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História A ave caída de Outono - O Diabo bate em nossa porta


Escrita por: LuciferrNovak

Notas do Autor


ANTES DE TUDO, me deixem esclarecer algumas coisas e explicações sobre a história.
Primeiro, ela ocorre logo após a fuga de Lucifer do inferno, depois que ele pensou matar Crowley e começou a andar na Terra na temporada 12.
Segundo, o filho dele não existe nessa história, por que se não eu iria ter que mudar muitas coisas e não daria pra por ele mesmo assim, sorry!
E terceiro, é a primeira vez que lido com esse tipo de personagem em histórias, então não briguem se eu não tiver feito tudo certo, eu tentei algo diferente.
Boa leitura!

Capítulo 1 - O Diabo bate em nossa porta


Fanfic / Fanfiction A ave caída de Outono - O Diabo bate em nossa porta

Os olhos de Sam se abrem de repente. Um grito áspero vindo do quarto próximo o faz saltar automaticamente da cama e correr até o som da criatura em desespero. Quando ele entra no cômodo sombrio, Lucifer está sentado sobre o colchão, gotas de suor escorrem de seu rosto enquanto algumas mechas de seu cabelo aloirado – agora negros pela falta de iluminação do quarto – se colam em sua testa, ele encara os lençóis com um visível temor em sua face.

– Outro pesadelo?...

A voz de Sam era silenciosa, suave e doce. Com a pergunta ele se aproximou lentamente quase como se fosse um felino manso, sentando na cama e a fazendo ranger pelo excesso de peso sobre o colchão. Para tentar confortar o ex-arcanjo, ele levou uma mão gentil em seu ombro, apertando-o de leve para conseguir alguma reação.

Fazia apenas três dias que Lucifer havia chegado e desde então Sam era atormentado com os terrores noturnos do ex-arcanjo, até conseguia se lembrar do modo que ele apareceu na porta do Bunker totalmente debilitado, e, principalmente, sem sua graça.

 

Três dias atrás...

 

– Achou alguma pista sobre Lucifer, ‘Sammy?

Dean estava impaciente. Hora ou outra abria uma garrafa de cerveja barata e jogava os vidros vazios em um canto próximo da mesa de centro. Já fazia dias que haviam descoberto que Lucifer havia novamente fugido de sua jaula por causa da tentativa falhada de Crowley de “domesticar” o Diabo. Os rapazes estavam a ponto de degolar o antigo demônio da encruzilhada, mas só não o fizeram por que tinham outras coisas para se preocupar no momento.

– Infelizmente não, ele está quieto... Quieto demais, para falar a verdade. – Sam movia seus dedos sobre as teclas de seu laptop, com o nervosismo aparente em seu olhar. Ás vezes levando uma garrafa de cerveja até os lábios apenas para bebericar o líquido amargo, logo voltando as suas pesquisas. Jurava que Rowena havia conseguido por Lucifer na jaula, mas parecia que por causa de Crowley, ele continuava andando sobre a terra. Era estressante, até para comer ficava difícil para o caçador.

– Eu juro que quando colocarmos esse filho da mãe na jaula eu vou matar o Crowley!

– Como preferir.

Era tudo que Sam podia responder para os ataques de fúria de seu irmão mais velho. Ele tinha que se manter concentrado. Ligado por um fio imaginário apenas para que pudesse encontrar qualquer coisa fora do comum que pudesse ser feito de Satã.

Novamente estavam à procura de Lucifer, novamente o pesadelo de ter que encarar a criatura de que você fora prometido como verdadeiro receptáculo. Ele definitivamente não estava pronto para isso, não novamente. Até por que o último encontro que teve com Lucifer terminou com Castiel sendo possuído pelo mesmo, ou seja, mais dor de cabeça.

O silêncio já cravava em todo o Bunker. Os ventos gelados e cortantes do começo de outono pareciam ter se calado, junto com o balançar de folhas do lado de fora. Tudo que se era ouvido era o mover de dedos e cliques rápidos sobre o teclado do laptop, enquanto Sam estava procurando informações sem sucesso algum.

Então foi ouvido um bater fraco na porta do Bunker, como se alguém apenas descansasse a mão sobre a madeira antiga que fazia estalos ao toque. Sam havia ouvido o ranger e a batida, olhando em seguida para seu irmão quase como se trocassem o mesmo pensamento, enquanto ambos sacavam suas armas e faziam o trajeto até a porta do Bunker. Preparados e alertas.

Eles seguiram caminho em passos leves, subindo as escadas enquanto Sam ia alguns passos adiantados de seu irmão, parando em frente à porta. Dean estava pronto para atirar a qualquer sinal de perigo, Sam por outro lado já pensava na possibilidade de ser algum caçador ou apenas uma pessoa comum, afinal..Monstros não costumam bater em portas.

Então Sam abriu lentamente a porta, olhando primeiramente para os lados e então virando seu olhar para o chão com uma expressão de surpresa. Em frente à entrada do Bunker estava Lucifer, desacordado e obviamente debilitado.  Havia cortes profundos em seu corpo e partes de sua roupa estavam rasgadas. O sangue manchava o asfalto claro do local.

Quase como um instinto, Sam correu até o corpo; primeiro checando os pulsos procurando por qualquer frequência cardíaca, depois viu os ferimentos de forma inquieta, haviam tantos em seu corpo que ele mal sabia por onde começar. Lucifer estava respirando fraco, e isso estranhamente aliviou o caçador, mas não tirou sua preocupação.

– O que raios Lucifer faz aqui?! – Dean se aproximava do irmão mais novo, ainda com o dedo no gatilho para qualquer surpresa indesejada.

– Eu não sei... Mas ele realmente não parece estar nada bem.

O caçador mais novo pegou o corpo inconsciente no colo, sentindo um arrepio percorrer por todo seu corpo ao perceber qual pálida e fria estava sua pele. Ele parecia um cadáver, e Sam podia sentir que faltava algo no anjo caído. Lucifer não era de se abater desse modo, muito menos dessa forma.

– ‘Pera, tu vai mesmo levar ele ‘pra dentro? Sam, a gente tem que jogar ele na jaula e não brincar de cuidar do Diabo! Ele tá desacordado, e isso é vantagem ‘pra nós! – Dean olhava incrédulo e desacreditado para Sam, ao mesmo tempo com traços de fúria.

– Dean, ele não ‘tá bem. Não está óbvio que tem alguma coisa errada com ele?!

– Sei, sei. Ele ‘tá dodói e você quer dar uma de enfermeira de Satã. Já saquei Sam.

– Olha, vai se ferrar.

Sam balbuciou as palavras, estava sem cabeça para aquilo, tudo que o caçador mais queria era ir para seu quarto e descansar para recompor os bons dois dias sem descanso algum. Ele passou por Dean em passos apressados, já não aguentava as provocações infantis de seu irmão mais velho.

Chegando em seu quarto, colocou Lúcifer sobre a cama e rapidamente pegou o kit médico que guardava na última gaveta de suas roupas. Não sabia se isso iria adiantar para um arcanjo, mas mesmo assim começou a tratar de seus ferimentos, e, após meia hora, todos os cortes de Lucifer estavam enfaixados e limpos. Uma coisa que chamava muito atenção do caçador era o fato que o arcanjo não parecia se regenerar de forma alguma, e por sorte ou azar, não parecia que iria se levantar tão cedo.

– O que raios aconteceu com você...

Sam murmurou para si mesmo parecendo refletir, observando o corpo quase sem vida da criatura que quase trouxe a destruição do mundo, e que agora ele estava cuidando como se todos os seus pecados tivessem sido dissolvidos e perdoados.

O caçador balançou a cabeça enquanto soltava um suspiro silencioso, girando os calcanhares e saindo do quarto, ele precisava de tudo menos isso naquele momento, era demais para sua mente já exausta.

– Então, o que pretende fazer com ele? – Dean estava no corredor, encostado na parede próximo da porta do quarto de Sam.

– Eu não sei... Mas sinto que é melhor cuidar dele por hora. Precisamos saber o que houve com ele.

– Sam, eu sei que no momento você deve estar vendo ele como uma criatura frágil e indefesa, mas ele não é. Tem que entender que aquilo que ‘tá no seu quarto é Lucifer, não um cachorrinho que você atropela e leva pra casa como bichinho de estimação.

Sam bufou e revirou os olhos em resposta.

– Dean, não me trate como se eu não soubesse o que estou fazendo!

– Mas você não sabe. Se soubesse teria se livrado daquela coisa que quase trouxe o maldito apocalipse!

– Depois de tantas caçadas, tantas coisas que já fiz por você... Ainda não confia em mim?!

Ambos já estavam de frente pro outro quase gritando, continuando a discussão até que a porta do quarto de Sam se abriu, o som do ranger foi o bastante para fazer ambos se calarem e olharem em direção à porta.

– Lucifer.

Foi tudo que Sam disse, encarando a figura a sua frente como se visse um fantasma – mesmo que já tivesse enfrentado tantos – havia pavor em sua voz, não só por isso, mas por pensar que Lucifer poderia simplesmente estalar os dedos e acabar com tudo de uma só vez.

– Oi Sam.

Lucifer permaneceu parado, observando Sam. Havia uma mistura de suavidade e exasperação clara em seus traços pálidos, seguido de um grunhido de dor que fez com que o arcanjo colocasse a mão sobre a própria cabeça onde havia uma faixa manchada de sangue. Sam hesitou em se aproximar, mas desistiu, apenas encarando as lamúrias do outro.

– Então... Desembucha. Vai dizer o que houve ou não?

Dean já estava pronto para pegar sua pistola a qualquer movimento suspeito – mesmo que não fosse adiantar de muita coisa, encarava Lucifer com um olhar ameaçador. Mas o que impressionou ambos os caçadores foram ver Lucifer suspirar abatido e abaixar a cabeça, encarando o chão com um olhar amedrontado em sua face.

– Eu..Eu não sei muito bem. – Admitiu, levantando o olhar para Sam e logo para Dean, sentindo-se impotente – Foi tudo tão estranho e confuso. Pensava que iriam apenas me jogar de volta na jaula, mas... – Lucifer parou, inalando bastante ar até encher seus pulmões completamente, prosseguindo em seguida – Eles queriam acabar com a ameaça de forma diferente, já que eles não confiavam mais na jaula para me conter. Eles não podiam me matar sendo arcanjo então eles... Tiraram de mim... – Por alguns momentos ele perdeu a força na voz, colocando a mão no peito como se pontadas de agulhas e lâminas tentassem atravessá-lo lentamente, quase como se cada palavra o trouxesse lembranças horríveis, e Sam podia perceber isso claramente. Já Dean, estava cansado do drama diabólico.

– Tiraram o que de você?... – Sam a esse momento já parecia mais preocupado que o normal, levantando uma mão na direção do arcanjo como se a qualquer momento ele fosse virar cinzas. Lucifer estava tão pálido, tão sem vida.

– Minha graça.

Respondeu direto soando o mais frio possível, tentando não se afetar com a verdade que esclarecia tanto para si mesmo quanto para os Winchesters. A esse momento Sam tentava processar tudo que havia sido dito. Lucifer estava sem sua graça. Agora era humano, precisava se alimentar, beber e se manter vivo. Isso era coisa demais para se engolir de uma só vez.

– ‘Pera, então você agora é humano? Que irônico. – Dean nem ao menos tentava segurar o riso, a situação estava mais cômica que trágica em sua cabeça. “Um problema a menos para se preocupar”, pensava. No momento Sam já estava sem graça pela reação de seu irmão.

– Lucifer, eu sinto muito..-

– Não Sam, você não sente. Nem você e muito menos seu irmão. – Lucifer soltou um suspiro de exasperação, direcionando o olhar descrente em Sam e Dean, quase como se fosse um animal selvagem com a pata quebrada, pronto para dar seu bote a qualquer sinal de perigo. – Não preciso de falsa pena e pra falar a verdade, não preciso de pena alguma.  Não de caçadores como vocês.

Era verdade, Lucifer quase nunca se importava com o que pensavam sobre si, nem quando estava acima ou abaixo deles. Sam ouviu aquelas palavras atentamente, querendo dar uma resposta aquilo mesmo sabendo que não tinha o que responder. Mas ele se mantinha firme, não podia se deixar afetar pela raiva do ex-arcanjo, sabia que ele apenas estava chateado e pela sua expressão, desesperado.

– Isso pode ser crise de meia-idade, devia tratar isso em.

Novamente as piadas do Whinchester mais velho. Dean dava um meio-sorriso debochado para o loiro a sua frente. Tudo que Lucifer fez foi respirar o mais fundo que conseguia para se acalmar. Sentia-se tão vulnerável dessa forma, agora não podia mais fazer as criaturas entrarem em combustão com um estalar de dedos, ou quebrar seus pescoços com facilidade, essas limitações chateavam o ex-arcanjo.

– Dean, você... Pode dar um tempo pra eu conversar com ele, por favor? – Sam pediu, virando o olhar para seu irmão, e Dean apenas suspirou inquieto.

 – Eu-Eu vou chamar o Cass.

Dean pensou um pouco nas próprias palavras, guardando a arma e saindo do corredor. Não gostava muito da ideia, mas Sam iria saber como se virar já que o Winchester era bom com palavras e todo esse lance de “sentimentos”, diferente de seu irmão mais velho.

– Então, vai tirar sarro da minha cara também, Sam? Ou só quer demonstrar mais sua falsa pena? Olha não se preocupe, eu vou embora daqui se quis-

– Eu quero que fique.

Sam o cortou, olhando de forma fixa e sincera para Lucifer quase em suplicação. O ex-arcanjo abriu e fechou a boca, erguendo as sobrancelhas. Estava confuso e sem palavras para poder responder o caçador.

– ...Por que eu ficaria?

– Você tem algum outro lugar para ir, Lucifer?

Essa o pegou de surpresa, realmente não tinha lugar algum para ir, muito menos sabia como começar. Ele era humano agora e não fazia ideia de como agir como tal.

– Não, Sam. Eu não tenho.

Seu tom era desprovido de emoção. O anjo caído encolheu os ombros em amargura, agora se desfazendo em pedaços com mais uma coisa que esclarecia para si. O céu não o aceitaria, o inferno, bem, é um dos últimos lugares que ele queria estar momento.

– Eu vou preparar seu quarto.

Sam já sabia que o ex-arcanjo jamais admitiria que precisava de ajuda, então ele decidiu já se adiantar, afinal não iria jogá-lo para fora do Bunker e tentar força-lo a aprender sobre humanidade igual Dean fez com Castiel. Uma estúpida decisão de Dean, mas que o anjo não pareceu se importar.

O caçador entrou em um cômodo não ocupado, em um quarto próximo do dele. Lentamente começou a ajeitar e trocar os lençóis para tentar tirar o cheiro antigo que pairava em todo o cômodo, afinal, havia muito tempo que ninguém entrava naquele lugar e dava uma boa faxina.

Ele mal percebeu que Lucifer o observava na porta, os olhos azuis e gélidos pairavam sobre Sam quase como uma estaca, o perfurando e dando calafrios no mesmo. Ele tentava ignorá-lo, ajeitando o travesseiro na cama e soltando suspiros de desconforto, o ex-arcanjo havia percebido e apenas desviou o olhar para uma parede, a encarando como se fosse a coisa mais interessante do mundo.

O local estava quieto, quase como se a qualquer momento o gelo fino que estava entre Sam e Lucifer fosse se quebrar. E para isso foi preciso apenas Sam se levantar e levar suas pupilas no encontro das do anjo caído. Os olhos cor hazel de Sam semelhantes a uma selva mesclada de pura cor pareceram se chocar nas pupilas de cristal gélido de Lucifer, enquanto os pálidos olhos do ex-arcanjo traziam o inverno nos de Sam, quase como se pudessem ver a alma do caçador.

Foram apenas 3 segundos que os dois olhares se encontraram, mas para Lucifer foi como reencontrar um velho amigo. A alma do receptáculo que lhe fora prometido. A alma do homem que ficou lado a lado de sua antiga graça, e que agora tinha vestígios dela, pareciam ter se juntado mais desde que ele e Sam deixaram de ser apenas um, mas não importava, ainda estava lá, uma parte de Lucifer ainda estava em Sam, e uma parte de Sam ainda estava em Lucifer.

A faísca da alma de Sam foi o bastante para fazê-lo perder o ar dos pulmões, talvez fosse os novos sentimentos humanos que tentavam o assombrar, ou talvez apenas falta de sua outra metade, aquele que lhe foi destinado. Há quanto tempo havia esquecido o seu verdadeiro propósito desde que voltou para a jaula, há quanto tempo havia se deixado levar pelo egoísmo, pelo vazio que não era preenchido por nada. Tudo de repente pareceu tão cinza, tão sem cor, o pouco tempo que foi humano foi o bastante para o por para baixo, fazendo aquela parte obscura que ele tentava esconder aparecer mais e mais. Sua desistência. E logo o pensamento de abaixar a lâmina e deixar ser decepado. E principalmente, o cansaço.

Sam notou o qual pálido Lucifer estava, encarando o chão de forma fixa e silenciosa.  Os devaneios do ex-arcanjo não só o atormentavam, mas sim ao caçador também, ele sabia que Lucifer não estava bem, ele estava longe de estar bem, e tudo que Sam conseguia ver não era o Diabo, e sim o vazio. Sam ficou frente a frente do ex-arcanjo, colocando ambas as mãos em seus ombros e o sacudindo um pouco, fazendo-o levantar o olhar para o caçador.

– Hey, Lucifer.. Você está bem? Parece que está meio avoado.

– Eu estou bem.

Lucifer disse automático, quase como uma máquina, movendo os ombros pelo toque e mostrando sinais de desconforto pela dor nos músculos que sentia. Sam notou isso e rapidamente o largou.

– Melhor você deitar, humanos precisam de bom descanso, principalmente quando estão machucados. – O caçador colocava as mãos no bolso da jaqueta, dando um sorriso compreensivo para o ex-arcanjo que retribuiu acenando a cabeça em concordância.

– Certo, ‘Sammy.

Ao ouvir o apelido de seu irmão, o caçador soltou um riso entre os lábios e passou pela porta, deixando Lucifer no quarto para tentar se sentir a vontade.

O ex-arcanjo suspirou cansado e olhou a volta, sentindo-se um tanto seguro por ter um lugar para ficar além de sua jaula. Mas mesmo assim os milhares de pensamentos não saíam de sua mente, e aquele buraco negro vazio o devorando por dentro, o fazendo querer cair, e ele tentava não ceder à tentação de desistir de tudo.

Lucifer fechou a porta suavemente, desligando a luz e indo em direção á cama. Quando se deitou, o primeiro pensamento que veio a sua mente quando sentiu o aroma familiar nos lençóis foi de Sam. Aquelas roupas de cama, travesseiros, tudo era dele, e isso o trouxe conforto, um alívio sem igual de sentir nem que seja distante a sensação de estar com Sam novamente, de senti-lo novamente. Ele provavelmente jamais contaria, mas quando Sam disse sim a ele, quando ele se abriu para Lucifer tudo que o anjo caído podia sentir no momento foi felicidade, foi vitória, conforto e paz. Tudo que ele tanto sentia falta, tudo que seu pai, Deus, tirou dele, o fez desapegar a força e cortou fora como um membro de seu corpo. Michael, Gabriel, Rafael, todos seus irmãos ficaram contra ele por causa de seu pai, a criatura que ele mais amou e respeitou também foi a causadora de sua perdição, de sua queda. Mas quando ele soube de Sam, quando descobriu a existência de um futuro receptáculo, Lucifer não o via apenas como uma casca, como algo que iria conter seu poder, mas sim alguém que sentiu as mesmas coisas que ele, que entendia seu sofrimento e sua angústia, que sabia o que era ser chamado de aberração, de monstro. Lucifer daria tudo a Sam, paz, felicidade, uma vida. Ele queria o melhor para seu receptáculo, ele queria o melhor para seu salvador.

Lucifer se acomodou entre os lençóis e cobertas, se deixando levar pelo cansaço e dor para finalmente pegar no sono, era o que ele mais precisava no momento.

Enquanto isso, Sam ia até a sala do Bunker, onde Dean e Castiel pareciam conversar sobre o assunto de Lucifer. Quando Dean notou a aproximação de seu irmão mais novo, rapidamente se levantou indo em direção a ele.

– Então?

– Então o que?

– Sam, ‘tô falando sobre como Lucifer está. Digo, se ele foi agressivo ou algo assim...

– Ele... Está vivo, e está se recuperando. – Era tudo que Sam podia responder ao irmão, já que a passividade de Lucifer era incerta.

– Então Lucifer realmente virou humano?

Castiel se aproximou, desacreditado de que fosse verdade.

– É o que parece... Se ele não matou nenhum de nós ainda.

– Vai mesmo cuidar daquela coisa, Sam?

Dean lançava novamente aquele olhar de “eu não confio em você” para Sam, o fazendo suspirar em resposta.

– Ele agora é humano, Dean. Nós salvamos pessoas, esqueceu que esse é o nosso dilema?

– Mas não a porra de uma pessoa que quase trouxe a droga do Apocalypse!

– Dá ‘pra vocês dois pararem?!

Agora foi Castiel que gritou, fazendo ambos se calarem de uma vez e virarem sua atenção para o anjo.

– Certo.

Dean murmurou e coçou o nariz, sentindo o clima áspero se tornando mais calmo.

– Como a pedido de Sam, nós vamos ficar e cuidar de Lucifer, ele é humano agora então não vai nos dar tanto trabalho. É melhor conosco do que solto por aí.

– Está bem.

Sam tentou não mostrar tanto alívio, mas realmente estava, ele tinha medo de que algo mais acontecesse com Lucifer, ele já havia sofrido demais desde sua queda do céu, isso já era o limite.

– Mas então ele vai ficar na sua responsabilidade, ‘viu Sammy? Eu não sou babá de arcanjo.

O caçador mais novo concordou com a cabeça, sabia que iria ser bastante difícil, mas talvez fosse valer a pena. Quem sabe com isso Lucifer aprenderia a ter mais amor à humanidade, ou compreender os humanos. Sam caminhou até seu quarto, deitando na cama para deixar de pensar tanto, talvez assim sua mente fosse descansar um pouco de tanta coisa que aconteceu de repente, ele merecia isso depois dos dias duros que teve. Em poucos minutos sentiu os olhos pesarem e logo, dormiu profundamente.

 

Três dias depois, tempos atuais...

 

– Eu não quero dormir, Sam.

Outro pesadelo. Lucifer estava sentado em sua cama, sua voz falha o fazia agir como se não tivesse mais forças para aquilo, evitando contato direto com Sam. O caçador podia sentir a emoção caída do ex-arcanjo, aquilo o deixava mal, o deixava de coração partido por perceber que aquele ser tão confiante, tão cheio de brilho estava agora apagado, quase desaparecendo por completo.

Então Sam pensou, foram alguns segundos de silêncio até que ele finalmente respondesse o anjo caído, hesitou um pouco de início, mas logo resolveu falar.

– Que tal ficar no meu quarto? Talvez se sinta melhor-

– Talvez.

Lucifer o cortou, o ex-arcanjo estava cansado demais para palpites, ele precisava de uma solução mesmo que ir para o quarto de Sam fosse tentador. As pálpebras pesadas teimavam em fechar, mas ele se negava, o medo de dormir novamente era maior que o próprio sono.

– Luci, pare de se torturar tanto.

– Eu não desejei isso, Sam. Eu... Eu não pedi nada disso.

– E você acha que eu pedi?

Sam virou o rosto de Lucifer usando uma das mãos, notando as olheiras escuras abaixo dos olhos do ex-arcanjo. Lucifer apenas suspirou de forma exausta, mordiscando o lábio inferior.

– Não Sam. Desculpe...

– Você não precisa se desculpar Luci. Por favor, vamos pro meu quarto ver se você consegue dormir melhor... Eu quero ajudar você.

– E o que eu já fiz por você, Sam?!

Lucifer gritou, tirando a mão de Sam de seu rosto e se afastando do caçador.

– Lucifer, você...

Sam tentou formular algo, mas ele só conseguia pensar nas coisas ruins, nos atos cruéis que o anjo caído havia feito e como ele sentia medo de Lucifer.

– Nada. E não fiz nada além de tentar fazer você dizer sim ‘pra mim. Nada além de tentar provar o qual certo eu estava, e como eu desprezava cada um de vocês. Eu não mereço esse.. Esse maldito carinho tão puro, tão verdadeiro que você me dá. Eu não fiz nada além de tentar trazer o Apocalypse, e falhar da pior forma possível... Agora Sam, vai dizer o que? Que eu mereço uma segunda chance? Se nem meu pai me deu, por que você daria pra mim?!

Lucifer dizia tudo com sua mandíbula firme e rígida, cuspindo as palavras pela dor que sentia e pela angústia que o rodeava, os sentimentos estavam o maltratando, estavam o quebrando ainda mais, e a verdade de sua ingenuidade apenas o socava por dentro, o fazendo cuspir sangue e se afogar nele. Ao ouvir todas as indagações do ex-arcanjo, Sam apenas suspirou, levando uma mão a própria perna e apertando pelo nervosismo.

– Por que nós somos iguais, Lucifer. Não creio que usarei esse motivo, mas... Como você disse, eu também me rebelei contra meu pai, contra meu irmão, e fui chamado de aberração. Eu sei como se sente, eu sei como é isso tudo... E você não merecia nada do que está passando. E de igual para igual, eu apenas quero o melhor para você.

Sam tinha um olhar sincero em seu rosto, tentando trazer mais confiança ao anjo caído que apenas ouvia cada palavra com atenção. Lucifer bufou, deixando o ar trêmulo e cortante como navalhas sair de sua traqueia que forçava a fechar um soluço silencioso. Desde sua queda ele não tinha muito, na verdade, ele não tinha nada. Ouvir aquilo o trouxe um sentimento que era difícil distinguir, mas nunca havia sentido antes, o fazia sentir protegido.

– Eu-Eu sinto falta de casa, Sam. E-Eu sinto falta do meu pai, sinto falta dos meus antigos irmãos, eu sinto falta de não ser odiado como um traidor... Eu sinto falta da minha vida. – Lucifer virou o rosto, evitando contato com o caçador.

A esse momento o rosto de Lucifer já estava avermelhado, os olhos do loiro já escorriam lágrimas silenciosas, enquanto ele soluçava as palavras com os lábios trêmulos e entre abertos. Um aperto cresceu no peito de Sam ao ver o homem que costumava ser o Diabo se desmoronar em lágrimas, olhando para baixo completamente vencido pela desistência de tentar acalma-lo.

Ele estava devastado, caído, abandonado pelos que mais amava, e isso não era de agora, era de sempre. Sem saber o que fazer, o caçador apenas puxou suavemente Lucifer e o abraçou, descansando sua cabeça em seu peito, murmurando palavras de conforto que no momento não o ajudavam bastante. Tudo que Lucifer fez foi retribuir o abraço, apertando forte o outro corpo contra si, trêmulo e derrotado por seus próprios sentimentos. Sam acariciou os cabelos macios do loiro, até ele finalmente parar de chorar sem coragem de erguer o olhar para o caçador.

– Se sente melhor, Luci?...

Ele sabia que o ex-arcanjo não se sentia melhor, mas mesmo assim insistia em pergunta-lo, queria ouvir dele o que sentia no momento.

– Um pouco, eu acho.. Mas vou ficar bem, pelo menos eu espero. – Notando o qual próximo estava do caçador, ele se afastou, limpando as próprias lágrimas com as costas da mão.

– Bom, eu acho...

Novamente o silêncio desconfortável, depois de tudo aquilo parecia que ainda faltavam palavras a serem ditas, peças a serem juntas e ações a serem feitas.

– Nós... Podemos ir dormir agora, Sam?

Com isso Sam acordou de seu devaneio, nem havia se lembrado do qual tarde estava, apenas concordando com a cabeça e lançando um sorriso para amenizar a situação de forma desleixada.

– Claro, vamos. Deve estar cansado depois de toda essa situação.

– Se você contar algo dessa noite para Dean, eu juro que corto seu cabelo enquanto dorme. – Lucifer o ameaçou, tentando ter seriedade em sua voz, mas falhando com uma risada baixa. Ele se levantou da cama e se espreguiçou pelo cansaço.

– Então é melhor eu ficar de boca fechada.

Enquanto Sam se levantava, era novamente fixado pelos olhos gélidos do ex-arcanjo, até ele passar pela porta e andar lentamente pelo corredor, com Lucifer andando logo atrás do caçador.

Quando chegaram ao quarto de Sam, Lucifer espreitou com os olhos as prateleiras, alguns livros abertos no chão e então a cama, soltando um suspiro silencioso que logo formava um sorriso.

– Parece que somos parceiros de quarto novamente, em ‘Sammy? – O loiro brincou, soltando uma risada nasal enquanto observava o caçador se aproximar e deitar na cama.

– Ainda consegue fazer piadas?

O caçador riu junto ao ex-arcanjo, se sentando para encara-lo melhor.

– Você sabe que sim...

Lucifer finalmente se aproximou como um animal selvagem procurando por confiança naquele espaço. Ao subir na cama, ouviu o estalo baixo por conta do peso a mais no colchão, logo se deitando em um dos travesseiros e virando o rosto para a parede, o lado oposto de Sam.

– Boa noite, Luci, durma com os anjinhos.

– Vai se ferrar, Samuel Winchester.

Sam não pode conter a risada, se deitando do lado oposto de Lucifer e virando para a outra direção. Ambos se cobriram com as cobertas e minutos depois estavam adormecidos, a noite de outono estava fria e silenciosa, enquanto pela primeira vez em dias, o anjo caído dormia em paz.


Notas Finais


Bem gente, já vou avisando que não postarei com tanta frequência, pode demorar semanas por que só esse capítulo me custou 5 dias, e isso quando eu tava de férias, agora eu vou voltar com a escola, trabalhos, vida né :'D
Espero que tenham gostado, e até o próximo capitulo!


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