História A Caçada - 0.7-Mãe Maravilha

Pela primeira vez Jason desejou que seu poder fosse diminuir até ficar do tamanho de uma formiga ou até mesmo poder ficar invisível, ele havia conseguido ouvir a sua mãe por cima da música alta que escutava em seus fones, e a última coisa que queria era encará-la, até porque, pior do que uma mãe normal, apenas uma mãe semideusa treinada por amazonas.

Respirou fundo, sabendo que seria muito pior ignorar a mãe que estava falando diretamente com ele, se levantou do sofá que anteriormente ocupava e tentou olhar diretamente nos olhos da mãe.

“Nós. Podemos. Explicar. Tudo.” Falou pausadamente, era difícil resistir à tentação de abaixar a cabeça e aceitar tudo que ela tinha a dizer calado, mas precisava se manter firme se quisesse fazer com que aquela missão funcionasse, por isso se contentou em aperta sua beanie entre as mãos e rezar para os deuses que ele não acabasse se ajoelhando e pedindo misericórdia.

Pelo outro lado da tela ele pôde ver a Mulher Maravilha cruzando os braços e mantendo uma expressão duvidosa em seu rosto, ao menos ela havia parado para escutar o que ele tinha a dizer, porém assim que teve a atenção da mãe totalmente para si ele duvidou da capacidade de falar alguma coisa, sua mente gerava milhares de duvidas por nano segundo. Eles tinham alguma explicação razoável para uma fuga no meio da madrugada? Ele conseguiria falar isso de maneira convincente? Ele ia acabar gritando para todos os lados que Bruce Wayne estava sumido e sua maior suspeita era a Senhora Wayne?

“Se está nos ligando então provavelmente sabe com o Senhor Wayne foi descoberto e percebeu que um grupo de adolescentes, que por acaso eram aprendizes dele, também estavam desaparecidos.” Antes que Jason pudesse formular uma frase, Alexandre apareceu ao seu lado, com uma cara de sono e totalmente confortável em conversar com a própria Diana Prince, Jason invejou a confiança do garoto.

“Não é muito difícil ligar os fatos, Alexandre, sabemos da exposição de Bruce, mas por algum motivo ele não está atendendo nossas tentativas de contato.” A Mulher Maravilha manteve seu rosto impassível, mas isso não pareceu assustar Alex.

“Ele está desaparecido, Jason encontrou o comunicador da Liga na Mansão.” O simples fato de Alex o citar fez com que a atenção de sua mãe voltasse para Jason.

“Sim, para onde quer que o Batman tenha ido, ele não queria se comunicar com ninguém.” Jason se forçou a falar, sentindo o olhar de todos os outros no avião se alternar entre os três que mantinham a conversa. “Obviamente isso faz parte do Modus Operandi, o morcego é um herói que gosta de agir sozinho a maior parte do tempo.”

“Mas vocês acreditam que tem algo de errado dessa vez.” Diana concluiu o pensamento do filho.

“Acessei os dados da Batcaverna, faziam três dias desde a última vez que alguém o usou e então a identidade do Batman é exposta, não pode ser uma coincidência.” Sebastian se intrometeu no meio dos garotos se deixando visível para Diana, Jason percebeu que ele omitiu a parte de que havia recebido uma mensagem, mas preferiu não comentar. “Decidi convocar meus amigos para uma investigação, não queríamos que a Liga se envolvesse.”

“Com a identidade de um dos membros vitais da Liga exposta isso poderia gerar um problema para a Liga da Justiça como um todo, como somos anônimos poderíamos facilmente se misturar e encontrar o Batman sem causar um escândalo de grandes proporções.” Jason ajudou Sebastian na difícil missão de convencer a sua mãe.

“Como espiões!” Gritou Viktor de algum lugar a direita de Jason.

“Vocês tem um argumento, garotos.” Jason respirou aliviado, parecia que eles haviam conseguido convencer a sua mãe. “Mas não é o suficiente para mim autorizar vocês a saírem em uma missão potencialmente suicida.” A frustação voltou a ser estampada na cara do garoto. “Francamente, temos membros da Liga o suficiente para cobrir todos os pontos necessários para um resgate eficaz e seguro.”

“Nunca duvidamos da capacidade da Liga da Justiça, mas por motivos egoístas eu queria que esse resgate fosse uma coisa minha, é a vida do meu pai que está em jogo.” Sebastian interviu mais uma vez, tentava se explicar de um jeito atrapalhado, gesticulando demais suas mãos que ora estavam desarrumando seus cabelos ora fazendo gestos desconhecidos pela humanidade.

“Este é só mais um motivo para a Liga não ser de acordo com isso, Sebastian.” Diana respondeu, sua pose autoritária havia sido substituída por uma que Jason conhecia bem: a de mãe compreensiva. “Porém entendo a frustação de vocês de terem tanto poder nas mãos e não poder ajudar, também sei que já tomaram a suas decisões e que não importa o que eu decida, vocês irão de qualquer jeito, por isso a única coisa que posso pedir é que mantenham contato frequente e que os deuses tenham piedade de todos vocês.”

O clima dentro do avião mudou bruscamente, todos pareciam mais alegres e relaxados, tentando conter a animação que crescia dentro deles, finalmente haviam conseguido uma missão que não envolvia ficar seguindo os policiais de Gotham City que teimavam em não fazer o seu serviço direito. Jason fez menção em apertar o botão que desconectaria a sua mãe, mas foi repreendido.

“Não tão rápido, Jay.” Sua mãe o interrompeu, tinha um sorriso no rosto, contagiada pela animação dos amigos. “Imagino que para estarem tão confiantes com sua tarefa devem ao menos saber por onde começar sua busca.”

“Claro, Senhora Prince.” Foi a vez de Alex entrar em ação de novo, segurando Sebastian pelos ombros, o brasileiro sorria confiante. “Nosso amigo, Bash aprendeu com os melhores detetives, ele já tem um destino para nós.” Ele sacudiu de leve os braços do Wayne, a mentira saindo tão facilmente. Jason admirou a coragem do menino em mentir para a Mulher Maravilha.

“Imaginei este cenário.” Diana sorriu. “Espero que tenham sucesso na tarefa que lhe foi designada e Angel, encontro com você em casa daqui a duas horas, tenho outros planos para você.”

A tela do computador se apagou pela segunda vez naquele dia fazendo com que todos os presentes se entreolhassem.

“Então, conseguimos um terço da aprovação da trindade.” Lucca comemorou trocando um hi-five rápido com Viktor que estava ao seu lado. “Muito mais do que estávamos esperando.”

Viktor convocou todos os amigos para a cozinha do avião, que ficava literalmente a dois passos de onde estavam, clamando que iria ensinar a eles como fazer a melhor comida de avião que eles algum dia iriam provar, Jason fez menção de segui-los, ainda anestesiado com toda a conversa que haviam tido com sua mãe, porém notou que sua irmã tinha ficado para trás e decidiu checa-la primeiro.

“Parece que você vai receber um sermão próprio da Mãe Maravilha.” Jason riu de sua própria piada, colocando as mãos no bolso de seu jeans.

“Acho que poderá ser muito pior que isso, mas você nunca saberá.” Angelina piscou para ele. “Bem, você sabe que não gosto de despedidas, vamos fazer isso rápido.”

No momento seguinte, os irmãos estavam se abraçando, Jason não fazia ideia a quanto tempo estavam assim, a única coisa que conseguia prestar atenção era nas milhares de recomendações que Angel sussurrava em seu ouvido.

“Às vezes me pergunto quem é o irmão mais velho.” Ele resmungou mais uma vez, fazendo sua irmã ri.

“Você pergunta isso com muita frequência, Jay.” Os Prince-Trevor trocaram outro abraço, dessa vez mais rápido e Angel finalmente desceu do avião sendo substituída pela figura de Xavier, o motorista.

“Consegui as autorizações que os senhores me pediram, Senhor Queen.” O homem ergueu alguns papéis. “Os funcionários não pareceram muito felizes em alguém acordando eles as cinco para pedir autorizações, mas usei minhas habilidades sociais e é claro, seu dinheiro.”

“Isso nos lembra que não temos um lugar para irmos.” Melina informou, seus olhos verdes e acusadores virados para Sebastian. “E que o Zander acabou de mentir para a Mulher Maravilha.”

“Não seria a primeira vez que eu mentir para algum membro da Liga.” Alexandre deu de ombros, demonstrando que não se importava caso sua cabeça se tornasse um adereço da ilha de Themyscera.

“E tecnicamente ele não mentiu.” Sebastian retrucou exibindo sua melhor pose de metido a esperto. “De fato eu consegui descobrir quais objetos meu pai estava usando na noite de seu desaparecimento e a localização aproximada dos mesmos, a má noticia? Estão em algum lugar que pode ser a França, o Reino Unido ou até mesmo outros países vizinhos.”

“Parece que alguém quer brincar de caça ao tesouro.” Comentou Hope, deixando todos com uma cara fechada.

“Se me permite opinar, senhores, acho que podemos começar nossa caça ao tesouro em Londres, dentre os locais que o senhor Wayne apontou tem o menor tempo de viajem, poderíamos chegar na hora do almoço se sairmos logo.” Xavier opinou com toda a sua pompa britânica, Jason notou que seu sotaque ficou mais evidente ao falar do lar.

“Faça isso, Lewis.” Viktor incentivou, ainda de olho na comida que tentava fazer sobre a bancada da cozinha.

Xavier rumou até a cabine de piloto e alertou para que todos se sentassem nas poltronas da frente do avião, as mesmas que eles estavam sentados quando entraram. Jason se sentou na mais afastada, preferindo ficar sozinho. Sentar em dupla o levava ao tempo de excursões em sua antiga escola, onde era obrigado a sentar com pessoas totalmente desagradáveis que insistiam em jogar bolinhas de papel em seu cabelo.

Logo que apertou seu cinto, sentiu o avião começar a se mover e não demorou muito para que a cidade ainda adormecida de Gotham se tornasse um ponto minúsculo lá em baixo.

Um pouco mais tarde naquele dia, Jason usava o computador portátil de Sebastian, seus amigos estavam espalhados pelo avião muito ocupados para notar o garoto, não que isso incomodasse ele. Usava seu ócio para se entreter olhando o site dos alunos da Academia Gotham, o feed lotados da festa de ontem à noite que parecia ainda estar acontecendo. Parecia que uma vida tinha acontecido desde de ontem à noite, tanta informação em tão pouco tempo, se ele escrevesse tudo que havia se passado em menos de 12 horas, com certeza daria uma história longa. Por isso, evitava pensar nos detalhes da noite anterior e se ocupava olhando a vida fútil que seus colegas de classe levavam, alheios de que um herói havia sido sequestrado ou, talvez morto.

“A ignorância é uma benção.” Alex caçoou sentando ao seu lado. “Estamos aqui indo para uma provável missão suicida que pode matar todos nós e o nosso mentor, mas ainda assim tem gente que está enchendo a cara e festejando algo que nem eles sabem o que é.”

“A sabedoria pode não ser uma benção.” Jason retrucou. “Afinal, estamos aqui indo para uma provável missão suicida que se a gente voltar vivo podemos ser elevado ao patamar dos “deuses da Liga da Justiça”, não me parece ser bom carregar o peso do mundo nas costas.”

“Provavelmente não, mas ainda é melhor do que passar toda a sua vida esperando algo mais, o nosso algo mais já foi nos destinado antes de nascer.” Alexandre respondeu encarando o vazio da tela plana a sua frente.

Jason não falou mais, preferiu absorver as palavras e seus significados em silêncio enquanto ainda rolava o feed do site, Alex muito menos tentou retomar uma conversar, permanência tão imóvel que Jason achou que talvez estivesse dormindo.

“Parece que alguém recebeu um novo e-mail.” Alex comentou depois de muito tempo em silencio. “@ReinoRealdeBrecqhou, se ele é um reino isso faz dele real não?”

“Confuso, nunca ouvi falar sobre o Reino de Brecqhou, eu sei que é para o e-mail do Sebastian, mas será que deveríamos abrir?”

“Pode ser spam, mas você só poderá saber se o gato está vivo ou morto sem abrir a caixa.” Jason se perguntou se a referência ao gato de Schroedinger feita por Alex cabia naquela situação, mas preferiu ignorar.

Decidiu clicar na notificação que piscava no canto da tela. A página do e-mail de Sebastian surgiu na tela e logo a mensagem se abriu.

Era o e-mail mais estranho que Jason já havia visto na vida, começava com uma animação de um envelope de carta lacrado com cera, daqueles que se ver em filmes medievais, o lacre foi rompido acompanhado de uma música tocada muito mal em um violino e por fim o conteúdo da carta foi revelado.

Sua Alteza Real de Brecqhou convida o Senhor Sebastian Thomas Wayne e seus agregados para comparecerem ao Baile Real de Primavera que ocorrerá no dia seguinte a data do recebimento deste e-mail. A sua presença é de vital importância para o príncipe.

Gregor Ignatov
Alteza Real de Brecqhou.

“Aquele é o brasão da Sonserina?” Jason indagou quando terminou de ler o e-mail. “Esta é a coisa mais louca que já vi.”

“Isso me parece algum tipo de armadilha, onde exatamente fica Brecqhou?” Alex contestou e logo Jason jogou o nome no Google.

“Fica próximo à França, pertence a uma das Ilhas do Canal e é uma ilha particular.” Jason informou. “Provavelmente Gregor é algum milionário excêntrico que gostaria de ter o próprio reino.”

“As Ilhas do Canal ficam justamente entre o Reino Unido e a França, dois lugares citados por Sebastian, não acho que seja uma coincidência.” Disse Alex. “Provavelmente esse tal de Gregor está envolvido.”

“Ou talvez ele queira que a gente pense assim.” Complementou Jason.

“É uma pista muito mais lógica do que as outras.” Retrucou Alex. “Estou disposto a dar esse tiro no escuro e você?”

“Alex.” Jason respirou fundo. “Direi a Xavier nossas mudanças de plano, enquanto isso, avise aos nossos amigos que iremos fazer uma visita ao Reino Real de Brecqhou.