História A casa - A chegada à casa

Avan Lúpus.


Em algum lugar em Detroit, 23hrs: 55min.

_ Quem teve a idéia de ir embaixo de chuva mesmo? Gritou Fran irritada e revirei os olhos, é claro que a primeira a reclamar seria ela.
_ A gente ta chegando, fica quietinha Fran... Disse e ela me olhou como se eu tivesse feito merda.
_ Olha esse tom pra falar comigo, viu Avan? Ela fechou o cenho em tom de ameaça, eu, Deus e todas as escolas de Stanford sabem o quão encrenqueira é Franchini Vanderwood, desde criancinha ela era de bater em meninos, como se estivéssemos na selva e tivesse de provar algo pra alguém, nós nunca brigamos, mas já vi em pessoas o quão forte ela é pra uma garota de apenas 17 anos.
_ Onde exatamente é a casa, Avan? Candie perguntou mexendo em seus cabelos formando cachos em suas ondas.
_ Estamos perto, é a uma quadra daqui... Disse, mas sinceramente não tinha certeza, porém não queria demonstrar isso a eles, ela sussurrou um “Ta” e abraçou Jake de lado recostando sua cabeça sobre o ombro dele e caralho como eu senti inveja dele naquele momento.
O carro estava ficando completamente sem gasolina e estávamos no meio do nada, só via casas velhas e ruas vazias, o GPS estava sem sinal e eu estava quase dizendo a eles que estávamos perdidos quando avistei a casa, pequena e cheia de arvores secas ao seu redor, assim como eu me lembrava assustadora e velha, lembro do quanto minha irmã tinha medo de brincar ali por dizer que sentia frio na barriga, graças a ela e ao favoritismo do papai pela caçula nunca dormíamos ali, porém isso sempre foi uma besteira pra mim. Estacionei de mau jeito na frente da casa e pelo retrovisor vi todos olhando nervosos pra casa.
_ É aqui? Candie disse com a voz tremula.
_ Sim, vamos entrando de uma vez? O silêncio se instalou no carro, todos estavam se entre olhando assustados esperando a iniciativa de alguém e pelo visto esse “alguém” era eu.
_ Uma bando de medrosos, é só uma casa meninas e... Jake!Enfatizei rindo e pegando minha mochila pra tirar o guarda-chuva, abri a porta olhando pra eles que ainda se encolhiam.
_ Vai na frente então. Fran desceu atrás de mim e segurou em meu braço pra dividir o guarda-chuva, vi Jake e Candie descendo juntos e senti o sabor da inveja amargo nos lábios. O lugar estava mais velho do que eu me lembrava, esse é um terreno que minha família comprou há uns anos, aparentemente ele era desvalorizado porque muitos acreditam que uma bruxa morreu aqui no século passado, mas assim como eu, meu pai não tem medo de historinhas. Peguei a chave no bolso e destravei a porta, a casa cheirava a algo ferroso, Fran segurou mais forte em meu braço quando abri a porta e eu ri, afinal jamais teria a chance de ver Fran, o Rei da selva se cagando de medo.
_ Algum problema? Falei segurando o riso e ela me empurrou entrando.
_ Vai se fuder! Ela entrou rindo nervosamente e começou a tatear a parede buscando interruptor e me lembrei que ali não tinha instalação de luz, pois era uma construção antiga que nunca foi modificada a pedidos meus pais.
_ Não, é assim pera... Fui até um candelabro e acendi com o isqueiro a pequena vela que estava ali.
***

Estávamos todos sentados na sala, a tempestade lá fora tava matando as garotas de medo enquanto eu e Jake riamos delas.
_ É sério, vi alguma coisa passar gente! Candie tremia agarrando-se a uma das empoeiradas almofadas da sala
_ Ai, para garota, ta me deixando com medo merda. Fran a empurrou olhando assustada pra todas as direções.
_Olha garotas, não quero assustar vocês, mas essa casa tem uma historia bem creep. Candie arregalou os bonitos olhos castanhos me olhando assustada.
_ Ai nem vem, Avan, não faz isso. Ela choramingava afundando a cabeça no sofá.
_ É uma historia boba, meu pai comprou essa casa a preço de banana porque há um tempão atrás uma mulher vista como bruxa pra época veio pra cá e tipo, encontraram o corpo dela jogado aqui e depois de mais algumas investigações encontram partes de pessoas pela casa, tipo olhos, coração, essas coisas. Ela fingiu um enjôo e apertou os olhos abraçando o próprio corpo e não pude evitar rir, ela ficava linda amedrontada.
_ Para, assim eu não vou dormir. Ela choramingava manhoso.
_ É serio, e depois dessa mulher ninguém conseguia morar aqui, todos sei lá porque caralhos se matavam e talz. Vi Jake sorrindo nervoso, mas também olhando pra tudo assustado, eu queria dizer que aquilo não estava sendo hilário, mas estava, todos assustados com uma parada que ta morta, não faz sentido.
_ Ou, na moral, vamos dormir todos juntinhos, tipo amigos que se protegem. Fran disse com a voz tremula.
_ Concordo plenamente. Candie abraçou Fran que nem a empurrou dessa vez e Jake me abraçou rindo ainda nervoso.
_ Bando de medrosinhos, vamos pelo menos dormir lá em cima. Levantei puxando Jake que me agarrava até que forte._ Vamos garotas? Elas se levantaram antes do final da frase, Candie se enroscou entre os meus braços e os de Jake e Fran grudou embaixo dos meus braços apertando forte, e quando digo forte, é muito forte mesmo. Gemi baixo de dor e subimos todos como um só.

***

Fomos para um quarto repleto de cacarecos estranhos, mesmo tendo como sua aquela propriedade meu pai evitava deixar eu e Freya aqui sozinho por mais de uma noite e nunca tinha notado que quase toda a casa estava intacta parecendo uma enorme maquina do tempo com linha direta pra o séc. XIX, as paredes eram vinho e branco gelo, mas com várias manchas, não havia instalação de luz, água ou qualquer tipo de fiação, tudo eram lustres e candelabros, a cada corredor havia um castiçal com uma pequena vela e o chão era de madeira escurecida, nas paredes quadros bíblicos do inferno e em cada cômodo cacarecos espalhados, cuias, garrafas de bebidas de safras milenares, punhais enferrujados, imagens em estatuetas bizarras, coisas de se fazer pensar de quem era esse lugar, eu estava intrigado com tudo aqui, mas os três só faltavam querer dormir no carro de tão assustados. O quarto em que achamos tinha uma cama de feno fino com lençóis imundos com algo que parecia sangue velho, achei ver Candie quase desmaiar quando tirei a roupa de cama, no chão do lugar estavam bandejas de metal sujas e mais punhais enferrujados e retorcidos.
_ Ai Deus, nos proteja! Candie agarrou-se em meus braços e senti um arrepio passar pelo meu corpo, ela estava gelada, mas sua pele era macia. Obrigado senhorita Bruxa, pensei, Fran também me agarrou, ajeitei a cama com as duas penduradas em mim e Jake olhando e mexendo em tudo, quando abri a porta do banheiro pra jogar a roupa de cama suja senti o pior cheiro que um dia meu nariz pudesse ter o desprazer de sentir, pois não era um banheiro, mas um fosso de merda e feno por todo lado, era um buraco no chão cheirando a tudo ao mesmo tempo, não havia treinado meu nariz suficiente pra discernir aquele cheiro.
_ Ai, fecha isso. Fran gritou segurando a boca e Candie gritou, olhei pra ela espantado e a mesma afundou o rosto em meu peito.
_ Eu vi um olho! Ela gritou se debatendo de eu não sei o que.
_ O que? Olhei incrédulo.
_ Tem um olho ali, AI MEU DEUS, vamos embora gente... Ela se debatia contra meu corpo me segurando ainda sim forte.
_ Relaxa. Abri a porta do inferno novamente_ Não tem nada ali, olha... Ela gritou mais alto apontando e me virei vendo enfiado em um buraco na parede um globo ocular que parecia bem fresco contando que ninguém vinha ali a tempos, ergui a sobrancelha intrigado.
_ Mas que merda é aquilo? Perguntei mais pra mim mesmo que pra eles.
***