História A Canção dos Fogos de Inverno (Interativa) - O Primeiro Guerreiro Caído

            Dorax segurava a sua espada firmemente enquanto o dragão tentava, sem êxito, queimá-lo. Labaredas de fogo vinham em sua direção, e Ascarion as lançava velozmente. O calor seria insuportável para qualquer outra pessoa, mas Dorax não era qualquer um. Seu corpo estava tão frio como sempre fora, e fogo não seria o que o faria queimar. Nem antes, nem agora.

            Sua família ficara assustada e atônita pelo seu dom, tanto que lhe mandaram embora sem ao menos um único adeus. Dorax teve de viver sozinho, perambulando, roubando e assassinando famílias, com apenas seus dez anos. Até que, um ano antes, encontrara o Castelo Eiverhorn, onde trabalhava até aquele momento. O local era bastante conhecido em Gwora, mas não em Emptey, de onde viera. Por isso, decidiu arriscar, e se dera bem. Fora aceito na hora, devido ao seu poder, pois boa parte dos últimos voluntários morreram queimados pelos dragões.

            Sempre que alguém o perguntava quantas queimaduras tinha, ficava orgulhoso de lhes contar, com um sorriso esnobe, que era imune ao ardor, e ria ao ver suas feições de surpresa. Agora mesmo comparava-as com a temível face negra do dragão.

            Porém ele tinha uma sensação de que o escuro lhe dizia “Você nunca sairá dessa vivo”. Por que ele achava que aquilo era verdade? Por que ela já se sentia morto? Por que ele estava, agora mesmo, arfando?

            O fogo do dragão ainda estava cobrindo todo o seu corpo, e já deveria estar nu. Não desejava voltar para o Fosso dos Dragões daquele jeito.

            “DORAX!”, ouviu uma voz gritar. Era masculina, ao menos isso. Detestaria ser flagrado naquele estado por alguma garota, como a Kate. Tentou olhar na direção de onde viera, mas estava com labaredas nos olhos e não conseguia enxergar. “Dorax, o que...” A voz morreu aos pouco, mas estava com a pele doendo o suficiente para acabar sem ouvir.

            “DORAX!”, outra voz, desta vez, disse. “VOCÊ ESTÁ QUEIMANDO!”.

            Ele tocou sua nuca e sentiu-a quente e pegajosa, como carne viva. Quando retirou sua mão, uma dor incrivelmente forte surgiu em ambos os locais. Oh, pensou. Estou... Queimando? E começou, finalmente, a gritar.