A cada semana me sentia mais próxima de Bruna, minha irmã que no inicio me chamava de idiota, burra, entre outros, agora apenas não opinava mais sobre o assunto. Carlos, não havia muito o que dizer, estava basicamente a mesma coisa, só que agora eu tinha mais facilidade em ignorar suas reclamações e dobrá-lo com mais facilidade. Eu já conhecia Bruna a três meses, mas parecia ontem que a conheci, o tempo realmente estava passando bem rápido.
- Então o que achou? – Desde o inicio ela havia me pedido para fazer um terninho, então hoje finalmente havia terminado, levei quatro semanas, entre modelagem, corte e costura.
- Nossa, está lindo. – Segurou o tecido nas mãos. – Foi você mesma quem fez?
- Sim.
- Eu nem sei o que dizer a não ser obrigada e está lindo.
- Já é o suficiente.
- Vou estrear amanhã, se alguém perguntar onde comprei o que digo?
- Diga que foi uma amiga quem fez.
- E se pedirem o contato da amiga para fazerem um igual.
- Diga que é exclusivo.
- Vou dizer que você faz por encomenda.
- Não faça isso, você sabe que tive que fazer aqui na sua casa, porque Carlos não pode saber.
- Eu sei, mas você pode ir fazendo aqui. Eu tenho certeza que vão perguntar quem fez.
- Bruna, você vai me meter em problemas. – Ela deu de ombros e sentou-se no sofá.
- Fiquei sabendo que vocês vão num coquetel.
- Sim, na sexta. – Dobrei a roupa e coloquei no braço do sofá. – Por quê?
- Você nunca vai com ele a esses coquetéis.
- Eu ia antes, mas era tudo sobre direito, piadas sem graças e homens velhos e tarados.
- E por que vai agora? – Bruna não era de ficar questionando, isso realmente chamou minha atenção.
- Ele me convidou, só isso.
- Hum. – Bruna parecia incomodada.
- Está com ciúmes?
- Eu, claro que não, por que teria ciúmes de você? – Parecia nervosa.
- Eu estava falando de Carlos.
- Do Carlos muito menos. Eu só achei, sei lá, estranho. – Ligou a TV.
- É só isso mesmo? – Franzi o cenho.
- Talvez eu também compareça a esse coquetel, é o escritório em que eu trabalho que está oferecendo.
- Bom, teremos que agir como desconhecidas. – Eu estava sentindo um frio na barriga, não podia me imaginar no mesmo local que Carlos e Bruna.
- Você está nervosa?
- Um pouco.
- Então eu vou inventar uma doença, mas vai ficar me devendo uma, porque eles servem uma comida muito boa lá.
- Tudo bem, faça seu preço. – Sorri.
- Quero que saia comigo, durante a noite.
- Você sabe que não posso, meu marido vai desconfiar.
- Eu já pensei em tudo, via a agenda de Carlos, daqui a um mês ele tem uma viagem a Santa Catarina, que coincide com o passeio da escola dos seus filhos.
- Como sabe do passeio?
- Carlos reclamou horrores de ter que pagar para eles irem e... não fique chateada, ele chama seu filho mais novo de afeminado. – Coloquei as mãos na boca.
- Como ele pode dizer uma coisa dessas do meu filho! – Esbravejei irritada.
- Você nunca pensou na possibilidade de seu filho ser gay?
- Ele só tem treze anos.
- Quanto mais cedo aceitar, melhor.
- Ele não é gay! Não que isso seja um problema, mas ele é apenas um menino, ainda nem sabe o que quer da vida.
- Não é uma escolha, mas eu concordo, ele ainda é novo e acho que Carlos fala de maldade. – Aquilo realmente me deixou bem irritada. Era visível o quão chateada eu fiquei, pois Bruna sentou-se ao meu lado e ficava fazendo graça para que eu voltasse a rir.
- Então você vai trocar as folgas de quarta para segunda? – Eu estava na porta prestes a ir embora.
- Você pode vir almoçar comigo todo dia, ai minha alimentação melhora e podemos conversar, nem que seja uma hora.
- Vou pensar no seu caso.
- Qualquer coisa eu te levo de carro.
- Quantas horas de almoço você tem?
- Uma.
- Não garanto todos os dias, mas duas ou três vezes na semana acho que consigo.
- Aceito, é melhor que nada. – Bruna me abraçou, algo que me pegou de surpresa. – Tchau, continua falando comigo pelo whatsapp.
- Pode deixar.
Sai de seu apartamento e fui em direção ao meu, era um caminho um tanto longo, mas que eu não me importava em fazer uma vez na semana. Como prometido continuei a lhe mandar mensagem no whatsapp, realmente era engraçado como o assunto não acabava, minha bateria estava em 30% quando recebi a ligação da minha irmã.
- Alô!
- Oi Mana, como andam as coisas?
- Bem e por ai?
- Vou me divorciar.
- Kat, como assim? – Acabei elevando o tom no ônibus, mas logo voltei a postura anterior. – O que houve?
- Acho que Michele está me traindo.
- Você acha...
- Ela sempre chega tarde em casa, nunca atende telefone quando diz que vai chegar tarde, ela está diferente.
- Já tentou conversar com ela?
- Já tentou conversar com uma ariana? Não dá, tudo vira briga com áries.
- Como se você fosse fácil. Kat, não tome decisões precipitadas. Você e Michelle estão juntas a dez anos.
- Eu posso amá-la, mas traição eu não aceito.
- Diferente de mim você não tem provas, não tem encontros toda semana com a amante da sua mulher, você é a louca mais centrada dessa família, conversa com ela, tenho certeza que tem um motivo. – A ouvi soltar um alto suspiro.
- Eu pretendo passar uns dias no Rio, quando voltar sem essa ideia de traição, eu converso com ela.
- Podemos ir visitar o museu do amanhã e o novo aquário.
- Quero meus sobrinhos, mas sem o Carlos.
- Ele tem se comportado.
- Eu pago para vê.
- Acredite em mim, ele está se comportando melhor.
- Vou tentar ir esse final de semana.
- Tudo bem, só me avise para programar tudo.
- Certo!
Com o fim da ligação só me restava 10% de bateria e muita reclamação de Bruna por conta da demora, ela não era assim, mas ultimamente tem me cobrado bastante atenção. Expliquei o motivo e tudo ficou bem, meu celular descarregou antes de chegar em casa, então fui apreciando a paisagem. Por volta de quatro e vinte cheguei em casa.
- Onde estava? – Carlos abriu a porta antes que eu pudesse fazer.
- Oi... amor... – Falei surpresa.
- Cheguei cedo, onde estava?
- Eu fui visitar o tumulo da minha mãe. – Foi a primeira desculpa que encontrei.
- Ah... sim. – Ele pareceu engolir a desculpa. – Sobre o coquetel, você ainda vai?
- Sim, ou pretende convidar outra pessoa? – Sim, foi uma alfinetada num tom de brincadeira, eu ainda estava sentida com o fato dele ter chamado nosso filho de afeminado.
- Claro que não! Quem eu poderia chamar?
- Não sei, um de seus sócios. – Ele me encarou, mas logo amenizou a expressão rígida em seu rosto.
- Eu fui o único convidado, me querem lá ano que vem, mas mais uma empresa fica difícil, não vejo a hora de Helena começar essa faculdade de Direito.
- Já conversamos sobre isso.
- Eu pago os estudos dela, então ela faz o que eu quiser.
- Carlos, a menina quer estudar Publicidade.
- Não mesmo, esse curso de maconheiro ela não vai fazer.
- Kat é formada e tem uma agencia.
- É exatamente isso que eu não quero, Deus me livre minha filha terminar como sua irmã.
- Uma mulher bem sucedida e independente de um homem? – Escapou. Ultimamente as coisas estavam assim, escapando, por mais que eu não quisesse brigar elas escapavam e geralmente eram frases que Bruna usava e que tinham muito sentido.
- O quê? – Perguntou raivoso.
- Carlos, Helena tem que estudar o que gosta, não quero ela infeliz.
- Eu pago os estudos dela e é melhor você não falar mais nada. – Ele colocou o dedo no meu rosto.
- Tudo bem, querido. – Aquela era a hora de concordar sem pensar em mais nada, Carlos já estava perdendo o controle.
- Eu vou sentar, beber uma cerveja e ver futebol, espero que ninguém fique enchendo meu saco. – Saiu pisando firme e eu apenas me calei, tratei de cozinhar, era o que eu deveria fazer.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.