(Camila Point Of View):
— Anda, Camila, acorda! – Gritava Dianne, minha irmã mais velha, do outro lado da porta.
— Que saco, Dianne, já estou indo! – Gritei de volta, me cobrindo até a cabeça.
— Te dou dez minutos para está lá em baixo, mocinha.
— Ok! Ok! – Falei, me virando de lado na cama.
Odeio acordar cedo, ainda mais quando é para ir aquela escola. Eu sei que em todos os contos ou filmes, sempre tem aquela pirâmide; populares, geeks e maconheiros... e certamente na vida real isso é totalmente verdade.
No meu caso, é ser uma geek incrivelmente estranha. Como assim?
Bom, eu me visto praticamente igual um garoto. Troquei meus laços por bonés, sapatilhas por coturnos, vestidos por calças jeans e moletons.
Enfim, eu resolvi me vestir assim, devido a minha condição e ainda por cima porque me sinto confortável deste jeito. Não sou daquelas geeks que usam óculos e suéteres. Muito pelo contrário, não tenho problemas na visão. E curto meu estilo ‘’jogado’’.
Tirei o lençol do meu corpinho sexy, o jogando para o lado, permitindo que minhas pernas ficassem em contato com o chão gélido do quarto. Sentei na cama, me espreguiçando, ouvindo meus músculos estalarem.
Levantei da cama e andei desajeitadamente até o banheiro. Fiz minha higiene matinal rapidamente. Me arrumei com a primeira coisa que vi no guarda-roupa. Uma calça jeans skinny preta, moletom do Ed Sheeran que tampavam minha bunda, all star surrado vermelhos e fui pegar um boné florido; verde e branco. Coloquei em minha cabeça, virando a aba par trás.
Peguei minha mochila e desci indo a cozinha. Vi minha irmã pondo o leite na tigela de Sofia, que olhava os movimentos da mãe.
— Bom dia, família. – Falei, indo beijar a bochecha de Dianne e Sofia.
— Bom dia, dorminhoca. – Dianne disse, apontando ao meu lugar na mesa. — Ver se dorme um pouco mais cedo hoje, Camila.
— Certo, comandante. – Bati continência, indo me sentar. — Como você tá, Sofia?
— Com sono. – Resmungou, dando uma colherada em seu cereal. — E você, tia?
— Também, mas fingimos que não estamos. – Ela assentiu, levantando.
— Mãe, posso ligar a TV daqui? – Perguntou já com o controle em mãos.
— Pode sim, amor. – Disse, lavando a louça.
Deixa eu explicar a vocês. Eu moro com minha irmã mais velha desde que eu tenho seis anos.
Então, nossa mãe ainda era entregue a vida de drogas e prostituição. Quando eu fiz três anos, mamãe se matou em um lago que tem aqui perto. Esse dia foi horrível para nós, eu já tinha perdido minha mãe a droga, mas agora ela havia ido para um caminho sem volta... o da morte.
Bem, já nosso pai nunca o conheci. Dianne diz que ele nos abandonou comigo recém nascida, para curtir suas aventuras com sua amante. Nunca ouvi falar muito dele, apenas que sou o rosto dele.
Minha irmã trabalha no ramo de imobiliária de dia e a noite vai pra faculdade. Já pensei em ajuda-la nas despesas, porém, ela não deixa. Mas com o dinheirinho dos computadores que conserto, a ajudo nas contas.
Sofia é sua filha, e tem apenas cinco anos. O pai de Sofia é o Theo Sundessy. Os dois não namoram mais, entretanto, Theo é um ótimo pai, sempre presente na vida de Sofia. Dianne não pretende namorar por enquanto, só está focada nos estudos, trabalho, e na família.
— Camila, hoje tu vai chegar tarde? – Dianne perguntou, enxaguando algumas louças.
— Não. – Mordi minha torrada com geleia de uva. — Hoje são poucas aulas.
— Ah sim! – Disse, se virando para mim. — Pode buscar, Sofia na escolinha?
— Posso sim. – Beberiquei meu chá herbáceo.
Sim, eu tomo cá herbáceo. Dianne diz que isso puxei do vovô Otávio, nosso avô materno.
— Obrigada! – Dianne disse e eu assenti, terminando de comer.
Olhei para o lado, vendo Sofia comer assistindo o programa do Barney, sentada na cadeira do balcão. Ôh programa chato da porra!
Ouvimos buzinas na rua e deduzi ser Emma.
— Acho que sua carona chegou. – Dianne riu, enxugando suas mãos no pano.
— Também acho. – Ri, bebendo o último gole do chá.
— Esse chá é horrível, Camila. – Fez careta e eu a mostrei língua.
— É verdade, tia Kaki. – Sofia me olhou e voltou a atenção a TV.
— Sua traidorazinha. – Ela riu ainda olhando a TV.
— Anda, Mila, vá logo. – Assenti, me levantando. — Toma. – Estendeu uma nota de vinte pratas a mim.
— Não, Di.
— Aceite, por favor!
— Não precisa, eu tenho dinheiro por lanche.
— Não, isso é pra você comprar alguma besteirinha. – Botou o dinheiro no bolso da frente da minha calça. — Sem devolução.
Sorri, a abraçando. — Sem devolução. – Repeti a frase, beijando sua bochecha.
A buzina aumentou. Abracei Sofia e corri até a sala. Peguei meu celular, junto do fone. Sai de casa, tranquei a porta e guardei a chave reserva no bolso da minha calça.
— Até que fim, srt. Demora. – Gritou, Emma dentro de seu carro.
— Cala a boca, Emma. – Falei, indo para seu Opala Gran preto.
— Nossa, Cabello. – Abriu a boca em falsa incredulidade.
Revirei os olhos, entrando no carro. Coloquei o cinto, e logo Emma deu ignição no veículo.
— Hoje eu tenho treino das Tiggers. Quer ir ver? – Me olhou rapidamente, voltando a atenção ao caminho.
— Não sei. – Tiggers é igual a Lauren, Lauren é igual a problema. — Melhor não. – Falei, fitando a paisagem da janela ao meu lado.
— Vamos, Mila. – Cutucou meu braço. — Assim eu te trago e não terei que ficar de procurando pela aquela escola enorme.
— Sei não. – Cocei minha nuca. Olhei Emma, fazer biquinho, olhando o caminho. — Na próxima eu vou. Juro! – Me dei por vencida, revirando os olhos.
— Não revira os olhos para mim, cretina.
— Cala a boca, piranha!
— Vem calar. – Eu ia dizer algo, mas resolvi me calar.
Dei um tapa em seu braço e ela riu. Liguei o som, pondo em uma música qualquer. Logo ficamos em um silêncio confortável no carro. Emma dirigindo e eu fitando a rua pela janela.
Minutos depois chegamos no colégio e eu senti meu estômago embrulhar pela cena que vi. Lauren aos beijos com seu namorado: Logan Henderson.
Ela estava no meio das pernas dele, enquanto ele encostado no carro, apertando a bunda dela descaradamente.
— Você ainda é apaixonadinha pela Jauregui? – Tirei minha atenção do ‘’casal’’, virando a cabeça a Emma.
— Infelizmente sim. – Respirei fundo, voltando o olhar aos dois, que se engoliam.
— Olha, Mila, isso pode soar grosseiro, mas... – Passou a mão em seu cabelo preso no alto da cabeça num perfeito rabo de cavalo. — Para de ser idiota pela Jauregui, essa garota não merece teu amor por ela. Ela é perversa, egocêntrica e interesseira. Eu sei que tiveram uma amizade linda, não a culpo de ter se apaixonado por ela, mas tente esquecê-la. Lembre-se do que ela te fez naquele refeitório, quando te expôs ao colégio inteiro. – Abaixei a cabeça. — Ela não é a Lauren de antes que vivia grudada em você e que defendia de todos. Hoje ela é a Lauren mesquinha, egocêntrica que passa por todos para se sobressair. – Assenti, vendo Emma pôr a mão em meu ombro. Eu a fitei sorrindo triste. — Você é especial Camila, não se menospreze por ter um pênis, ou se sinta inferior a alguém... sua beleza externa e interna são o essencial para que as pessoas te adorem.
— É, mas não me adoram... – Sussurrei, olhando Lauren entrar de mão dadas com seu namorado babaca.
— Porque não te conhecem como eu Emma Watson e Kylie Jenner conhecemos e te adoramos. Isso já o suficiente. – Falou, sorrindo meiga.
Emma me abraçou e eu retribui de bom grado. Era engraçado nossa amizade. Emma é uma Tiggers, porém, não como as outras, pelo menos eu nunca a vi maltratar alguém. Kylie é da equipe de natação e também nunca me maltratou ou qualquer pessoa. Como eu disse, nossa amizade é estranha, aos olhos dos populares.
— Tá bom chega de melação. – Debochei, levando um tapa no braço. — Ai, Em!
— Sai do meu carro, Cabello. – Ri, tirando o cinto.
Peguei minha mochila e joguei nas costas. Sai do carro esperando Emma no gramado.
— Pensei que ia me deixar sozinha. – Cerrou os olhos e eu ri.
— Dramática tu, hein! – Falei, a vendo ri.
— A propósito Jenner não vem hoje. – Eu fiz biquinho e ela passou o braço em meu ombro.
— Por quê?
— Porque ela tem exame hoje.
— Que bosta. – Resmunguei, subindo os degraus da entrada do Gulliver.
— Se é. – Tirou o braço de meu ombro.
Me encolhi, apertando a alça de minha mochila ao ver os populares próximo ao meu armário.
— Não precisa ficar com medo, Mila, estou contigo. – Mesmo assim eu temia.
Eles são uns demônios na minha vida, e o pior é que ninguém faz nada em relação a isso. Até porque eu nunca disse a ninguém, na minha concepção ficar calado e evitar fofoca era melhor.
— Ora, ora, se não é a sapatão máster do Gulliver. – Logan debochou, sendo acompanhado de seus amigos babacas. — Qual é, Cabello? Vai me dizer que não gosta das rabas dessas minas daqui? – Riu, e eu apertei meus olhos, indo abrir meu armário tentando ignorar o idiota do Logan. — Responde, sapatão, estou falando com você.
— Deixa ela, Logan. – Emma se meteu no meio, ouvindo Logan ri.
Neguei com a cabeça abrindo meu armário retirando meu livro de biologia. Olhei pro lado vendo Lauren ri de algo no seu celular, enquanto Logan brigava com Emma. Toquei no ombro de Emma e a mesma empurrou Logan.
— Depois nós conversamos, sapatão, sua namoradinha é muito irritadinha, hein. – Ele gritou, apertando seu pau e seu grupinho riu.
Virei minha cabeça, bufando.
— Não liga, Mila, ele é um idiota mesmo. – Emma, andou comigo até a sala.
Passamos por Lauren. A mesma tirou a atenção do celular e olhou minha mão entrelaçada com a de Emma. Jauregui revirou os olhos e voltou a atenção ao celular.
Ela sempre fazia isso, ela não mexia comigo desde do dia do refeitório, que foi há 2 anos atrás. Mas não digo que seus amigos pararam porque os mesmos me infernizam mais do que nunca. Quando eu estou com Emma, ela me olha sempre com a mesma cara de poucos amigos, retirando sua feição de deboche, ainda mais quando eu aparecia de mãos dadas com ela.
— Eu terei todas as aulas com você hoje. – Sorrimos, subindo a escada do prédio. — Troquei com Oliver Hillar.
Eu e Emma quase não tínhamos aula juntas, por conta disso ela teve que trocar com Oliver um jogador de basquete que é louco por Emma.
— Graças a Deus, não estava curtindo ter que ter apenas quatro aulas contigo na semana. – Passamos pelo corredor repleto de alunos.
— Eu sei, eu sei, tu me ama mais que tudo. Fazer o quê? Também amo meus fãs.
— Menos fofa, bem menos. – Entramos em nossa sala vazia.
— Menos nada. – Sentou ao meu lado, em uma das cadeiras do meio da turma. — Ei, terá uma festa na casa do Willims... quer ir?
— Você sabe que eu não vou. Pra quê pergunta?
— Porque eu sou educada. – Eu ri, jogando meu estojo em sua direção.
— Tá gostosinha com esse uniforme das Tiggers.
— Meu amor, eu sou gostosinha dá licença. – Apertou seus próprios peitos e eu fiz cara de espanto.
O sinal bateu e Emma guardou o celular. Alguns alunos entraram e começou a algazarra de sempre.
— Qual a aula agora?
— É física, sua pirenta. – Ela me olhou com sobrancelha erguida.
— Pirenta é esse teu pau aí. – Eu neguei rindo. — Porra, a sra. Dominique é muito chata.
— Ah! Mas tu reclama muito, Emma.
— Me deixa, fodida.
A professora entrou e todos se sentaram. Sra. Dominique é uma professora de meia idade, que é muito inteligente por sinal.
— Bom dia, classe. – Todos respondemos. — Irei entrega-los suas provas. – Todo mundo bufou. — Silêncio, por favor! Todos quietos, sim? – A porta abriu e Lauren passou por ela com sua dupla diária: Ashley e Margot. — Com licença também se diz, meninas.
— Ah, perdão professora. – Lauren revirou os olhos e a professora a deixou entrar com suas seguidoras.
Ela passou por mim e eu senti seu cheiro adocicado de morango. Ela sentou ao meu lado e suas seguidoras atrás dela. É, Lauren tem todas as aulas comigo e isso é muito triste.
— Enfim, estou indo entregar. – A professora passou em cadeira em cadeira entregando a folha da prova com a nota. — Parabéns, Camila, você fechou a prova. – Colocou a prova em minha mesa e eu sorri vendo o A de caneta vermelha na folha.
— Claro que ela iria tirar A , é uma nerd. – Austin gritou do fundo, e eu revirei os olhos.
— Não é questão de ser nerd, sr. Mahone, é porque a senhorita Cabello estudou. – Passei a mão no meu rosto e vi Emma pegar minha prova.
— Aí, Camila, tu és fogo mesmo hein! – Ri baixinho. — Eu tirei B-.
— Já é um começo.
— Graças a você, né?! – Se inclinou na cadeira, me dando um beijo na bochecha.
Corei, fitando minhas mãos na mesa. Os populares no fundo riram e eu me afundei mais na cadeira. Sem querer olhei pro lado vendo Lauren fuzilar Emma.
...
— Tia Kaki, papai vem me buscar hoje? – Descemos do ônibus. Sofia segurava minha mão, enquanto empurrava sua maletinha da Polly.
— Não, princesa, só sábado.
— Ah sim! – Paramos em frente a minha casa, vi Lauren sair do carro de seu namorado. — Oi, Lo! – Sofia gritou para a mesma ouvi.
Lauren acenou pra ela com um sorriso meigo. Jauregui sempre tratou Sofia e Dianne super bem, diferentes de mim não dirigia uma palavra se quer.
— Vamos, Sofi. – Balancei seus bracinhos, e ela assentiu.
Entramos na casa e Sofia correu pro sofá. — Nada disso, Sofi, já pro banho... depois tens que fazer a lição de casa.
— Ok! Tia Kaki, depois podemos ir ao parquinho?
— Sim, mas só se fizer o que eu mandei.
— Tudo bem. – Saiu saltitante para a escada.
Depois de minutos, Sofia desceu. Fizemos seu dever de casa, e eu a levei no parquinho pra andar de patinete. A pequena dormiu e eu a cobri no sofá, com a sua manta da Barbie e a levei para meu quarto para dormir comigo.
Assisti um filme e acabei dormindo em minha cama com Sofia ao meu lado. Escutei batidas na porta do meu quarto. Logo olhei, meio grogue a minha irmã entrou no meu quarto.
— Perdão, mocinhas. Tem uma visita pra você aí em baixo. – Sussurrou para Sofia não acordar.
— Quem?
— Ah! Desça e veja.
Bufei me levantando. Ajeitei minha bermuda e o moletom da adidas. Fiz um coque em meu cabelo. Dianne saiu do meu quarto e eu andei até o corredor, seguindo para a escada. Quando cheguei na sala, me espantei ao ver aquela pessoa sentada em meu sofá, vendo a minha TV.
— O que você quer aqui, Jauregui? – Falei, me aproximando do sofá.
— Boa noite, Camila. – Debochou, levantando-se. — Estou bem. E você?
— Anda logo, Jauregui, o que você quer?
— Ok, cortemos a formalidade, já que você é um cavalo. – Botou as mãos no bolso de seu moletom cinza. — Preciso de sua ajuda.
— Minha ajuda? – Ela assentiu. — Por que acha que eu vou te ajudar, Jauregui?
— Lauren, porra. Me chama de Lauren. – Passou a mão no rosto. — Preciso de aulas de física. E se você não me ajudar... – Se aproximou, e eu dei dois passos para trás. — Eu contarei sobre o Karlão, aí. – Apontou para o meio das minhas pernas.
Fechei os olhos com força, pedindo aos Deuses paciência e sabedoria. Abri os olhos, vendo Lauren com as mãos na cintura batendo o pé freneticamente. Então a puxei pela mão trazendo-a até a varanda da minha casa.
— Escuta aqui, sua... sua... – A fuzilei, a vendo ficar espantada. — Irei te ajudar, não porque quero e isso você sabe. – A empurrei para fora da minha casa. — Venha aqui amanhã a tarde, Jauregui. – Entrei em minha casa a deixando ali na varanda. — Passar bem. – E assim fechei a porta. Encostei minha cabeça na porta suspirando. — O que essa vadia quer comigo?
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