Okay, pegue a vodca - disse firme, como se fosse uma ordem, e no mesmo instante um barulho de algo se quebrando chegou aos ouvidos dos três.

— Na cozinha — Hoseok proferiu. O barulho de vidro sendo quebrado aumento mais ainda e Minji saiu em disparada para o cômodo ao lado. Parou na soleira da porta e avistou o mais velho com um prato na destra e o atirando na bancada feita de pedra. O vidro espatifando na mesma, voando diversos pequenos pedaços. Jimin fazia isso como se fosse automático, mais como um robô. Seus olhos estava além daquele lugar, e tudo parecia cômico e adverso  demais. Usava uma blusa branca social e calça jeans clara, Park realmente combinava com as cores frias. Seus cabelos em um platinado estavam jogados de lado, sua expressão era indecifrável, no entanto Minji logo constatou que não era normal uma pessoa jogar diversos pratos por pura diversão, principalmente pois estes poderiam fazer um corte e tanto.

— Oppa — a garota falou olhando atentamente cada movimento do irmão mais velho. 

— Minji? — Jimin perguntou virando seu rosto para a mesma, ele estava vermelho - tanto os lábios carnudos, quanto os olhos pequenos. Franziu a testa em imediato. O barulho de pratos se quebrando parando no mesmo minuto — O que veio fazer aqui?

— Vim ajudar você — Minji lhe disse simplista, percebendo que agora tinha a total atenção do mais velho. — Primeiro, abaixe o prato — e assim o outro fez, aproximou-se do mesmo, tomando cuidado com os cacos no chão e pegou a mão e o puxou para ir para a sala. Jimin estava mole, como se movesse o corpo por necessidade. Parecia que estava no mundo dos corações partidos.

Chegou na sala e viu que Hoseok e Jin já estavam sentados na mesinha do centro, apostou que se estivesse em um dia normal na vida do irmão, logo  o mesmo mandaria os dois se sentarem direito. Indicou para Jimin sentar-se no sofá  de coloração beje e se aconchegou entre os dois amigos, de frente para o outro. 

Pegou o copo de vidro da mão de Jin e ergueu em direção ao irmão.

— O que é isso? —  perguntou tentando decifrar o líquido dentro do recipiente.

— Vodca — disse simplista, vendo seu irmão mais velho tomar o líquido em uma só gole.

— Omma sabe que você está aqui? Acho que já se passou das dez.

— Não se preocupe com ela, já sou grandinha. Apenas nos conte o que aconteceu — e aquilo foi como um baque para Park. Diversas lembranças dos dias passaram  pela sua cabeça,  o gosto da vodka não era mais amarga do que sua situação atual. Como o amor poderia fazer aquilo com as pessoas? Digo, te deixar flutuando e do nada jogar-te no chão. Como o amor poderia encher seu peito de uma felicidade que é só momentânea? 

Era como viver incessantes dias de verão e vir o inverno sem nenhum aviso prévio.

— Tudo estava indo tão bem.... — preferiu as palavras e sentiu seus olhos arderem e logo lágrimas molharam suas bochechas.

Jimin estava tão quebrado quanto aqueles cacos de vidro.

(Dia 002)

Park Jimin trabalha na ala no qual os cartões mais alegres são confeccionados, àqueles dedicados para datas mais importantes - como feriados; aniversários; dia das mães, dos pais e o dos apaixonados. Gosta de fazer seus desenhos e quando não têm nenhuma ideia para frases, ele dividia o trabalho com seu amigo, Taehyung. O amorenado é ótimo em em desenhos aleatórios, mas só faz quando Jimin não tem ideia do que fazer mesmo.

Taehyung é um louco fissurado em gatos de todos os tipos, os com bigodes enormes, os mais gordinhos e até aqueles sem pelo. Já pegou várias vezes o amigo pesquisando sobre gatos no computador do trabalho ou o papel de parede do mesmo no celular. E ria. Ria descontroladamente achando aquilo bizarro demais. Porém, Tae é seu amigo e seu hyung,  e é isso que amigos fazem, zoam de você até se cansarem.

Por isso Park não prestava atenção na conversa que se formava naquela sala, com uma mesa redonda e quase todos os funcionários dos dois departamentos ali sentados em cadeiras giratórias. 

Park Min-Young é uma mulher baixinha, na faixa dos seus cinquenta à sessenta anos de idade. A mesma explicava sobre seus projetos para novos tipos de cartões, utilizando fotos de seu gato, Milk. Um felino inverso ao nome que tem, de coloração preta e com pequenas manchas brancas. Jimin parou de prestar atenção na proposta quando a mulher começou a passar os slides com fotos do gatinho. A maioria delas dava para perceber o quão assustado ele estava, os olhos esbugalhados e o corpo levemente levantado como se fosse atacar quem tirava foto suas em momentos errados e surpresos.

A mulher apenas continuou com o falatório pois Taehyung a incentivava com seus suspiros e dizendo o quão lindo o felino era.

Ao seu lado, o gerente bufava em impaciência. E Jimin apenas girava sua caneta nos dedos e olhava para à janela alta com persianas cinzas na sua frente. O dia estava ensolarado, se imaginou tomando um sorvete junto com sua irmã mais nova, Minji.

— E você, Park, tem algo para nos apresentar ? — Jimin tirou o foco da janela alta e olhou para todas a sua volta, percebendo olhares sobre si. 

Foi bino!

Achou que nunca teve tanta sorte na vida, finalmente alguma coisa o salvou daquele constrangimento de ser pego voando na maionese.

Duas batidas na porta de vidro fume.

— Entre - disse o gerente para quem fosse.

— Com licença — uma voz rouca e baixa soou, enquanto um corpo esguio passava pela porta. Suas vestes eram uma blusa com listras vermelhas e brancas, usava uma calça jeans despojada que combinavam com a cor de sua pele branquinha. Os cabelos claros, agora com algumas mechas mais claras ainda.  Agora Jimin não se sentia mal em ser o centro das atenções, por que o outro conseguiu tudo aquilo para si.  

—  Pode entrar, Jungkook — disse o gerente, o chamando pela mão. 

Jungkook.

Soava bonito na mente de Jimin.

— O senhor tem uma ligação de sua mulher na linha — Jungkook disse baixo, como se fosse para ninguém ouvir. Mas Park conseguiu captar aquelas palavras saindo daquele rapaz. Jungkook tinha alguma coisa que prendia as pessoas. Não se sabe se é o olhar, o modo de se portar; de andar ou seu próprio corpo. 

— Obrigado — disse ficando meio desconcertado e olhando para a mesa abaixo de si, mas logo voltou os olhos para as pessoas. — Ah, me desculpem. Esse é Jeon Jungkook, meu novo assistente — ele disse isso com um sorriso acolhedor nos lábios.

Os olhos de Jimin encontram-se com os de Jeon,  o fitando por algum tempo. Todos falaram alguma coisinha para o  rapaz o desejando boas vindas.

O olhar permaneceu. Jeon era diferente de tudo que Jimin já havia visto. Talvez eram seus olhos em um azul extremamente vivo em contraste com suas roupas quentes. Ou o modo como ele puxava os lábios finos disfarçando o constrangimento em estar de frente para diversas pessoas e sendo o centro das atenções.

Jimin tinha aquela velha fantasia de que um dia encontraria o amor da sua vida. Talvez em uma manhã qualquer, ao virar a esquina de sua casa ou esbarrar com ela em  algum  lugar. As musicas que ouviu na adolescência e os livros que leu o levaram a acreditar nisso. Já sobre os relacionamentos mal sucedidos, estes nem passavam perto da sua estante ou nos catálogos de filmes para assistir na netflix. Afinal, qual era a graça de ver - assistir -, sobre histórias que não tinham um final feliz? Park Jimin acreditava que não. Okay, ele sabia que para ser uma boa história o casal deveria passar por momentos sufocantes, no qual ficar longe um do outro por problemas na narração, era normal e emocionante. Toda história de amor tem isso, certo? Certo, mas os finais tinham que ser felizes.

Então, Jimin, naquele momento, encarando os grandes e intensos olhos de Jeon, soube que tinha encontrado sua alma gêmea.