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História A canção de Jercy - O sacrifício de sangue


Escrita por: MaxPosey

Notas do Autor


Olá semideuses!
Obrigado por vocês acompanharem essa fic e pelos comentários e favoritos.
Capítulo novo e que me deixou com mais raiva do rei Connor, sabem por que?
Vejam nesse capítulo e boa leitura...

Capítulo 18 - O sacrifício de sangue


Fanfic / Fanfiction A canção de Jercy - O sacrifício de sangue

Acordei naquela noite com a respiração ofegante. Estava banhado de suor e a tenda me pareceu insuportavelmente abafada. Ao meu lado, Jason dormia — a pele quase tão úmida quanto a minha.

Saí ansioso pela brisa do mar. Mas também lá fora a atmosfera era pesada e densa. Estranhamente, tudo estava em silêncio. Eu não ouvia sequer o farfalhar das tendas ou o estalido de uma armadura suspensa. Até o mar emudecera, como se as ondas não mais castigassem a praia. Para além da arrebentação, ele parecia liso como um espelho de bronze polido.

Não havia vento, logo percebi. E isso era estranho. O ar à minha volta não se movia, eu não escutava o menor sussurro de uma corrente. Lembro-me de que pensei: se continuar assim, nós não navegaremos amanhã.

Lavei o rosto e fiquei aliviado com o frescor da água, depois voltei para junto de Jason e para um sono inquieto, agitado.

Na manhã seguinte, a mesma coisa. Acordo numa poça de suor, com a pele enrugada e ressecada. Bebo sofregamente a água que Tyson nos traz. Jason desperta, passa a mão pela testa suada, franze o cenho, sai e volta.

— Não há vento.

Assinto com um aceno de cabeça.

— Não partiremos hoje.

Nossos homens são remadores esforçados, mas nem eles conseguirão manter a jornada de um dia. Precisamos de vento para chegar a Troia.

Mas o vento não vem. Não hoje, não esta noite nem no dia seguinte. Connor é obrigado a aparecer no mercado e anunciar mais um adiamento. Logo que o vento retornar, partiremos — promete ele.

Mas o vento não retorna. Sentimos calor o tempo todo e o ar se parece com labaredas que nos chamuscam os pulmões. Nunca pensáramos que a areia pudesse ser tão escaldante, que nossas cobertas fossem tão ásperas. Os temperamentos se aquecem e as brigas se repetem. Jason e eu passamos a maior parte do tempo no mar, em busca do minguado conforto que ele oferece.

Os dias vão passando e nossos semblantes refletem a preocupação. Duas semanas sem vento não é um fenômeno natural, mas Connor não toma providências. Por fim, Jason desabafa:

— Falarei com minha mãe. — Permaneço na tenda, suando e aguardando enquanto ele sai à procura de Tétis. Ao voltar, ele anuncia:

— É culpa dos deuses. — A mãe, porém, não dirá nem poderá dizer que deuses são esses.

Vamos ao encontro de Connor. A pele do rei está vermelha por causa das queimaduras de sol e ele se irrita com tudo — com o vento, a impaciência do exército, as explicações que lhe dão do contratempo. Jason diz:

— Você sabe que minha mãe é uma deusa.

Connor quase mostra os dentes para responder. Luke pousa uma mão conciliatória em seu ombro.

— Ela diz que a calmaria não é natural. É uma mensagem dos deuses.

Connor não gosta nada do que ouve; lança-nos um olhar furioso e nos dispensa.

Mais um mês se passa — um mês interminável de sono febril e dias abafados. O rosto dos homens transpira cólera, mas as brigas cessaram — está quente demais para isso. Limitam-se a ficar estirados na sombra e a se odiar mutuamente.

Outro mês. Penso que todos nós estamos na iminência de enlouquecer, de sufocar ao peso da atmosfera imóvel. Por quanto tempo isso durará? É uma sensação horrível: o céu inclemente que dardeja sobre nosso exército, o calor insuportável que absorvemos a cada respiração. Mesmo Jason e eu, sozinhos na tenda com as centenas de jogos que inventamos para afastar o tédio, sentimo-nos inúteis e fartos. Quando isso terminará?

Finalmente, uma notícia. Connor falou com o sumo sacerdote Calcante. Nós o conhecemos — é pequeno, tem uma barba irregular e grisalha. Um homem feio, de rosto anguloso como o de uma doninha e com o hábito de passar a língua pelos lábios antes de falar. Mais feio que tudo, porém, são os olhos azuis, faiscantes. Ao vê-los, as pessoas estremecem. Tais coisas são de mau agouro: ele teve sorte de não o sacrificarem logo depois de nascer.

Segundo Calcante, a deusa Ártemis é que foi ofendida por nós, embora ele ignore o motivo. Sugere a prescrição usual: um sacrifício de grande porte. O gado é então reunido e mistura-se o vinho com mel. Durante a reunião seguinte, no acampamento, Connor anuncia que convidou sua filha para presidir o ritual.

Ela é sacerdotisa de Ártemis, a mulher mais jovem a ser ungida para esse ofício; talvez consiga serenar a cólera da deusa.

Entretanto corre outro boato: essa filha virá de Micenas não apenas para oficiar a cerimônia, mas também para desposar um dos reis. Casamentos são sempre propícios, agradáveis aos deuses; é possível que isso também ajude.

Connor convoca Jason e a mim para que compareçamos a sua tenda. Seu rosto está convulso, inchado, o rosto de alguém que não tem dormido. Seu nariz continua vermelho por causa das queimaduras. A seu lado, senta-se Luke, frio como sempre.

Connor pigarreia e inicia.

— Príncipe Jason, eu o chamei aqui para lhe apresentar uma proposta. Talvez tenha ouvido dizer que... — interrompe-se, pigarreia novamente. — Tenho uma filha, Calipso. Gostaria que fosse sua esposa.

Ficamos pasmos. Jason abre e fecha a boca.

Luke toma a palavra:

— Connor lhe oferece uma grande honra, príncipe de Fítia.

Jason gagueja, numa atitude rara de insegurança.

— Sim, e agradeço-lhe por isso. — Relanceia o olhar para Luke e adivinho o que está pensando: “E Reyna?”. Jason já é casado e Luke sabe disso muito bem.

O rei de Ítaca faz um leve sinal de cabeça, que Connor não percebe.

Devemos fingir que a princesa de Ciros não existe.

— Estou honrado por ter me escolhido — diz Jason, ainda hesitante. Seus olhos piscam inquisitivamente para mim.

Luke vê — Luke vê tudo.

— Infelizmente, vocês só terão uma noite juntos antes que Calipso regresse. Mas, é claro, muita coisa pode acontecer numa noite. — Sorri. Só ele o faz.

— Acho que será um bom casamento. — Agora, fala mais devagar. — Bom para nossas famílias, bom para os soldados. — Evita nossos olhares.

Jason espera minha resposta; dirá não se eu quiser. O ciúme me espicaça, mas de leve. Será apenas uma noite, penso. Dar-lhe-á posição e influência, reconciliando-o com Connor. Não significa muita coisa. Faço um ligeiro aceno, como o de Luke.

Jason estende a mão.

— Eu aceito, Connor. Ficarei orgulhoso por chamá-lo de sogro.

Connor aperta a mão do jovem. Observo seus olhos: estão frios e quase tristes. Vou me lembrar disso mais tarde.

Connor pigarreia pela terceira vez e diz:

— Calipso — diz ele — é uma boa moça.

— Não duvido — diz Jason. — Para mim, será uma honra tê-la como esposa.

Connor concorda, dispensa-nos e viramo-nos para sair. Calipso. Um nome cadenciado, o som dos cascos de uma cabra nas rochas, rápido, vivo, encantador.

Dias depois, ela chegou com uma guarda de micênios austeros — homens mais idosos, já incapacitados para a guerra. Quando seu carro se aproximou do acampamento pela estrada pedregosa, os homens acorreram para observar. Fazia tempo que a maioria deles não punha os olhos numa mulher. Admiraram a curva de seu pescoço, a delicadeza de seus tornozelos, a maneira com que alisava gentilmente as dobras do traje de noiva. Trazia nos olhos castanhos um brilho de excitação; vinha desposar o melhor dos gregos.

A cerimônia ocorreria em nossa praça improvisada, sobre uma plataforma de madeira quadrada na qual se erguera um altar. O carro, agora mais perto, desfilou diante dos homens apressadamente reunidos. Connor estava de pé na plataforma, flanqueado por Luke e Hedge; Calcante também comparecera.

Jason, como convém aos noivos, aguardava ao lado.

Calipso desceu delicadamente do carro e subiu à plataforma. Era muito jovem, ainda não tinha 14 anos; um misto de atitude hierática e vivacidade infantil. Lançou os braços à volta do pescoço do pai e acariciou-lhe os cabelos. Sussurrou-lhe alguma coisa ao ouvido e riu. Não pude ver o rosto dele, mas seus dedos pareciam crispados nos ombros esguios da filha.

Luke e Hedge se adiantaram — todo sorrisos e mesuras — dando-lhe as boas-vindas. Ela respondeu de maneira graciosa, mas impaciente. Continuava buscando o noivo que lhe haviam prometido. Encontrou-o facilmente e seu olhar caiu sobre os cabelos dourados de Jason. Sorriu contente com o que vira.

Com seu olhar, Jason avançou ao seu encontro até a beira da plataforma.

Poderia tê-la tocado então e notei que estendia a mão para os dedos afilados da jovem, lisos como conchas polidas pelo mar.

Então ela cambaleou de repente. Lembro-me de Jason franzindo a testa.

Lembro-me dele tentando segurá-la.

Porém Calipso não estava caindo, mas, sim, sendo empurrada em direção ao altar, nos fundos. Ninguém vira Hedge se mover, mas sua mão agarrava firmemente o pescoço delgado da jovem e forçava-a contra a superfície de pedra. A jovem, paralisada, não conseguia lutar, não conseguia sequer perceber o que estava acontecendo. Connor sacou alguma coisa do cinto, que brilhou ao sol quando a brandiu.

A lâmina deslizou pela garganta da vítima e o sangue espirrou sobre o altar, encharcando-lhe as vestes. Assombrada, ela tentou falar, mas não conseguiu. Seu corpo se contorcia violentamente, mas as mãos do rei a mantinham deitada. Por fim, os estertores foram diminuindo e os estremecimentos cessaram; e ela ficou imóvel.

Connor tinha as mãos tingidas de sangue. E foi ele que quebrou o silêncio:

— A deusa foi apaziguada.

Quem sabe o que poderia ter acontecido então? O ar estava pesado com o cheiro de ferro e sal da morte da jovem. Sacrifícios humanos eram uma abominação banida de nossas terras havia muito tempo. A própria filha! Estávamos horrorizados e indignados; a violência crescia em nós.

Então, antes que começássemos a nos mover, algo tocou nossos rostos. Paramos hesitantes, e ele veio de novo. Suave, fresco, com o aroma do mar. Um murmúrio correu as fileiras dos homens. Vento. O vento chegara. Mandíbulas se descontraíram, músculos se relaxaram. A deusa foi apaziguada.

Jason parecia acorrentado a seu lugar na plataforma. Peguei-o pelo braço e empurrei-o em meio à massa na direção de nossa tenda. Seus olhos tinham um brilho selvagem, seu rosto estava salpicado pelo sangue da jovem. Umedeci uma toalha e tentei limpá-lo, mas ele segurou minha mão.

— Eu poderia tê-lo detido — murmurou. A palidez de seu rosto era intensa; sua voz, rouca. — Estava bem perto. Poderia tê-la salvado.

Sacudi a cabeça.

— Você não sabia o que estava acontecendo.

Jason escondeu o rosto nas mãos e não disse nada. Abracei-o e murmurei-lhe todas as frases consoladoras que pude encontrar.

Depois de lavar as mãos e trocar as roupas manchadas de sangue, Connor nos convocou novamente para que nos reuníssemos no mercado. Ártemis, disse ele, ficara contrariada com o derramamento de sangue que aquele exército iria perpetrar. Exigira pagamento adiantado por isso — e do mesmo tipo. Vacas não bastavam. Uma sacerdotisa virgem era necessária, sangue humano por sangue humano; a filha mais velha do chefe seria a melhor oferenda.

Calipso sabia de tudo, assegurou ele, e concordara com o sacrifício. A maioria dos homens não estivera suficientemente perto para notar o pânico em seus olhos.

Preferiram acreditar na mentira de seu comandante.

Cremaram-na naquela mesma noite com madeira de cipreste, a árvore de nossos deuses infernais. Connor ofereceu cem pipas de vinho para a celebração; navegaríamos para Troia logo à primeira maré da manhã seguinte. Em nossa tenda, Jason mergulhou num sono exausto, a cabeça pousada em meu colo. Massageei lhe a fronte, observando os tremores de seu rosto adormecido. A um canto, jazia sua túnica nupcial ensanguentada. Olhando para ela, olhando para ele, meu peito se confrangia. Era a primeira morte que Jason presenciava. Retirei sua cabeça de meu colo e levantei-me.

Lá fora, os homens cantavam e gritavam — cada vez mais bêbados. Na praia, as chamas da pira subiam alto, alimentadas pela brisa. Fui deixando para trás fogueiras e soldados cambaleantes: eu sabia aonde estava indo.

Havia guardas na entrada da tenda, mas curvados, meio adormecidos.

— Quem é você? — perguntou um deles, levantando-se. Passei por ele e entrei.

Luke se virou. Estava sentado a uma pequena mesa, com o dedo sobre um mapa. Ao lado, uma refeição pela metade.

— Bem-vindo, Percy. Está tudo bem, eu o conheço — acrescentou para o guarda que gaguejava desculpas atrás de mim. Esperou até que o homem saísse. — Achei mesmo que viria.

— Você diria isso, não importa o que pensasse — repliquei desdenhosamente.

Ele esboçou um meio sorriso.

— Sente-se, por favor. Já estou terminando a minha refeição.

— Você deixou que a matassem — disparei.

Ele aproximou uma cadeira da mesa.

— O que o leva a supor que eu poderia impedi-los?

— Você impediria, se fosse sua filha. — Tive a sensação de que meus olhos lançavam faíscas. Eu desejava queimá-lo.

— Não tenho filha. — Partiu um pedaço de pão, mergulhou-o no molho e comeu o.

— Sua esposa, então. E se tivesse sido ela?

Ele me fitou.

— O que você quer que eu diga? Que não faria aquilo?

— Sim.

— Eu não faria. Mas talvez seja por isso que Connor é o rei de Micenas e eu governe apenas Ítaca.

As respostas vinham fáceis para ele. Sua paciência me irritava.

— A morte dela recaiu sobre sua cabeça.

Sua boca se retorceu.

— Está me atribuindo poder demais, Percy. Sou apenas um conselheiro, não um general.

— Mentiu para nós.

— Sobre o casamento? Sim. Era a única maneira de a rainha permitir que sua filha jovem viesse. — A mãe, em Argos. Perguntas me vieram à cabeça, mas eu conhecia aquele truque de Luke. Não deixaria que ele me desviasse de minha cólera.

Apontei-lhe um dedo em riste.

— Você o desonrou.

Jason ainda não havia pensado naquilo. Estava abatido demais pela morte da jovem. Mas eu pensara. Eles o haviam desonrado com seu embuste.

Luke fez um gesto displicente com a mão.

— Os homens já se esqueceram da participação dele em tudo isso. Esqueceram se quando o sangue da jovem correu.

— Para você, é muito conveniente pensar assim.

Ele encheu um copo de vinho e bebeu.

— Você está furioso e com razão. Mas por que veio me procurar? Não segurei a faca nem a garota.

— Houve sangue — rugi. — Espirrou nele, em seu rosto. Em sua boca. Pode imaginar o mal que isso fez a Jason?

— Ele lamenta não ter podido impedi-lo.

— É claro — gritei. — Ele nem conseguiu dizer nada.

Luke deu de ombros.

— Ele tem bom coração. Qualidade admirável, sem dúvida. Se isso aliviar sua consciência, diga-lhe que coloquei Hedge naquele lugar de propósito. Para que, quando Jason percebesse, já fosse tarde demais.

Odiei-o a tal ponto que não consegui dizer nada.

Ele se inclinou para a frente na cadeira.

— Posso lhe dar um conselho? Se você é mesmo amigo dele, ajude-o a deixar para trás esse coração mole. Jason vai a Troia para matar homens, não para resgatá-los.

— Seus olhos escuros me observavam como uma corrente veloz. — Ele é uma arma, um matador. Não se esqueça disso. Você pode usar uma lança como um cajado, mas isso não mudará a natureza da lança.

Essas palavras me tiravam o fôlego, me faziam gaguejar.

— Ele não é...

— É, sim. O melhor que os deuses jamais fizeram. E já passa da hora de Jason saber quem é. Você também. Se não quiser guardar nada do que eu disse, guarde isso. Não estou sendo maldoso.

Eu não era páreo para ele e suas palavras, que se cravavam em mim como espinhos impossíveis de arrancar.

— Você está errado — eu disse.

Ele não respondeu; apenas me acompanhou com o olhar enquanto eu me virava e me afastava em silêncio.


Notas Finais


Olha eu já vi pessoas azaradas, mas o oscar de mais pé frio vai para Jason e Percy.
Os caras só tem merda na vida. Mas espero que as coisas mudem.
Até o próximo...


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