Nix
Não esperava encontrá-la aqui, mas não vou demonstrar surpresa descaradamente, tenho que usar sua presença a meu favor.
- Onee-chan! – Exclamo, fazendo a voz mais fofa que consigo. Corro e a abraço, aproximo, discretamente, minha boca do seu ouvido. – Cuidado com suas palavras, eu machuco um deles antes que você consiga estragar tudo.
- Você não pode machucá-los, não aqui. – Ela sussurra de volta, retribuindo o abraço, para manter a encenação. – O que você veio fazer aqui?
- Eu avisei que o Nagisa ia pagar, mas eu não podia deixar a Konishi matá-lo. – Conto, mostrando que minhas ameaças não são da boca para fora, ela irá pensar duas vezes antes de invadir a minha casa para fazer outro showzinho. – Caso não tenha notado, eu tenho uma espada nas minhas costas. E, caso não reconheça, essa é aquela minha espada especial que me permite ferir, ou matar, os deuses.
- Já “salvou” o Nagisa. Você já pode ir embora. – Ela afirma, como se pudesse mandar em mim. Abafo o riso e acabo com o abraço, vou tirá-la do sério com o que vou falar.
- Eu vim aqui para pegar o presente de aniversário da nossa irmãzinha. – Minto, vendo-a ficar completamente confusa, isso é divertido. – O ruivo disse que me daria aquele brinco.
Aponto para a Nagisa, mais especificamente para o brinco. A Afrodite agarra o meu braço, se eu pudesse, já teria arrancado a cabeça dela há muito tempo.
- Eu e minha irmã vamos ter uma conversa aqui fora. – Ela diz, me levando para fora do quarto. Como não estamos mais na frente deles, eu não tenho a obrigação de fingir.
- Eu vou ter aquele brinco. – Afirmo, ficando séria, continuo com a mesma expressão, mesmo quando ela começa a gargalhar.
- Você não vai ter o brinco. – Ela retruca, ergo uma sobrancelha. – O Nagisa não abrirá mão de jeito nenhum do brinco, ele sabe da importância que aquela pedra tem.
Ela mal termina de falar e eu saco a minha espada, botando-a pressionada contra o seu pescoço. Faço a Afrodite recuar, até que eu possa prensá-la contra a parede.
- Você contou a verdade para ele?! Ficou maluca?! – Exclamo, fazendo surgir um filete de sangue no seu pescoço.
- Ele não sabe nada sobre você. – Ela é rápida em contar, alivio a pressão da espada em seu pescoço, para que a mesma possa falar. – Mas ele sabe que sou uma deusa, e sabe sobre a Nagasaki, assim como ela sabe dele.
- Eu tive o maior cuidado para um nunca descobrir sobre a existência do outro e você, de repente, decide contar tudo para eles? – Eu quase grito, a Afrodite só pode estar brincando comigo. – Tem noção de como isso vai mudar a vida dos dois?!
- Eles não sabem da verdade. – Ela conta, não entendo bem o que ela quer dizer. – O Nagisa sabe que a alma da Nagasaki quebrou, e aceitou ajudá-la. A Nagasaki pensa que ele lhe mandou um presente, só isso.
Abaixo a espada, por um segundo eu realmente acreditei que ela tinha sido louca o suficiente para contar a verdade.
- Apesar disso ser pouco, é muito mais do que eles deveriam saber. – Aviso, retomando o assunto principal. – Já que o Nagisa não vai dar o brinco, você que vai dá-lo para mim.
- Você sabe muito bem que eu não vou fazer isso. – A Afrodite rebate, se fazendo de forte, dou um de meus sorrisos para ela.
- Quanto tempo pensou que poderia esconder de mim a gravidez da Gina? – Indago, vejo sua mão tremer levemente, encontrei outro ponto fraco. – Essa criança não deveria existir, e você sabe bem disso. Você conhece o plano, essa criança não seguirá o padrão.
- A criança não é uma ameaça, ela não tem meu selo. – Ela conta, com a voz trêmula, é isso que dá se afeiçoar por mortais.
- Ela pode até não ser uma ameaça, mas, se eu não tiver aquele brinco, eu matarei a criança.
Nagisa
A Kin sai arrastando a garota, tento entender a cena. Se aquela garota é irmã da Kin, isso significa que a morena também é uma deusa.
- Você está bem? – Questiona o Karma, trazendo minha atenção para ele. Lembro de tudo que aconteceu, não acredito que ele tem coragem de falar comigo.
- Eu quase morri. – Afirmo, mas sei que ele sabe disso, o Karma assistiu tudo. – Eu matei uma pessoa inocente. Minha prima poderia ter morrido por uma bala perdida. – Recito tudo, a cada palavra sinto que fico mais frio. – Tudo que aconteceu hoje é culpa sua.
- Minha culpa?! – Ele exclama, parecendo perplexo, reviro os olhos.
- Sim, sua culpa. – Confirmo, levantando da cama. – Você mentiu, novamente, para mim. E, agora, uma mulher está morta.
- Eu não tive a intenção. – Ele se defende, suas palavras entram por um ouvido meu e saem pelo outro.
- Não teve a intenção de causar a morte de alguém? Ou não teve a intenção de mentir para mim? – Interrogo, com minha voz baixa, mas mantenho minha cabeça erguida.
- Os dois. – O Karma responde, não consigo acreditar que ele mentiu para mim novamente.
- Se não queria mentir, era só não mentir. – Disparo, agora é, simplesmente, impossível eu confiar nele novamente. – Mentir é uma escolha, não um ato de sobrevivência.
- Você está se fazendo de santa. – Ele fala, me surpreendendo. – Está falando como se nunca tivesse mentido para mim. Todo mundo mente, e você não é a exceção.
- Pode até ser, mas não se deve mentir para a pessoa que ama. – Rebato, só então percebo que o Karma se aproximou, ele agarra meu queixo antes que eu possa me afastar.
- Olha nos meus olhos e diga que nunca mentiu para mim, por menor que seja a mentira. – Ele manda, forçando meu rosto para cima, deixando nossos olhares juntos. Abro a boca para falar, queimando de ódio por dentro, mas eu não consigo. Eu minto para ele todo santo dia, a cada instante.
- Se minha vida fosse diferente, eu nunca teria mentido para você. – Afirmo, sentindo o ódio virar tristeza. Tento conter as lágrimas, mas elas escapam. Eu nunca quis mentir para ele, nunca quis enganar o Karma. Eu o amo mais do que a mim mesmo, e isso parece insano, porém é a verdade. Por ele, eu suporto, todo dia, ouvi-lo me chamar pelo feminino, e é como se uma faca cortasse uma parte do meu coração, mas eu sempre me forço a sorrir.
- O que eu fiz? – Sussurro baixo, dando-me conta de até onde eu levei essa mentira. Eu não posso continuar com isso, mas não posso contar a verdade, pessoas demais já não gostam de mim por eu ser menino, não vou conseguir suportar se o Karma entrar nessa lista.
- E-Eu não posso mais fazer isso. – Falo, encarando o Karma, que parece não estar entendo nada do que falo. Não sei como pude imaginar que isso daria certo. Eu sou um garoto, e nada pode mudar isso. – E-Eu sinto muito. Você ama uma pessoa que não existe.
Empurro ele e saio correndo, preciso sair daqui.
Karma
A Nagisa sai correndo, não perco tempo e vou atrás dela. Alguém agarra meu braço, tento me soltar, mas a pessoa é muito forte.
- Deixe-a ir. – Diz a Kurayami, que segura meu braço. – Ela precisa ficar sozinha.
Vou responder, mas o telefone tocando me interrompe. Com o braço livre, pego o celular e vejo quem está ligando, é um número que não está identificado.
- Alô? – Pergunto, querendo desligar logo, tenho coisa muito mais importante para fazer.
- Você atendeu.
Meu coração para, quase deixo o celular cair no chão quando escuto sua voz.
- Kayano? – Indago, sem acreditar que seja ela mesma.
- Karma, onde está a Nagisa? Você está com ela? – Questiona a Kay, é realmente estranho essa ser sua primeira pergunta.
- Eu estava... Mas ela saiu correndo e chorando...
- O QUE VOCÊ FEZ COM A MINHA AMIGA?! – Ela grita, preciso afastar o celular da orelha, senão eu vou ficar surdo.
- Eu não fiz nada! – Me defendo, esquecendo de um detalhe importante. – Onde você está? O que aconteceu?
- Eu não posso falar. – A Kay responde, porém não parece com medo ou algo do tipo. – Eu preciso saber da localização de vocês.
Dou o endereço de onde estamos, escuto-a repetir a mensagem em voz alta.
- Espere! – Exclama a Kayano, com a sua voz mais longínqua. – Eu tenho que falar com a Nagisa, preciso saber se ela está bem.
- Tudo bem, mas o celular continua no viva-voz.
- Kayano, quem está com você? – Interrogo, esperando por uma resposta sua.
- Passa para a Nagisa. – Ela ordena, me ignorando completamente.
- Onde você est...
- Eu lembrei da Akari. – a Kay conta, como se me desse um soco, nunca pensei que ela lembraria da Aka, já se passaram tantos anos... – Agora dê o celular para a Nagisa.
- Eu já disse que ela saiu correndo, não sei para onde foi. – Explico, não preciso estar cara a cara com ela para saber que minha irmã já está perdendo a paciência.
Kayano
Se nós estivéssemos cara a cara, eu esganaria o Karma, ele tem a obrigação de saber para onde o Nagisa correu.
- Karma, me dá esse celular. – Escuto alguém sussurrar, uma voz feminina que não conheço.
- Por que?
- Só me dá logo! – Manda a outra, tenho a impressão de que ela pegou o celular. – Eu me chamo Kin, sou uma amiga da Nagisa.
- Você sabe onde ela está? – Pergunto, se ela não souber será inútil.
- Acho que sei. – Ela responde, pelo visto essa Kin conheço mais o Nagisa do que o Karma. – Vou levar o celular para ela.
- Vou ficar esperando. – Afirmo, abaixando o celular, provavelmente vai demorar um pouco.
- Cuidado, a maré está subindo. – Avisa o loiro, fazendo-me virar para ele. Quando viro, a água gelada bate no meu pé, quase me fazendo soltar um grito.
- Podia ter me avisado antes! – Exclamo, correndo para longe do mar, para mais perto dele, que está numa zona da areia onde o mar não chega. Tento subir na pequena duna onde ele se encontra, mas eu não consigo, não estou acostumada a andar sobre a areia.
- Você é muito desajeitada. – Ele afirma, rindo. O loiro estende a sua mão, agarro-a, sendo puxada para cima por ele, assim consigo subir na duna.
- Eu não estou acostumada com areia! – Rebato, segurando o celular na altura da minha cintura, para ouvir caso alguém fale lá do outro lado.
- Você nunca foi em uma praia?!
- É um pouco difícil ir em praias quando seu corpo é cheio de cicatrizes. – Respondo, sentindo o enorme Y nas minhas costas voltar a arder, isso sempre acontece quando lembro de sua existência.
- Nessa você pode vir, nunca tem ninguém aqui. – Ele conta, o que é verdade, não encontro uma pessoa em toda a extensão dela, e olha que hoje está um dia ensolarado e quente.
- Isso é inacreditável! – Exclamo, lembrando de como viemos parar aqui. – Ainda não acredito que a base de operação de vocês seja debaixo d’água... Como vocês construíram isso?!
- Não fomos nós que construímos. – Ele explica, nem imagino quanta tecnologia não foi necessária para construir aquele lugar. – Aquele lugar era uma estação submersa de estudos marinhos abandonada, nós só fizemos umas reformas e nos alocamos lá.
- E o submarino?! Onde arranjaram?! – Interrogo, os serpentes se mostraram ser muito mais desenvolvidos do que eu imaginava.
- Roubamos da marinha. – Ele responde, me fazendo rir, só depois percebo que o loiro falou sério. Eles são malucos de roubar algo da marinha.
- Quem é o líder? – Indago, essa é uma pergunta que já me incomoda a bastante tempo.
- Ninguém sab...
- Isso é impossível, alguém deve saber. – Digo, na verdade, eu já tenho minhas suspeitas.
- Mesmo se eu soubesse... Por que eu contaria para você? O que te torna confiável?
- Eu sou confiável porque só existem dois jeitos deu sair daqui. – Explico, mostrando dois dedos. – O primeiro é eu me aliar a essa máfia, o que significa que eu não os trairia. O segundo jeito deu sair daqui é morta, aí eu não poderia contar para ninguém a verdade.
- Se eu aceitasse responder qualquer pergunta sua... Tem certeza que é essa pergunta que você quer fazer?
Estou prestes a dizer que sim, mas isso seria mentira. Tenho quase certeza de que ele é o líder, então eu não quero desperdiçar uma chance dessas.
- Por que você está interessado em proteger o Nagisa? – Questiono, eu não entendi nada quando ele disse que o Nagisa estava em perigo e que ele precisava saber onde o Nagisa estava. – Se você mentiu para mim só para conseguir a localização deles, eu juro que, antes de morrer, eu te mato.
- Adoro o seu jeito de resolver as coisas. – Ele afirma, com olhos fixos nas ondas que se quebram ao longe. – Para mim, família é a coisa mais importante do mundo. Bom, tirando o meu pai, dele eu não gosto nem um pouco.
- Família? O que isso tem a ver com a minha pergunta? – Indago, irritada por ele desviar, o loiro prometeu que responderia minha pergunta.
- Nunca me apresentei. – Ele conta, se virando para mim e estendendo sua mão. – Sou Sasaki Shiro.
- Você é o misterioso primo do Nagisa?! – Exclamo, recuo um pouco e acabo tropeçando, antes que eu caia, ele pega na minha mão, novamente me puxando para cima.
- Já que ligou meu sobrenome ao Nagisa, imagino que já tenha conhecido a minha irmã.
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