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História A Bordo do Acaso - A Bordo do Acaso


Escrita por: Hoch

Notas do Autor


Eu tô tão triste que eu terminei essa história. Leiam com muito carinho.

Leiam escutando: serendipity - Park Jimin

Capítulo 8 - A Bordo do Acaso


Fanfic / Fanfiction A Bordo do Acaso - A Bordo do Acaso

O trem corria tão rápido. As lágrimas nem pingavam em sua roupa, mas raspavam por suas bochechas e iam com o vento. O uniforme grudado à pele pela água da chuva que caía sobre seus cabelos laranjas, os grudando à testa, nem lhe incomodava. Park Jimin estava sentado sobre o trem vermelho.

Se passara um mês desde que vira o mais novo pela última vez e nem um sinal de Jeongguk. Nem um sinal sequer. Talvez tivesse mudado de escola ou talvez soubesse se esquivar bem de seu olhar atento, que vagava pelos corredores da à sua procura. Mas porque faria isso? Porque se esquivaria de seus olhos? Quem sabe alguém tivesse o convencido de que o que estava fazendo era errado.

O trepidar das rodas sobre as várias pedras nos trilhos o deixava dormente. As mãos agarradas às grades geladas de metal, úmidas e escorregadias. Os olhos perdidos pelas paisagens de campos e mata infinitas. O som dos pássaros, que subiam aos céus e mergulhavam nas árvores, inquietos, sempre sendo abafado pelo som da buzina do trem. Talvez tivesse aprendido, sem perguntar, a ter uma imaginação tão bela quanto a de Jeongguk.

Talvez só quisesse subir em uma comitiva e passar eternidade a bordo do acaso, a bordo do que viesse. Com o garoto tímido, dono de um sorriso puro e sem qualquer rastro de maldade, segurando suas mãos geladas, de dedos longos.

Antes de continuar, me lembro da letra de uma antiga canção: “Banco de estação, lugar de despedida e emoção”. Todavia, para Jimin era diferente. O banco da estação era de longe um lugar triste, nada disso. Era um lugar que lhe trazia carinho e lhe lembrava afeição. Era um lugar de devoção. Devoção ao que lhe era de mais belo; seu doce pequeno, de cabelos amadeirados e lábios com sabor de morango. Ou sabor de chocolate. Era o segredo que escondia até de si mesmo. Um desejo bem guardado:

Ir à ferroviária e subir em um trem, levando Jeongguk consigo.

Mas eram apenas jovens meninos. Quando foi que ficou tão bobo por ele? Nem percebeu quando suas noites passaram a ser pensar no moreno, em sua pele clara, em seu sorriso infantil. Tampouco percebeu quando seus sonhos começaram a ter somente o mais novo e seus lábios finos. Pensar nele já tinha ido do puro ao mais impuro, de volta ao puro.

— Hyung? — a voz abafada pelo som das fortes gotas que caíam sobre o guarda-chuva que o pequeno segurava, pôde ser escutada pelo ruivo, que logo levantou o rosto.

— Uh? — arregalou os olhos, medindo o menino de cima a baixo.

Ele vestia um jeans escuro e um sobretudo vermelho. Tinha galochas pretas nos pés e luvas nas mãos. Estava frio, mas Jeongguk fazia parecer que estava mais do que só frio; um temporal. Tinha os cabelos negros caindo sobre os olhos, como se não os cortasse há muito tempo. Os lábios vermelhos como seu sobretudo se moldavam em certo espanto. Ali ficou. Se perdeu nos lábios. Parou por ali.

Era certo que tinha ido à estação à procura de Jimin, mas passara reto por sua casa, covarde demais para encará-lo. Não aguentaria olhá-lo sabendo que tinha o deixado ir sem ao menos tentar o impedir. Ele só desejava ter dito algo ou movido um músculo. Tinha se sentido tão fraco; tão impotente, que tinha certeza de que todas as chances que tinha com Park tinham ido embora com ele. Ido embora com a pequena forma cabisbaixa saindo de seu quarto.

Seu coraçãozinho doeu por um mês inteiro só de lembrar do mais velho, pesando em seu peito toda vez que o olhava na escola. O que achava de si? Talvez fosse, para ele, o menino medroso que não pôde nem admitir ao pai que tinha realmente lhe beijado naquela noite de outono. Por mais que soubesse que Park estava ciente de seu medo para com tudo existente nesse planeta Terra, talvez ele quisesse a certeza de, ao menos, seus sentimentos. Mas, de novo, talvez fosse medroso demais para dizê-lo.

— Está frio. — o garoto chegou mais perto de Jimin.

— Eu sei — o ruivo riu fraco, virando o rosto para que o menino não o visse com lágrimas nos olhos, descendo do trem, desajeitado . —, mas você parece estar bem quente. Por causa… das roupas, quero dizer…

O silêncio tomou conta local. Da ferrovia inteira. Tudo estava escuro pelas nuvens pesadas, parecia quase noite. Eram tons de cinza, preto e azul. Entre todas as cores tristes, ou sozinhas, ou vazias, ou carregadas pela falta de esperança, havia Jeongguk, o pontinho tão vermelho quanto o trem, no meio dos trilhos, sobre as pedras.

O mais novo sorriu embaraçado. Parecia que tinham apagado as chamas das madeixas laranjas de Jimin com um balde d’água e agora ele estava triste. Ele usava uma jaqueta de couro preta que devia estar pesada pois estava encharcada. O moreno sorriu porque se sentia apreensivo. Park parecia tão para baixo que lhe fazia se sentir pior e mais culpado.

— Você sumiu… — o mais velho enfiou as mãos nos bolsos das calças e riu baixinho como o outro, um tanto frustrado, olhando a mata em volta para não olhar para o pequeno.

— Desculpa. — Jeongguk estendeu a mão à frente, protegendo Jimin da chuva com o guarda-chuva que trazia consigo, mas o tirando de si próprio.

O sênior o olhou por um tempo e, sem nem mudar sua expressão de riso, deu um passo à frente, segurando o fino pulso do moleque, levantando-o no alto junto ao guarda-chuva, fazendo com que os dois estivessem protegidos do aguaceiro. Segurou a fina cintura do mais novo e, com um pequeno tropeço por parte deste, o puxou para pertinho.

Se sentiam em um filme de romance, mas filmes de romance não mostram a parte onde Jeongguk realmente quase caíra, e aquilo fez com que rissem que nem dois idiotas, perdidos em algum lugar abandonado e velho. Em algum lugar aí.

— Ele brigou muito com você? — Park disse baixo assim que sua risada cessou.

— Ele não fala mais comigo. — o moleque abaixou o rosto, chutando algumas pedras dos trilhos, para os lados, segurando as lágrimas que ardiam.

O ruivo então fez um leve carinho em sua cintura, mesmo que Jeon mal sentisse o toque sobre o sobretudo grosso. Fitou a expressão um tanto abalada do pequeno e suspirou em desânimo. E de novo a culpa tomava conta de seu peito e nem o orgulho de todas as coisas que fez o menino sentir, poderia o acalmar. Talvez nem devesse ter ido até ele, depois da aula, naquela “pacata manhã de quinta-feira”, como um dia te contei.

— Você… contou tudo? — Jimin inclinou o rosto para poder ver seu rostinho tristonho debaixo de sua franja longa. — Tipo, sobre a gente.

Quem poderia não sorrir com um doce Park Jimin lhe dizendo um “a gente”. O menino virou o rosto, soltando uma baixa risadinha nasalada e engolindo o choro de antes. Seu hyung queria lhe dizer que existia um “a gente”? Aquilo o deixava bagunçado. Defina “a gente”, Park.

—  Porque não me comprou flores? — Jeon levantou o rosto junto com seu sorriso.

Estava falando bastante, não acha? Até ousou ousar, se é que isso existe. A verdade era que gostar de Jimin já não lhe parecia “pular dum precipício sem paraquedas”. Talvez cair no mar sem bóias, mas ele sempre fora inseguro. O detalhe era que Park parecia seguro. Tão seguro quanto ficar em casa e ler um livro debaixo das cobertas, corpos quentes se encostando e uma bebida quente em mãos. Esse era o tanto que confiava sua voz à ele.

— Do que está falando, Jeongguk? — o sênior arqueou a sobrancelha e soltou sua cintura dando um passo para trás e voltando para debaixo da chuva que agora caía mais intensa e gelada.

— Uh? A-ah… — o mais novo olhou para baixo, envergonhado. O que estava pensando? Provavelmente tinha passado dos limites.

— Você está achando que eu iria consertar nossos problemas com coisas que murcham? — riu baixo e pôde ver o outro fazer um biquinho.

— Eu gosto de flores…

— E eu gosto de você.

O moreno arregalou os olhos, abrindo a boca para falar. Nada. As palavras pareciam evaporar, sumindo de sua língua antes que tivesse a chance de dizê-las. Jeongguk podia sentir o gosto de cada letra, mas não podia dizer se eram doces, ou amargas, ou azedas, ou salgadas. Maldito fosse o menino laranja e suas palavras melosas, totalmente fora de hora. Quiçá fosse a hora perfeita.

Jeon era tão apaixonado por ele. Mesmo que o mundo parecesse lhes contar que não era para continuarem ali. Mesmo com o barulho da água caindo dos céus, mesmo com o barulho do vento forte tentando tirar o guarda-chuva de suas mãos gélidas, mesmo que aquele outono trouxesse todo aquele frio e todo aquele medo consigo, aquilo não podia ser algo com que ele simplesmente pudesse acordar todas as manhãs sem. Aquele não era um amor para dar adeus. Aquilo ainda tinha chão, e eles queriam é que fossem quilômetros, milhares deles. Bilhares deles.

E o garoto de vermelho em meio ao cinza, sabia. Sabia que a pessoa certa chegaria e que ela nunca usaria sua fraqueza contra si. Alguém teria de estar ali por ele, por maior que fosse seu caos. Pois era isso que o fazia lindo: seu caos. Porque o silêncio, às vezes, é simplesmente a melhor resposta. E Jimin sabia disso. Não era hesitação, era um sussurro gentil como a voz de Jeongguk:

“Eu também gosto de você, hyung.”

O moreno deixou que seu guarda-chuva caísse nas pedras dos trilhos e se aproximou de Park, envolvendo seu pescoço com os braços magros e lhe dando um beijo molhado. Ousou ousar mais uma vez, mas sem sua voz, só sua boca. Aquilo era excitante. Ir e fazer sem ter medo. Não era algo com que estava acostumado, mas era seu hyung ali, a pessoa mais segura de todas.

A água que insistia em tentar atrapalhar o beijo não fez diferença alguma. As mãos trêmulas do mais velho apertavam a cintura de Jeon com cuidado, trazendo-o mais próximo e o abraçando. O sabor devo dizer que era o de cappuccino desta vez, difinição minha. Jimin com seu gosto amargo do café que sempre tomava e Jeongguk com seu gosto dos chocolates que sempre comia.

Porém o beijo teve de ser separado ao que a tempestade chegou mais forte e chuva aumentou mais ainda, soando um trovão alto que assustou o menino mudo. Os garotos correram pelos trilhos para dentro para dentro do vagão. Se sentaram em um dos bancos de madeira antiga, riram da situação, deixaram que as respirações agitadas tomassem conta e então se esquentaram com mais daqueles beijos que um dia te expliquei. Estavam presos ali até que a carga d’água do lado de fora, acabasse.

Os corações batiam rápido nos peitos e os arrepios corriam por suas peles. Não era um amor errado, como tentavam lhe dizer, mas um amor muito mais puro do que muitos dos amores “corretos” por aí. Não era algo passageiro como esses, mas algo duradouro e muito mais real, devo dizer. Naquele momento, dentro do trem vermelho onde tudo começou, a história dos dois jovens tinha sua continuação como esperei que tivesse: juntos, com beijos de sabores intrigantes e muitas, mas muitas, palavras.

Mas devo dizer, que em parte, eu menti. Não vejo nesta história nada de sorte ou acaso que seja. É como Hermann Hesse disse, no livro de Demian, à Sinclair : “O acaso não existe. Quando alguém encontra algo de que verdadeiramente necessita, não é o acaso que tal proporciona, mas a própria pessoa; seu próprio desejo e sua própria necessidade o conduzem a isso.”

Não foi o acaso, não foi a sorte e muito menos eu quem juntou os dois garotos. Nada disso foi coincidência. Eu só lhe contei como quis e dei um nome que te fizesse pensar que depende de um acaso inexistente, pois tudo naquela história foi por total e real consequência de duas pessoas que procuravam estar juntas.

Ouso ousar e chamar isto de amor.


Notas Finais


Espero que tenham gostado de passar esse tempo comigo, a bordo do fucking acaso.

Obrigada.


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