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História A canção de Jercy - O milagre de Jason


Escrita por: MaxPosey

Notas do Autor


Olá semideuses!
Nossos heróis finalmente chegaram a Tróia. Estão mais perto do destino dados pelos deuses.
Mas essa não é uma guerra apenas de homens, os deuses logo tomarão partidos e tudo ficará mais difícil.
Boa leitura...

Capítulo 19 - O milagre de Jason


Fanfic / Fanfiction A canção de Jercy - O milagre de Jason

Partimos no dia seguinte bem cedo, com o resto da frota. Da popa de nosso navio, a praia de Áulis parecia estranhamente deserta. Só as latrinas e os restos cobertos de cinzas da pira de Calipso ficaram para assinalar nossa passagem. Eu acordara Jason logo ao amanhecer com as notícias de Luke — de que ele não teria podido ver Hedge a tempo. Ouviu-me com ar distante, os olhos vermelhos, apesar de ter dormido muito. Em seguida, disse apenas:

— Bem, de qualquer maneira, ela está morta.

Pôs-se a caminhar pelo convés atrás de mim. Tentei mostrar-lhe algumas coisas — os golfinhos que deslizavam ao nosso lado, as nuvens pesadas de chuva no horizonte —, mas ele continuava distante e parecia não me escutar. Mais tarde, encontrei-o sozinho, de cenho franzido, treinando esquivas e golpes de espada.

Todas as noites, tocávamos um porto diferente; nossos barcos não eram feitos para jornadas longas, para submersão prolongada. Os únicos homens que víamos eram os nossos próprios, de Fítia, e os argivos de Hedge. A frota se dispersava para que cada ilha não fosse obrigada a dar abrigo ao exército inteiro. Eu estava certo de que não era coincidência o fato de o rei de Argos nunca nos deixar. Será que eles pensam que vamos fugir? Fazia o possível para ignorá-lo e ele sem dúvida ficava contente em nos deixar em paz.

As ilhas pareciam todas iguais aos meus olhos — altos penhascos riscados de branco, praias pedregosas que arranhavam os cascos de nossos navios com suas unhas de calcário. Muitas eram inóspitas, o mato disputando espaço com oliveiras e ciprestes. Jason mal notava qualquer delas. Debruçava-se sobre a armadura e polia-a até que brilhasse como chama.

No sétimo dia, chegamos a Lemnos, diante da embocadura estreita do Helesponto. Era mais baixa que a maioria de nossas ilhas, cheia de pântanos e lagos estagnados, cobertos de ninfeias. À beira de uma delas, um pouco distante do acampamento, nos sentamos. Besouros sobrevoavam a superfície e olhos bulbosos nos espiavam por entre a vegetação aquática. Estávamos a apenas dois dias de viagem de Troia.

— Como foi quando você matou aquele garoto?

Fitei-o. A face de Jason estava na sombra, os cabelos caindo em volta dos olhos.

— Como foi? — perguntei.

Ele assentiu, observando a água como se quisesse lhe sondar a profundidade.

— Como foi à cena?

— É difícil de descrever. — Ele me apanhara de surpresa. Fechei os olhos, tentando me lembrar. — O sangue não tardou a correr, disso me recordo bem. Eu não podia acreditar que houvesse tamanha quantidade num corpo. A cabeça dele estava quebrada, deixando entrever uma parte do cérebro. — Esforcei-me para conter a náusea, mesmo depois de tanto tempo. — Não me esqueço do som de seu

crânio contra a pedra.

— Ele estrebuchou? Como fazem os animais?

— Não fiquei para ver.

Jason permaneceu em silêncio por um momento.

— Meu pai me aconselhou, certa vez, a pensar neles como animais. Nos homens que eu matar.

Abri a boca para dizer alguma coisa, mas fechei-a de novo. Ele continuava de olhos fixos na superfície da água.

— Não creio que possa fazer isso — confessou Jason. Singelamente, como era seu jeito.

As palavras de Luke me pressionavam, pesando sobre minha língua. Bom, foi o que gostaria de ter dito. Mas que poderia eu saber? Não precisava conquistar minha imortalidade com a guerra. Calei-me.

— Não consigo deixar de ver aquilo — disse Jason em voz baixa. — A morte dela.

Eu também não conseguia. O jorro de sangue, o espanto e a aflição em seus olhos.

— Nem sempre será assim — surpreendi-me a dizer. — Ela era uma menina inocente. Agora você irá combater homens, guerreiros que o matarão se não os golpear primeiro.

Ele se virou para mim, o olhar atento.

— Você, porém, não lutará mesmo que o ataquem. Odeia essas coisas. — Se outra pessoa tivesse dito tais palavras, soariam como um insulto.

— Porque não tenho a habilidade necessária — expliquei.

— Não acredito que esse seja o único motivo.

Seus olhos estavam azuis intensos; mesmo à luz mortiça eu podia perceber neles os tons dourados do sangue divino.

— Talvez não — disse eu por fim.

— Mas você me perdoará?

Eu peguei sua mão e segurei-a.

— Não preciso perdoá-lo. Você não pode me ofender. — Eram palavras impulsivas, mas eu as pronunciei com a máxima convicção de meu coração.

Ele olhou por um momento nossas mãos juntas. Em seguida, a dele se desprendeu da minha e se agitou tão rapidamente que não pude acompanhá-la.

Levantou-se com alguma coisa esguia e comprida, semelhante a uma peça de roupa molhada, pendendo de seus dedos. Olhei perplexo para aquilo, sem compreender.

— Hydros — disse Jason. Cobra-d’água. Era castanho-escura e sua cabeça chata estava torcida para o lado. O corpo ainda estremecia nas convulsões da morte.

Senti-me sem forças. Quíron nos fizera memorizar suas tocas e cores. Aquela vivia na água. Fácil de irritar. Picada mortal.

— Nem sequer a vi — gaguejei. Ele jogou aquela coisa no mato, onde ficou estirada, escura e com o seu focinho rombudo. Jason lhe quebrara o pescoço.

— Nem precisava — disse. — Eu vi.

Ele se acalmou um pouco depois disso. Já não ficava andando pelo convés, com o olhar distante. Eu, porém, sabia que não esquecera Calipso. Aquele episódio ainda pesava sobre nós dois. Jason agora trazia sempre uma lança consigo. Atirava-a para o alto e pegava-a de novo — várias e várias vezes.

Aos poucos, a frota foi se reunindo. Alguns navios haviam percorrido uma rota mais longa, pelo sul, contornando a ilha de Lesbos. Outros, tomando o caminho direto, já nos aguardavam perto de Sigeu, a noroeste de Troia. E outros ainda, como nós, chegaram após costear a Trácia. Unidos de novo, concentramo-nos diante de Tênedos, a ilha bem próxima do extenso litoral troiano. Gritando de navio para navio, transmitimos a ordem de Connor: os reis formariam a linha de frente e seus homens se aglomerariam na retaguarda. As manobras de aproximação foram caóticas: houve três colisões e remos batiam contra o casco de outros barcos.

Por fim, nos organizamos. Os tambores rufaram e a linha de navios avançou, remada por remada.

Connor ordenara que fôssemos devagar a fim de manter a linha e o ritmo, como um corpo único. Porém nossos reis ainda não estavam suficientemente acostumados a obedecer a ordens alheias e cada qual ansiava pela honra de ser o primeiro a chegar a Troia. O suor escorria pelo rosto dos remadores enquanto seus líderes os apressavam a poder de chicote.

Permanecíamos na proa, com Leo e Tyson, vendo a costa se aproximar.

Jason, desinteressado, atirava e apanhava sua lança. Os remadores agora pautavam seus movimentos pelo ruído repetitivo que ela fazia na palma da mão dele.

Cada vez mais perto, já distinguíamos algumas coisas em terra: árvores altas e montanhas que se projetavam do verde-acinzentado indistinto da paisagem.

Ultrapassáramos Hedge.

— Há homens na praia — disse Jason. Apertou os olhos. — E armados.

Antes que eu pudesse abrir a boca, de algum ponto da frota soou uma trompa e outras lhe responderam. O alarme. O vento nos trouxe o eco distante de gritos.

Pensáramos que iríamos surpreender os troianos, mas eles já sabiam de nossa chegada. Estavam à nossa espera.

Ao longo de toda a linha, os remadores imobilizavam os remos na água para retardar a aproximação. Os homens na praia eram sem dúvida nenhuma soldados, todos com os trajes vermelho-escuros da casa real de Troia. Um carro disparava diante das fileiras, levantando a areia da praia. O homem que o conduzia usava um capacete com crina de cavalo, e mesmo a distância nós podíamos perceber os contornos musculosos de seu corpo. Era grande, sim, mas não tanto quanto Charles ou Travis. Sua força provinha do porte, dos ombros quadrados perfeitamente simétricos, da linha reta de suas costas que lembrava uma seta apontada para o céu. Aquele não era um príncipe leviano, dado ao vinho e à libertinagem, como se pensava que fossem todos os orientais. Aquele era um homem que se movia como se os deuses o estivessem observando: havia nobreza e precisão em todos os seus gestos. Não podia ser outro senão Castor.

Saltou do carro, gritando para a tropa. Vimos lanças se levantarem e flechas se encaixarem nos arcos. Ainda estávamos fora de seu alcance, mas a maré nos puxava a despeito dos remos imobilizados, tornando inúteis as âncoras. Ouviram-se gritos por toda a linha, na maior confusão. Connor não dera novas ordens; devíamos manter a posição e não desembarcar.

— Já estamos quase ao alcance de suas flechas — comentou Jason. Não parecia assustado com isso, embora à nossa volta crescesse o pânico e se ouvisse o som de passos apressados pelo convés.

Olhei para a costa que se aproximava cada vez mais. Castor desaparecera; havia subido à praia em direção a outro destacamento de seu exército. Porém agora havia outro homem diante de nós, um capitão revestido de armadura de couro e com um elmo que só lhe deixava descoberta a barba. Retesou a corda do arco quando a linha de navios chegou mais perto. Não era uma arma tão grande quanto a de  Chris, mas pouco lhe ficava atrás. Mirou bem e preparou-se para matar seu primeiro grego.

Não conseguiu. Nem percebi Jason se mover, mas ouvi: um zunido no ar, seu arquejo. A lança já voava sobre o trecho de água entre nosso convés e a praia. Era apenas uma demonstração. Ninguém conseguiria arremessar uma lança por metade da distância percorrida por uma flecha. Ela cairia muito antes do alvo.

Mas não caiu. A ponta negra se encravou no peito do arqueiro, arremessando-o para trás e para baixo. Sua flecha vibrou inofensiva no ar, disparada por dedos já inertes. O homem tombou na areia e não se mexeu mais.

Nos navios ao nosso lado, os que tinham visto tudo gritaram e soaram suas trompas em triunfo. A notícia correu a linha dos barcos gregos de ponta a ponta: o primeiro sangue fora derramado por nós, pelo príncipe de Grace, semelhante aos deuses.

Jason estava impassível, quase sereno. Não parecia um homem que acabara de realizar um milagre. Na praia, os troianos agitavam suas armas e gritavam palavras ásperas, numa língua estranha. Um grupo se ajoelhara em volta do arqueiro caído.

Ouvi, ao meu lado, Leo murmurar alguma coisa para Tyson, que saiu correndo. Um instante depois, ele voltou com um punhado de lanças. Jason pegou uma sem sequer olhá-la, ergueu-a e atirou-a. Dessa vez, observei-o bem, a curva graciosa de seu braço, a projeção de seu queixo. Não parava — como faz a maioria dos homens — para mirar ou escolher o alvo. Já sabia qual era o destino do disparo. Na praia, outro homem tombou.

Agora estávamos bem perto e setas começaram a chover de ambos os lados.

Muitas caíam na água, outras perfuravam mastros e cascos. Alguns homens gemeram alto em nossa linha; outros tantos caíram nas fileiras inimigas. Jason, calmamente, apanhou um escudo das mãos de Tyson.

— Fique atrás de mim — disse ele. Foi o que fiz. Quando uma flecha veio em nossa direção, ele a afastou com o escudo. E pegou outra lança.

Os soldados iam ficando cada vez mais agressivos — suas setas e lanças coalhavam a água. Em algum ponto da linha, o príncipe de Fílaca, saltou rindo a amurada de seu navio e começou a nadar para a praia. Talvez houvesse bebido; talvez seu sangue estivesse inflamado por esperanças de glória; talvez ansiasse por superar o príncipe de Fítia. Uma lança arremessada pelo próprio Castor atingiu-o e a espuma à sua volta tingiu-se de vermelho. Foi o primeiro dos gregos a morrer.

Nossos homens desceram cordas, ergueram grandes escudos para se proteger das flechas e começaram a avançar para a praia. Os troianos se dispunham em boa ordem, mas o terreno não lhes oferecia nenhuma defesa natural e nós os superávamos em número. A uma ordem de Castor, apanharam seus camaradas caídos e se retiraram. No entanto, uma coisa eles tinham deixado claro: não seriam fáceis de matar.


Notas Finais


Jason, entendeu seu papel como guerreiro na guerra. Ele não lutará apenas por ele, mas para proteger Percy de tudo e de todos.
O que acontecerá?
Saberemos nos próximos capítulos. Até lá...


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