História A Canção dos Fogos de Inverno (Interativa) - Sem Magia

            A porta da taberna foi violentamente aberta por dois rapazes que entravam. Aparentavam ter a mesma idade, entre dezenove a vinte invernos, e tinham quase que a mesma altura. Cada olhar que estavam interessados nas histórias de Bilbo, há poucos instantes atrás, voltaram-se para os jovens.

            Eles estavam arfando e não pareciam querer que ninguém os incomodassem.

            “Ah, mais um novo ouvinte...”, começou Bilbo. “Poderia lhe contar mil e umas histórias, que carrego comigo desde que o mundo é mundo...”

            “Desculpe-nos, senhor Bilbo,”, cortou o garoto loiro. “mas nós temos de falar diretamente com o nosso diretor, obrigado.”.

            “Ele saiu”, disse, irritado. Jason e Endry sempre gostaram de suas histórias, porque não queriam ouvi-lo agora? “Foi resolver algumas coisas em Wendery Charm”.

            “Mas é importantíssimo!”, disse Endry. “Senhor, Dorax morreu!”.

            Bilbo soltou um sorriso de leve. Dorax, morto. Essa é boa. “Dorax não se queima. Seu poder...”.

            “Foda-se o poder dele. Ele se queimou, está me ouvindo?” Desta vez, Jason parecia irritado. Sua primeira suposição estava correta. “A magia... se foi.” O sorriso que fez quando disse aquilo parecia transbordar a sua alegria. Bilbo compartilhava essa sensação. Odiava Dorax, assim como odiava dragões.

            “Eu cuidaria desta língua, rapaz. Posso cortá-la em um golpe.”.

            “Ah, faça-me o favor. Você está velho, poderia cortar seu corpo em um golpe.”.

Outro sorriso, desta vez parecia ser um de vitória.

            “De que isso irá mudar?”, perguntou uma voz ao seu lado. Ela pertencia a um vampiro, chamado Mahiro. Alto e magro, tinha olhos azuis como safiras, cabelos negros e rebeldes, que dariam medo até na Rainha-Além-Mar. “Dorax era um cretino e recebeu o que merecia”.

            “Dorax morreu, temos de ir buscá-lo antes que...”. Endry parou. Parecia não ter palavras ou coragem suficiente para descrever o que acontecera.

            “Ah, vão a merda”, disse Jason. “Tenho de concordar com o vampiro. Ele se reduziu à cinzas, e não há nada que possamos fazer além de rezar a Azriel para que fique em paz.”.

Jason não tinha uma religião, e, por isso, Bilbo se espantou ao vê-lo pronunciar o nome de alguma divindade. Espanto que passou assim que ele começou a rir, novamente. “Não se preocupe, velho. Continuo acreditando em mim mesmo. Só espero que os deuses carreguem a alma do Dorax para todos os infernos que existem...”.

            Endry o cutucou com o cotovelo, lhe mostrando um sinal de reprovação, que Jason, aparentemente, compreendera errado. “De qualquer maneira, ainda não sabemos o porquê dele ter, simplesmente, se queimado. Alguma ideia?”.

            Uma garota, nomeada Mayara, timidamente, deu um passo em sua direção. Era uma jovem bonita e tímida, com olhos violetas e cabelo de um loiro tão forte que parecia branco. Além de tudo, ela possuía um dom. Seus sonhos representavam os Dias que Já Passaram, Dias que São, Dias que Serão e Dias que Nunca Foram. Representavam o passado, presente, futuro e possibilidades perdidas. 

            “Meu primeiro sonho foi de um inverno que vinha ao mesmo tempo que a magia morria. Talvez este inverno seja o próximo. Talvez... a magia esteja se acabando.”.

            Ouve um silêncio, que prevaleceu no ar pelo que Bilbo imaginou como dias.

A magia estava morrendo, e o inverno chegando.