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História A Aparência é Irrelevante para Aquele que Não Pode Ver - Máquina de Braille


Escrita por: Beatryce

Notas do Autor


OEIEIEIIEIEIEI

Não resisti e tive que postar hoje socorro jesus

Espero que gostem cada vez mais de A Aparência é Irrelevante para Aquele que Não Pode Ver, boa leitura <3

Capítulo 2 - Máquina de Braille


“Como alguém, em sua saúde mental instável, gosta de vir à escola?”

Esta pergunta pairava sobre minha cabeça, no exato momento em que atravessei os enormes portões dourados.

 

Eu andava calmamente. Não tinha pressa de chegar a minha sala (que, no momento, sequer sabia algo sobre sua localização). De fato, ser novata até possuía seus pontos positivos.

Passando pelo vasto corredor, eu apertava a alça de minha mochila com força. Lembra-se dos pontos positivos de ser novata? Retiro totalmente o que disse. Eu sempre morei nesta cidade, mas nunca estudei nesta escola.

“Tenho 99,99% de certeza de que não conheço ninguém. São todos absolutos desconhecidos. Se bem que, eu não gosto de me aproximar muito das pessoas.” Confirmando esse meu saudável diálogo comigo mesma, lembranças invadem minha cabeça. Lembranças antigas, essas que me lembro a cada hora que passa.

Lembro-me de um moreno.

Eu com certeza o conheço. Ou, pelo menos, conhecia. Conhecemo-nos quando tínhamos aproximadamente sete anos. Estudávamos na mesma escolinha, porém nunca tinha falado com ele antes.

Certa vez, dois garotos (bem mais velhos do eu) estavam enchendo meu saco. Realmente, eu odiava minha descendência naquela época. O fato de ser quase negra era tão importante assim? O fato de minha cor ser incomum, vai realmente mudar o curso do universo, para que as pessoas venham a se importarem tanto com ela?

E era exatamente isso que os dois idiotas estavam fazendo. Xingando-me com apelidos (tais que já fiquei familiarizada), como por exemplo: Carvão, pretinha, quadro-negro, boi-da-cara-preta.

A parte importante é que, o moreno veio me defender. Quando digo moreno, é moreno mesmo. Pele pálida, cabelos negros. Até fiquei surpresa, ninguém nunca tinha me defendido, principalmente me defendido do racismo que as escolas da França faziam o favor de não dar a mínima.

Enfim. Ele botou os garotos para correr e eu agradeci. Ele se apresentou e... Desde aquele dia, nunca mais nos separamos.

Pelo menos, era isso que eu, ingenuamente, pensava.

Quando tínhamos aproximadamente nove anos de idade, eram raríssimas as vezes que nos víamos separados. Éramos, literalmente, unha e carne.

 

Paro de andar, encostando-me num dos vários armários. Respiro fundo, soltando o ar devagar.

 

Éramos verdadeiros melhores amigos.

Até que, por minha culpa, ocorreu um acidente com ele. Ainda lembro-me nitidamente do sangue saindo de seus olhos como uma cascata. Lembro-me de sua feição desesperada, do seu choro.

 

Eu ainda sonho com aquele choro, eu ainda sonho com aquele dia.

Ainda sonho com ele.

 

Depois daquele acidente, nunca mais o vi.

“Talvez ele possa estar muito machucado para receber visitas minhas” era o que eu pensava.

No entanto, depois de crescer um pouco, comecei a ligar os pontos. Percebi que os pais dele não queriam que eu me aproximasse.

Não os culpo.

Eu mesma não deixaria que meu filho chegasse perto da garota que lhe perfurou os olhos, mesmo  que sendo acidentalmente.

Sou tão culpada.

Não era para eu ter empurrado aquele balanço tão forte. Não era nem para nossa amizade ter começado, dois anos antes do ocorrido.

Eu não soube mais nada.

Sequer sei se ele sobreviveu àquilo. Só... Só espero que um dia, o moreno possa finalmente perdoar-me.

 

— Senhorita? — Sinto algo tocar meu ombro levemente. — Senhorita?

 

Desperto-me de meu devaneio, virando o rosto para o loiro a minha frente. Ele era um pouco mais alto que eu, diferença de poucos centímetros. Tinha uma expressão gentil anormal. Estranho... Todos que me olham ficam surpresos.

Até porque, uma descendente de brasileiros na França não é a coisa mais comum do mundo.

 

— Pois não? Desculpe, eu estava um pouco distraída.

— Sem problemas, mas você não era para estar na sala de aula? — Perguntou-me, desconfiado.

— Acontece que eu não sei onde ela é... — Olho para o chão, sem dar muita importância a isto. — Sou nova aqui.

 

Ficar nos corredores vazios é muito melhor do que estar envolta a vários estudantes. Principalmente aqueles que me olham como se eu fosse de outro planeta. Uma verdadeira E.T.

Não que eu ache que as pessoas não têm motivos para olharem pra mim, outrora não custa absolutamente nada disfarçar (os olhares maldosos, principalmente). Ou até mesmo, tentar disfarçar.

O pior de tudo é que todo o professor quer que, antes de tudo, nos apresentemos diante toda a classe.

Céus, por quê?

 

— Ah! Você deve ser a Natalie Ellen Jaques, não é? — Perguntou-me. E, com uma leve indiferença em minha voz, respondi-o.

— Me chame de Natalie. Não preciso de tanta formalidade.

— Ok, Natalie. Sou o Nathaniel, o representante de turma. Prazer com conhecê-la. — Elevou sua mão direita, que eu a apertei sem totais relutâncias.

— Muito prazer. Você tem como me informar se minha inscrição já está finalizada? — Perguntei. Já estava esperando um “Não posso ajuda-la.”.

 Claro que sim! Venha, irei verificar agora mesmo.

 

** * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * **

 

— Natalie, pelo jeito ela só falta sua foto 3x4 e a taxa de inscrição. — Olha para mim, novamente mostrando seu sorriso branco.

 

Ele era bem bonito, por sinal. Os cabelos lisos e loiros iam até pouco abaixo de sua orelha. Seus olhos eram âmbar, pouco comum (diferente de meus olhos castanhos escuros extremamente desprivilegiados e incomum cabelo cacheado acima do busto).

 

— Ok. — Abro minha mochila, pegando a foto e o valor da taxa, entregando-o em seguida.

— Aqui estão seus horários. — Me entrega uma folha com uma tabela impressa e logo vejo que tenho três aulas de ciências ainda hoje.

 

Argh... Ninguém merece...

 

** * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * **

 

Lembram-se do que eu comentei? Algo como “Não gosto quando me olham como uma verdadeira E.T.”?

Estão fazendo exatamente isso. Delanay (a professora de ciências) praticamente me obrigou a me apresentar para a turma. Céus, por que isso comigo?

Digo um breve olá, me apresento, digo que gosto de desenhar e que sou de outra descendência. Minhas aulas mal começaram e eu já estou farta. Eu gosto muito de estudar, mas o ambiente (e as pessoas que o habitam) que me fazem odiar.

Passo rapidamente meus olhos por toda a sala e vejo três carteiras vagas. Duas no fundo e outra na frente. Eu prefiro realmente ficar no fundo.

 Dou no mínimo cinco passos e já escuto a voz asquerosa de uma loira, dizendo algo como “Viu a cor dela? Parece que jogaram tinta preta” para duas outras garotas. Uma de rabo de cavalo e outra asiática.

A asiática concorda com a cabeça e logo diz “Dá pra clarear panelas com aquele cabelo.”. Deus, perguntar-lhe-ei novamente: Por que comigo?

Chego ao meu destino, olho para a carteira da direita e vejo uma mini máquina de escrever. Daquelas que se escreve em braille. Olho para ela curiosa, mas resolvo sentar na carteira da esquerda. Até por que, se ela está lá, é por que é de alguém, não?

 

— Alunos, começarei a aula. Peço que fiquem em total silên-

 

Toc-toc

 

— Ora, quem pode ser? — Pergunta Delanay. — Sr. Collins, pensava que não viria. Entre. — E então, a professora deu espaço para o ser passar. Era, provavelmente, um aluno.

 

Ele dá um passo de cada vez, segurando a mochila em um dos braços e, na mão direita, havia um tipo de bengala. Daquelas que se usavam para os cegos.

Ele se vestia de um modo um pouco... “contraditório”, por assim dizer. Usava calças pretas, óculos escuros e jaqueta de couro. Estes que faziam contraste no all-star vermelho velho, camisa vermelha de uma banda de rock e claro, suas madeixas vermelhas caindo sobre os ombros.

Os passos eram leves, e as balançadas da bengala, rápidas e firmes. Ele se sentou ao meu lado, colocando o fone. O som estava alto, mas somente o bastante para que eu o escutasse. Fiquei observando-o. Sinto a sensação de que já o vi antes...

 

— Pretende falar alguma coisa? — Pergunta, me assustando. Em um movimento único, ele tira o fone de seu ouvido esquerdo e ajeita os óculos que escorregavam de seu nariz.

— N-na verdade... Como consegue lidar com isso? — Pergunto, em voz baixa. A aula continuava e os sons da voz de Delanay absorviam o som da minha

— Isso o quê? — Me pergunta, mudando sua feição de relaxada (provavelmente pela música de minutos atrás) para curiosa.

— Ouvir insultos... Sei que já deve ter passado por isto antes, igualmente como eu...

— Sabe, para os outros te aceitarem, você tem que se aceitar. — Vira a cabeça em minha direção, sério. — Mas, se bem... Que se danem os outros! A sua opinião é a que realmente importa, não a deles! — E então, sorri para mim divertido.

 

Fiquei surpresa, nunca tinha visto alguém que realmente não ligasse para o que os outros dissessem.

Ou melhor, eu já conheci sim.

Mas, eu aposto que, nem no presente, muito menos no futuro nos reencontraremos.

 

Continua no próximo capítulo...


Notas Finais


GENT

O que acharam? :v
...
No próximo capítulo vou explicar a todos o que eu espero da fanfic (nesse não, porque ainda está MUITO cedo para falar sobre isso) então...

SE PREPAREMMMMM
E PREPAREM OS FORNINHOS TAMBÉM E-E

Espero que tenham gostado <3
Bye-bye e beijos na bunda <3


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