Eu honestamente não fico confortável quando vou falar desse assunto, principalmente depois de tudo o que aconteceu. Prefiro contar minha infância aqui antes de partir para a história de fato.
Antes mesmo de nascer, eu ja tinha minha infância condenada. Meu país viveu uma guerra civil logo depois que declarou sua independência. São 3 etnias diferentes que nos dividem, os Bósnios-Croatas, os Bósnios Muçulmanos e os Bósnios-Sérvios. Aí você se pergunta, "que país é esse?". Meu país é a Bósnia e Herzegovina e tenho orgulho de ser Bósnio. Em relação às etnias, minha família era Bósnios Mulçumanos mas eu em específico era Bósnio-Croata, pois meu pai era Croata e eu em particular optei por não aderir a nenhuma religião.
Enfim, a guerra durou de 1992 até 1996 e precisou de uma intervenção exterior para que a paz fosse decretada. Em 1995, na terra de meus antecedentes, houve um genocídio de mais de 8000 Bósnios Mulçumanos, aonde perdi toda a minha família praticamente. Perdi meus tios, primos, avós e muitos outros. Os que escaparam foram minha mãe Levkska e minha vó Ellena, pois estas moravam em Sarajevo na época, meu avô também morava com elas, só que ele acabou sendo atingido por uma bala perdida numa invasão que ocorreu na cidade em 1994 e não resistiu ao ferimento. Minha mãe e minha avó ficaram escondidas em um porão da cidade e sobreviveram ao ataque. Logo quando a guerra acabou, minha mãe conheceu meu pai Lukkas que estava sozinho, ainda em Sarajevo e acabaram juntos, cada um respeitando a religião do outro, meu pai cristão e minha mãe mulçumana. Se mudaram para Livno, no interior do país aonde nasci em 2002.
Eu particularmente não entendia muito sobre o que havia acontecido com a nossa família e minha mãe evitava tocar no assunto. Quando eu tinha 2 anos e estava prestes a fazer 3, nasceu minha irmã Laura e eu a amava mais que tudo. Considerando o que havia ocorrido, éramos uma família bem feliz, isso até minha avó falecer de um ataque cardíaco quando eu tinha 4 anos. Foi difícil superar a perda e esta inclusive me deixou curioso e eu fui perguntar para minha mãe aonde estava o resto da família, mas ela nunca falava. Somente quando eu tinha 9 anos que ela enfim soltou para mim. Eu realmente fiquei traumatizado, não morri de chorar pois nem sequer havia os conhecido, mas o sofrimento era evidente em mim. Laura ainda não sabia do ocorrido e por sorte não era curiosa igual eu.
Na escola, eu tinha 2 amigos, Tarik e Amel, eles eram muito bons comigo e éramos inseparáveis. Gostávamos basicamente das mesmas coisas, jogos, desenhos, animes e inclusive daquela nova febre que havia lançado, chamada Five Nights at Freddy's. Nosso sonho de criança era conseguir ir aos Estados Unidos e visitar a pizzaria, a ideia me agradava muito mas nossas famílias não eram lá ricas, minha mãe era uma funcionária de uma loja e meu pai era policial. Entretanto um dia os dois conseguiram uma viajem para o país americano nas férias escolares e eu e Laura nos empolgamos muito. Iríamos visitar Orlando e Miami, infelizmente não daria para ir até Hurricane ver a pizzaria e fiquei bem frustrado, pois adorava aqueles bichos, via o comercial deles sempre que passava.
Fomos até a Disney, a Universal e ainda tivemos a chance de ir ao Sea World, aonde me apaixonei pela Orca macho, Tilikum. O carinho que tinha por ele era enorme e acabei recebendo o seu nome como apelido. Quando voltamos para a Bósnia, ficamos mais alguns dias curtindo a família até as aulas voltarem, eu estudava no turno da manhã e Laura à tarde.
Vou começar com a história de fato agora. Foi num dia que eu havia chegado em casa, fui falar com a minha mãe que estava na sala e vi elas......elas que mudariam muita coisa na nossa relação com meu pa...
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