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História A canção de Jercy - Tétis, a deusa


Escrita por: MaxPosey

Notas do Autor


Olá semideuses!
Voltei com mais uma parte dessa fic adaptada.
Hoje o Percy conhecerá a famosa mãe de Jason e como será esse encontro?
Vamos descobrir?
Boa leitura...

Capítulo 6 - Tétis, a deusa


Fanfic / Fanfiction A canção de Jercy - Tétis, a deusa


Logo depois disso, nossa amizade transbordou como fontes que irrompem das montanhas. Antes, todos os garotos e eu pensávamos que os dias de Jason eram cheios de instrução principesca, aprendizado político e exercícios militares.
Mas eu já sabia da verdade havia muito tempo: além das aulas de música e do
treinamento com armas, ele não aprendia nada. Um dia, íamos nadar; no outro, subir em árvores. Inventávamos jogos, corridas e acrobacias. Deitávamos-nos na areia tépida e desafiávamos:
— Adivinhe no que estou pensando agora?
No falcão que avistáramos da janela.
No menino com um dente da frente quebrado. No jantar.
E enquanto nadávamos, brincávamos ou conversávamos, um sentimento nos
invadia. Pelo modo como me inflava o peito, parecia medo. Vinha como lágrimas, docemente. Porém não era nada disso, mas, sim, algo leve que devia ser pesado, algo vivaz que devia ser lânguido. Eu conhecera o contentamento antes, breves
lapsos de tempo em que perseguia prazeres somente meus: atirando seixos à água, brincando com os dados ou sonhando. Contudo, na verdade, aquilo era menos uma presença que uma ausência, uma suspensão passageira do medo; nem meu pai
nem os meninos estavam por perto. Não me sentia faminto, cansado ou doente.
Tudo estava diferente. Surpreendi-me rindo até minhas bochechas doerem e meu couro cabeludo formigar como se estivesse prestes a se desprender de minha cabeça. Minha língua fugia a qualquer tentativa de controle, na vertigem da liberdade. Tagarelava sobre tudo. Não precisava me controlar para não falar demais. Já não me envergonhava de ser muito magro ou muito lento. Eu contei a ele isso, aquilo e aquilo mais. Ensinei-o a arremessar seixos e ele me ensinou a entalhar madeira. Eu podia sentir cada nervo em meu corpo, cada lufada de vento
contra minha pele.
Ele tangia a lira de minha mãe e eu o observava. Quando era a minha vez, meus dedos se enroscavam nas cordas e o mestre perdia a paciência comigo. Eu pouco me importava.
— Toque de novo — pedia então a Jason. E ele tocava até eu mal poder
distinguir seus dedos na penumbra.
Percebi então quanto eu havia mudado. Não me importava de ser vencido
quando corríamos, quando nadávamos até as rochas, quando atirávamos a lança ou quando arremessávamos seixos. Pois quem se envergonharia de perder para tamanha beldade? Já era muito vê-lo ganhar, admirar as solas de seus pés cintilando ao se desprenderem da areia, seus ombros subindo e descendo ao cortar
as ondas salgadas. Sim, já era o suficiente.
O verão terminava, cerca de um ano depois do início do meu exílio, quando enfim lhe contei como matara o garoto. Estávamos empoleirados nos galhos do carvalho do pátio, ocultos pelo emaranhado de folhas. Sentia-me mais à vontade ali, longe do chão, encostado ao sólido tronco da árvore. Ele ouviu em silêncio e, quando terminei, perguntou:
— Por que não disse que agiu em legítima defesa?
Era bem de seu feitio fazer uma pergunta dessas, algo em que eu nunca pensara.
— Não sei.
— Ou então poderia ter mentido. Contado que já o encontrara morto.
Fitei-o confuso ante a simplicidade daquele raciocínio. Sim, eu poderia ter
mentido. E, se tivesse feito isso, ainda seria príncipe. Não fora o crime que me
exilara, mas sim minha falta de astúcia. Agora entendia o desgosto nos olhos de meu pai. O filho estúpido que confessava tudo. Lembrei-me de como suas mandíbulas se cerraram quando narrei o acontecido. Ele não merece ser rei.
— Você não mentiria — eu disse.
— Não — ele admitiu.
— Que teria feito então? — eu perguntei.
Ele tamborilou com os dedos no tronco em que estava sentado.
— Não sei. É uma situação que nem consigo imaginar. Quer dizer, a maneira
como o garoto se dirigiu a você. — Deu de ombros.
— Ninguém jamais tentou tirar alguma coisa de mim.
— Nunca? — Eu não podia acreditar naquilo. Uma vida sem semelhante
incidente me parecia impossível.
— Nunca. — Interrompeu-se por um instante, refletindo.
— Não sei — disse finalmente —, acho que ficaria muito zangado. — Cerrou os
olhos e encostou a cabeça num galho. As folhas verdes da árvore, em torno de sua cabeça, pareciam tecer uma coroa.
Agora, eu via frequentemente o rei Grace. Às vezes, éramos chamados a participar de conselhos e jantares com monarcas visitantes. Permitiam-me sentar ao lado de Jason e até falar se quisesse. Eu não queria; gostava de permanecer em silêncio e apenas observar os homens à minha volta. Grace passara a me chamar de Skops,
“coruja”, por causa dos meus olhos. Era mestre nesse tipo de afeição, geral e nada comprometedora.
Depois que os homens saíam, sentávamos-nos com ele junto à lareira para ouvir as histórias de sua juventude. O velho, agora frágil e de cabelos brancos, contou-nos
que certa vez lutara ombro a ombro com Herácles. Quando eu lhe disse que
conhecera Chris, ele sorriu.
— Sim, o escudeiro de Herácles. Foi hábil no manejo da lança, de longe o mais bravo de nós todos. — Também era muito de seu feitio esse tipo de lisonja. Agora eu percebia por que seu tesouro estava repleto de presentes oriundos de tratados e
alianças. Entre nossos heróis presunçosos e fanfarrões, Grace era uma exceção: sempre modesto. Ficávamos ouvindo enquanto os servos iam reabastecendo a lareira. E a manhã já vinha perto quando ele nos mandava para a cama.
Eu só não acompanhava Jason quando ele ia ver sua mãe. Saía tarde da noite ou de madrugada, antes que o palácio despertasse, e voltava molhado, com cheiro de mar.
Quando lhe perguntei sobre o que acontecia durante esses encontros, respondeu com indiferença, num tom estranhamente impessoal.
— Sempre a mesma coisa. Ela quer saber o que ando fazendo e se estou bem.
Discorre sobre minha reputação entre os homens. E no fim pergunta se quero ir com ela.
— Para onde? — perguntei intrigado.
— Para as cavernas submarinas.
É o lugar onde vivem as ninfas marinhas, tão profundo que a luz do sol não chega até lá.
— E você quer?
Ele balançou a cabeça.
— Meu pai diz que não devo. Segundo ele, nenhum mortal que as contempla
volta a ser o mesmo.
Depois que ele se afastou, fiz o sinal com o qual os camponeses afastam a
desgraça. Os deuses proíbem. Fiquei um pouco amedrontado ao ouvi-lo falar tão calmamente sobre aquele assunto. Em nossas histórias, deuses e mortais não se misturam sem que ocorra grandes problemas. Porém sua mãe era uma deusa, ponderei para me tranquilizar, e ele próprio era um semideus.
Com o tempo, essas visitas à mãe se tornaram mais uma das muitas
singularidades de Jason às quais me acostumei, como a velocidade maravilhosa de seus pés ou a destreza sobrenatural de seus dedos. Quando o ouvia entrar pela janela ao amanhecer, murmurava da cama:
— Ela está bem?
E ele respondia:
— Sim, muito bem. — E acrescentava em seguida: “Hoje havia muitos peixes” ou “A água na baía estava quente como a de banho”. Logo depois, adormecíamos.
Um dia, em minha segunda primavera passada no palácio, ele voltou da visita à sua mãe mais tarde que de costume. O sol já se erguia das águas e os guizos dos carneiros já tilintavam nos montes.
— Ela está bem?
— Sim, muito bem. Ela quer conhecer você.
O medo começou a me dominar, mas eu o controlei.
— Acha que devo ir? — Não conseguia imaginar o que a deusa poderia querer de mim. Era sabido que ela odiava os mortais.
Ele evitou meu olhar. Seus dedos viravam e reviravam um seixo que trouxera da praia.
— Não há perigo nenhum. Amanhã à noite, ela disse. — Compreendi que havia sido uma ordem. Os deuses não pedem. E eu conhecia Jason o suficiente para perceber que ele estava constrangido. Ele nunca fora tão reticente comigo.
— Amanhã?
Ele assentiu.
Eu não queria que ele percebesse meu medo, embora, normalmente, nada
escondêssemos um do outro.
— Eu devo... devo levar um presente? Hidromel?
Era o que derramávamos nos altares dos deuses nos dias de festa. Uma de nossas oferendas mais ricas.
Jason sacudiu a cabeça.
— Ela não gosta disso.
Na noite seguinte, quando todos no palácio dormiam, saí pela janela de nosso quarto. O semicírculo da lua estava luminoso o bastante para me guiar em meio às pedras sem necessidade de uma tocha. Jason me instruíra a ficar parado junto à
rebentação, que a deusa apareceria. Eu não precisaria dizer nada, ele acrescentara.
Ela saberia de tudo.
As ondas eram tépidas, saturadas de areia. Caminhei pela praia, observando os pequenos caranguejos brancos que deslizavam pela espuma. Com os ouvidos atentos, achei ter distinguido o som de seus passos se aproximando. Uma brisa começou a soprar e, deliciado, cerrei os olhos. Quando os reabri, ela estava à minha
frente.
Era mais alta que eu, mais alta que qualquer mulher que eu já tinha visto. Os cabelos negros caíam livremente pelas costas, a pele era luminosa, incrivelmente alva, como se absorvesse a luz da lua. Estava tão perto que eu podia sentir seu perfume, mistura de mar com mel escuro. Eu não respirava. Não me atrevia.
— Você é Percy. — Estremeci ao som daquela voz, áspera e estridente. Eu
esperara harmonias, não rangidos de rochas batidas pelas ondas.
— Sim, senhora.
Sua expressão era de desagrado. Os olhos não pareciam humanos: negros no centro e mosqueados de ouro. Eu não ousava fitá-los.
— Ele será um deus — ela disse. Eu não sabia o que dizer, por isso não disse
nada. Ela inclinou-se para a frente e quase pensei que ia me tocar. Mas não o fez, é claro.
— Você compreende? — Eu podia sentir seu hálito em meu rosto, não quente,
mas gelado como as profundezas oceânicas. Você compreende? Jason me advertira de que ela detestava esperar.
— Sim.
Ela se inclinou ainda mais, crescendo diante de mim. Sua boca era uma fenda
rubra como o ventre dilacerado de um animal de sacrifício, sangrenta e fatídica.
Seus dentes brilhavam — agudos e brancos como marfim.
— Ótimo. — E displicentemente, como se falasse para si mesma, ela disse: —
Você morrerá logo.
Ela se virou e desapareceu no mar, sem deixar atrás de si ondulações nas águas.
Não voltei diretamente para o palácio. Não podia. Entrei no bosque de oliveiras a fim de descansar entre os troncos retorcidos e os frutos esparsos pelo chão. Estava longe do mar. Naquele momento, não queria sentir o cheiro do sal.
Você morrerá logo. Ela dissera isso friamente, como um fato inquestionável. Não me queria para companheiro do filho, mas nem por isso achava que valia a pena me
matar. Para uma deusa, as poucas décadas de vida humana nem sequer constituíam um incômodo.
Entretanto ela queria que ele fosse um deus. Dissera isso naturalmente, como se fosse uma coisa óbvia. Um deus. Eu não podia imaginá-lo como tal. Deuses eram frios e distantes, inatingíveis como a lua, e não tinham os olhos vivos, a malícia cálida dos sorrisos de Jason.
Ela ambicionava demais. Tarefa difícil transformar até mesmo um semideus em criatura imortal. Sim, isso já acontecera antes com Herácles, Orfeu e Órion. Agora repousavam no céu, na forma de constelações, bebendo ambrosia com os deuses.
Porém esses homens eram filhos de Zeus, tinham os músculos fortalecidos pelo mais puro sangue que possa jorrar nas veias de um mortal. Tétis era uma deusa menor entre as menores, apenas uma ninfa do mar. Em nossas histórias, essas divindades conseguiam dos deuses mais poderosos os favores que desejavam somente pela lisonja. Elas mesmas quase nada podiam fazer sozinhas. Exceto viver para sempre.
— EM QUE ESTÁ PENSANDO? — Era Jason, que viera ao meu encontro. Sua voz soou alto no bosque silencioso, mas eu não me assustei. Esperava mesmo que ele aparecesse.
E desejara isso.
— Em nada — respondi. Não era verdade. Acho que nunca é.
Ele se sentou ao meu lado, os pés nus e sujos.
— Ela lhe contou que você morrerá logo?
Virei-me para olhá-lo, perplexo.
— Sim — murmurei.
— Sinto muito — disse ele.
O vento agitava as folhas cinzentas acima de nossas cabeças e ouvi o estalido de uma azeitona caindo em algum lugar.
— Ela quer que você seja um deus — falei.
— Sei disso. — Jason desviou o rosto, embaraçado, e a despeito de mim
mesmo, meu coração ficou mais leve. Fora uma reação pueril. E muito humana.
Pais são sempre os mesmos.
Porém a pergunta ainda estava por ser feita; e eu nada poderia fazer se não
soubesse a resposta.
— Você quer ser... — interrompi a frase, confuso, embora houvesse prometido
conter-me. Ficara sentado no bosque remoendo aquela pergunta, enquanto
esperava a chegada de Jason.
— Você quer ser um deus?
Seus olhos estavam escuros na penumbra. Eu não conseguia mais distinguir os pontos dourados no verde.
— Não sei — disse ele por fim. — Ignoro o que isso significa e como acontece. —
Ele olhou para as mãos que abraçavam os joelhos. — Eu não pretendo sair daqui. E quando aconteceria? Em breve?
Fiquei aturdido. Não sabia como se formam deuses. Era apenas um mortal.
Ele agora estava sombrio, sua voz ficou estridente.
— Haverá mesmo um lugar como aquele? O Olimpo? Ela sequer sabe como a coisa seria feita. Afirma que sim. Acha que, se eu ficar suficientemente famoso... —
Ele se calou.
Isso, pelo menos, eu podia entender.
— Então os deuses o levariam voluntariamente.
Ele assentiu. Porém não respondeu à minha pergunta.
— Jason!
Ele se virou para mim, os olhos ainda banhados de frustração, de uma espécie de espanto colérico. Mal tinha 12 anos.
— Você quer ser um deus? — A pergunta, dessa vez, escapou mais fácil dos meus lábios.
— Não ainda — disse ele.
A tensão que até o momento eu mal pressentira diminuiu um pouco. Eu não o perderia tão cedo.
Jason pousou o queixo na palma da mão; suas feições pareciam mais belas que nunca, como mármore esculpido.
— Mas gostaria de ser um herói. Acho que poderei sê-lo. Caso a profecia esteja certa. Caso haja uma guerra. Segundo minha mãe, serei melhor do que Héracles jamais foi.
A isso eu não soube responder. Vaidade materna ou fato real? Pouco importava.
Por enquanto.
Ele ficou em silêncio por um momento. Depois, virando-se subitamente para
mim, disse:
— E você, gostaria de ser um deus?
Essa pergunta, ali no bosque atapetado de musgo e azeitonas, soou aos meus
ouvidos como uma pilhéria. Ri e ele logo riu também.
— Acho isso muito pouco provável — brinquei.
Levantei-me e estendi-lhe a mão. Ele a segurou e se levantou também. Nossas
túnicas estavam sujas e meus pés formigavam um pouco por causa do sal que secara sobre a pele.
— Havia figos na cozinha.
— Eu vi — disse ele.
Tínhamos apenas 12 anos. Jovens demais para que algo nos inquietasse durante muito tempo.
— Aposto que comerei mais que você.
— Então corra!
Eu ri. E corremos.


Notas Finais


Como será daqui para frente?
Essa noticia da Tétis sobre a vida de Percy, será que poder ser mentira?
Abraços e até o próximo.


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