[...]
Hoje é nosso primeiro encontro, não sei quantos níveis de ansiosa eu estou porque... Eu nem sei o que vestir, não sei se ele prefere fofa, rebelde, certinha ou... Ah que cu!
Fiquei xereteando meu guarda roupa e achei as roupas perfeitas, pra ser fofa, e se ele não gostar? Foda-se! Eu to muito rebelde hoje... Sem mais devaneios comecei a me vestir, coloquei um shorts e uma blusa de manga curta lilás com bolinhas brancas, suspensórios e deixei meu cabelo solto, coloquei uma sapatilha branca sem detalhes e fui me olhar no espelho.
- M-Muito criança, SÉRIO POR QUE EU PAREÇO COM UMA CRIANÇA? – Comecei a tirar as roupas e corri de volta pro meu quarto. – E por que diabos eu fui deixar o único espelho na porra da sala? – Suspirei. – Para de falar sozinha Aisha.
Olhei a previsão do tempo, não ia fazer muito sol, mas não ia fazer frio, nem ficar nublado então, roupas pretas nem no cinema, o que tem a ver cinema? Peguei um vestido tomara que caia branco, por dentro dele era azul bebê, coloquei uma meia calça branca e peguei um sapato com salto pequeno azul bebê, prendi meu cabelo de lado e fui pra sala.
- Agora sim, melhorou. – O sorriso se transformou em um suspiro. – Bem pouco.
Ouvi o interfone tocar, acho que era ele, eu nem me arrumei direito, que horas são? MEU DEUS AISHA O QUE VOCÊ TAVA FAZENDO? Fui correndo atender o interfone.
- O-Oi? – Falei tirando o interfone de seu apoio.
- Oi Aisha, tem um homem de cabelos longos querendo te ver. – O porteiro falou numa naturalidade absurda.
- Mande ele subir, se for um de olhos púrpuras, pode mandar. – Falei esperando ele desligar.
- Ok. – Ele desligou e eu sai correndo em disparada ao banheiro.
Só vou ter tempo pra nada, passei só lápis e um brilho rosa claro, voltei para o meu quarto e peguei uma bolsa pequena branca.
- Dinheiro, documentos básicos... – Corei, mas peguei. – Camisinhas... Gloss, só.
Ouvi a campainha tocar, do jeito que eu estava nervosa eu dava cada passo pesado e o salto deveria ajudar a fazer um barulho muito agradável, ele deveria estar ouvindo eu chegar, peguei a chave e destranquei a porta, virei a maçaneta com o coração acelerado, o vi e fiquei corada.
Ele estava arrumado, mas simples, uma jeans, camiseta preta e uma jaqueta de manga curta branca, e eu havia me arrumado tanto, será que eu exagerei? Pera, ele usa óculos? Ele fica lindo de óculos meu deus... Estava toda corada, um silêncio constrangedor estava entre nós.
- Você... – Ele falou e eu o olhei. – Meu deus... Você tá muito linda. – Ele falava como se não tivesse noção do que estava falando.
- V-Você também... – Dei um sorrisinho de canto. – Mas acho que eu to arrumada demais...
- Eu acho que ficaria melhor... – Ele mordeu o lábio e sorriu. – Assim.
Ele soltou meu cabelo, deixando ele solto, e do bolso dele ele tirou uma... Fita? Era uma fita branca com uns detalhes em azul claro.
- Pode se sentar, por favor? – Ele entrou e se sentou no sofá.
Sentei na frente dele e ele começou a mexer nos meus cabelos, senti ele pegar algumas mechas, fiquei quieta, eu sentia ele mexer mais e mais, e pelo canto do reflexo do espelho eu via seu rosto, ele estava concentrado, seus olhos brilhavam, mas pouco eu conseguia ver, seus óculos refletiam luz e eu não via direito os olhos dele.
- Pronto. – Ele falou e consegui ver um sorriso no rosto dele.
- O que fez? – Perguntei meio animada.
- Nada demais, só fiz uma trança bem bolada. – Ele riu e eu tateei bem de leve e senti a trança. – Veja no espelho.
Me levantei e peguei um pequeno espelho para me ajudar, coloquei ele na minha parte de trás do cabelo e vi tranças finas com a fita em um laço prendendo as duas pequenas tranças juntas.
- Não sabia que era tão habilidoso com as mãos. – Sorri olhando para ele.
- Você ainda não viu nada querida. – Ele riu, ele tá tirando uma com a minha cara.
- Ei! – Ele riu mais ainda. – Deixa de ser bobo, não me faça gastar o meu gloss na sua boca, não agora... – Ele corou e foi minha vez de rir.
- Droga, cai no conto? – Ele se levantou e foi andando em minha direção. – E não importa, se acabar todo o gloss mesmo depois de repor, eu te dou um novo e eu faço você gastar ele de novo. – Meu coração ta batendo rápido demais pro meu gosto.
- Pra onde vamos? – Me virei de costas pra ele, infelizmente eu estava de frente para o espelho e ele também, ele passou a mão pelo meu ombro nu e me puxou para perto dele.
- Um lugar especial. – Ele sorriu. – Parecemos uma pintura.
- Como assim? – Eu o olhava indiretamente nos olhos e ele fazia o mesmo.
- Acho que formamos um casal lindo de morrer. – Ele sorriu se gabando. – Pena que não somos um casal oficialmente né?
- O que está insinuando? – Ele passou a mão de meu ombro para minha cintura.
- Que eu deveria te pedir em namoro algum dia. – Corei muito e ele riu.
- É brincadeira. – Ele deu um beijo no topo de minha cabeça. – Nada muito rápido, certo, princesa?
Meu coração acelerou horrores, ele me chamou de princesa, sem perceber eu comecei a chorar, e ele ficou com um rosto espantado, ele secou minhas lágrimas, não perguntou o que foi e só me abraçou.
- Meu pai me chamava de princesa. – Falei já parando de chorar.
- Então... Temos um problema, temos um Rei tentando conquistar uma princesa, não posso mudar seu título, a não ser que... – Olhei curiosa para ele, ele estava tão perto, e também estava com uma de suas mãos em meu rosto. – Essa princesa queira ser minha rainha...
(...)
Fiz a pergunta, mais cedo do que eu esperava, mais criativo do que eu imaginava, eu não sei o que deu em mim, nunca fui romântico com nenhuma das minhas exs... Mas esses olhos brilhantes e essas bochechas rosadas me fazem pensar antes de ser grosso, sinto como se eu perdesse ela, eu perderia meu motivo pra viver.
- Isso é um pedido de namoro ou... – Ela me olhava, estava super corada. – C-Casamento?
- Sinceramente, eu não sei... – Falei acariciando o rosto dela. – Você queria que fosse pedido do que?
- Não faça perguntas difíceis Add... – Ela falava baixo, tão fofa, tão perfeita. – Eu queria que fosse a opção que nunca nos separaríamos.
- Como? – Senti meu rosto queimar, ela fez beiço. – Desculpa eu só... Não consegui acreditar no que eu estava ouvindo...
- Por que não? – Ela colocou a mão dela em meu coração. – Eu não poderia ser mais certa de algo, pode ter certeza.
- Aisha... Vamos para o encontro e ver se você tem tanta certeza assim. – Falei e dei um selinho nela.
- Ei seu ladrão! – Ela sorriu corada. – Acho que nos arrumamos por nada.
- Por que? – Sorri pra ela que riu olhando para mim.
- Se realmente combinamos, o teste vai ser agora. – Ela falou levantando o indicador. – Sair de casa ou ficar em casa vendo filmes?
- A resposta é óbvia. – Falei rindo da pergunta. – Ficar em casa, vendo filmes ou sei lá, jogando?
- VOCÊ JOGA? – Ela deu um pulo. – D-Desculpe... – Ela falou corando.
- As vezes, por quê? – Ri dela que já tava tirando os sapatos de salto. – Por que tirando o sapato?
- Vamos ficar aqui, pedir uma pizza e assistir uns filmes enquanto jogamos conversa fora. – Ela é perfeita ou o que?
- Oh não! Fui abatido! – Comecei a cair no chão lentamente, nunca achei que seria tão brincalhão perto de alguém. – Essa roxinha dominou meu coração...
- Besta! – Ela jogou os sapatos em um canto da sala. – Vou me trocar, aliás, tem umas roupas do meu irmão que ele esqueceu aqui da última vez que ele veio, quer ver se servem em você? – Ela me olhava enquanto já tirava sua meia-calça.
- Pode ser, onde estão? – Tentava evitar uma hemorragia nasal por conta de que... Digamos que temos sorte de não termos saído, ela se abaixou, o vestido é curto demais.
- No meu quarto, vem. – Ela começou a andar e eu fui atrás.
- Quer dizer que vamos nos trocar no mesmo quarto? – A olhei com um pinguinho de esperança de que sim.
- Óbvio que não, mas por que a pergunta? – Senti uma pontinha de ironia, acho que ela sabe o porquê.
- Por nada, só não quero invadir sua privacidade. – No caso intimidade, ri internamente.
- Sei sei. – Ela me deu algumas roupas. – Agora vai lá no banheiro.
- Ok... – Me virei para o lado que ela apontou e entrei no banheiro.
Coloquei as roupas e... Uma bermuda em especial, no caso a que eu estou usando, me chamou atenção, tinham várias, e com várias digo muitas, camisinhas nos bolsos dela... Eu coloquei todas em outra bermuda, quase todas... Vai que.
- Toc toc. – Ela bateu na porta.
- Bu! – Abri a porta bruscamente tentando assustar ela, ela estava de cabelos soltos e de blusão, espero eu que sem calcinha também... Desde quando eu me tornei um adolescente na puberdade? AH É FAZ DEZ ANOS ADD, SE CONTROLE!
- Ah que susto! – Ela fez sem ânimo nenhum, o que me fez rir.
- Podia pelo menos fingir melhor. – Coloquei minha mão na cabeça dela e baguncei seus cabelos.
- Então, vamos começar nossa programação super superior a qualquer bilheteria de cinema? – Ela falou super animada.
- Preferia te beijar, mas vamos deixar isso pro final, se não a gente dorme no meio do filme. – Ela me olhou confusa e logo se tocou me dando um tapinha.
- Seu bobo. – Ela fez cara de choro. – Vamos!
- Ok! – Sorri e fui seguindo ela, ela parou subitamente e pegou minha mão voltando a andar.
[...]
Estamos num hotel, a vista do mar, o vento seco sem sinais de chuva, um quarto escuro e apenas eu nele, falando em voz alta tudo que penso, provavelmente. Tiramos férias juntos, apesar de serem férias de apenas duas semanas, nós estamos a três dias aqui, camas separadas, sem mãos dadas ou beijos roubados, jantares já tarde da noite, risadas e conversas sem começo nem fim, especulações e bobeiras cotidianas.
Passei a conhecer ele tão bem como a palma da minha própria mão, é o que ele diz pelo menos, apesar de que eu sempre acho que aqueles olhos são mais do que se pode ver, apesar dele dizer ser frio, sua presença me aquece.
- Já vai dar o horário. – Olhei para o horizonte e o sol preguiçoso já havia subido.
Coloquei sandálias simples, vou me encontrar com ele na praia, atrás de uma pedra que achamos umas plantas roxas que se assemelham com nossos olhos e no meu caso meus cabelos. Saí do hotel e fui para a praia, alguns grãos de areia pinicavam meus pés, mas mesmo assim eu caminhava sem pausa e enfim cheguei onde eu deveria.
- 9:30
(...)
- 9:30 – Olhei para o relógio e apareci do outro lado.
Com uma simples flor púrpura em mãos, com o visual desleixado de qualquer um que vai à praia, apareci na frente da que me cativou.
- Aisha. – Falei ainda escondendo a flor que tinha em mãos. – A pouco mais de um ano, você me cativou. – Tomei um pouco de ar. – E durante esse tempo, fui descobrindo mais de mim mesmo, fui descobrindo coisas importantes, como o que eu sabia amar e coisas boas e pequenas, tipo como fazer brownies. – Vi ela sorrir, mas ela permaneceu quieta. – Aprendi que nunca devo deixar você ficar bêbada, e que nunca devo subestimar o poder do seu sorriso contra mim.
- Add...
- Deixe eu continuar, por favor. – Vi ela assentir com uma mão em sua boca, mas pelas bochechas eu conseguia ver que ela estava sorrindo. – Nesse ano eu aprendi o que era realmente estar apaixonado. – Uma lágrima escorreu pela bochecha dela e parou onde a mão estava. – Eu aprendi a amar, e a desejar a cada dia mais uma pessoa, não por querer transar com ela, ou simplesmente ficar beijando e depois dizer tchau, mas sim a desejar ver o sorriso da mesma, a risada e a voz da pessoa que se ama. – Suspirei e deixei um largo sorriso se formar em meu rosto. – Nesse tempo eu aprendi que eu te amo Aisha, e que independentemente de qualquer obstáculo eu nunca deixaria você sair de meus braços. – Ela chorava mais, mas conseguia ver seu sorriso, o sorriso que conhecia tanto. – Então princesa, eu gostaria de te pedir uma coisa, pode ser? – Ela fez que sim com a cabeça. – Seja a Imperatriz do meu coração? – Estendi a flor para ela que sorriu a pegando, pude ver o sorriso no rosto dela, e as lágrimas o acompanhando.
- Isso é um pedido de casamento? – Ela me olhou segurando lágrimas que desciam sem ela nem piscar.
- Ainda não. – Ela pulou em meus braços e me beijou.
- Eu... Eu te amo... – Ela me abraçou forte, eu sentia as lágrimas quentes dela em meu pescoço.
- Eu sei, mulher das 9:30. – Ouvi ela soluçar. – Eu te amo, Aisha.
E as 9:30 de todos os dias, uma declaração nova era feita, por caras e bocas, olhares e toques, as 9:30 foi quando o tempo parou, para nós dois.
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