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História 53 Edição dos Jogos Vorazes - Natalia


Escrita por: AimeeBoo

Notas do Autor


Oi povo lindo!!!!

Depois de muita encheção de saco e ameaças de morte por parte das lindas pessoas que eu chamo de amigos, eu voltei!!!

Esse é o capítulo da Nay, a nossa potra preferida.

Capítulo 3 - Natalia


Fanfic / Fanfiction 53 Edição dos Jogos Vorazes - Natalia

 

Aquele poderia ter sido só mais um dia miserável, em uma vida miserável, em um distrito miserável, em um país miserável. E foi, até certo ponto.

Mais um dia acordando cedo, apenas para ir para os campos e correr atrás de vacas para impedir que fugissem, vacinar vacas para que não morressem antes da horas, e no final do dia levar as mais gordas para o abatedouro, para que o povo da Capital tivesse carne fresca para o almoço.

Por mas que eu odiasse meu trabalho, eu precisava dele para ajudar minha família a não morrer de fome. Não era nada glamouroso, mas era o que eu tinha.

Ian costumava dizer que eu trabalhava no lugar certo. Ou quase isso. Segundo ele, cavalos combinavam mais comigo, principalmente quando eu estava de mau humor, mas como não tínhamos cavalos no Distrito Dez, ele dizia que as vacas faziam o serviço.

Quando estava particularmente irritada, também falava que ele trabalhava no lugar certo. Ele cuidava dos porcos.

Por falar em porcos, já era hora do almoço, e enquanto sentávamos um ao lado do outro, comendo o que quer que tivéssemos tido a sorte de conseguir, ele não parava de tagarelar sobre como era difícil cuidar dos porcos dele.

- Eu devia ganhar um aumento, sabe? Não é fácil correr atrás daquelas pestes!

- Ah tá, e você acha que é fácil fazer aqueles bichos cinco vezes maiores que você se mexer?

- Aposto que eu conseguiria sem nenhum problema! – Ele se gaba.

-Falou o fortão! – Debocho da cara dele, caindo na risada.

- Ha, ha, ha. Muito engraçado Natalia Nymphalia.

- Não me chame assim! – Dou um soco em seu ombro.

- Ai! – Ele leva sua mão oposta ao ombro. – Isso doeu!

- Desculpa. – Eu geralmente não me dava conta de quanta força estava usando até que acabasse por machucar alguém.

Depois disso o clima ficou pesado.

- Você... você acha que vai ser sorteada hoje? – Ele me pergunta.

- Não é como se meu nome não estivesse lá cinquenta e duas vezes. – Respondo.

- Hum...

- Quantas vezes você botou o seu nome?

- Cinquenta e sete. – Ele suspira.

- Parece que já temos o resultado dos candidatos do Distrito Dez para os Jogos Vorazes desse ano. – Solto uma risada sem graça.

- É... – Ele me acompanha com a risada, e as risadas que eram de nervoso se tornam histéricas, até que nós dois estejamos rolando no chão, não conseguindo evitar achar tudo engraçado.

As risadas se tornaram urgentes, como se precisássemos delas para respirar. Algo tanto quanto irônico, uma vez que as risadas expulsavam o ar de nossos pulmões.

Quando ficamos cansados demais até para respirar, ficamos deitados na grama rala, de barriga para cima, mas com os rostos virados um para o outro. Nós nos encaramos por um tempo, até que começasse a ficar desconfortável. Para mim pelo menos.

- A gente tá fodido, não tá? – Ele pergunta.

- Sinceramente?

Ele faz que sim.

- O que poderia dar certo?

Ele ri, mas posso ver que é um pouco forçado. Não por não ter achado graça, mas por a situação ser complicada. Por mais que tivéssemos certeza quase absoluta do que aconteceria, não era o que queríamos.

Saber o seu destino é mil vezes pior do que deixa-lo te pegar de surpresa. Ficar se martirizando com isso, se deixando ser puxado para baixo pela simples falta de opção, era algo que nos destruía, dia após dia.

Dou uma pequena mordida no pão velho que havia trazido de casa, e ofereço um pedaço a Ian. Ele não havia trazido nada hoje.

- Obrigado.

- De nada.

Ficamos aproveitando o calor do sol do meio-dia, cada um com seus próprios pensamentos. Eu ia passar o resto da semana com o rosto, os braços e as pernas queimados, mas eu não me importava. Não me importava de morrer de insolação, desde que eu pudesse ficar ali para sempre.

Infelizmente, os pacificadores não pensavam do mesmo jeito que eu. Assim que a meia hora a qual nós tínhamos direito acabou, eles vieram em bandos, nos tocando de volta aos currais, como se nós fossemos os animais de que tanto cuidávamos.

E lá fomos nós de novo, durante mais cinco longas horas.

Agulha na mão, lombo do boi, lombo da vaca, prende fujão, dá comida, limpa bosta, dá banho anti-pragas, prende de novo, carrega pro matadouro, e cai fora de lá antes de escutar os gritos de agonia e ver o sangue escorrendo.

E então eu corri para casa, indo pelas estradas de chão batido, sentindo a poeira que levantava grudando em minha pele suada.

Cheguei em casa tão imunda quanto os porcos que Ian cuidava. Aproveitei que entraria pela porta dos fundos e enchi um balde a água fria e fresca do poço.

Tiro o tênis velho e desgastado e entro em casa na ponta dos pés, andando o mais rápido que consigo até o pequeno banheiro, onde encho um pedaço da tina com a água do balde. Um balde jamais seria o suficiente para encher a tina, mas eu estava cansada demais para ir pegar mais água, então tomo banho assim mesmo.

Lavo meu cabelo castanho claro, até que ele esteja brilhando novamente. Esfrego minha pele até tirar toda a sujeira e suor.

Saio pingando do banho, me sentindo mais leve, mais relaxada e mais feliz.

Enrolo-me em uma toalha, e jogo a água suja pelo ralo no canto da peça. Preciso me esforçar para não escorregar e cair de cara no chão, mas quando consigo me sinto bem comigo mesma.

Coloco minhas roupas em um cesto junto com outras, para que as lavasse quando tivesse um dia de folga. O que não acontecia há algum tempo, então dali a pouco começaria a maratona de ver o quão sujas as roupas do cesto realmente estavam.

A porta do meu quarto era nada mais nada menos do que um longo pedaço de tecido verde. Não era a mesma coisa que uma porta, mas pelo menos era algo. Papai havia economizado bastante para comprar o tecido de uma das cores que eu mais gostava.

O único cômodo da casa que tinha uma porta de verdade – de madeira e tudo o mais – era o banheiro, por motivos óbvios. Então antes de entrarmos no quarto um do outro, eu e papai batíamos na parede, ou simplesmente perguntávamos se podíamos entrar. A não ser que o tecido estivesse preso para fora do caminho. Aí nós tínhamos passagem livre.

A primeira coisa que faço ao entrar em meu quarto é abaixar o tecido para poder trocar de roupa em paz, mesmo que eu estivesse sozinha e meu pai ainda fosse demorar para chegar.

Silenciosamente, eu esperava que ele se atrasasse e perdesse a Colheita, mas talvez isso fosse pedir demais.

Abro meu pequeno baú, que ficava aos pés da cama. A maioria de minhas roupas era adequada apenas para o trabalho. Calças e camisetas velhas e folgadas, nem um pouco dignas da Colheita.

Mas bem no canto do baú, havia algumas roupas da minha mãe. Aquelas que ainda estavam em excelente estado, mas que eram chiques demais para eu ousar tocá-las... Pelo menos até hoje.

Mesmo que não fosse algo que eu quisesse participar, era uma ocasião especial. E... se por acaso me escolhessem, levaria um pouco da minha mãe junto comigo.

Escolho sua saia plissada preta de veludo e uma camisa branca de manga curta. Elas ficavam grandes em mim por eu ser muito magra, mas não importava. Apenas ponho uma sapatilha (essa do tamanho certo) e saio de casa antes que meu pai chegasse. Não sei se aguentaria que ele me lembrasse do quanto eu era parecida com a minha mãe.

Saio de casa correndo, me juntando à multidão que ia em direção à praça da prefeitura. Quando chego perto o suficiente, começo a procurar uma cabeça loira e alta, mas por ser baixinha, todos tapavam minha visão.

Vi-me obrigada a subir em uma mureta, mas acho que isso mais me tornou visível do que aumentou minha visibilidade, pois não demora muito e escuto uma voz me chamar.

- Nay! Aqui!

Olho em volta procurando o dono da voz, e encontro Ian, balançando os braços acima da cabeça para chamar minha atenção. Desço da mureta e vou até ele, mas antes que consigamos dizer até mesmo um oi, uma voz aguda e irritante nos interrompe.

- Ian! Natalia! Quanto tempo!

“Ah não. Chegou a falsiane.” Penso comigo mesma ao ver Pietra se aproximando de nós. “Cadê o botão pra evaporar?”

- Ah... Oi Pietra... – Ian não era muito bom em disfarçar quando não gostava da pessoa.

- Vai ter uma festa hoje lá no armazém depois da Colheita, e vocês estão convidados. A não ser que sejam escolhidos, é claro. – Ela solta uma risadinha, e tenho vontade de enfiar minhas unhas em sua cara.

- Desculpa, Pietra – Falo o mais educadamente que consigo. – Mas nós já temos planos para essa noite.

Ela nos mede de cima a baixo, nos encarando com desdém, e depois nos dá as costas e sai bufando.

Eu e Ian nos encaramos e começamos a rir.

- Sabe, acho que você estava certo nessa história de as pessoas trabalharem nos lugares certos. – Falo.

- Ah, é?

- Claro, Pietra cuida das galinhas.

Nossa diversão não dura muito, pois logo os pacificadores começam a nos empurra para dentro do cercado, coletando nosso sangue.

Mais depressa do que imagino, a cerimônia já está próxima do fim.

Vejo Ruben, nosso último (e único) campeão andar devagar até as vasilhas, retirando um nome de cada. Ele não se dá ao trabalho de perguntar se existem voluntários. Ele sabia que não.

Ruben tinha por volta dos setenta anos, e pelas minhas contas ele devia ter ganhado um dos primeiros Jogos. Ele passou os cinquenta anos seguintes cuidando de crianças, só para vê-las morrerem na Arena. Ano após ano.

Eu me pergunto se ele ainda se arriscava a se apegar.

Ele abriu o primeiro papel. O das garotas. Meu coração acelerou.

- Natalia Nymphalia. – Ele chama.

Ao contrário do que eu pensava, meu corpo não tremeu. Eu não fiquei com medo, mesmo sabendo que estava caminhando para a morte.

 E eu caminho até o tablado, e paro ao lado do velhinho. Apenas esperando o nome que eu já sabia que viria.

- Ian Graham.

E quando nosso olhares se encontraram, apenas uma coisa se passava em nossas cabeças: “Fudeu”.


Notas Finais


Espero que tenham gostado.
Um bjim no core e até a próxima!!!


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