História A Bela e o Fera - Capítulo Dez - Mensagem

Poin't Of View - Hermione Granger

Eu continuava encarando as grades sem saber muito bem o que fazer. Tudo me parecia confuso, como se nada fizesse realmente sentido.

Não foi por mal, realmente não foi. Eu não estava espionando-o, eu não estava procurando alguma prova de que ele era culpado ou de que de alguma forma ele mentira sob efeito de Veritasserum. Eu realmente não estava, mas nada do que eu tentei disser a ele pareceu faze-lo acreditar.

Nunca antes eu olhei para Draco Malfoy e vi Lucius, Narcisa ou Bellatrix, nunca até a poucas horas atrás, quando ele me jogou aqui e pareceu de alguma forma se embebedar com meu sofrimento. Antes, quando éramos crianças, eu era capaz de olhar para ele e ver, por trás de toda a maldade adolescente, um garoto corrompido, que havia sido moldado para se achar superior e para acreditar que todos os outros eram aberrações. Mais tarde, quando a grande Guerra Bruxa começou e eu vi Malfoy de transformar em um Comensal da Morte, eu pude em meu íntimo lamentar pelo garotinho que simplesmente não teve escolhe, lamentar pelo homem que passaria o resto dos seus dias marcado por uma decisão que não fora dele, pelo menos não apenas dele. Há alguns dias, quando sob ordem do Ministro eu o tinha trancafiado no porão do Ministério da Magia, eu o acusava mas não podia deixar de imaginar como seria a vida dele se os pais não o tivessem obrigado a seguir aqueles passos, eu não podia deixar de imaginar como seria se Harry tivesse apertado a sua mão no primeiro dia em Hogwarts. Mas hoje, hoje o que eu vi foi o homem Malfoy seguindo os próprios passos, e ficando bem com isso. Hoje eu pensei que finalmente aquele garotinho tinha morrido dentro dele e lamentei por isso.

(...)

Me deitei em um colchão fino no chão, o cansaço tomando conta do meu corpo e o desespero da minha alma. Não consigo ficar trancada, não nessa casa e não nesse porão.

Me sinto de novo a garota de dezoito anos que entregou a vida pelos amigos, que apagou a memória dos próprios pais para salvar o mundo bruxo, a jovem corajosa que continuou mesmo quando achava que havia perdido tudo. A diferença é que a garota de anos atrás estaria a essa hora bem longe daqui, mas a mulher que sou hoje não pode fazer isso, não pode porque eu sei que se Draco não confia em mim, a única culpada sou eu. E admito, enfim, que eu quero salva-lo dele mesmo, salva-lo desse poço de amargura em que ele está se afogando, salva-lo do passado cujo o qual ele não consegue dar as costas. Quero salva-lo de pessoas como eu que vão olhar pra trás e julga-lo pelos erros do passado, mas que serão incapazes de olhar pro homem que precisa tanto de cuidado. Eu só quero salva-lo.

(...)

- Acorda. Vamos garota, acorda. - ouço alguém me chamar quando aos poucos eu vou voltando a realidade. Abro meus olhos para me deparar com Malfoy com sua costumeira capa preta e cabelos e barbas desgrenhado como me acostumei a ver nesses últimos dias. - Seu café da manhã, espero que goste de torrada porque é só isso que tenho hoje.

Dou de ombros quando aceito o prato que ele me oferece, esquadrinho seu rosto em busca de algum sinal de benevolência para comigo, mas não encontro, ao contrário, vejo um brilho diferente nascendo em seus olhos e temo por mim mesma ao mesmo tempo que imagino quantas vezes ele esquadrinhou meu rosto em busca da mesma benevolência que hoje procuro nele, e só o que encontrou foi acusações e mais acusações.

- Ótimo. - ele diz enfim me tirando dos meus próprios pensamentos e dando as costas para mim. Antes que ele vá, porém, eu o chamo:

- Malfoy...! - tento, percebo que Draco me ouve porque ele move levemente a cabeça em minha direção, mas isso não dura nem meio segundo uma vez que ele continua seu caminho. - Eu preciso das minhas coisas, quanto mais cedo eu encontrar os culpados, mais cedo eu vou prender os foragidos e mais cedo eu vou pra minha casa. - tento novamente, mas suspiro fundo quando ele não dá um sinal de ter me ouvido e simplesmente some pelo corredor.

Me sento na cama improvisada e trago o prato de torrada para perto de mim, levando uma torrada até minha boca e mastigando devagar. Quando minha barriga já está cheia e o prato em minhas mãos vazio, me levanto e deixando o prato no chão próximo a grade, vou até o pequeno banheiro improvisado que tem ali e tomo um longo banho.

Quando saio de debaixo do chuveiro, encontro todas as minhas coisas em cima da pequena cama improvisada, então me inclino, e pego um vestido leve para me concentrar no meu trabalho e quem sabe assim conseguir esquecer o lugar em que me encontro.

Depois de me vestir e de organizar minhas coisas da melhor forma possível, finalmente me sento e puxo os papéis para meu colo. Começo lendo o relatório sobre a fuga dos prisioneiros, nenhum tipo de magia negra foi encontrada nas grades, e nenhuma grade rejeitou os feitiços que lhe foram lançadas, e isso só pode dizer que a pessoa ou as pessoas que fizeram isso sabia exatamente quais feitiços lançar nas grades. Puxo a lista de nomes de todos os prisioneiros que estavam próximos a um ou dois comensais foragidos, e com uma pena escrevo "Interrogar" no canto superior da folha.

Já fazia algum tempo que estava distraída com os papéis anotando e riscando aqui e ali quando puxo a lista com os nomes de todos e quaisquer funcionários do Ministério que poderiam de alguma forma entrar em Azkaban, violar as barreiras e os segredos da prisão e ainda libertar cinco Comensais sem que ninguém percebesse. Estava riscando o nome de um Auror que havia estado no ST. Mungus cuidando de um trouxa que precisava ter sua memória apagada, quando vejo em uma letra cursiva escrito no rodapé da folha, as seguintes palavras:

"O Distanciamento é necessário para ver mais do que já está vendo."