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História 60 Days to burn - O inferno segue


Escrita por: Vert_

Capítulo 2 - O inferno segue


Como em um milagre, Amber havia me tirado da água. Lembro de seu rosto preocupado e da luz da lua transpassando seus fios loiros, depois disso eu simplesmente apaguei.
Acordo deitado encima de uma cama, vejo um teto não-familiar e tenho alguns flashes de memória sobre estar em um carro com Amber e um cara desconhecido. Só consigo ficar confuso com tudo e começo a fazer teorias em minha cabeça, teorias que foram interrompidas pela voz de Amber.

 – Ele acordou. – Disse Amber, sentada em uma cadeira ao lado da cama.
 – Seria estranho se eu não soubesse onde caralhos eu tô? – Perguntei.
 – É verdade, os remédios que te demos pra consertar sua perna fodida causam perda de memória. – Respondeu.

Por alguns segundos eu tinha esperança de que tudo teria sido um sonho, mas quando Amber falou da perna a ficha caiu.

 – Estão todos mortos? – Perguntei.
 – Sim, todos mortos. – Falava um homem até então desconhecido, enquanto entrava no quarto.

Desconhecido até eu poder ver melhor seu rosto.
Nicholas Ulric, sobrevivente da tragédia de 2030, na qual os muros foram levantados pela segunda vez na história de Green City. Depois de sobreviver àquilo, Nicholas fez riqueza escrevendo livros sobre a tragédia e logo conseguiu uma fama na cidade e lucrou mais ainda com um programa na televisão, onde ele se colocava em situações perigosas e saía vivo. Típico programa idiota que seus tios assistem nos domingos.

 – Você sabe ao menos o que está acontecendo à sua volta? Tente fazer um esforço para se lembrar. – Disse Nicholas.
 – Eu lembro de tudo, mas a partir da parte que Amber me tira da água eu só lembro de pequenos Flashes de imagens, como se eu estivesse bêbado ou algo do tipo. – Respondi.

   Amber parecia incomodada, ela levantou e começou a falar:

 – Tudo bem, aqui vai: Ragnarok saiu do controle uns dois dias depois que você sumiu, no terceiro dia a cidade precisava ser evacuada. O governo emitiu sinais sonoros tão altos que poderiam ser ouvidos até mesmo dentro das florestas, eu e sua mãe te procuramos por toda a parte, mas não o encontramos, por esse motivo sua mãe desistiu e foi embora com o resto das pessoas se refugiar nas cidades vizinhas. Todos aqueles com sintomas da doença deveriam ficar trancados na cidade, então os muros foram erguidos e a cidade foi isolada do resto do país. Eu continuei te procurando, não te deixaria sozinho, tenho um coração muito bom para fazer algo assim. Encontrei com Nicholas enquanto te procurava, ele tem um plano para conseguirmos sair da cidade, o que provavelmente vai render mais um livro idiota pra ele. Então Nicholas se juntou à mim e continuei a procurar por você na floresta, foi quando ouvi tiros e te vi rolando naquele barranco, te tirei da água, te arrastei pela floresta até a estrada, te coloquei no carro do Nicholas e te trouxemos até aqui. – Explicou.


No meio de alguns flashes da minha memória sobre estar no carro, existia um em especial que me incomodava, era a imagem de uma garota que aparentava ter uns 8 anos de idade. Ela estava enforcada no galho de uma arvore, e abaixo dela uma fogueira queimava suas pernas até os ossos, e sua região genital estava estraçalhada, e algumas pessoas vestidas de branco cantavam e dançavam de mãos dadas envolta da fogueira.
Perguntei sobre essa memória a Nicholas.

 – É um grupo que acredita na religião dos antigos deuses, seu líder sofre de Ragnarok mesmo que os membros não entendam isso, o problema na verdade é que ele é muito bom em convencer pessoas burras e desesperadas. Eles saem por aí fazendo rituais arrancando a virgindade de garotas que na maioria das vezes são crianças. Pelo que eu entendi, depois de tirarem a virgindade de forma brutal e desumana, eles mutilam a vítima e a queimam. Eles acreditam que seu líder é o porta-voz dos deuses na terra, e que tudo que ele quer é o que os deuses querem, não sei se ele usa disso para satisfazer seus desejos perversos antes da morte ou simplesmente a doença já está tomando conta do seu cérebro e ele também acredita em toda essa bobagem. Seja como for é melhor evitarmos esse tipo de doente. – Explicou Nich0las.
– E a gente só vai ficar assistindo e esperando o exército entrar pra queimar todo mundo? – Perguntei.
 – Ah, relaxa aí. Temos 60 dias até que isso aconteça, mas não precisa se preocupar com isso não, no décimo primeiro dia a gente vai dar o fora da cidade. – Respondeu.
 – Como assim? Pelo que eu entendi não tem saída pra fora da cidade, você só deve tá doente também. – Falei.
 – Vamo sair daqui, o Ezra precisa descançar – Dizia Amber, me interrompendo enquanto saía do quarto seguida por Nicholas.

Naquela hora eu tirei um breve cochilo, e tive um sonho medonho que me atormenta até hoje.
 Eu andava por uma rua vazia da cidade, chovia forte e não tinha sinal algum da lua ou do sol, o céu estava cheio com nuvens escuras, a rua era iluminada apenas por postes dos dois lados da rua. As casas eram a mesma, por algum motivo todas eram a casa da Amber e ao olhar para trás, eu via uma multidão me assistindo enquanto eu caminhava para o nada. Algo me fazia olhar para frente de novo, como se eu soubesse que tinha que olhar para o nada novamente, porem quando me virei para olhar o nada eu vi um homem que andava em minha direção, ele vestia uma capa negra e tinha um corvo encima de cada ombro, ele chegou perto o suficiente até eu entender quem ele era. Aquele era o meu pai, ele estava usando um tapa olho no olho direito e parecia triste, chorava sangue pelo olho esquerdo, e devagar colocou as mãos sobre meus ombros, e antes que eu as pudesse sentir ouvi um grito vindo de onde teria uma multidão, ao olhar para trás, Amber agonizava e se contorcia no chão enquanto era queimada viva. A multidão já não estava mais lá, muito menos meu pai. Assim que percebi que todos tinham sumido começou a chover mais forte, mas não era o suficiente para apagar o fogo do corpo de Amber que não parava de gritar, gemer e chorar, ela me implorava para fazer parar, mas eu realmente não tinha o que fazer. Eu gritava por socorro, batia na porta das casas, mas todas estavam vazias. Por fim eu entendi: eu só era capaz de assistir enquanto as chamas consumiam Amber.
Quando o corpo de Amber finalmente virou cinzas, eu fui acordado pelo barulho de um trovão. Abri os olhos e ao olhar para a janela à esquerda da cama, vi que estava chovendo tal como no sonho que eu acabara de ter, mas na época não dei muita importância, afinal era só um sonho.
Ao olhar para o outro lado, tinha uma garota sentada na mesma cadeira que Amber havia sentado antes de me fazer ir dormir de novo.
 
– Bom dia bebê. – Disse a garota.
 – Que horas são? – Perguntei.
 – Acho que por volta de 17:30. – Respondeu.
 – E por que o “bom dia?” – Perguntei.
 – Essa é a minha irmã, Julia. – Dizia Nicholas enquanto entrava no quarto e interrompia a resposta da garota. – E aquele é o namorado dela, Sam. – Se referia a um garoto que entrava no quarto logo depois dele.
– O Nicholas me pediu pra vir te explicar o lance da praia, mas você tava dormindo tão engraçado que eu só fiquei sentada assistindo. – Disse Julia.
  – Que seja, eu mesmo vou explicar. Eu tenho um grande amigo no exército, ele me contou o que iria acontecer um pouco antes de acontecer, ele está no comando de um navio de guerra enorme que patrulha a praia e impede que as pessoas trancadas na cidade fujam pelo mar. Nós combinamos tudo, no décimo primeiro dia nós vamos até a praia, e ele vai nos dar asilo dentro do navio, é super- simples e prático, nós vamos até a praia, meu amigo coloca a gente no navio, eu invento umas coisas, escrevo outro livro, fico mais famoso e talvez, só talvez deixe vocês serem famosos junto comigo. – Nicholas explicou.
 – E com a grana, eu e a Julia vamos morar bem longe de você, seu doente do caralho. – Disse Sam.
 – Você tem uma boca cheia de caralho né, amorzinho? – Dizia julia enquanto puxava a orelha de Sam.

Toda essa brincadeira foi interrompida por fortes batidas que pareciam vir da porta da frente. Uma voz familiar gritava meu nome. Aquela era a voz de Earl, aquele que teria tirado de mim as pessoas mais importantes da minha vida.
Ao ouvir aquela voz eu congelei, só conseguia pensar em tudo que aconteceu, eu estava em estase enquanto todos no quarto se mobilizavam. Eu finalmente caí em si quando Nicholas disse “Cadê a Amber”. Levantei correndo da cama, e apenas segui Nicholas pela casa. Chegamos em uma varanda onde dava pra ver de cima a frente da casa, quando fui me aproximando Nicholas fez um sinal para que eu ficasse atrás. Obedeci e esperei.

 – O que quer aqui? Não tem ninguém com esse nome na minha casa! – Gritava Nicholas para Earl e seus homens que estavam na frente da casa.
 – Eu sei que você ta com a minha putinha aí... E EU NÃO VOU VOLTAR PRA CASA SEM ELA! – Earl gritava de volta.
  – Eu não sei de nada em relação à sua “Putinha” então sugiro que você procure em outro lugar. – Dizia Nicholas num tom bem mais calmo que antes.
 
Enquanto Nicholas tentava dialogar com aquele animal, eu só conseguia me perguntar onde estava a Amber, ela era a única coisa que importava naquele momento, depois de tudo que eu já tinha perdido, eu não queria perde-la, não ia suportar algo assim, eu me desesperava ao pensar no que aconteceria se eles entrassem na casa.
Toda minha confusão mental foi interrompida quando alguém pegou na minha mão, ao olhar para trás vi o rosto de Amber e antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ela me puxou forte pela mão e começamos a correr de mãos dadas enquanto ela me guiava pela casa.

 – Precisamos sair daqui agora!



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