História A Babá 2 - Tentação

Point Of View: Justin Bieber

Ouvi o barulho da porta sendo aberta, e logo o barulho dela sendo fechada. Não ergui o olhar e continuei a ler os contratos, que eram muitos. Depois de tais ruídos, não escutei mais nada, então, decidi dar um pouco de atenção e suspirei vendo Charles sentado à minha frente. Joguei a papelada de volta na mesa e recostei-me na cadeira de couro, relaxando um pouco antes de tornar a trabalhar.

— Justin, você tem que voltar para casa. — repetiu o que sempre me dizia quando vinha.

Levei meu olhar para o lado, registrando a visão da janela de vidro, que ia do teto ao chão. Do lado de fora, dava para ver que chovia, e muito. Mas meu único pensamento era: ter que voltar pra casa. Eu não queria, tinha muitos contratos para ler, e além do mais, eu era o dono da empresa. Era eu quem tinha que ler primeiro, para só então chegar às mãos de outras pessoas. Eu me preocupava, de fato. Depois que o negócio ganhara tal reconhecimento, os lucros subiram; todos queriam fazer um contrato novo, dia após dia. No começo era bom, magnífico, até que se tornou cansativo. Era só assinar e assinar o dia todo. Minhas costas doíam, meu corpo clamava pela minha cama. Porém, eu tinha que terminar antes de vencerem, claro, eu tinha meses para assinar… Eram muitos contratos.

No entanto, Ryan e Christian pediram férias, eu lhes dei. Então, todo o trabalho deles veio parar em minha mesa. Tudo que era para eles aprovarem, era eu que analisava, por conta do recesso de ambos. E eu não poderia chamá-los de volta logo que eles saíram - na verdade, há três meses. Seria loucura tirar férias da própria empresa? Claro que eu nunca conseguiria isso. O trabalho me chama, então qualquer coisa, estou aqui… Por isso não queria ir para casa.

Eu vejo como Chaz chama a minha atenção; ele só quer o meu bem. E eu quero o bem do negócio. O grande fato era que, como Chaz mesmo disse: “A fama te cegou, você largou sua mulher e filhos só por reconhecimento”. Sim, eu mudei, muito. Mas não acho que a fama tenha me cegado, até porque eu ligo sim para meus filhos e Lorena.

Além do mais, agora eu tenho um filho vindo ao mundo. Nem ao menos sei se é menino ou menina, não sei de quantos meses ela está.... Nada. Eu não sei de nada, então sim, eu a larguei pelo trabalho. Juro que não queria, mas era para o bem de todos. Só queria dar um futuro melhor para ambos.

Voltei meu olhar para meu amigo, que me observava, atento. Soltei um suspiro de frustração.

— Eu sei, mas eu tenho muitos contratos para assinar. — falei, pegando os papéis.

Chaz riu alto. Olhei para frente, vendo-o me encarar.

— Meu amigo, você tem uma mulher grávida… De um filho seu! — alternei meu olhar entre ele e a janela. — Grávida. Tem noção disso? Ela é mãe de primeira viagem, não sabe nada sobre ter filhos. Já você… Você sabe como é ter. Pelo menos sabe de quantos meses ela está?

Neguei levemente a cabeça e passei a mão sobre meu rosto cansado.

— Agora pensa: ela está com um bebê a caminho, cuidando dos seus filhos, tendo que fazer tudo sozinha dentro de casa. E você ‘tá aí, lendo e relendo papéis. Você ‘tá perdendo o desenvolvimento do seu filho. — falou. — Ontem eu fui até a sua casa… — riu. — A Blair ‘tá diferente. — franzi o cenho. — Ela não sai mais do quarto. Bryan tenta esconder o quanto sente saudade do pai. E, cara, ‘tá na cara que a Lorena já está cansada de fazer tudo sozinha, ainda mais estando grávida. Torno a dizer: salva seu relacionamento enquanto pode. Porque quando ela não te quiser mais, você vai estar perdido…

— Ela me ama. Não seria capaz de me deixar, não agora, não no estado em que se encontra. — falei, mesmo tendo uma pontada de incerteza. — Ela não faria, certo…? — o olhei, apenas vendo-o dar de ombros.

— Mesmo você já fez isso, quando Bryan e Blair nasceram.... E olha que eles não tiveram mãe. E agora você ‘tá tendo a oportunidade de ver tudo de perto. — não sabia o que dizer. — Olha, por mim eu já teria uma mulher e filha. Mas, não, como eu não tenho, posso ficar dias fora de casa. Já você, não, você tem tudo isso e muito mais, e quanto mais você ficar aqui, mas você vai perdê-los.

Eu não queria que isso acontecesse.

— Sou seu amigo há anos. Eu vi você passar por tudo: mulher grávida, as brigas com a sua mãe, filhos, discussões, perdeu a mulher, um monte de bate-boca fora do limite, hospital de madrugada. Justin, você pode ter tudo isso, mas agora você tem a Lorena, mãe de um filho seu. — disse. Era verdade. — Agora pensa: você ainda quer perder tudo isso porque decidiu assinar contratos? Pensa bem. — após terminar, saiu da sala, batendo a porta.

Não. Eu não queria. Olhei para a papelada, corri os olhos pelas datas de vencimento: daqui a um ano. Eu tinha tempo. O que estava fazendo ali? Só precisava de um tempo com a minha mulher e filhos.

É melhor ficar e assinar tudo isso. — Disse meu subconsciente.

Olhei as horas; meia noite e vinte. Restavam apenas sete contratos… Dava tempo de finalizar tudo hoje. Reli um, e assino, e assim por diante. Reler e assinar. Reler e assinar.

Não quero perder minha família. Não quero perder a mulher que custei para ter. Mesmo que Lorena seja apenas minha namorada, eu já a trato como minha mulher. Minha esposa. Isso soa tão bem. E pensar que ela poderia não ter aceito ter esse relacionamento louco comigo. Não ter mais ninguém aqui — apenas Kate — como uma família, me fez ter a plena certeza que ela seria a mãe para os meus filhos. Isso pode soar meio ridículo, mas já pensei em traí-la. Sim, trair. Só cogitei, pois não consegui; não poderia. Eu a amava.

Na noite em que pensava na possibilidade, Chaz estava comigo. Fomos a uma balada, a qual fervia como fogo. Eu já me encontrava bêbado, entornando tudo. E acabei por quase, quase traí-la. Na mesma hora que a garota foi tentar me beijar, virei meu rosto e Charles me levou embora, percebendo meu estado. De lá fomos direto para a casa dele, já que eu não podia chegar assim em casa. Senti-me um lixo quando soube o que estava a ponto de fazer. Sentiria ainda mais se realmente tivesse feito. Por mais que isso seja normal para casais com problemas no relacionamento… Só que eu não tinha um desentendimento tão ruim para traí-la.

Percebi que já tinha aprovado todos os contratos em minha mesa. Olhei para o relógio, e era exatamente três e quarenta. Coloquei-os na maleta e arrumei tudo no escritório. Após terminar de ajeitar tudo, retirei-me da sala. Andei até o elevador e apertei para a garagem. Só eu estava na empresa, além de alguns homens que sempre entravam a essa hora. Afrouxei a gravata, e a porta metálica se abriu. Passei o olhar em volta, podendo assim ter a visão de meu carro. Caminhei até ele e entrei.

Como a casa não era tão distante assim, estacionei no jardim mesmo. Saí do carro, pegando minha maleta. Entrei em casa, tendo ela com um silêncio enorme. Subi silenciosamente e cheguei em frente ao meu quarto. Respirei fundo, soltando o ar em seguida. Abri a porta e logo entrei, fechando-a. A luz da lua incidia no rosto de Lorena, que dormia tranquilamente. Deixei a maleta sobre uma cômoda e tirei meus sapatos, deixando-os ao lado da cama. Tirei minhas roupas e fui ao banheiro; tomei um banho rápido, porém relaxante o bastante. Sequei-me, vesti minha cueca, peguei as roupas que se encontravam no chão e as coloquei no cesto de roupas.

Desliguei a luz. Voltei para o quarto calmamente e deitei-me bem devagar ao lado dela. Selo sua testa demoradamente. Sentia saudade.

— Amor? — preparou-se para se levantar, mas não deixei e a abracei. Ela fez questão de pôr a perna e o braço sobre meu corpo, prendendo-me a ela.

— Continua a dormir. — dou um beijo em sua bochecha, logo acariciando a mesma. — Eu te amo tanto… — suspirei e recebi um resmungo de volta; ela caiu no sono novamente.

“A tentação de trair pode ser grande. Resista; ela pode ser sua maior burrada, e perda de tudo.”