História 57 - 3

Bucky parou de receber bilhetes.

Não podia dizer que era surpreendente, pois uma parte de si sempre esteve esperando esse momento. Mas ainda assim, era estranho. Em um dia, recebia bilhetes dizendo que sua camisa era legal e seu cabelo ficava ainda mais bonito quando estava preso e bagunçado (o que Bucky achou estranho de verdade, pois isso só tinha acontecido uma vez na aula de educação física e ele só queria esquecer), e no outro era... nada.

Talvez ele estivesse sendo paranoico demais. Mas Bucky se acostumou a receber as palavras gentis e até meio estranhas. A pessoa deveria trabalhar melhor na sua comunicação.

Mas agora que tudo aquilo tinha acabado — tão de repente, da mesma forma que iniciou —, não podia deixar de sentir que tinha feito algo errado.

Bucky continuava a repetir para si mesmo que aquilo tinha sido um engano. Àquela altura, não parecia mais ser uma brincadeira e ele não queria pensar que a pessoa por trás disso tinha perdido interesse.

Pensando bem, era difícil acreditar que alguém teria se enganado com algo desse tipo, mas ao olhar para seus colegas, não podia dizer que era impossível.

A pessoa também poderia ter ficado constrangida com aquilo. Ou com medo de que Bucky reconhecesse a caligrafia — o que não ia acontecer, o moreno só reparava nessas coisas quando já estava acostumado a ver sempre a mesma escrita, geralmente dos seus amigos. Podia até...

Bucky cortou seus pensamentos quando entrou no refeitório. Não iria pensar mais naquilo. Principalmente não na frente de Natasha, que era boa em ler pessoas. Ainda tinha suas dúvidas se sua amiga não tinha alguma espécie de habilidade com leitura de mentes.

Silenciosamente, pegou algumas das batatas insossas que serviam e andou até a mesa onde ficava com seus amigos ou seja lá quem mais aparecesse para conversar.

Quando se sentou, desistiu de tentar esconder a carranca que provavelmente estava. Nunca foi muito bom com essas coisas. E como tinha pensando, Clint e Natasha notaram que algo estava errado.

Os dois trocaram olhares, e Bucky estava pronto para cortar seja lá o que eles resolvessem falar para tentar amenizar. Natasha era inteligente, com certeza já teria deduzido o que tinha acontecido. Ou pelo menos teria uma ideia.

Mas para sua sorte, não falaram nada. Bucky ficou grato quando Nat começou a reclamar sobre seu professor de química que confiscou seu celular. Clint riu porque, bem, não era um segredo quem estava mandando mensagens à ruiva.

Deu um sorriso de canto. Sr. Pym poderia ser um pé no saco quando queria.

O assunto continuou a se desenrolar, mas Bucky já não conseguia manter tanto seu foco. Coçou o pescoço, desconfortável. Sentia que alguém estava encarando-o. Huh. Achou estranho, até porque fazia quase um ano desde que ninguém olhava-o fixamente.

Olhou diretamente para a origem do seu desconforto. Seus olhos encontraram os do garoto asmático — Steve era o seu nome. Eles tinham literatura juntos.

Arqueou uma sobrancelha e o loiro desviou o olhar. Parecia que Steve corou, mas ele estava longe para saber ao certo.

Observou o garoto por mais alguns instantes. Ele usava uma blusa velha do Lanterna Verde e jeans claros. Bucky se perguntou o que ele queria.

Voltou a prestar atenção no que Clint falava. Logo Tony sentou-se ali junto com Pepper por algum motivo, e Bucky esqueceu de Steve.

Mas, ainda era estranho.

Era uma palavra que estava usando muito naquele dia, aparentemente.

***

Steve parou de mandar bilhetes, mas não conseguia parar de olhar para Bucky.

Ainda sentia-se envergonhado pelos bilhetes, para ser sincero. Não queria nem saber qual foi a reação de Bucky quando leu que seu cabelo era lustroso, pelo amor de Deus.

O último bilhete que mandou foi há uma semana. Depois de descobrir, não soube o que escreveria a seguir. "Desculpe, mas eu sou um idiota que não presta atenção"? Não ia acontecer.

Mas conforme a semana passava, notou que o moreno parecia ficar mais... ah, cabisbaixo. Não que ele soubesse como Bucky era antes, mas provavelmente não era assim.

O fato era, Steve não conseguia parar de olhar para Bucky e se sentir culpado.

E foi observando tanto o garoto que Steve reparou nas suas feições — o que não era esquisito, independentemente do que Sam falava — e percebeu que os dois tinham algumas aulas juntos desde o primeiro ano.

E foi pensando e pensando que Steve se lembrou mais de Bucky. Mas, uou, ele estava diferente.

Uma das únicas vezes que eles se falaram foi justamente no primeiro ano, quando Steve brigou com Brock. Levando em conta o número de vezes que se meteu em situações como essas, não era surpreendente ele não se lembrar de primeira.

Brock estava pressionando uma garota para sair com ele. Uma garota mais baixa que Steve, e droga, aquilo queria dizer alguma coisa.

Steve se meteu e por seu próprio pedido, a menina foi embora chamar o diretor ou sabe-se lá. Ficaram apenas os dois, e um deles com certeza levaria uma surra. Levando em conta que Brock era quase vinte e cinco centímetros mais alto e lutava caratê, não era surpresa quem apanharia.

Ah, também se lembrava de pensar em como sua mãe ficaria furiosa quando chegasse em casa e visse seus machucados, um sentimento que já era comum e ainda assim continuava igualmente horrível.

Depois de Steve ter acertado o primeiro e provavelmente único soco nele — que cortou seu lábio, mas ele parecia não ligar —, Bucky apareceu.

Steve só o notou quando ele gritou:

"Ei, encare alguém do seu tamanho!"

Os dois olharam na sua direção. Rapidamente, Bucky — a quem na época conhecia como James — socou seu queixo.

Depois disso, não se lembrava da reação de Brock e da luta em si, mas sabia que Bucky acabou com uma sobrancelha cortada e sorrindo para ele.

"Eu poderia ter acabado com ele, sabe." Resmungou Steve.

Achou que Bucky faria alguma piada sobre isso, mas não foi o que aconteceu.

Ele só colocou a mão no seu ombro, apertando-o.

"Eu sei. Mas faz meses que espero uma desculpa para socar esse otário."

Ele sorriu. Steve sorriu também.

E agora, o loiro se envergonhava de não ter o reconhecido de primeira. Ele tinha o salvado de uma das maiores surras que receberia.

Não que fosse admitir isso. Até porque desde lá tinha aprendido a se defender melhor.

Porém, ele até podia ter uma desculpa para isso: Bucky tinha deixado o cabelo crescer e usava casacos que não eram do time de vôlei. Ele também parou de andar com seus outros amigos.

Era como se ele tentasse passar despercebido.

Steve achava isso estranho, pois se lembrava que dois anos atrás estava sempre sorrido torto e falando com o máximo de pessoas possíveis.

Como alguém podia ter mudado tanto?

Sem nem notar continuava analisando o rosto de Bucky, ignorando o barulho no refeitório. Era uma boa coisa Sam estar muito concentrada na sua conversa com Wanda e Bruce, porque senão já teria feito algum comentário sobre sua falta de discrição.

O pior de tudo é que foi pego. Por um momento, não soube o que fazer. Bucky arqueou uma sobrancelha.

Steve desviou o olhar sentindo suas bochechas arderem.

Ele também voltou a olhar para seus amigos, mas a questão ainda continuava.

Será que ele tinha se juntado a algum tipo de seita? Expulso do time?

Algum problema familiar?

Seu olhar logo foi para as figuras de Clint e Natasha.

Se quisesse respostas, teria que ir direto a fonte.